– Uau, Sofi, é lindo!!! – Abracei Sofi, muito feliz por mais um presente. Apesar de ter crescido como filha única, nunca fui acostumada a receber muitos regalos, mas isso não pareceu incomodar minha tia.
Tinha
finalmente desfeito toda a bagagem que levou pra Londres, e encontrado o álbum
fotográfico que havia comprado para mim, “colocar fotos que me faziam bem,
fotos felizes”. Já tinha em mente que Ben e ela seriam os primeiros a habitar
aquelas páginas.
– Não
precisava. Sabe que o anel que me deu já foi sufic...
– Imagine
menina!!! Esse álbum é parte do seu material agora. E então, já arrumou tudo?
– Uhum!
Não é como se eu estivesse indo pra escola né tia... – Respondi em um sorriso.
–
Claro, claro... Já é uma adulta não é mesmo?
– Quase,
eu acho. – Ainda tinha algumas semanas antes do meu aniversário, mas acredito
que além de passar a barreira dos dezoito, todos temos de experimentar mais
coisas e passar por certas situações para nos tornarmos adultos. De qualquer modo,
não ansiava muito por isso, se na minha situação como não adulta já estava em uma
bagunça grande.
– É uma
mocinha, e deve aproveitar sua idade. – Ela se levantou animada, caminhando até
a cozinha. – E seu pai?
– Ele
me ligou hoje, para saber da exposição. Claro que contei tudo – omitindo o de
sempre, uma vozinha fez questão de repetir em minha cabeça – e garanti que você enviaria as fotos da
exposição no email dele amanhã de manhã, assim que chegasse no trabalho. E uma
notícia boa! Ele também disse que provavelmente vai passar o Natal conosco, se
tudo der certo!
– Que
maravilha! Ele não tira férias há uns bons três anos. Vou adorar revê-lo, e
Miss Eleanor ficará encantada!
Costumávamos
comer algo bem leve de domingo à noite, como sopas e saladas, mas Sofi com sua
mania de me agradar pela barriga preparara um cozido maravilhoso de peixe e
ervas, e de sobremesa havia a torça de maçãs que preparamos juntas pela manhã.
Acredito que desde que havia me mudado, engordara uns bons três quilos com essa
comida britânica.
Depois
do jantar, assistimos juntas ao último episódio da terceira temporada de Grey’s
Anatomy, e fomos nos deitar. Mas antes de ir de encostar a cabeça no
travesseiro, decidi ficar um pouco no estúdio. Peguei Pingo e o levei também, pra que ele brincasse com seu bichinho de pelúcia de gato.
Vestia
uma calça de pijama de moletom cinza, e um top da mesma cor. Os cabelos presos
num coque sem laço, caindo sobre o rosto. Havia passado a noite anterior
arrumando algumas revelações em ordem por datas, esvaziando algumas câmeras no
computador, organizando o horário de aulas e lembrando da noite da exposição.
Não
consegui organizar a pilha de polaroides porque sempre que olhava para ela, me lembrava
de Alex. Alex, aqui, no meu estúdio. Alex no meu quarto. Alex na minha cama.
Tudo
isso, sem ser meu Alex.
Por um tempo
a amargura tomou conta de mim, e a pergunta que se enchia em minha mente era se
ele realmente sentia saudade, dormia pensando em meu corpo ao seu lado, e me
queria em seus lábios a cada dez pensamentos, como sempre sussurrava em meu
ouvido quando estávamos nos despedindo.
Naquela
noite, vendo-o sendo Alex Turner, o astro do rock namorado da modelo incrível,
parecia que tudo o que fomos acontecera em uma realidade paralela.
Me dei
conta de que no fundo, eu precisava de algo mais concreto. Algo que me fizesse
flutuar no mar que ele era. Precisava me agarrar em alguma coisa, para não
deixar a água entrar em meu nariz e boca, se encher dentro de mim e não me
deixar respirar. Pior. O sal da água fazer arder minhas feridas recém-fechadas,
que nada tinham a ver com o amor, mas com a saudade.
Pingo se enrolou nas minhas pernas me tirando da reflexão, avisando que já passara da hora de dormir. Quando finalmente cansei de pensar, consegui fechar os olhos mais rápido.
***
A manhã
veio, trazendo expectativas e uma sensação alegre. Decidi trancar minhas
filosofias em uma outra metade de mim, jogar a chave fora, vestir uma roupa
legal e aproveitar o primeiro dia de aula na Barsnley College, que se fazia
próximo a um outono frio e calmo.
Encontrar
Julie não foi difícil pois sua juba vermelha contrastava com qualquer ambiente.
Fomos juntas para as três aulas que teríamos, sentando uma do lado da outra, e
o feeling era o mesmo. Bastava olhar nos olhos dela para ver o que eu sentia
que os meus estavam fazendo. Brilhavam incessantemente, a cada apresentação e
conteúdo novo. Julie via seu sonho estar mais perto do que queria, e eu via o
meu começando a se realizar.
A
partir do sucesso que a exposição fizera, a faculdade parou em vários jornais
da região, e o nome dela ganhou ênfase. Em duas semanas ela conseguiu emprego
em uma agência de edição audiovisual, e me convidou para participar de sua
equipe como auxiliar. Mais uma vez, me deixou encantada com sua consideração
por mim. Perguntei-a o por que da atitude, e recebi a seguinte resposta:
“– Você
é especial Luisa. Especial da sua maneira. E merece isso tanto quanto eu.”
O
melhor é que conseguiríamos que o trabalho contasse como estágio para a
faculdade, o que fez com que eu aceitasse de prontidão. Além de manter a mente
ocupada, meu histórico e meu bolso ganhariam com isso.
O
trabalho não consistia em muitas coisas, a não ser ajudar Julie na edição de
fotografias de ensaios, ser responsável pelas fotos de matérias menores, e
substitui-la quando necessário. Eu não poderia imaginar melhor começo para mim.
No fim,
quase não tinha tempo para pensar na ausência dele. Havia demorado um pouco, mas depois de um ensaio de consciência
ficou mais fácil ignorar a falta de notícias.
Ele tem um álbum pra gravar, e eu uma
faculdade e agora, um emprego.
Sofi e
papai se animavam em me ver progredindo, e até surpresa com as notas boas nas
primeiras avaliações, que não tardaram a chegar. Até Ben se mostrou animado por
mim, e sempre que podia trazia comida pra Pingo e um pote de isopor com sorvete
pra tomarmos juntos depois que voltava do escritório, ou me chamava para um
café no Loft, como no início de nossa amizade. Sorri quando ele abriu o zíper da jaqueta, e vi que usava a camiseta da banda de
Alex.
– Você
parece feliz, e isso é ótimo! – Me disse, as covinhas de sempre dando tom ao seu
rosto cansado do trabalho.
– Está
uma correria, você pode imaginar... Mas finalmente estou fazendo o que vim
fazer aqui. E está sendo muito bom!
–
Lizzie vai adorar saber disso.
–
Vo..Você fala de mim pra ela? – Tentei disfarçar a incredulidade.
– E por
que não falaria? Ela adora saber de você, disse que deve ser uma pessoa muito
legal. Além do mais, você é minha melhor amiga Lou.
Conte Luisa. Conte pra ele quem você anda
beijando.
– Você
também é meu melhor amigo Ben. Não duvide disso. Nunca.
***
Era o
fim da terceira semana de setembro, uma nova sexta feira que vinha carregada de
cansaço e estudo. Quase não precisava mais tomar chás para adormecer porque na
maioria das vezes meu corpo me puxava para a cama, mesmo que a minha mente
ainda não estivesse preparada, e os dois acabavam entrando em um acordo silencioso,
proveitoso para ambas as partes.
Me
despedi de Julie e Beatrice às cinco horas, combinando um encontro no meio de
uma das nossas janelas, para concluirmos uma apresentação de slides sobre as
primeiras máquinas fotográficas.
– Vejo
vocês segunda! – Me despedi, pegando o material e enfiando na bolsa.
– Até
meninas. – Beatrice se despediu, tomando o corredor de saída. Já me encaminhava
para lá, quando Julie me parou.
-–Aproveite
o dia hoje, está com uma cara tão cansada! Não quero nem sonhar em te ver na
agência. E sem retaliação. – Dito isso me abraçou forte, e partiu com seus
sapatos tilintando pelo asfalto até o carro azul céu, que tinha Phillip lá
dentro. Acenei para os dois, e desci as escadas do prédio marrom de tijolinhos
da universidade, pegando o caminho para o ponto de ônibus mais próximo. Virei a
esquina, quando passei por um carro conhecido.
Como se
um sinal invisível tivesse sido disparado, parei automaticamente, e ouvi a
porta do volvo preto se abrir.
– Está
atrasado. – Disse antes de me virar, e quando o fiz a Antártica se fez em meu
estômago. Alex vestia uma camiseta branca, e uma jaqueta jeans, tomando uma
aparência mais leve do que a usual. O cabelo sem nenhuma camada de gel, estava
molhado. Imediatamente quis colocar minhas mãos ali. – Muito atrasado.
Sem me
responder uma palavra se quer e ao menos tirar o sorriso do rosto, caminhou até
meu lado abrindo a porta do carro, e fazendo sinal para que eu entrasse.
Continuei
parada, porque a nuvem de amargura me atingiu novamente. Mas antes que eu pudesse
virar as costas e ir embora como uma resposta inútil do meu orgulho a essas
semanas de esquecimento, Alex veio até mim e tirou os fios de cabelo que caíam
sobre minha face, colocando-os atrás da orelha, tocando meu rosto em seguida
com as costas da mão. Os olhos traziam brilho de dentro das camadas mais
profundas.
– Gosto
de ver seu rosto assim. – Então, o fez. Me beijou. Assim, do nada, no meio da
rua. Até que pudesse ter alguma reação, sentir seus lábios junto dos meus era
algo que meu corpo fez questão de demonstrar que também havia sentido falta.
Pegou em minha cintura, por debaixo da bolsa que eu carregava nas costas, e me
encaixou em seu peito. O cheiro do seu perfume, da pele fresca e a vibração do
seu coração que batia forte por debaixo da camiseta era uma mistura difícil de
ser ignorada. Após um tempo um pouquinho de raiva surgiu, e com certo esforço
soltei o abraço e o ar, separando o beijo. Não deixando, porém, que eu
pensasse, fez aquilo que eu amava.
Beijou
minha testa, minhas bochechas, meu nariz, e terminou com o selinho estalado,
que emitia o barulho que me fazia envergonhada.
– Estava
com saudade, minha menina. – Disse, ainda sorrindo. – Vamos, vou te levar a um
lugar. Precisamos conversar.
Entrei
no carro, jogando a mochila no banco de trás, e colocando o cinto. Ele fechou a
minha porta, e logo tomou seu lugar. Encarei minhas mãos, mas não consegui
silenciar minha mente. Nem minha boca.
–
Alex... Eu... Sabe, não quero parecer estar confundindo as coisas. Mas acha que
só vir me buscar e me encher de carinhos é suficiente para que eu esqueça essas
semanas de silêncio depois daquela festa?
Ele
suspirou alto, soltando a respiração. Dez segundos.
–
Esperei que me dissesse isso. E não, não acho que seja. Por isso quis saber de
imediato se você ainda me queria. Eu... Eu estava sufocando.
Ele
estava sufocando. Eu já havia sufocado.
E mesmo
assim era como se ele fosse minha reserva extra de ar.
Encarei
a janela, olhando o muro da universidade.
– Senti
sua falta também, idiota. Um beijo assim foi golpe baixo. – De repente não
fazia mais sentido esconder meus pensamentos dele, que me via tão transparente.
Como esperei, soltou uma risada gostosa, logo se virando para mim.
–
Imagine minha situação. Temia que me recusasse.
–
Admito que isso quase aconteceu. Mas quero ao menos ter certeza de que você
merece que eu o faça. – Ainda mais
certeza, corrigi mentalmente.
–
Então, não temos tempo a perder. Preciso aproveitar enquanto você ainda gosta
de mim. – Arrancando um sorriso da minha feição cansada, ele colocou o cinto.
– Vou
ser um cara melhor daqui pra frente, Luisa. – Disse, ligando a ignição e
soltando o carro, que logo nos direcionava para a cidade.
***
– Por
que será que toda vez que entro no seu carro, nunca sei onde vamos parar?
Alex
estacionava na frente de um pub escuro e esquisito, numa rua perto de uma
periferia, em Sheffield.
Era a
primeira vez que voltava à cidade, desde o show que colocara o vocalista na
minha vida. Ou me colocava na sua. Quando percebi que saíamos naquela direção,
mandei uma mensagem para Sofi avisando que ficaria com Julie, e outra para a
mesma, pedindo que confirmasse meu álibi.
Mais mentirinhas que não vão te levar para o
ceú, pensei conformada.
A curta
viagem fora tranquila, e eu me concentrei em ouvir Alex cantarolar suas canções
setentistas. Sua voz se tornou meu lar, e me levava ao estado de torpor de
estar ou não dormindo. Estar ou não ouvindo um anjo tocando irritantemente a
minha alma.
Desci
do carro sonolenta, querendo muito apenas voltar pra minha cama e de quebra,
que ele fosse comigo, cantar até que eu caísse no sono. Esse desejo, guardei
para mim.
– Você
vai conhecer meus amigos hoje. Oficialmente, eu quero dizer.
– Poxa
vida, devia ter me dito antes. Eu traria meu álbum para que eles pudessem
assinar. – Disse, fingindo decepção. Mal sabia seus nomes.
Alex
sorriu e suponho que tenha se lembrado do Suck
it And See aberto no meio das minhas coisas, naquela noite no meu estúdio,
mas manteve sua satisfação escondida.
– Hoje
não somos rockstars. Somos apenas caras afim de uma cerveja. Talvez, mais de uma.
– Disse, e fiquei contente com a descrição. Abri a porta e não havia sininho,
apenas um ranger de dobradiças velhas. O pub era escuro, mas mais limpo do que
demonstrava ser.
Alex
uniu sua mão à minha num aperto, e nos direcionou até uma mesa perto do bar,
onde... três caras e duas garotas conversavam. Uma delas estava encostada no
ombro do que reconheci ser o loiro que tocava guitarra. Não me lembrava do
rosto dos outros dois.
Ao nos
ver, logo acenaram e cumprimentaram Alex. E o olhar de todos recaiu sobre mim.
– Hey
fellas! – Ele disse animado. Então se virou para mim, com um olhar calmo. –
Bom, essa é a Luisa.
Vi
sorrisos em seus rostos, e talvez um pouco de receio, que logo foi disfarçado.
Sentamo-nos, eu do lado de um dos caras, que logo descobri se chamar Matt. A
garota ao seu lado era sua namorada, Breana. Era linda e muito divertida, e
logo me ofereceu tequila, que eu recusei da maneira mais delicada que pude.
Então a menina que antes encostava no guitarrista, Jamie, me ofereceu algo. Eu
disse que aceitaria um refrigerante, e ela se apresentou como Katie, e fez o
favor de pedir uma Coca Cola para mim.
O
terceiro cara estava sozinho. Era quem olhava de forma mais consternada para
mim, como se sentisse por algo. Tinha uma beleza ímpar, e logo fui informada de
que sua noiva não pudera vir, pois estava lidando com o trabalho.
As
demais namoradas vieram apenas para passar um tempo com a família dos meninos,
que morava toda em Sheffield. Breana conheceu seus sogros na noite anterior.
–
Namoramos a pouco mais de um ano, mas só tive tempo de vir pra cá agora. – Ela
me disse animada, e Matt concordou.
– Bree
tem dificuldade em assumir relacionamentos. – Matt disse para mim provocando-a.
– Cara,
contente-se com o fato de que você tem um relacionamento comigo.
Em
pouco tempo todos bebiam e petiscavam coisinhas. Alex bebeu vários goles da
minha garrafa de cola, enquanto bebericava um whisky barato que os meninos
haviam pedido, e vinha em garrafas em miniatura. Perguntaram sobre mim e
ficaram animados com minha história. Nick e Jamie fizeram elogios ao Brasil, e
disseram que as praias eram a melhor parte do país, além da comida. Eles
adoravam pão de queijo. Fui elogiada pelo sotaque, e quando contei da recente
exposição na faculdade – omitindo Alex da história, que pareceu não achar mal –
Katie ficou muito animada. Ela também fora modelo, e só sossegou quando deixei
o link do site com as fotos em seu telefone. Breana que modelava em Los
Angeles, adorou a informação.
– Acho
que temos um gosto comum, certo? – Jamie disse, fazendo os meninos rirem.
– Mas
Kelly está aí para descordar. – Katie respondeu.
– E
Luisa também. – Breana adicionou, me fazendo corar. – Mas não por perfil, é
claro. Ia se dar muito bem nesse meio da moda.
Sorri
com o elogio, mas logo o momento bom se esvaiu, pois me lembrei das mesmas
palavras que vieram até mim por Arielle. Deixei a recordação de lado, decidindo
por aproveitar aquele contato. Alex parecia tão etéreo e animado junto de seus
amigos, e não tirava o sorriso do rosto. As linhas que tinha do lado dos olhos
apareciam em evidência, e sem querer de vez em quando me pegava olhando seu
rosto. Sentia meu coração sorrir, pois era lindo poder ter acesso a esse seu
lado tão gentil e feliz.
Boba Luisa, já está suspirando, pensei
divertida.
Após
umas boas duas horas de conversas que foram de futebol até perfumes, passando
por algumas bandas e música em geral, Matt e Breana pareciam alterados e
decidiram que era melhor ir pra casa. Por unanimidade todos concordaram que
precisavam descansar. Havia sido uma semana cheia pelo que peguei de uma das
pautas, com relação aos primeiros passos que já estavam sendo tomados para a
gravação do álbum novo.
Saímos
do pub e as garotas não me pouparam de abraços e beijos, devido ao nível de álcool
no sangue, talvez. Trocamos nossos telefones. Enquanto anotavam me despedi dos
meninos com acenos, e logo tomaram o rumo do carro em que haviam chegado. Nick
assumiu o volante, pois não bebera quase nada.
Depois
que foram embora, a sensação de estar com Alex voltou, junto com o frio na
barriga. Ignorei-a, e caminhamos em silêncio até o carro.
–
Então... Gostou deles? – Ele me perguntou, a voz temerosa.
– Claro
que sim! Como poderia não gostar... São tão simpáticos. Estou mais preocupada
com o que pensaram de mim. – Respondi. – Acho que o... Nick, não me achou tão
legal assim. Não falou muito.
– Nem
pense nisso. – Alex respondeu, com um pingo a mais de seriedade na voz. – Nick
é um cara mais reservado e tímido, é o jeito dele. Depois que ele se solta,
fica insuportável. A coisa é que você parece legal demais pra mim Luisa.
Talvez
mais diferente, mas não legal, imaginei. Não parecia mais legal de maneira
nenhuma do que Arielle. Me peguei pensando sobre o que eles achavam da vida
dupla que Alex levava agora.
– Já
trouxe muitas meninas para conhecer seus amigos da banda? – Perguntei o mais
delicada possível. Não queria que soasse provocativo. Queria saber a verdade,
para me colocar nas estatísticas.
– Me
deixa mal saber que pensa assim de mim... Mas não a culpo, nem tenho porque
esconder nada. – Alex respondeu sem tirar o olho da rua. Já estávamos em
movimento. – Na verdade, dessa maneira, só minhas namoradas. As meninas que
conheço durante os shows, não são tão frequentes assim. E o que acontece no
backstage, fica no backstage.
– Está
me dizendo que sou a exceção?
–
Tecnicamente.
Rimos,
eu incrédula.
– Me
faz pensar que sou alguém especial desse jeito. E não devia fazer isso, Alex.
– Você
é que devia parar de ignorar que estou maluco por você, quando sabe que é
verdade. – Ele continuou.
– Não
sei se quero admitir isso. – Disse risonha. – Quer dizer que ao meu lado está o
verdadeiro Turner? Não aquele pintado nos palcos e nas bocas dos fãs.
–
Maybe. I dunno... Eu não sei dizer exatamente quem eu sou. É uma pergunta muito
difícil.
Ele
continuou o caminho, cantarolando Baby,
I’m Yours. Ponderando sobre, percebi que era mesmo uma pergunta
complicada... Que é melhor respondida sem palavras. A parte que eu conhecia
dele, me dizia que aquele Alex era possível, mesmo que não fosse o real. E isso
bastava.
Quando
percebi que fazia mais de vinte minutos que rodávamos a cidade, resolvi
perguntar onde íamos.
–
Pensei que não se importaria... De conhecer onde vivo aqui em Sheffield.
Certamente que não acha que moro com meus pais. – Ele disse sem disfarçar a
vitória.
Meu
coração pulou na boca e meus olhos se arregalaram, sem saber como agir.
Disfarcei o nervosismo me virando para encarar a janela, concordando. O que
tinha demais, afinal?
Não seja boba, tem tudo de demais.
Em
pouco tempo chegamos em um prédio não muito grande, de fachada simples, mas
bonita e sofisticada. Alex estacionou. Peguei minha mochila, coloquei o celular
no bolso, e logo estávamos no elevador. Quase onze da noite.
Decidi
enviar outra mensagem avisando tia Sofi, de que provavelmente não dormiria em
casa, tentando esconder a sensação que a própria afirmação me trazia.
Fiz o
caminho do elevador até seu destino respondendo Alex sobre minhas fotos na
exposição. Ele disse que eu tinha mesmo algo especial, e poderia tentar ser
modelo. Mas respondi, dizendo que amava muito mais estar por trás das lentes, e
não descansaria até enjoar disso.
– Posso
entende-la, pois tinha tudo pra seguir uma vida diferente. Mas faço o que amo,
e sei que nem os caras e nem eu nos arrependemos de escolher a estrada.
Em
pouco tempo entramos na suíte 302 do nono andar, do prédio de dez. Alex possuía
o ego tão inflado que não suportaria viver na cobertura. Me disse que na
verdade preferia morar em casas, e tinha uma em Los Angeles, com piscina e
churrasqueira. Mas a decisão de adquirir um apartamento em Sheffield veio assim
que o sucesso veio, para que os meninos tivessem um lugar calmo para ficar
depois dos shows, usar os baratos, e trazer as conquistas.
O
barulho das chaves abrindo a porta me trouxe à realidade. Estava no quarto de
Alex Turner.
– Esse
quarto deve ter muitas histórias. – Eu disse ao entrar. O cômodo era grande e
espaçoso. Uma mesa, uma tevê em uma estante simples, alguns objetos de
decoração. Quadros de paisagens e algumas mulheres nuas pelas paredes. Um com
uma foto dos Beatles. Britânicos.
Acendera
somente a luz da copa, deixando o ambiente meio iluminado.
– Está
pronta para fazer parte delas, Luisa? – Disse, todo Don Juan. Obviamente
brincando sobre o que falávamos antes.
Tremor.
Tremor por toda parte de mim.
– Uma
parte protagonista. – Se dirigiu até mim.
Minha
respiração estava descompassada. Antes que pudesse se aproximar, porém, eu dei
meia volta.
– Mais
cedo disse que tínhamos que conversar, se lembra? Pois bem. Acho que é o
momento perfeito.
– É
claro. – Ele riu, e servindo-se de um copo de água sobre a escrivaninha, tomou
o caminho de seu quarto. Como na maioria dos flats gigantescos, não haviam
portas, apenas passagens altas e largas. O segui, silenciosa. A cama era muito grande,
quadrada. Lençóis azul-céu e uma manta com pequenos motivos étnicos a cobriam.
Havia uma guitarra e um violão perto de uma mesa cheia de papéis espalhados e
duas xícaras que provavelmente estavam sujas. Fora a pequena bagunça pessoal,
era perfeitamente organizado.
Antes
que eu terminasse minha análise, porém, ele se sentou na cama. Terminou de
beber a água, e apertou o rosto com as mãos. Ao voltar a me encarar porém, vi o
rosto animado de quando me encontrara mais cedo surgir novamente.
–
Depois da noite da exposição – Ele começou – eu não consegui mais encarar
Arielle sem me sentir culpado. Era como se as pessoas que eu conheci estando
com ela de repente me apontassem, descaradamente, e havia você ali. Pronta para
ser minha. Não havia mais nada que me prendesse a ela, a não ser a admiração, e
isso me fez me sentir muito mal.
– Alex,
voc...
– Você
fez reviver em mim algo que não sentia há um tempo. O peso das minhas
decisões... E elas estavam me afastando de você, pois sabendo quem é, sei que
não suportaria isso. Não por você mesma, o que a faz ainda mais perfeita aos
meus olhos, mas por ela.
Então,
nós terminamos Luisa. No dia seguinte, depois de uma longa e triste conversa
nós terminamos, e eu fui viajar para pegar minhas coisas em seu apartamento, e
ela as dela em minha casa. Foi pacífico, mas eu precisei de um tempo. E passei
as últimas semanas me colocando em ordem. Colocando a cabeça e o coração em ordem,
me preparando para você. Por que você me
bagunçou por completo.
Então
se levantou, e dessa vez não me deixei fugir. Meu coração batia alto contra o
peito, doído, e tenho certeza de que ele escutava. Colocou uma de suas mãos em
minha cintura, e a outra em meu rosto. Fechei meus olhos, deixando a emoção
tomar conta de mim. – Por favor... Luisa, meu amor. Não quero passar nem mais
um dia sem saber que você é minha.
E pela
primeira vez, era meu Alex que
falava.
– Eu
sempre fui sua Alex. – Disse fechando os olhos, e ele encostou sua testa na
minha. Nossas respirações se encontraram, fora de ritmo pela ansiedade. – A diferença é que agora eu posso voar... Voar até você, sem machucar nenhum
passarinho no caminho.
***
N/A: Meninas! Cá está um capítulo que fecha um ciclo bem grande. Até agora tem sido um mega prazer escrever essa fic, e a resposta de vocês é meu maior incentivo. Não só nos comentários aqui, mas via outras redes sociais. Só tenho a agradecer, e espero que continuem curtindo. Me digam, expectativas???
O próximo capítulo é um "I want it all", posso adiantar.
Big beijo! Débs
MORTA FEATURING ENTERRADA! O que foi este capítulo Debs de Deus?!!!
ResponderExcluirNão vou me estender muito, mas, adorei, amei, quero mais, show me the capítulo!
Bjos, Babs.
FIQUEI MORTA DE AMOR com esse comentário. A resposta mais rápida que eu já tive, hahaha.
ExcluirSabe que você gostou do capítulo me anima muito. Era mais um dos capítulos "encher você sabe o que" mas como sempre, havia uma parte muito importante aqui. Uma certa leva de sensações que precisavam ser sentidas. Situações que necessitavam ser experienciadas, e deixadas finalizadas. O próximo é a conclusão do arco "Conquiste Luisa".
E que comece a maré da incerteza.
Beijo enorme, Débs