TV IN BLACK & WHITE 06: YOU ARE GONNA SLEEP ALONE

  Voltei para casa apenas quando o sol estava partindo. A luz laranja que exalava pintou os prédios de modo encantador. Minha cabeça estava leve, porque me proibi de pensar em qualquer assunto que me deixasse confusa. Porém, de pouco adiantou já que meu coração parecia estar carregado de chumbos.
  Deitei-me na cama e repassei o dia. O trabalho estava indo bem, os meninos eram engraçados e fáceis de socializar. Foram simpáticos e gentis comigo e parecera não se importar com as perguntas que eu lhes fazia. Eu decidi voltar a morar em minha antiga casa, não fora uma decisão que tomei de uma hora para a outra na verdade, semanas atrás já havia conversado com meus pais por telefone e eles me lembraram da casa. Além do mais, se eu pretendia levar o plano que eu tinha em minha cabeça a sério, seria bom ter um lugar mais espaçoso e aconchegante.  
  Então por fim, Alex. Meu corpo se estremeceu só de pensar em seu nome. Fiquei pensando o que deu nele para falar daquela história de amor reprimido. E no final, do que importava? Há uns dias atrás ele estava implicando comigo mais do que qualquer outro ser humano, e agora esperava que eu o tratasse com beijos e sorrisos? É verdade que ás vezes eu me esquecia de que ele era uma pessoa egocêntrica e irritante demais e o tratava com afeto. Até mesmo, em plena consciência, tentava ser legal com ele, porque uma parte de mim me forçava a isso, mas a outra, aquela que guardava sentimentos completamente desagradáveis e que não fez nenhum bem a mim, parecia gritar mais alto.
    Com o rosto ainda enterrado no travesseiro, ouvi a campainha tocar. Não me movi desejando que não fosse em meu apartamento para eu voltar me afogar em meus pensamentos. Contudo, ela soou de novo e me vi obrigada a levantar.
  Praticamente rastejando, fui até a porta para logo em seguida de abri-la, ver Alexa  em um estado pior do que o meu. Além disso, o fato de vê-la naquele instante me lembrou de que ela era uma parte da muralha entre mim e Alexa.
  - O que aconteceu? – perguntei a abraçando – Por que está chorando?
  Ela tentou falar algo, mas soluçava tanto que resolvi deixar as perguntas para depois.
 
  Após fazê-la se sentar, pois não parava no lugar, andando de um lado para o outro incapaz de pronunciar uma palavra se quer, preparei chá para ambas e tentei fazer com que ela conseguisse me explicar o motivo de tanta apreensão.
  - Tudo bem, calma – segurei suas mãos – Agora me diz: por que você está assim?
  - E-Eu não sei.
  - Como não sabe? Alguém lhe fez alguma coisa?
  - Não... Quer dizer sim, mas não justifica o meu estado. Não sei porque tive essa reação.
  - Sei – dei um gole no meu chá quente – E quem exatamente fez o que?
  Ela fechou os olhos e permaneceu em silêncio.
  - Alexa, quem fez você ficar assim?
  - Ele me ligou.
  - Quem ligou?
  - Alex.
  “É claro que ele ligou”, pensei comigo mesma. Eu respirei fundo e tentei permanecer indiferente diante da situação.
  - E o que ele disse? – perguntei.
  - Primeiro ele disse que só queria saber como eu estava... Depois começou a falar de lugares que costumávamos ir e de coisas que costumávamos fazer. Ele foi gentil e me fez rir. Ai ele me convidou para jantar. Amanhã.
  - Você aceitou?
  - Sim, eu aceitei. Eu não sei, comecei a me perguntar por que terminamos. Alex faz com que eu me sinta tão bem... Você acha que eu sou idiota por isso?
  Após um longo suspiro, respondi:
  - Não importa o que eu acho. Você tem que fazer o que tiver vontade de fazer.

...

  No dia seguinte, encontrei com a banda no Central Park. Nossa primeira parada em meio a outros pontos turísticos de Nova York. Procurei falar com Alex apenas o necessário, mas ele insistia em me perguntar coisas que qualquer outra pessoa poderia responder.
  - Elle, você está bem? – ele havia diminuído o passo para me acompanhar e se afastar dos outros que estavam mais a frente.
  - Melhor impossível.
  - Não parece.
  - É uma pena que não pareça, por que estou ótima.
  Permanecemos em silêncio por alguns minutos até que Alex voltou a falar:
  - Você quer fazer algo essa semana? Podemos sair, ou sei lá...
  Eu sorri. Não de felicidade, mas por não estar acreditando no que eu havia acabado de ouvir.
  - Sair? Eu e você?
  - É, por que não? – deu de ombros – Somos livres e desimpedidos.
  - Somos livres e desimpedidos? – ri debochada – Que bom! Que tal hoje á noite? Por que não vamos jantar?
  - Hoje? Eu estava pensando em...
  - Por que não? – parei de caminhar – Há algum problema em ser hoje? Achei que éramos livres e desimpedidos.
  - É porque hoje...
  - É porque hoje Alex, você vai jantar com a Alexa! – imediatamente eu coloquei minha mão sob a boca ao perceber que eu estava praticamente gritando.
  Ele olhou ao redor, alguns curiosos haviam parado para bisbilhotar a vida alheia, mas logo trataram de seguir seu caminho.
  - Como você sabe?
  - Ela é minha melhor amiga!
  - É, eu sei. Foi uma pergunta idiota.
  - Muito idiota. E além do mais, eu não quero jantar com você. Hoje você vai á um jantar com a Alexa, amanhã você vai á um jantar comigo e depois de amanhã pega um voo e vai correndo para os braços da Arielle, que até onde eu sei é sua namorada.
  - Eu e a Arielle a gente...
  - Eu não quero saber. Não precisa me dar explicações – falei irritada.
  - Até quando você vai ficar me interrompendo, Elle? Até agora você não me deixou terminar uma frase.
   - Eu não quero ouvir mais uma palavra sua! – saí andando em passos firmes.
   - Mas o que eu...
   - Vai se ferrar, Turner! – gritei olhando para trás, o lançando um olhar furioso.

  Alex’s POV

  Após um dia cansativo, tentando manter pelo menos um metro e meio de distância entre mim e Elle para minha própria segurança, fui para meu apartamento para relaxar um pouco antes de me encontrar com Alexa. Uma decisão que eu havia tomado após revirar uma caixa com fotos e filmagens de um, dois, até três anos atrás. Velhas memórias que trouxeram a tona sentimentos que pensei terem desaparecido de uma vez por todas.
  Peguei a caixa, que ainda estava no chão da sala e a guardei no armário. Quando estava prestes a virar as costas, vi que uma fita de vídeo estava a ponto de cair da prateleira. A fita havia sido gravada em meu aniversário anterior.
  Como eu ainda tinha tempo, decidi revê-la. Coloquei a fita em um antigo vídeo-cassete que eu guardava e dei play. Na tela, meus amigos me desejavam feliz aniversário. Matt, Jamie, Nick, meu pai, minha mãe, Alexa... e Elle.  Seu cabelo estava mais curto naquela época, parecia cansada e muito mais magra. A impressão que tinha era que se uma brisa seria capaz de derruba-la.
  - Seja legal – Alexa pediu, era ela quem estava filmando – É o aniversário dele, ok?
  - É, tanto faz – deu de ombros – Feliz aniversário, Alex. Apesar de não gostar muito de você...
  - Elle! – a amiga a repreendeu.
  - Tudo bem. Feliz aniversário Alex! Eu não odeio você, apesar de parecer isso a maior parte do tempo. E mesmo nós não sendo lá muito chegados, eu desejo toda a felicidade do mundo a você.  E eu... – houve uma pausa, e logo após ela sorriu – Eu espero que fique bem.
 
  Elle’s POV

  Estava em minha antiga/nova casa, resolvi adiantar a mudança e com a ajuda de Matt, empacotei e transportei algumas caixas. Depois do dia estressante, a melhor coisa a fazer era me distrair um pouco dos problemas.
  - Essa é a última – ele havia deixado uma caixa com as palavras “CDs/Vinis” escritas com um pincel atômico azul no canto da sala.
  - Que bom, porque eu achei um balanço lá atrás e você vai ter que me ajudar a amarra-lo na árvore.
  - Achei que você tinha sido escoteira – disse enquanto nos dirigíamos para o jardim.
  - É verdade, mas eu nunca disse que eu fui boa nisso. Eu não suportava a líder das escoteiras gritando toda hora “Deville, um bebê faz um nó melhor que o seu! Deville, não é assim que se acende uma fogueira!”.
  - Parece meu pai quando estava brigando comigo... “Matthew James Hitt, você já fez o seu dever de casa? E não me venha dizer que a professora sofreu um acidente! – imitou o pai em um tom severo.
  - Você já usou a desculpa que a professora sofreu um acidente? – perguntei quando já estávamos embaixo da árvore que o balanço ficaria.
  - Acredite, não foi uma desculpa tão ruim quanto as outras.
  - Eu não quero nem ouvir as outras – disse pegando uma das cordas do balanço e dando outra para Matt – Você alcança o galho?
  - Acho que sim... Mas tem certeza que isso não vai cair?
  - Bem, me sustentava quando eu tinha 10 anos.
  Ele lançou a corda em volta do galho, e fez um nó surpreendentemente ágil.
  - Não sabia que você era bom com nós.
  - Passe um verão com meu avô e você verá o que acontece. Vai ser capaz de dar um nó até um cano de aço.
  Depois de checar algumas milhares de vezes para ver se estava firme, resolvi me sentar e Matt começou a me balançar, para frente e para trás em um ritmo constante. A brisa gelada em meu rosto, junto com a noite que vinha caindo me dava a sensação de infância. Fechei os olhos e era como se eu tivesse 10 anos novamente. Minha mãe faria um bolo de chocolate, meu pai iria me balançar tão alto que eu poderia tocar o céu. Então mais tarde, nós iríamos nos sentar em frente á lareira, meu pai iria contar uma história sobre algum reino distante e comeríamos o bolo de chocolate.
  Abri os olhos. Eu tinha 23 anos. Minha mãe não fez um bolo e meu pai não estava me balançado. O balanço havia parado e Matthew estava com a mão sob meu ombro. Então, olhei para a varanda e o vi. Parado, nos observando. Meu coração acelerou e meus músculos se enrijeceram. O que ele estava fazendo ali?
  - Você quer que eu vá falar com ele? – perguntou Matt.
  - Não. Não precisa, eu cuido disso. Me espere aqui, tudo bem?
  Levantei-me lentamente e atravessei o gramado. Subi os dois degraus que nos separavam e parei em sua frente.
  - Como você sabia que eu estava aqui?
  - Eu fui até seu prédio e o porteiro falou que você havia saído carregando caixas.
  - E por que você está aqui? Achei que ia jantar com a Alexa.
  - Eu... Eu preciso falar com você.
  Eu cruzei os braços e suspirei. Analisei sua expressão, sua cara não era das melhores.
   - Tudo bem. Vamos dar uma volta.

  Andávamos pela rua, com árvores nas calçadas e casas aconchegantes. A tranquila vizinhança dava a sensação de que estávamos em uma cidadezinha pequena, não na grande e barulhenta Nova York.
  - Matthew não vai se importar com sua saída? – perguntou.
  - Não, ele vai passar a noite lá.
  Alex pigarreou.
  - Vocês, é... Voltaram?  
  - Não – respondi simplesmente – Mas o que você quer, Alex?
  Ele chutou uma pedrinha que estava em seu caminho, chutou com uma força maior do que a necessária. Ele parecia estar com raiva.
  - O que há de errado com você? – parei o segurando pelo braço.
  - Sabe o que eu queria, Elle? – ele mantinha as mãos nos bolsos da jaqueta e seu tom era um tanto melancólico.
  - Alex...
  - Eu queria voltar no tempo e ter conhecido você antes de ter conhecido a Alexa.
   Abri a boca para falar, mas nenhuma palavra saiu.
  - De repente, é como se isso fosse a coisa mais óbvia do mundo – ele continuou – Não que eu não tenha amado a Alexa, mas, se eu pudesse escolher...
  - Mas você não pode. Não, não pode. Você... O que você está falando? 
  - Por que eu vim atrás de você, Elle? Por que eu deixei a mulher que eu tanto queria de volta me esperando e vim atrás de você?
  - Porque você é um idiota – falei – Você é um completo idiota.
  - Sou é? – riu – Mas você gosta de mim do mesmo jeito. E é por isso que você era tão chata. Porque você não podia me ter. Você me queria, mas eu estava com sua melhor amiga e você sabia que eu a amava. Mas sabe qual o mais engraçado disso? Por mais que você fosse uma garotinha irritante, eu sempre prestei atenção em você e me perguntava o que eu faria com Elle Deville se as coisas não fossem como eram – ele se aproximou – Diz que eu estou mentindo.  
  - E o que importa se for verdade? – mantive o tom firme – Nos já fizemos nossas escolhas.
  - Ah, ai que você está enganada – sua boca estava ao lado de meu ouvido – Se for verdade, o que nós dois sabemos que é, podemos ir para meu apartamento e fazer o que esperamos tanto tempo para acontecer. Por que eu quero você pra mim Elle, e você também me quer.
  - Acontece Turner, que do outro lado do país tem alguém lhe esperando. E bem aqui, em Nova York, a mulher que você poderia ter já foi embora para casa porque você a deixou plantada em um restaurante. Alem do mais, diferente de você hoje á noite – me afastei de seu corpo - Eu não vou dormir sozinha. 

***

N/A: Oi! Quanto tempo, pois é, me perdoem por isso. Mas finalmente, aqui está a atualização. 
Espero que tenham tido um bom final de ano e que esteja tudo bem com vocês. Também espero que minha falta de ânimo não tenha transparecido no capítulo porque eu prometi para mim mesma que ia terminar por vocês. Mas enfim, torço para que tenham gostado. Beijos, Bel. 
  

8 comentários:

  1. ಥ⌣ಥ ai meu Deus que bom ler um novo capítulo dessa história. Espero que a próxima atualização não demore tanto, porque eu já to com o coração na mão...

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  2. Oii!! Adorei seu post...muito bem escrito! Por favor, não nos abandoneee!!! Hahaha.. continue postando pois já estou curiosa... :)

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  3. Ah, que bom ver uma nova atualização dessa fic, já tava sentindo falta.

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  4. AI MEU DEUS! CARAMBA QUE CAPITULO PFTO. Eu esperei semanas por essas atualização e valeu a pena, tava sentindo tanta falta de atualizações dessa fic e vem esse capitulo lindo, nossa tô com o coração na mão, mal posso esperar pelo aproximo, sério.

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  5. Falta de ânimo? Eu adorei o capítulo, só aqui curto hehe... E que maneira de terminá-lo, hein! Eu, claro, já estou ansiosa pro próximo capítulo! Beijos

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  6. Beeeel! Ai que saudade das suas estórias... A Elle é uma personagem ímpar, me surpreende o quanto ela consegue resistir ao Alex; que por sinal, está mais vulnerável do que nunca. "Eu não vou dormir sozinha" hddjhcdfkifahkfdh Nossa! Massageou até o meu orgulho hahaha Continue, por favor. Beijos


    Steph

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  7. Confesso que não achava que o Alex fosse pra cima da Elle tão cedo. E a pergunta é: como ela consegue resistir ao Alex? Continua, por favor! Essa fic é demais!!!!!!!!!!!!

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  8. Parando pra analisar, o ''ódio'' e a implicância dos dois faz todo sentido do mundo. Criaram formas de defesa para que os sentimentos não se aflorassem tanto... Mas pelo visto a máscara caiu. Hahah capítulo lindo Bel, não vejo a hora de postar o próximo.

    xx Anne

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