N/A: alguns fatos reais foram modificados para ficar mais coeso com a história, ok? Espero que gostem!
Submersa
em minhas dúvidas, a proposta soara como uma armadilha. Embora na maior parte
do tempo eu tentasse ser otimista, os erros dos últimos tempos criaram uma
expectativa pessimista.
Há quatro anos, precisamente em 2008, aquele
mesmo pedido fora feito, num convite muito mais empolgado e comemorativo. Mais
tarde viria o lançamento do álbum Humbug, que dividiria a opinião dos fãs, mas
o conteúdo sonoro do CD não era de minha responsabilidade. As fotos ora
sóbrias, ora divertidas, as cores claras e escuras, as letras onduladas ou
retas, essas sim, foram da minha alçada. O Suck It And See era “clean”, sem
muitos apetrechos ou funções decorativas, era uma tentativa de alma límpida,
que no fundo não passava de superficial e maquiada. E provavelmente esse foi o
álbum mais fraco da banda. Expressando minha opinião pouco interessante sobre
ele, poderia muito bem me perder em críticas negativas ou positivas.
Entretanto, quando me lembro das noites agitadas que construíram os melhores
momentos pré-CD e pós-CD, não consigo abrir os lábios para pronunciar uma
palavra venenosa. Basta os lampejos que motivaram a escrita de She’s
Thunderstorms numa noite chuvosa de sexta-feira.
Essas
noites passaram, com uma rapidez mais áspera do que eu desejava, assumo. Pela
terceira vez o pedido é feito e, diferente das outras vezes, o meu sim não foi
dito num piscar de olhos. Sentada no batente da janela, ergui o livro para
tampar a minha visão. Alex, ocupando uma poltrona do lado oposto da sala, batia
o cigarro no cinzeiro, esperando a conclusão. Ele não queria repetir a
pergunta. Na verdade até mesmo duvidava se realmente estava interessado em
minha resposta. Olhando as letras da página, mas sem enxergá-las como deveriam
ser enxergadas, balbuciei um “sim” que mais soara como um miado abafado de um
gato manhoso. Ouvindo o suficiente, balançou a cabeça num sinal positivo, com
uma simples expressão de “é o que deve ser feito”. Daí em diante nenhum assunto
precisava ser tratado tão rapidamente como esse. Indo para o quarto, descansou
o que precisava ser descansado, sem me convidar para ocupar o espaço vazio ao
seu lado.
Namorar
alguém que passa mais tempo se dedicando aos outros do que a você, é como estar
numa roda-gigante. Há momentos altos, baixos e entediantes. A responsabilidade
é maior do que parece e, depois de um período avançado, é perceptível que
grande parte das suas atitudes serve como inspiração para a música. Embutido em
suas letras românticas ou cruéis, Alex falava sobre nós. Seguindo o histórico
da banda, em que nos dois primeiros álbuns os sentimentos descritos nas letras
eram de valor universal, a partir do Humbug, a universalidade passou para
intimidade. Os mais ingênuos acreditam que, por exemplo, a música Dance Little
Liar trata-se de um hino para um mentiroso qualquer. Talvez ele e eu sejamos as
únicas pessoas no mundo que entendem a veracidade dos versos: “And the clean
coming will hurt, and you can never get it spotless...”. É complicado saber que as suas mentiras machucam
um inocente e Alex precisava desabafar sobre os seus próprios crimes. O álibi
para a verdade era tratar de si como outro, e assim Dance Little Liar surgiu.
Superada a fase, a música não tem mais o mesmo efeito que antes quando cantada
para a sua plateia de alienados.
Vendo
por esse lado, se tivesse o poder de voltar no tempo, não excluiria a
existência do Alex de minhas memórias. Eu o amo. Um tipo de amor que foi
mastigado e cuspido, mas nem por isso menos intenso. Diante da opção de
modificar o meu passado, desejaria ter o conhecido no começo de carreira,
quando não passava de um adolescente ambicioso e livre dos abalos sentimentais.
Bem, não totalmente livre. Nenhum ser humano consegue passar a adolescência sem
ter a sensação dos primeiros abalos. Mas, com certeza, os abalos que ele sentia
abaixo da cintura e no meio do peito seriam tão inocentes quanto Mardy Bum.
Parece convidativo ser lembrada como uma garota mimada, não uma tempestade. E
nesse momento enxergo She’s Thunderstorms como algo cruel.
Não
posso mais adiar a minha noite de sono por esses pensamentos inquietantes que
ultimamente se repetem com frequência. Se agora Alex está acostumado a se
espalhar em meu lado da cama, talvez seja obrigação do meu ego se recolher e deitar
no espaço vazio entre o fim do colchão e uma queda para o chão. Às vezes sonho
com um anzol que me puxa desse abismo e me leva para uma realidade mais
açucarada.
Gente, adorei o jeito que tu escreve, muito bem pensado e inteligente. Esse capítulo foi lindo e eu poderia quotar inúmeras frases que foram pontos altos. A comparação entre MardyBum e She's thunderstorm foi muito linda! Gostei sim.
ResponderExcluirBeijo, Steph.
Obrigada pelo comentário e elogios, Steph! <3 Assumo que a comparação de Mardy Bum e She's Thunderstorms saiu de repente e quando reli achei que combinava muito com o pensamento da personagem principal nesse momento. Espero que goste do Capítulo 02 (que já foi postado) e dos outros também.
ExcluirBeijão! x