POV Alex.
Tremi
de maneira bizarra ao sentir aquele som exageradamente alto entrar nos meus
ouvidos.
—
Mas que merda?! — berrou Arielle, tapando suas orelhas.
Tentei
reconhecer a música apenas por curiosidade, mas o som estava tão alto que não
dava para entender nada.
— É
oitava vez! Você só pode estar brincando!
Não
sabia se me levantava para ver o que estava acontecendo. Quando tomei minha
atitude, Johanna apareceu no quarto, fazendo com que a intensidade do volume
piorasse e eu e Arielle nos escondêssemos debaixo das cobertas em uma fração de
segundo – embora ela não tenha ao menos olhado para nós dois.
—
Arielle, você viu o meu cinto? — disse.
—
MAS QUE MERDA, JOHANNA! — gritou Arielle, irritada, chamando a atenção da irmã.
— O
que foi? — berrou, revirando as gavetas.
—
Será que dá para desligar isso?!
— Mas é Iggy Pop! E além do mais... Oh. Eu
não sabia que vocês... Bem... — tentou segurar a risada. — Mentira. É claro que
eu sabia. É um casal sozinho em um quarto, que coisa mais óbvia. Mas podem
continuar — prosseguiu —, e tentem ser mais discretos, por favor? Eu estava
ouvindo tudo.
Nisso,
saiu dali, fechando a porta numa batida.
Olhei
para Arielle e jurei ter vontade de pular pela janela, mesmo sem roupas. Ela
estava tão vermelha quanto um tomate e poderia soltar fumaça dos ouvidos de
tanta raiva. Se é que isso fosse possível, àquela altura nós dois já estaríamos
surdos.
—
Ela me paga. Ela não sabe ainda, mas ela me paga.
(...)
—
Não tem graça. — eu disse, sério, observando Miles cair na gargalhada.
—
Eu não acredito! A irmã da sua namorada realmente fez isso?
Era
de noitinha, estávamos em um bar junto com Jules, que não parava de mandar SMS
para alguma paquera.
—
Sim. E eu não te contei ainda, mas é aquela garota que você atendeu no trabalho
naquele dia.
Miles
fez uma careta. — Que garota? Eu atendo várias pessoas, como vou me lembrar de
uma?
—
Ah, cale-se. Aquela livraria nem tem tanta freguesia assim. — revidei. — É uma
de cabelos castanhos, acho que ela estava de blusa laranja e ela acendeu um
cigarro lá dentro.
Ele
franziu o cenho, até que suas sobrancelhas voltaram ao normal e seus olhos se
arregalaram. — Aquela garota é irmã da Arielle? Você não está falando sério,
está?
Balancei
a cabeça em sinal positivo. Miles parecia mais chocado do que deveria estar.
—
Pelos céus, é claro que eu me lembro daquela perdição! Qual é o nome dela
mesmo?
—
Johanna. — eu disse, me sentindo um pouco estranho ao pronunciar o nome dela.
—
Por que não me falou antes? Você é mesmo um cuzão.
—
Eu não tinha uma ocasião! — falei, tomando um gole do coquetel logo em seguida.
— E eu quero distância total daquela garota. Ela é completamente louca.
—
Ih, Alex, deixa disso! — exclamou Miles. — Ela não é louca, só é rebelde.
Rebelde como uma adolescente. A diferença é que vemos essas garotas e desejamos
ser ter dezoito anos novamente, já ela está no ponto.
—
Você não entende. Quando ela diz que está “pouco se fodendo”, ela realmente
está.
Miles
me encarou por alguns segundos e riu, tomando outro gole da sua cerveja.
—
Então, meu caro Alex, eu sugiro que você não cutuque a onça com vara curta. Ou
melhor – que fique bem longe dela.
“Seria
bem isso”, pensei. “Mas como ficar longe dela quando é a própria onça que me
cutuca?”
O
dia seguinte começara mal não só pela barulheira vinda da rua penetrando
através das janelas abertas (parabéns para mim!), mas também porque Matt fora o
último a chegar no apartamento (lá pelas duas da manhã) e acompanhado. Sem
mais detalhes, o quarto dele é ao lado do meu e eu jurava que as batidas na
parede moveram a minha cama. Nem que sejam alguns milímetros, mas eu poderia
jurar isso perante a qualquer um.
Bem,
pelo jeito, ele havia conseguido fazer com que a garota do pub caísse na dele.
Como
eu havia acordado mais cedo do que devia, resolvi tomar um longo banho e ir
direto para a livraria. Dessa forma, eu terminaria meu turno mais cedo e iria
direto para a loja onde Nick trabalhava para poder inscrever nossa banda na Batalha
das Bandas.
Miles
chegou lá alguns minutos depois que eu. John estava por lá, portanto nossa
rotina seria diferente e eu sentia que Jules ria da nossa cara até não aguentar
mais. Fomos recebidos por duas adolescentes fãs de um romance chinfrim, mães e
filhos em busca de material didático e um quarentão estranho que levou um livro
que falava sobre problemas com a mulher na cama. Fora tão estranho que nem
cheguei a rir.
A
cada vez que um cliente chegava, uma briga discreta começava entre nós,
funcionários. Isso porque quem fosse atender a pessoa ficaria livre de John,
que aproveitava a liberdade do outro para contar sobre a partida de golfe que
ele frequentou no Domingo passado. Só atendi duas pessoas e é óbvio que como
sou muito sortudo na vida tive de aguentar aquela chatice. Eu olhava para o
relógio a cada quinze segundos e me sentia no Ensino Médio novamente, esperando
para que aquele horário tedioso de Biologia acabasse.
Quando
meu turno finalmente acabou, John me prendeu por mais cinco minutos para falar
sobre coisas da livraria e afins. Eu disse a ele que estava com pressa – e
estava mesmo – para um compromisso com a minha namorada e tudo o que ele fez
foi rir, falar sobre o quão complicadas são as mulheres e aí sim me liberou.
Agora
eu sabia o porquê daquela livraria ser mais feliz sem o próprio dono por perto.
Andei
alguns quarteirões até a loja de Nick. O local estava meio cheio e havia gente
de todos os tipos: punks, emos, metalheads e tudo o que o mundo capitalista não
considera “normal”. Dei uma espiada. Havia uma mesa no fundo da loja, com três
caras sentados diante dela. Para cada um, à sua frente estavam um monte de
papéis e uma fila gigantesca. Não dei bobeira e entrei na fila da esquerda, que
aumentou ainda mais logo depois de mim. Algumas garotas de cabelo roxo da fila
do lado olhavam para mim, deixando um recado nada discreto. Sorri fraco para
elas e voltei a encarar o que estava na minha frente. Cabeças. Mesa. CDs.
Cabeças. Eu era tão alto assim?
Passaram-se
dez minutos e faltavam quatro pessoas para finalmente a minha vez chegar. Eu
não sabia que teria tanta gente assim. Por um instante, senti pena dos jurados.
Já não bastavam aqueles programas idiotas com vinte e tantos candidatos.
—
Próximo. — o homem disse, e então peguei um dos papéis e comecei a preencher.
—
Quanta banda, não é? — ri.
—
Cara, você não faz nem ideia. — diz, com um ar cansado.
Terminei
o preenchimento e entreguei o papel. Em seguida, andei para o lado e resolvi
dar uma olhada na loja. O ambiente está mais cheio do que da outra vez e eu
sinto que os donos daquilo já deveriam estar em seus escritórios, jogando
dinheiro para o alto. Nick talvez receberia um aumento no salário. Quer dizer,
não. É só um dia em que os caras vão faturar pra caralho, toda loja tem esses
dias.
—
Master Of Reality é ótimo — diz uma voz familiar ao meu lado —, mas ainda assim
prefiro o Paranoid.
Levanto
a cabeça e vejo Johanna apoiada na estante, parada à centímetros de mim. Só
então percebo que estou com um CD do Black Sabbath na mão. Quer dizer, não que eu não soubesse. Eu sabia que eu estava com um CD do Sabbath na mão, sim, é claro. Não sou cego e nem estou no mundo da lua. Fim da história.
—
Não vai falar nada? Caramba, o gato comeu sua língua? — ela ri, dando a volta
para o meu outro lado.
—
Eu não imaginei que... Você fosse
estar por aqui.
—
Nem eu pensei na hipótese de você aparecer por aqui. Devo me preocupar com a
minha irmã?
Ela
vai para outra seção e eu a sigo. — Na verdade, o meu amigo trabalha aqui. E como assim, se preocupar?
—
Eu estava na outra fila, eu te vi. E é claro que também vi todas as garotas
bobinhas que deixaram um mar de saliva no chão de tanto babar por você.
Ri.
— É, elas não sabem ser discretas.
Continuo
a seguir Johanna pelo pequeno corredor que divide um gênero musical do outro,
como um cachorrinho. Merda, eu me sentia tão idiota.
— Está
aqui por que?
—
Bem, eu acabei de inscrever a minha banda. E você?
—
Eu também. Você seguiu o meu conselho?
—
Conselho? — pergunto.
—
É. De pegar mais pesado no som e tal.
Lembro
da raiva que fiquei naquele dia. Por ela ter dito que meu som não era bom o
suficiente. Pelos babacas venerarem ela. Por ela estar certa.
—
Ah, sim, é claro. — minto, pensando no mega ensaio que teremos que fazer.
— Nós
já demos um jeito nisso.
—
Maneiro.
— E
quanto a você? Eu não sabia que você tinha uma banda. — tento puxar assunto,
nem acreditando que estamos realmente tendo uma conversa.
—
Bem, acaba de saber. — disse, me entregando um CD do The Killers. — Leve. É o
favorito dela.
Analiso
o CD e percebo que Johanna está andando para longe de mim. Corro para
alcança-la.
— É
para a Arielle?
— É
claro que é. De quem mais eu estaria falando?
Acompanho
a morena até o caixa. Ela está pagando por um vinil do The Who. — Mas eu não
entendo. Sem ofensas, mas por que está sendo legal com a gente?
—
Bem, porque você está deixando. Boa sorte na Batalha.
Dizendo
isso, saiu dali, me deixando hipnotizado por um tempo. O caixa me chama a
atenção cinco vezes, e ainda assim sei que Johanna não estava falando sério
quando me desejou boa sorte.
***
N/A: Vocês devem achar que eu só faço fanfic de irmãos e de gente que põe rock no último. Mas a culpa não é minha se o Alex gosta de pegar a irmã dos outros. E além do mais, desde que ele tenha um bom gosto musical, eu adoraria ter um vizinho barulhento.
E eu também amo Iggy Pop. Vocês não sabem, mas ele é o meu tio imaginário.
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