Emma subiu até seu quarto
escalando a parede trançada de flores da lateral da casa. Não era tarefa fácil
com as tiras de uma sandália na mão e a fina alça de sua bolsa na boca, mas com
a pouca iluminação que o jardim conferia, os passos foram dados com precisão e
cautela. A ultima coisa que precisava para tornar a noite maravilhosa que teve
era cair como uma banana podre e acordar seu pai.
Jogando os sapatos e a bolsa, ela
conseguiu passar os dois braços e depois as pernas sem prender o vestido em
nenhum prego solto e se deu um tapinha nas costas mental por isso. Seu corpo
sentou-se numa posição mais confortável e seu pescoço girou algumas vezes,
estalando e relaxando uns músculos.
Um estalido outro baixo ecoou dentro do
quarto iluminado pela luz da lua e a silhueta de um homem robusto surgiu entre
a escuridão. Seu pai vestia pijamas listrados e segurava um copo de Gim na mão.
E não parecia estar feliz.
— Precisa de ajuda? — perguntou.
O tom cordial não combinava com o semblante enraivecido.
As sobrancelhas de Emma se
juntaram numa expressão confusa, enquanto negava.
— Ótimo. Sente-se.
Ela já estava sentada. Com um
vestido preto com lantejoulas e os lábios ainda levemente brilhosos da maquiagem,
mas ainda sim, estava sentada.
— Eu sei que você não costuma
escutar o que digo, Emma; esta noite é a prova viva disso, mas quando eu estou
no seu quarto às quatro da manhã e digo que se sente, você deve se sentar. — as silabas foram quase soletradas, as
palavras saíram pausadamente, dando a leve impressão de que ele estava
ironizando a situação ou insinuando que ela tivesse algum tipo de retardo
mental. Ao observar a postura rígida de seu pai, porém, Emma não teve certeza.
Não era justo. Depois de meses
confinada no regime rígido e opressor que o colégio interno exibia, Emma
finalmente tinha tido uma noite incrível. Uma noite onde ela não estava
inteiramente cercada de garotas usando saias até os joelhos e cardigans; uma
noite em que sentira especial, linda e
viva.
Finalmente tinha terminado o
colegial, finalmente tinha dezoito anos, mas ainda sim, o “general” Homme não
conseguia largar a guia. Emma sentia-se como um dos cavalos de seu pai, arisco,
rebelde, mas por fim, domado. Colocaram-lhe uma sela e exibiam-na em cerimônias
de premiação como a boa potrinha que era.
Com sorte ela ganhava uma
cenoura.
— Espero que não entenda a
proposta que vou lhe fazer como uma premiação. Espero, Emilia — a garota se
encolheu ao ouvir seu nome de batismo — que não pense que está sendo
recompensada. Mas estou cansado; estou farto de vê-la se esgueirando pelas ruas
dessa cidade enquanto pensa que não sei do que acontece. Eu já fui jovem,
Emma... Mas você é tão...
Seus olhos se fecharam, resolutos.
Era patético. Enquanto “papai” estava ocupado sendo um astro do rock, ela
estava trancada em um colégio pomposo e opressor em um interior qualquer,
sempre sozinha, coberta de horários e tarefas a serem cumpridas. Sem livros!
— Pequena. — ele completou depois
de meio minuto.
Emma encarou seu reflexo no espelho
adjacente; não era pequena. Seus olhos observaram seus seios e sua boca
volumosa, o cabelo levemente ondulado que lhe caia abaixo dos ombros e os olhos
de sua mãe. Havia muito tempo desde que fora pequena.
— Lembra sobre a conversa que
tivemos semanas atrás? Sobre a ideia estúpida que você teve em fazer
intercambio?
Como poderia esquecer? A ideia
“estúpida” que ele recusara veemente, mostrara-se irredutível. Como se ela
tivesse pedido para ser entregue a uma matilha de lobos ou algo igualmente
aterrorizador aos ouvidos do pai. Seis meses, ela havia suplicado. Três meses,
chegou a implorar. Qualquer coisa. Estava farta, estava brava e por Deus,
entediada como o diabo! Qualquer coisa.
Era o desejar que Emma queria; ansiava por ansiar.
— Estou disposto à aceitar sua
oferta, se você estiver disposta à aceitar minhas exigências.
***
Alex esfregou os olhos com os
dedos até que anéis psicodélicos surgissem na parte interna de sua pálpebra. O
que fazia Josh acreditar que ele poderia ser capaz de cuidar de uma menina?
Onde estava Helders para dizer
que ele mal conseguia passar um dia sem foder com tudo?
— Você conhece a Inglaterra, ela
quer conhecer, também. Pode levá-la para Londres, Sheffield, onde quiser. Só
não deixe que se meta em encrenca. Não deixe que nenhum bastardo encoste a mão
nela. Não posso mandar minha garotinha para outro país sem assistência, Al.
Serão só algumas semanas. Um mês, no máximo. Leve-a para dar uma volta na
London Eye, visitar o parlamento, o Big Ben; não me importo. Só... mantenha ela
ocupada e segura.
Havia poucos músicos que Alex
respeitasse e venerasse tanto quanto Josh Homme. Finalmente, naquele semestre,
os Monkeys e ele colaboraram em uma musica chamada
You and I. Uma canção que acabou se tornando uma das preferidas de Turner
no álbum, mesmo que ele não cantasse a maior parte dos versos. Provavelmente porque ele não cantava a maior parte dos
versos.
E o processo de criação da musica
foi longo, o que permitiu uma interação quase familiar entre Homme e ele. Alex
sentia-se próximo do musico como sentia-se de sua família, que a agenda
apertada de turnês, entrevistas, gravações e compromissos não permitiam ver há
alguns meses. Era um sentimento de respeito e admiração mútua, confiança cega e
companheirismo. Por mais ridículo que pudesse soar, gostava de pensar que havia
um sentimento quase paterno entre os dois.
Ainda sim, a ideia era absurda.
Alex teve dezoito anos uma vez e sabia que mesmo que ele concordasse com a ideia – e acredite, não havia nada que ele
não fizesse para poder dizer não -, a garota se recusaria. Ninguém iria querer
um guarda-costas ao seu lado; não era a ideia propriamente dita de liberdade
que ele apostava que a menina esperava.
Antes que ele pudesse escolher
uma desculpa condizente, subitamente se fingir de ocupado, francês ou qualquer
coisa, Josh colocou a mão em seu ombro e suspirou.
— Você é o único em quem eu
confio.
***
O corpo dele parecia rejeitar a
ideia com força. Quando ele deu de ombros e respondeu “claro, porque não?” ao
pedido anterior de Homme para que desse uma de “Super Nanny” na Inglaterra com
uma garota que ele nunca havia visto, não tinha pensado nas consequências.
Pra começar, Arielle ficara puta.
Seu namorado passar semanas servindo de guia turístico para outra mulher,
independente de quem ela fosse filha ou de quantos anos tivesse, não era algo
que a ruiva tinha em mente. Foi preciso vários presentes e boas trepadas para
que ela concordasse com a ideia.
Os festivais estavam todos
marcados, as datas dos shows estavam impressos num papel que receberam e Alex
notou que ficaria fora por várias noites. O que era bom, porque ele teria um
tempo para si e para a banda e igualmente ruim, porque a garota ficaria livre.
E “livre” fora algo que Josh tinha se mostrado irredutivelmente contra.
Em suma, a ideia era dar uma
falsa liberdade a ela. Fazê-la acreditar que estava naquele país enorme,
sozinha, com universos a explorar e mundos a conhecer, mas na realidade, ela
exploraria bibliotecas e conheceria pontos turísticos. Vida noturna estava fora
de questão, segundo Homme havia instruído.
Quase sentia pena da garota.
Seus olhos percorreram o telão do
aeroporto onde os voos em pouso eram anunciados e ele encarou o relógio,
impaciente; o aviso de não fumar em cada parede paralela à onde ele estava
encostado não estava ajudando. Seus dedos sentiam falta do cigarro e sua boca
parecia seca e oca, fazendo com que lambesse os lábios com frequência excessiva.
O papel branco exibia o nome da filha de Josh e Alex sentia-se estúpido e
deslocado, num aeroporto cercado de pessoas ocupadas vivendo suas vidas,
enquanto ele estava usando a sua para aguardar uma outra na qual seus olhos
nunca haviam pousado.
Quando os passageiros do voo 171
começaram a sair pela porta de vidro, Alex sentiu-se aliviado e ansioso.
Encarou a escada rolante que ficava logo depois da porta por onde vários
passavam com suas respectivas malas, e mordeu a unha do polegar, enquanto a direita
segurava o nome “Emma” numa caligrafia
desconcerta.
Ninguém a tomaria por uma garota
americana e Alex soube sem nenhum lampejo de duvida que aquela que descia era
Emma Homme.
Porque ele podia jurar que havia
pelo menos oito anos desde a princesinha doce na qual Emma fora descrita, ainda
que seu sorriso carregasse a inconsequência de uma menina. Conforme os degraus
rolavam para baixo e desapareciam, podia notar que ela não era baixa; talvez
dez centímetros a menos do que ele. O vestido estampado projetava suas curvas
de uma forma diabolicamente desnecessária e ela o observou através de longos
cílios de um jeito travesso.
Alex respirou fundo.
Dava para entender porque o pai a havia trancado em um colégio interno.
N/A: Capitulo dedicado à Débora (que além de deixar comentários mordíveis, fez essa capa gracinha!) e à todo mundo que comentou no Trailer da fic. Então, capitulos introdutórios não tem como ficar fodões... Eu pelo menos não tenho esse dom, haha. Vou passar o dia escrevendo hoje e se vocês quiserem (me digam) sai outro amanhã a noite. :)
Dava para entender porque o pai a havia trancado em um colégio interno.
N/A: Capitulo dedicado à Débora (que além de deixar comentários mordíveis, fez essa capa gracinha!) e à todo mundo que comentou no Trailer da fic. Então, capitulos introdutórios não tem como ficar fodões... Eu pelo menos não tenho esse dom, haha. Vou passar o dia escrevendo hoje e se vocês quiserem (me digam) sai outro amanhã a noite. :)
Cara, vocês escrevem muito bem! E esse capitulo está fantástico, parabéns!
ResponderExcluirObrigada, Anonima linda! Tô tentando dar mais atenção à escrita em si e fico feliz que tenha gostado!
ExcluirBeijos!
ESTOU CURIOSA PRA ESSA NOVA FIC, ein gente, vocês me matam com as vossas ideias!
ResponderExcluirYou and I é foda mesmo cara!
mais o alex vai trair a arielle? não faz ele fazer isso, mesmo parecendo uma tontinha, a rapariga não é do mal :(
beijos!
Eba, deixei alguém curioso, hahaha.
ExcluirNão tenho certeza, só lendo pra saber huahauh. Imagina, eu não acho que ela seja umapessoa ruim! Não apoio esse ódio por ela, não. Se ele faz ela feliz então tá ótimo pra mim, Sara :)
Beijos e obrigada por comentar
''O vestido estampado projetava suas curvas de uma forma diabolicamente desnecessária e ela o observou através de longos cílios de um jeito travesso.
ResponderExcluirAlex respirou fundo.''
Ai, eu tive um pequeno surto imaginando essa cena. Emma (que aliás é um dos meus nomes preferidos) com o jeitinho descrito por ela e por mim visto no trailer olhando o nosso magricelo Alex, juro que fiquei toda nhoin nhoin!
Ta, eu realmente adoro suas fanfics e não é novidade eu já estar super ansiosa pros acontecimentos seguintes! hahahahha Beijo, beijo
Jura que você gostou do nome, Anne? Eu adoro ele, mas tava meio em duvida, haha.
ExcluirEla é muito nhoin nhoin, não é? Digo, é engraçado: ela é extremamente sensual, mas tem um rostinho de garota que é muito legal. Queria ser assim, quem sabe não teria um Alex da vida kkkkk
Simm, leitora fiel, obrigada pelos elogios e pelo comentário mesmo assim!
Besocas
TE AMANDO ETERNAMENTE POR TER INCLUÍDO O JOSH NA HISTÓRIA <3 o capitulo ficou ótimo, parabéns! Não demora, bj.
ResponderExcluirTô feliz que vocês tenham gostado do Josh na historia! Achei que ninguém daria bola e ele é bem fodinha.
ExcluirNão demorei, haha. Aliás, to super empolgada com a fic então é dificil eu NÃO poostar essa semana
Beijo
Ai, já amei! Mas quando eu não amo, hein? São todas perfeitas!
ResponderExcluirSuper curiosa pra saber o que vai acontecer!!!!!
Ansiosa por demais pelo proximo capitulo. Não demore para postá-lo, senão iremos surtar! hahahhahaha
Olá, Joycinha! Obrigadaaa, tô bem feliz com a reação positiva de vocÊs. São comentários lindos e atenciosos que me fazem ficar com MUITA vontad de escrever. :)
ExcluirPS: Sua foto é uma graça hahaha
Já amei, principalmente pela história ser diferente das que eu já li ;D
ResponderExcluirLouquissima pelo próximo.. haha
Fernanda
Que bão que você achou diferente, Nanda (é leitora fofa ja fico intima, que isso Luana)
ExcluirJa tem proximo, corre lá, haha
Alex e seus pensamentos pervertidos <3<3<3<3<3
ResponderExcluirE o Josh na história então? Perfeito!
Beijos!
O Josh é um musico todo talentoso e aquela musica deles ficou incrivel né <3
ExcluirHahaha, obrigadaa
Ahh Luana, obrigada pelo capítulo! *-*
ResponderExcluirSério você e as meninas são demais, eu nem mereço isso tudo. Lembro de vocês no Nyah!, autoras que eu admirava e admiro e hoje esses mimos que vocês me fazem me deixam feliz por um mês.
Você sabe que foi um prazer fazer a capa e fico feliz que tenha gostado!!!
Espero que as garotas do site também, vocês são minha grande família.
Enfim, voltando a minha review mordível, eu me apaixonei pelo enredo.
Já tinha uma ideia do que era, mas nada que se encaixe nessas proporções, ou seja, também fui surpreendida! Achei super interessante e cabível, o que fica mais gostoso quando lemos e podemos interceptar as histórias para o real.
Sua escrita é maravilhosa, você explora muito bem. O conflito inicial prende muito; quando você coloca Emma como filha problemática de um pai cuidadoso mas onipresente por ser um astro do rock (Josh *-*), que estudou anos em um colégio interno e tem vontade de conhecer muito mais da vida, foi colocado de maneira nova. Mas percebemos que ela não é tão ingênua, o que é uma pitada a mais de interesse. O intercâmbio por um mês como o melhor amigo do pai, que por acaso é um certo Turner, como guia turístico, foi super bem criado e já me abre a mente para vários momentos blasé que eu gostaria de ver. Haha!
Seu Alex é sempre bem trabalhado e eu amo isso. Estou anciosa para ver a relação que os dois vão criar, já que pelo que parece ele "gostou" da Emilia. Ela é LINDA e putz, combina mesmo com ele.
O parágrafo que a Anne B quotou também me interessou muito, e eu prevejo fortes emoções por aí.
Eu adorei tudo.
O capítulo introdutório ficou ótimo, e eu estou anciosa para o desenvolvimento da história.
Beijos grandes,
Débs
*(e posta hoje sim, pra eu começar a semana de aulas bem feliz!!!!!!!!!!!)
Este comentário foi removido pelo autor.
ResponderExcluirPUTA QUE PARIU!!!!! O josh nessa historia foi tudo! O Alex realmente 'idolatra' ele! você é muito genio, serio. Beijos
ResponderExcluirTo bem feliz que vocês também sentem isso, essa admiração dele! Fiwuei receosa de vocês não acharem cabível e tal
ExcluirHaha, obrigada sua boba. Beijos!
OH GOSH! Amei! Como você consegue escrever com tanta perfeição? Amei amei*-*
ResponderExcluirsimplesmente perfeito, simples assim <3
ResponderExcluirficou muuuuito bom, mais que bom. VOCE TEM O DOM DO PRIMEIRO CAPITULO! Juro, confie em mim! hahahahahahah
ResponderExcluirAdorei tudo, ficou perfeito!
geeeeente, queria ta vendo isssso, mto mto bom, sério hsuhsauhsas
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