Pingo estava deitado no meio das minhas cobertas, e afiava
as unhas na textura peluda. Ainda estava deitada na cama, de barriga para
baixo, enfiada no blusão, e comemorando internamente que o dia amanhecera
ensolarado depois de seguidas pancadas de chuva.
As fotos que faltavam ser entregues foram realizadas com
certa dificuldade em área livre em dois dias, nas ruas de Barsnley, mas fora
mais um momento melhor do que eu poderia ter esperado.
– Eu espero que esteja
se agasalhando, se fez tanto frio nos últimos dias.
– Pai, é claro que sim. Pode deixar que não me descuidei um
minuto... A não ser é claro, quando fiz as fotos daquele meu projeto. Ainda bem
que acabamos, e as aulas começam na próxima segunda.
– Ah, como eu adoraria
poder estar com você hoje. Peça à sua tia para fotografar o que puder, eu quero
saber dos detalhes meu anjo.
– Claro que sim! Contarei tudo amanhã mesmo, prometo.
Conversar ao menos três vezes por semana com papai já era
rotina – e esticar a língua no português era maravilhoso, visto que com Sofi
não falava quase nada no meu idioma natal. Me animava saber que além dos negócios,
ele também estava bem. A irmã mais velha de minha mãe fora passar uma temporada na laje espaçosa, mas
simples e aconchegante, em que morávamos em São Paulo, com o marido e o filho,
por convite dele mesmo. Me disse que estava cansado de falar apenas com a Dona
Carmélia, nossa empregada, todo santo dia.
– Mande um beijo para ela, e diga que sinto tanta falta do
macarrão com queijo que nem sei!
– E eu confesso que
sinto falta de comer linguiça e waffles com mel de manhã... Mas no fundo, meu
paladar já se abrasileirou por completo.
– Comeremos juntos quando puder vir pra cá, papai.
– Espero que logo,
minha filha. Espero que logo... – O silêncio antes da despedida, também era
rotina. – Tenho certeza de que a
exposição será maravilhosa hoje. Boa sorte.
– Obrigada papai. Eu te amo.
– Eu também.
Era sexta feira, e a longa semana finalmente havia
terminado, com bônus e ônus. Nenhum telefonema ou mensagem, não que eu achasse
que Alex fosse do tipo comunicativo. Me reprimi por estar sendo ansiosa, e
deixar sentimentos demais me envolverem, e tentei me ocupar a maior parte do
tempo com os detalhes finais do lançamento do trabalho inicial do curso de
fotografia. Ajudei inclusive Julie a preencher alguns documentos, e verificar o
andamento do buffet, tarefa que Georgie tinha incumbido a ela.
Duas batidas se fizeram à porta, e uma Sofie sorridente
entrou no meu quarto. Chegara na terça de viagem, e disse que Londres foi tudo
e mais um pouco. Percebi que senti sua falta assim que vi seu táxi chegar à
porta.
Trouxe um anel lindíssimo para mim, delicado, com apenas uma
pedra azul enfeitando o aro em forma de gota, de presente pelo início do ano
letivo. Disse que era calcedônia, um quartzo que protegia de ansiedade, agonia
e melancolia, e que trazia equilíbrio e boa vontade à mente, ao corpo e ao
espírito. Era exatamente o que eu precisava, se realmente dava em algo.
– Mas já são dez da manhã! E você ainda na cama, mocinha? –
Sorri, mas não tive tempo de me defender. – Benjamin passou aqui agorinha, e
perguntou do gatinho. Deixou uma caixa de papinhas em sachês pra ele comer.
Ben, sendo Ben.
– Ele não quis entrar? – Perguntei, tendo um pouco de ideia
da resposta.
– Não, disse que estava com pressa, e precisava voltar para
o escritório. Lembrei-o da sua festa hoje, e pedi que avisasse Mrs. Eleanor.
– Ótimo! – E como se acordasse de um sono profundo, logo realizei
que dezenas de pessoas estariam olhando fotos minhas dentro de poucas horas. –
Claro que vou adorar tê-los lá, mas agora são três pessoas para me deixar
ansiosa...
– Deixe disso Lou. – Sofi se sentou em minha cama, e
acarinhou minha cabeça, que fiz questão de colocar em seu colo. – Tenho certeza
de que estava incrível, só pela maquiagem e cabelo com que você chegou em casa
essa semana. E mesmo que não usasse nada, como uma menina tão bonita poderia
fazer feio?
– Tia...
– É isso sim, e ponto. Vai ser magnífico! Tirei o dia de
folga hoje, para me arrumar no salão e pegar o vestido na lavanderia. Não mudou
de ideia? Ainda posso arrumar uma horinha para você!
– Não, de jeito nenhum. – Pingo finalmente percebeu a
agitação, e subiu pelas minhas costas. – Quero me trocar aqui mesmo,
tranquilamente e sem pressa. Já estarei arrumada o suficiente nas fotos. Nada
de superprodução. Além do mais, preciso ir um pouco antes para ver como as
coisas estão.
– Tudo bem, estará linda de qualquer jeito. Agora vê se
coloca um sorriso nesse rosto. As aulas vão começar! – Dito isso, e me deu um
beijo na testa. – Sabe que pode contar o que quiser pra mim, quando quiser, não
sabe?
Percebi que Sofi me rondara quando notou que eu olhava
demais para o telefone nos últimos dias.
– Sei sim.
– Okay, ótimo... Então vamos de uma vez! – Se levantou, me
empurrando, e fazendo Pingo cair na cama, rolando feito uma bola de lã suja.
Rimos juntas. – Fiz scones e pão de queijo, de verdade!
Desceu animada, e eu segui atrás, não sem antes conferir as
notificações no celular mais uma vez.
***
Desci do táxi, ajeitando o vestido branco que Julie havia
arrumado para mim. Havia encomendado especialmente da capital e me presenteou,
como forma de agradecimento à minha “participação” no trabalho. Apesar de eu
argumentar que modelar não havia sido de muito trabalho pra mim, ela insistiu
que eu usasse hoje. Não coloquei muita maquiagem, a não ser rubro nas bochechas
para disfarçar a palidez que se acentuava à medida que a hora chegava, e um gel
cor de romã nos lábios.
Passei um pano úmido nos oxfords pretos que estavam meio
sujos, fazendo o brilho voltar ao reflexo de couro preto, e adicionei uns anéis
finos, deixando o dedo do meio da mão esquerda especialmente vazio para que o
anel que Sofi me dera ocupasse seu espaço em glória. Estiquei os dedos, e
toquei-o. Equilíbrio. É do que eu mais precisava no momento.
Entrei no prédio e encontrei uma estupenda decoração de gala
e a movimentação de formigas em smokings, indo e vindo pelos corredores. Virei
na sala indicada, e o salão estava perfeitamente iluminado. A música do
ambiente era deliciosa e animada, uma provável banda alternativa local,
contrastando com o toque clássico dos tecidos vermelhos que estavam por todo
lado. Havia uma mesa enorme de doces de um lado da sala, e outras duas
parecidas em outros cantos, de bebidas e salgados, acredito eu. Havia um arco
que dava em outra sala, onde a exposição provavelmente habitava, separado por
uma fita vermelha que impedia a entrada de todos.
Não demorou para avistar algumas pessoas do meu grupo, Julie
deslumbrante em um vestido longo e dourado de aplicações, que junto ao
contraste com seus cabelos ruivos, hoje ondulados em uma cascata sobre os
ombros, a fazia parecer uma guerreira solar. Avistei Stephanie, que veio de
encontro a mim trazendo Julie e mais meninas do grupo.
– Luisa! Está tão bonita! – Ela disse, me abraçando. Os
elogios foram devidamente trocados por alguns minutos, até que mais pessoas
começaram a chegar e as atenções se dissiparam novamente. Julie me puxou para
um canto, a mesa das bebidas, e parou de frente para um homem um pouco menor do
que ela – acredito que por conta do salto que ela usava –, que usava um terno
azul marinho, e gravata borboleta. Tinha um rosto jovem, bonito e simétrico, os
cabelos penteados modernamente, cavanhaque, e usava óculos quadrados e pretos.
– Esse é Phillip, meu noivo Lou. – Apertamos nossas mãos, e
demos dois beijinhos.
– Muito prazer Phill!
– O prazer é meu Luisa. Ouço muito de você. – Quando sua voz
saiu a boca mostrou os dentes simétricos que carregava consigo, deixando claro
o quanto o homem era bonito, me fazendo dar pulinhos internos de felicidade por
existir um casal tão especial como Julie e Phillip.
– Vocês são lindos juntos. – Os vi sorrir um para o outro,
num sinal de cumplicidade.
– Obrigada Lou! Pena que agora preciso me mover... Volto
assim que puder querido. – Julie disse e partiu, agarrada ao seu celular com
sua mania arrebatadora de querer as coisas em seu estado perfeito.
Me voltei para Phillip e rimos, indo pegar bebidas em
seguida. Busquei um suco de abacaxi com hortelã, enquanto ele se serviu de uma
batida vermelha que disse ter vodka dentro. Tecemos elogios à Julie, eu sobre
seu talento nato de liderança, ele sobre como ela estava linda hoje.
– Passamos por uns momentos difíceis até chegar aqui, mas no
fundo vi que ela precisava mesmo se dedicar a esse projeto, e a esse novo curso.
Ficou tudo minuciosamente perfeito, e ver aquele sorriso no rosto dela, me
deixa mais apaixonado. Ela tem o poder de me fazer apaixonado todos os dias...
– O encarava sorrindo, pensando se um dia alguém poderia dizer isso de mim. Com
certeza sim, a partir do momento em que eu estivesse em um relacionamento
normal, anotei mentalmente. – Gostaria de agradecer por ajuda-la com as coisas
Luisa. E claro, por dar conselhos. Ela me contou... O vinho, lembra? Deu certo.
– Fico muito satisfeita com isso! Meus pais diziam que era
infalível. – Respondi animada.
– Será convidada de honra para nosso casamento. E não diga
para ela, mas eu vou adiantar a data para esse ano. – Disse me direcionando uma
piscadela, e rimos novamente. Então num momento de distração, me virei para o
meio do salão avistando Ben, Miss Eleanor e minha tia Sofi atenciosos,
certamente me procurando. Me despedi amigavelmente de Phill, e segui na direção
deles.
Depois dos alôs e olás direcionamo-nos para uma das mesas da
enorme sala de recepção, e nos sentamos, aproveitando alguns petiscos. Miss
Eleanor e minha tia Sofi se agarraram ao vinho e não paravam de me felicitar.
Ben preferiu água, e eu continuei com meus copos de suco, agora um de amoras
com limão.
– Eu sei que parece repetitivo, mas está ainda mais bonita
hoje Lou. Devia usar mais vestidos. – Ben disse sorrindo, enquanto comia um
pedaço de tortilha.
Sorri em agradecimento, não querendo continuar a pauta de
flerte com ele. Não mais.
***
Em meia hora de espera, Georgie Flores finalmente chegou e a
cerimônia teve seu início. Após uma apresentação do projeto, ela fez um pequeno
discurso dizendo que havia sido um prazer enorme e algo muito construtivo para
sua carreira, participar de algo tão singelo e profissional, e terminou tecendo
elogios aos grupos e a Faculdade de Fotografia da Barnsley College. Muitos
aplausos se seguiram, e o reitor junto à Georgie deu início à exposição
cortando a fita que dava no salão.
As pessoas entravam em polvorosa, curiosas. Deixei que minha
tia, Ben e Miss Eleanor fossem na frente, e fui buscar um pouco de água, pois
meus joelhos estavam moles e eu precisava de uns minutos. Uma mistura de
timidez e ansiedade se fazia dentro da minha cabeça, mas alguns goles de água
fariam passar.
Então senti alguém me cutucar, e quando virei dei de cara
com Georgie. Estava vestida com um belo conjunto social de corte fino, preto. A
pele mais bronzeada do que nunca, iluminando os cabelos loiros. Ela me abraçou
animada e, desatou a falar.
– Que bom que a encontrei, está linda Luisa!
– Obrigada, você também está ótima! – Depositei o copo de
água no balcão, e me voltei para ela. Tinha outra mulher ao seu lado, quase do
meu tamanho, usando um também modelo social assimétrico, porém branco.
Sua elegância era incomparável, e ao abrir seu sorriso eu tinha certeza de que
era uma das mais bonitas mulheres que eu já vira.
– Bom, eu tinha que te parabenizar. Seu painel é um dos mais
perfeitos, e a diretoria selecionou as fotos do seu grupo para serem mostradas
online! Não é incrível?!
Luisa Carter, online, para todo o planeta. Oh meu Deus.
– Uau! Claro! É uma honra, eu mal posso acreditar. Tantos
grupos maravilhosos...
– Mas nenhum com uma proposta tão bem concluída, acredite. –
Ela terminou com um sorriso modesto. – Enfim, é uma pena mas passei aqui para me
despedir também, antes que perca a chance. Espero que tenha uma carreira
brilhante, e que estude muito. Se não der certo, pode se jogar no mundo das
modelos, com esse perfil incrível, não é mesmo? – Ela olhou para a amiga, e as
duas concordaram.
– Com toda certeza, você leva jeito. Falo disso pois entendo,
fui modelo muitos anos. A propósito, eu sou Arielle Vandenberg.
Nos demos as mãos.
– Claro, me desculpe, esqueci de apresentar vocês duas! Ela
é uma das minhas melhores amigas Luisa, veio direto de Los Angeles para
acompanhar a exposição. – Georgie continuou.
– E estou satisfeitíssima por ter vindo, está impecável!
Além do mais, aqui é bem perto de onde a família do meu companheiro vive. – Ela
se virou de repente, procurando algo. Ou alguém. – Querido, venha até aqui! –
Se voltou para mim, e continuou a dizer algo sobre a coincidência de estar tão
perto de Sheffield, e como adorava o clima frio, mas as palavras soavam como se
batessem no vidro da bolha onde eu estava agora, não chegando até minha consciência.
Eu só tinha atenção para o namorado de Arielle, que caminhava devagar até onde
estávamos.
As mãos nos bolsos do smoking escuro, a camisa branca aberta que mostrava a corrente que eu tanto conhecia, os olhos hesitantes
que iam de mim para ela, dela para mim. A cena estava em câmera lenta, e quanto
mais eu queria fugir dali, mais tinha a impressão de que não teria fim.
Quando ele chegou eu sabia que eu um minuto meus joelhos
cederiam.
– Esse é meu namorado Luisa, Alex Turner.
Ele esticou a mão, firme. O maxilar não se moveu nem abriu
em um sorriso. Levei meio segundo para responder, e o aperto de mãos durou
menos do que isso. Quando consegui olhar para seus olhos, vi os nublados, e confusão.
Parecia tão surpreso quanto eu.
– Obrigada pela consideração Georgie, e por todos os
ensinamentos. Foi incrível o tempo que passou conosco. – A abracei, tentando
ignorar a situação, e senti que seu carinho comigo era sincero. Me despedi do
seu cheirinho de frutas cítricas. – Vou sentir sua falta.
– Também sentirei a sua Luisa. – Ela respondeu, e me soltou,
ainda sorrindo.
– Se me dão licença, eu preciso ter com a minha família.
Arielle, Alex. – Acenei para os dois, não suportaria ter que trocar contatos
agora. – Foi um prazer.
Sorri o mais calma que pude e saí do círculo sentindo minhas
costas pesarem um milhão de quilos, e os olhos arderem pela frustração que a
situação me coube. Lamentei ter deixado meu copo de água no balcão, e quando um
garçom passou por mim agarrei a primeira taça de champanhe que vi. Tomei um
gole e as bolhas geladas quase não passaram pela minha garganta. Os joelhos não
respondiam muito mais do que um minuto atrás, mas faziam o favor de me manter
em movimento.
Entrei no salão de exposições, e o cenário era lindo. Painéis
enormes pendurados pelo teto carregavam as fotografias, dispostos de maneira
assimétrica, criando um labirinto de imagens. Em pouco tempo avistei minha tia,
respirei fundo e decidi pensar no ocorrido depois.
***
Passei a meia hora seguinte caminhando entre as fotografias
com Sofi e Miss Eleanor, contando curiosidades que eu sabia sobre algumas,
lembrando de momentos engraçados, e buscando informações com os guias sobre as
imagens dos outros grupos. Haviam ensaios sobre paisagens, temas como moda e arquitetura,
a sociedade e pessoas, como no meu caso.
Quando as duas decidiram ir até o salão de entrada descansar
em uma das mesas e comer algumas guloseimas, preferi continuar na exposição e
aproveitar o tempo para esvaziar a cabeça.
– Está tudo maravilhoso, e você está tão bonita nas fotos
menina Luisa! – Miss Eleanor disse ao se despedir.
– Podemos ir quando quiser, minha querida. – Completou Sofi,
tocando minha mão, compreensiva.
– Tudo bem tia, iremos logo mais. Aproveitem!
Depois que elas se foram decidi finalmente encarar o painel
com as minhas fotografias, e após algumas edições aqui e ali, acabei por
acha-las interessantes. A experiência foi menos assustadora do que de fato,
pensei que seria.
Ao todo eram limpas e cruas, mostravam mesmo algo sutil que
tinha haver com o plano do ensaio. “A personagem que aos poucos encontrava as
cores, e se encontrava também.”
As fotos coloridas foram as mais divertidas de se fazer, com
tecidos, luz e sombra, e até vento nos cabelos. Parei de fronte a foto final,
onde eu saltava no ar envolvida por um vestido colorido, os cabelos atirados no
rosto e os olhos fechados, mostrando a entrega da personagem ao seu novo eu.
– Lou, olha quem tá aqui! – A voz de Benjamin me tirou da
minha reflexão e me deu um soco no estômago quando me virei e percebi que
trazia Alex consigo. – Eu disse que você ia adorar revê-lo.
Sorri amarelo, enquanto acenava levemente com a cabeça para Alex,
como quem diz “oi”.
– Na verdade já tínhamos nos encontrado Ben, mas eu não te
achei para contar. Onde esteve? – Respondi com naturalidade, ignorando o homem
por completo.
– Estava no salão de entrada comendo algumas coisas, quando
o vi por lá. Passamos a última hora conversando sobre o novo álbum, né Al? Mas
eu prometo, não vou contar nenhuma novidade pra ninguém.
Alex concordou com um sorriso, e depositou a mão no ombro de
Ben.
– Tenho certeza disso, Benjamin.
– Vou buscar umas bebidas para nós, aceitam? – Ele propôs
animado.
Antes que eu pudesse dizer não, Alex concordou e logo
estávamos sozinhos os três. Eu, ele, e minha fotografia gigante.
Me virei para a tela pois não conseguiria começar. Ele
repetiu o gesto e manteve o metro de distância que nos separava.
– O que dizer de todas essas fotos... Era isso que andava
ocupando suas semanas?
– Sim, era. Acho que ficaram boas, no fim.
– Estão maravilhosas.
Fez-se silêncio, e minha cabeça era um nó de emoções e
vontades que não poderiam ser botadas pra fora. Não ali.
– Você está mais do que linda hoje, e eu só consigo pensar
em te colocar em meus braços.
– Não ajuda muito dizer essas coisas Alex.
– Eu não fazia ideia Luisa. – Ele disse perdendo a conduta,
e se virando, caminhando até mim. – Jamais permitiria que passasse por isso, se
soubesse.
– Eu sei.
– Só comecei a ter uma ideia quando cheguei ao prédio, e
desde a hora em que soube que era uma exposição do seu curso, temi que
estivesse aqui. Por azar, Georgie conhece Arielle há anos. Ela só me avisou que viria há dois dias, mas não disse o motivo. Fez uma... Surpresa.
– Uma das boas. – Desabafei, sem querer. – Olha, eu entendi
Alex, você não precisa se explicar. Uma hora algo assim iria acontecer de
qualquer maneira. Hoje, ou amanhã, ou daqui a alguns meses. Teremos que fingir
sempre, e só consigo me perguntar porque insisto nisso.
Silêncio de novo.
– É complexo. Não é o que parece... Eu já lhe disse o que eu
e Arielle somos, o que ela é pra mim.
– Me pareciam “muito bem, obrigada” uma hora atrás.
– Mas não estamos.
– Eu sei! – Disse um pouco nervosa demais, me recompondo em seguida. – Eu sei... É só que, me faz pensar... É uma mulher linda,
especial para você. Ela não merece Alex...
Tentei colocar as coisas em ordem. Eu acertei participar
disso. Alex sempre deixou a situação clara, e as coisas estavam muito recentes.
Eu não quero exigir nada, nem posso. Entre eu e ele as coisas não deveriam
acontecer, por inúmeros motivos, começando pelo fato de eu ainda não ter
completado dezoito.
Às vezes me esquecia de que a distância entre nossos mundos
era enorme, porque aqui em Barsnley ela se estreitava. Mas a verdade é que não
poderia oferecer a ele muitas coisas por um tempo. Havia sua
carreira musical, e do meu lado ainda tinha que lidar com Benjamin...
E no final, na realidade não havia certeza de nada.
Você pode ser apenas
mais uma, e sabe disso. Você decidiu ouvir seu coração, depois de tanto
tempo... Quer estar com ele, porque adora, e é isso. Porque está tão irritada?
– Não quero que interprete como ciúmes, porque posso te
assegurar que não é. Na verdade, não sei o que sinto. Acho que só estou
chateada, mas vai passar. Vai passar...
Ele aproximou ainda mais de mim, e disse baixinho.
– Eu prometo para você, que logo tudo ficará em ordem. Me
desculpe por hoje, meu amor. – Vi sua mão se levantar para alcançar meu rosto,
mas ele se retesou.
Entreguei a ele um olhar tranquilo, que o acalmasse e não
refletisse a desordem dos meus pensamentos.
– Diga ao Ben que preferi ficar com minha tia. Aproveite a
exposição. Nos vemos depois, querido.
Dei-o as costas pela segunda vez na noite, quando só queria
abraça-lo e voltar a ter minha mente leve, inebriada pelo efeito de seu cheiro
gelado e acolhedor. Estava bonito, sem a jaqueta usual...
Encontrei Sofi e Miss Eleanor, e partilhamos de alguns doces
juntas, eu mais para que não percebessem que estava esquisita. Minhas mãos
ainda tremiam. Toquei o anel de calcedônia por instinto. Respire Luisa.
Em pouco mais de meia hora Ben estava conosco, mas não
perguntou porque eu havia saído da exposição. Alex tinha efeitos incríveis na
cabeça de Benjamin.
Após mais um tempo, e uma última volta pelas imagens,
notamos alguns convidados partirem. Miss Eleanor estava cansada, então sugeri
que fôssemos embora para ser educada. Me despedi de Julie e Phill, que estavam
em uma mesa enorme, e se divertiam aos bocados. Dei mais um aceno singelo para
Georgie, que estava sem Arielle, e agradeci mentalmente por isso. Não o vi mais.
Um caminho sem volta,
não ligo para o que encontro.
Um pouco de tempestade
é bom, achei que você talvez faria. [...]
Algo em sua voz, desperta
um pouco de esperança.
Esperarei por este
som.
Sua voz se tornou meu
lar.
Quando chegamos em casa só consegui arrancar os sapatos
antes de cair na cama, e o sono acabou levando minha ansiedade para longe de
mim.
N/A: Olá! E lá vem
mais um capítulo, quentinho. Estou aproveitando o clima de desfechos onde me
encontro, e enquanto meu semestre novo não começa – estava em greve, mas no
momento, repondo tudo –, escrevendo nos períodos vagos (ainda tenho provas essa
semana, mas são as últimas). Esse foi meio complicado pois muitas referências
estão aqui. A maneira como Luisa desenvolve seu olhar de fotógrafa, prezando
pelas descrições e análises, como Ben fica animado junto de seu ídolo, se
esquecendo mais rápido dos sentimentos pela Lou, e como Alex sente pela
situação da menina por quem sente tanto carinho, em um dia que deveria ser
especial para ela. Espero que gostem dos looks, e do Sam Claflin como Phillip,
noivo da Julie. O que acham que vai acontecer? Me contem!!!
Beijokas, Débs.
PS: Confiram as fotos do ensaio da Lou no site que preparei especialmente para elas. E ouçam a música no
fim do capítulo, é linda e tem tudo a ver com a emoção dela ali.
Cade o resto gente???? Como assimmmmmm????? Precisamos de mais!!!!
ResponderExcluirA forma que você descreve os personagens é muito linda. A sua escrita, na verdade!!! Continue assim...
E gente. Eles tem que consumar esse ato né? Kkkkkkkkkkk
Até o próximo!!
Leitores fantasmas aparecendo aqui, <3333333
ExcluirFico muito feliz que tenha gostado do capítulo! Ai de coração, me dá um alívio e a sensação de estar sendo bem recebida. Obrigada por comentar.
Estou com tempo livre, então aguarde porque a próxima postagem vem logo aí!
Sobre "eles consumarem esse ato", haha. Será?
Até loguinho, e te espero aqui!!!
Big Beijo Art, Débs.
Super aguardando!!!!! O blog é muito bom... Não apenas pelo tema principal, que eu adoro, mas a construção das histórias em si... Parabéns novamente. E fiquei muito feliz por você responder meu comentário :***
ResponderExcluirDebs, desculpa por só estar comentando agora. Tô escrevendo monografia e tá mega corrido tudo nessa vida, mas ler SIAS é uma das poucas coisas que ainda faço, que me deixa com saudadinha de 2012 e das épocas de ouro do AMF. Me afastei dessas coisas por conta da vida, mas ler seu Alex é sempre uma experiencia deliciosa.
ResponderExcluirMas vamos ao capitulo.
Gostei de como você fez a Ari, sabe? Sem ser uma mulher chata e sem graça e ao mesmo tempo sem ser essa deusa perfeita e incomparável. Sinto que são dois caminhos muito cômodos para seguir quando falamos das namoradas do Alex, mas é bom lembrar que elas são mulheres como quaisquer outras. Como a Luísa.
Gostei de que ela não chorou feito uma menininha, apesar de que seria meio compreensível se fizesse. Gostei de como ela se manteve forte e elegante, que é provavelmente porque ele gosta dela.
Gosto muito de como você se esforça para trazer esses extras pras leitoras, como o site. Você coloca tempo e dedicação no que faz e seus leitores notam, não se engane.
Tô ansiosa pelo proximo e mesmo que demore pra comentar, saiba que tem uma leitora fiel. <3
Lu, eu amei muito esse teu review. Você colocou tudo de forma simples, da forma como quero que essa fanfic seja lembrada. Uma história entre duas pessoas, com altos e baixos, como qualquer uma.
ResponderExcluirSobre os extras: eu faço em maior parte pra me encontrar, buscar respostas para a história. Me ajuda muito! Essa parte visual é intrínseca para mim. Claro que a resposta de vocês me deixa super animada! E vem mais coisa por aí s2
Te considero uma das minhas mais queridas e fiéis leitoras, é claro. Obrigada pelo seu tempo dedicado à essa história, e boa sorte com tudo!
Beijos, Débs