My Propeller: 01 - Want to get out of here ?

- Allyson dá pra se apressar por favor ? - Elise gritou pela quinta vez e eu fiz o mesmo que nas outras quatro, revirei os olhos.
- Já estou indo - gritei de volta para que ela escutasse da sala.
- Você disse a mesma coisa meia hora atrás - disse agora parada na porta do meu quarto. Vestia um vestido preto curto rodado, botas cano médio da mesma cor e um casaquinho banco por cima. A maquiagem na medida certa e o sorriso no rosto. Estava radiante como sempre - Se eu me lembro bem, quando te convidei, você queria muito ir nesse show - continuou sentando na minha cama.
- Ainda quero, mas agora que soube que o Dylan vai com a gente minha vontade diminuiu consideráveis 60% - confessei enquanto terminava de calçar meus coturnos pretos.
- Ah, mas você não vai estragar sua noite por causa dele, eu te proíbo – minha melhor amiga disse dramaticamente e eu ri. A amava por sempre conseguir me deixar melhor - Afinal, sofri pra conseguir esses ingressos e chance de ver a bunda deliciosa do Alex Turner pessoalmente não é algo que se possa perder - falou maliciosa e eu gargalhei enquanto ela saía do quarto. Me olhei no espelho uma última vez para conferir minha aparência. Optei por uma meia calça preta, contrastando com o branco pálido de minha pele, um short cintura alta, uma camiseta branca com o nome da banda por dentro e uma jaqueta jeans por cima. Meu cabelo ruivo estava normal, solto batendo no meio das costas e a maquiagem era leve, já que eu não gostava de nada exagerado. Me considerei apresentável. 
Estávamos indo ao show do Arctic Monkeys, a banda que Elise é obcecada e que eu admito sem receio gostar muito. Não ia ser um show grande, era daqueles mais reservados numa casa de shows relativamente pequena, por isso a dificuldade em conseguir os ingressos, mas Elise faz mágica quando é algo relacionado àquela banda. 
Como eu falei antes, seria uma apresentação pequena, porém com certeza daria bastante gente, motivo pelo qual estamos saindo cedo para garantir bons lugares. Um amigo nosso, Tom, e meu ex-namorado insuportável e melhor amigo dele, Dylan, estavam vindo nos buscar e provavelmente já devem ter chegado levando em conta minha demora absolutamente intencional.
Fui até a sala do meu apartamento e encontrei todos esperando sentados no sofá.
- Que gata, mais tarde a gente dá uma voltinha no banheiro - Tom disse brincando e eu sorri abraçando-o. Ele era ex-namorado da Elise, mas eles eram muito amigos antes e não mudou muita coisa depois que terminaram, até se pegavam de vez enquando. O que eu realmente invejava, não a parte de se pegar de novo, não mesmo, mas a de manter a amizade, já que Dylan e eu não mantínhamos uma relação assim. Não por minha causa, eu adoraria continuar sendo apenas sua amiga como antes, mas ele insiste em querer ficar comigo de novo mesmo depois de 6 meses do término. Tive que me afastar dele por causa disso.
- Oi Ally - Dylan falou me dando um abraço também o qual eu retribuí meio sem jeito, mas tentando ser o mais amigável possível.
- Oi - respondi - Então, vamos ?
- Agora que vossa majestade terminou de se produzir, podemos ir - Tom falou debochado e eu revirei os olhos. Eu nunca demorava demais pra me arrumar, essa foi uma das poucas vezes.
- Vamos logo, eu quero ficar o mais perto possível do palco - Elise disse nos empurrando para fora e eu tranquei o apartamento antes de entrar na parte de trás no carro de Tom com minha amiga.

...


Chegamos na casa de shows e minha amiga apresentou os ingressos na entrada permitindo nossa passagem depois de ter enfrentado uma fila considerável. O lugar ainda não estava cheio, então podemos nos instalar em um local perto do palco como Elise queria. Depois de algum tempo, o lugar encheu completamente, nos fazendo se espremer contra outros corpos ansiosos. As luzes se apagaram e as pessoas gritaram em expectativa, mas nem se comparou com o momento em que a banda entrou. Elise quase me deixou surda, mas fiquei feliz por vê-la tão animada. Dance little liar começou e eu tive que gritar, porque é definitivamente uma das músicas que eu mais gosto deles. O público começou a cantar e eu acompanhei animada. Com o passar do show consegui observar melhor os integrantes que eu acabei conhecendo a fundo de tanto que Elise falava deles. Jamie balançava de um lado para o outro no canto direito do palco (minha visualização), Nick já estava mais quieto na outra extremidade, Matt agitava na bateria e o tão falado Alex Turner revezava, ora se mexendo um pouco outras apenas parado enquanto cantava e tocava sua guitarra. Eu tinha que admitir, a voz dele era linda e aquela jaqueta de couro azul junto com o jeans caíam extremamente bem nele... Afastei esses pensamentos com um balançar de cabeça, não queria parecer minha melhor amiga que por acaso ficava gritando "ALEX MARRY ME" desesperadamente a cada cinco segundos. Foi então que Fake Tales Of San Francisco começou e eu gritei tão descontrolada quanto ela. Se eu gostava da primeira, essa eu amava. Pulei e cantei com todos:
- Kick me out, kick me out !
Eu sorria e Elise agarrou meus ombros pulando comigo. Foi quando olhei pro palco e tive a louca impressão de Alex Turner estar olhando diretamente pra mim, mas é claro que ele não estava, com tanta gente mais interessante ali pra olhar eu com certeza não seria a primeira da lista. Ou talvez eu só estivesse parecendo louca demais pulando daquele jeito o que pode ter chamado sua atenção. Nada muito positivo.
- Get off the bandwagon and put down the handbook - gritamos com força junto com multidão e quando a música acabou éramos só sorrisos.
O resto do show transcorreu bem e eu estava me divertindo, pelo menos até que a última música, 505, começasse. Bebi um gole da cerveja em minhas mãos e quase cuspi o que tinha na boca quando senti braços rodearem minha cintura. Era Dylan. Tentei me soltar, mas seu aperto se intensificou me impedindo. Olhei para o lado e Elise e Tom estavam alheios a situação se pegando loucamente e nem se dando conta do que estava acontecendo. Em uma situação normal eu sorriria por vê-los juntos, mas no momento eu só tentava tirar aquele corpo de perto do meu.
- Dylan me solta - disse alto para que ele me ouvisse.
- Vamos Ally eu sei que você quer, passou a noite inteira me provocando - ele disse e notei sua voz soar embargada tentando beijar meu pescoço que eu tentei afastar de seu alcance.
- O que ? - perguntei indignada - Eu estava apenas dançando, não dou a mínima pra você - rebati com raiva e ele me soltou.
- Qual é Ally, só um beijo - ele tentou puxar minha cintura e eu desviei indo até Elise e sendo obrigada a separar seu beijo escandaloso com Tom.
- Eu já vou sair, espero vocês no carro - disse em seu ouvido.
- Por que ? Aconteceu alguma coisa ? - ela perguntou aflita e eu decidi não contar, não ia estragar o resto de sua noite.
- Não, eu só preciso de um pouco de ar e já está acabando o show mesmo - disse forçando um sorriso e ela acreditou afirmando com cabeça. Me virei para sair e fui andando pelo meio da multidão até a saída do lado contrário onde Dylan estava. Quando passei pelas portas inspirei profundamente, aliviada em ter despistado aquele idiota. Comecei a caminhar pelo estacionamento quando ouvi a música acabar atrás de mim e os aplausos eclodirem. Tirei um maço de cigarros do bolso da jaqueta e acendi um. Já tinha avistado o carro de Tom quando ouvi alguém chamar por mim:
- Ally ! - Dylan gritou olhando ao redor a minha procura.
Merda, pensei enquanto jogava o cigarro no chão apagando-o com o pé e corri para que ele não me visse, mas creio que não funcionou, pois logo pude perceber sua presença correndo atrás de mim.
- Allyson para, eu só quero conversar - ele gritou, mas eu não acreditei e continuei a correr dando a volta na casa de shows, onde estava praticamente deserto e o acesso para dentro era protegido por grades. Ouvi os passos de Dylan ficando mais perto e me forçei a pensar em uma saída antes que ele me alcançasse Olhei para as grades e não daria para pular por causa da altura, mas então meus olhos caíram em um canto quase no chão onde tinha uma abertura pequena. Era realmente pequena, mas tinha que dar. Me apressei e encolhi meu corpo pela passagem. Quando meus pés enfim passaram corri até a lateral do local e me encolhi num canto de onde dava pra ver a porta de acesso ao backstage, que com certeza deveria estar cheio de seguranças. Analisei que não tinha como Dylan me ver ali e suspirei aliviada por isso. O ouvi me chamar mais algumas vezes, mas depois de alguns minutos me procurando eles desistiu e o som de seus passos foram ficando mais distantes até desaparecer por completo. Saí de onde estava escondida e coloquei as mãos nos joelhos ofegante. Quatro anos como fumante não ajudavam muito no meu condicionamento físico. Foda-se, pensei e levantei o tronco puxando mais um cigarro do bolso, mas quando fui acendê-lo não achei meu isqueiro.
- Merda - praguejei apalpando todos os outros bolsos e nada. Já estava desistindo quando ouvi alguém pigarrear a alguns metros à minha frente. Levantei o rosto e surpresa não definiria o que senti quando vi Alex Turner me estendendo seu isqueiro. Ele também estava fumando e parecia indiferente com o fato de uma desconhecida estar em um local não autorizado. Andou até mim vagarosamente e estiquei o braço pegando o isqueiro com cuidado para não tocar sua mão. Acendi meu cigarro e traguei profundamente. Meu corpo pareceu relaxar instantaneamente. Soltei a fumaça gradativamente pra cima e quando pousei os olhos no homem a minha frente notei seu olhar lascivo sobre mim. Lutei contra o instinto de corar e estendi o isqueiro de volta para ele tentando parecer confiante.
- Ah não, pode ficar, suponho que tenha perdido o seu - ele disse calmamente e por mais que eu já tenha escutado sua voz várias vezes nas músicas, a rouquidão e o tom imponente e ao mesmo tempo calmo da mesma me pegou desprevenida, causando um leve arrepio em minha espinha que eu espero realmente que ele não tenha notado. Merda, eu estava nervosa.
- Hã.. Obrigada - respondi e guardei o objeto junto com a carteira de cigarros. Foi a vez de ele tragar e eu observá-lo. Droga, ele era realmente bonito. Não era malhado, mas definido em sua magreza, o cabelo que cobria a testa caia um pouco sobre os olhos escuros e profundos e enquanto fumava parecia ainda mais charmoso e mortalmente sexy. Parei de encará-lo antes que a situação ficasse mais constrangedora.
- Como chegou aqui ? - ele perguntou depois de um tempo quebrando o silêncio.
- Por ali - apontei com o dedo a abertura e ele seguiu com o olhar balançando a cabeça em entendimento.
- E porque exatamente ? - questionou mais uma vez.
- Estava fugindo do meu ex-namorado idiota - dei de ombros e ele sorriu de lado.
- Eu vi você no show - ele disse indiferente e eu o encarei. Será que ele realmente estava olhando pra mim ?, pensei.
- É - respondi apenas.
- Então você é uma fã - ele afirmou baixo.
- Acho "fã" um termo muito forte. Podemos dizer que eu curto o som de vocês - rebati tentando parecer menos tiete aos seus olhos.
- Não vou falar da blusa, mas notei o jeito que você gritava e cantava com sua amiga - ele falou debochado e eu o encarei com uma sobrancelha erguida. Ele era realmente convencido. Decidi ignorá-lo e permanecemos em silêncio até que ele terminou seu cigarro e o apagou com o pé.
- Quer sair daqui ? - o vocalista questionou e eu sorri de lado. Estava demorando...
- Não, eu não vou transar com você - disse e fiz o mesmo que ele com o cigarro.
- E quem disse que eu quero transar com você ? - ele perguntou tentando me intimidar, mas eu me mantive firme.
- Não é isso que vocês band guys fazem com as fãs ? Convidam elas para “conhecerem” o camarim ? - questionei sarcástica cruzando os braços e ele sorriu dessa vez mais abertamente.
- Band guys... - ele falou como se testasse o termo - Sim, talvez eu faça isso algumas vezes, mas já que você deixou bem claro que não vai acontecer e eu com certeza não vou te forçar a nada, não teria problema em dar uma volta comigo não é mesmo ? - continuou, me incentivando. Analisei seus argumentos. Se eu voltasse até meus amigos, iria me encontrar com Dylan e o trabalho que eu tive em fugir do mesmo seria em vão e por cima ainda perderia uma chance única como essa. Não que eu idolatrasse o cara como Elise, mas porra, era o Alex Turner me chamando pra sair. Elise ia surtar quando soubesse.
- Ok, eu aceito - falei decidida e ele abriu mais um sorriso satisfeito - Mas e os fotógrafos e todas aquelas coisas de gente famosa ? - questionei.
- Não se preocupe, tenho prática com fugas desse tipo darling - ele afirmou - Venha.
O acompanhei e enviei uma mensagem para minha amiga dizendo que poderia ir para casa que eu chegaria mais tarde. Aquilo com certeza ia me render um interrogatório e tanto no dia seguinte, mas eu não me importava. Alex abriu a porta e entrou nos bastidores enquanto eu o seguia de perto. Ele transitava despreocupadamente pelos corredores e quando encontrou a porta com o nome Arctic Monkeys estampado entrou e me deu espaço para fazer o mesmo. O resto da banda estava ali, descansando depois do show. Elise REALMENTE iria pirar com aquilo e depois talvez me espancar por não trazê-la comigo.
- Quem é essa ? - Matt perguntou assim que me viu.
- Ninguém que te interesse Helders - Alex respondeu, mas o amigo se limitou a sorrir. Foi quando me toquei de que nem mesmo Alex sabia meu nome.
- Allyson Winters - falei e sorri fraco.
- Prazer Allyson, eu sou o Matt. Desculpe pela falta de educação do nosso amigo ali - Matt disse sorrindo debochado para Alex que apenas revirou os olhos. Era bem óbvio que eu sabia quem eles eram, mas fiquei feliz por ele ter se apresentado como em um reconhecimento normal por mais que eu tivesse a impressão de ele achava que eu era mais umas das "amigas" de camarim de Alex. Não o julgava por isso.
- Oi - Nick e Jamie me cumprimentaram educadamente e me julguei satisfeita em descobrir que eram tão amigáveis pessoalmente.
- Tá, tá, já estão apresentados, agora me empresta as chaves do seu carro Jamie - ele disse estendendo a mão direita na frente do homem de olhos azuis.
- E por que você não pega o seu ? - perguntou o loiro dando um gole em sua cerveja.
- Por que foi o único que veio de carro lembra ? Viemos de van - o moreno questionou sarcástico e Jamie jogou as chaves para ele.
- Só não o bata por favor - Jamie disse a contra gosto o que fez Alex sorrir.
- Até mais meninas - ele disse e me puxou pela mão para fora do recinto dando apenas tempo de eu acenar desajeitada para os outros três homens.
Alex andou apressado pelos corredores e não soltou minha mão, o que me deixou um pouco nervosa já que seu toque frio estava me causando uma sensação um tanto estranha.
Voltamos aos fundos do local e o Turner falou algo com alguns seguranças no caminho, que nos acompanharam até o lado de fora. Nós dois caminhamos cautelosos até um carro na outra extremidade também de difícil acesso visual. Alex destravou o carro e abriu a porta do passageiro para mim, que ergui uma sobrancelha para ele divertida.
- O cavalerismo britânico nunca morre baby - brincou e eu sorri entrando no carro. Alex bateu a porta e deu a volta entrando também. O carro era grande e bem confortável observei. É claro, eles são ricos sua burra, pensei. Os seguranças abriram os portões e percebi que tinha alguns que já estavam ali. Agradeci mentalmente por não terem me visto entrando furtivamente. Passar a noite na cadeia não era uma boa ideia. Notei que agora tinham várias fãs atrás da grade na esperança de talvez conseguir uma foto ou autógrafo. Elas chamavam pelo Alex. Perguntei-me como elas sabiam que era ele, já que o carro era de Jamie e os vidros fumês eram bem reforçados, não dando chance de ver o que se passava dentro do carro. Então ponderei mentalmente se elas o tinham visto entrar no veículo, pois apesar de difícil, eu não consideraria impossível entrar ali, até porque eu mesma tinha conseguido apesar de não ser pela mesma intenção. Pedi mentalmente para que EU não tivesse sido vista. Observei enquanto os seguranças abriam passagem para o carro e algumas meninas gritaram, mas Alex apenas passou direto, possivelmente considerando o fato de estar comigo e não querer fofocas estampadas sobre ele com uma garota estranha no dia seguinte. O carro saiu do local e chegou a avenida. O moreno ao meu lado olhava impassível para a estrada e eu me recostei no banco sem intenção alguma de quebrar o silêncio. Ele dobrava e dobrava e depois de alguns minutos eu deixei de prestar atenção no caminho que fazíamos e foquei nas luzes das lojas lá fora. Mais um pouco e o carro estacionou em frente a um bar bem iluminado, mas instalado em um local praticamente deserto.
- Agora vamos nos divertir Allyson - ele disse sorrindo lado e saiu do carro. Eu apenas o acompanhei.