Dedilhei o violão, olhei para a minha foto com o Paul McCartney na parede do quarto. Me perguntei o que ele acharia de Daniela. “Quando quiser escrever sobre uma mulher pense nela como um todo. O que ela tem que te faz feliz? O que ela tem que te deixa triste? O que ela tem que te faz mais apaixonado por ela? Separe esses sentimentos, coloque num papel, separe os sentimentos e nunca jogue nada no papel de uma vez só. Quando estiver tomado por determinado ‘feeling’ deixe rolar.”
Lembrando disso lembrei de quando escrevi “Snap Out Of It”,
como qualquer apartamento de artista o meu era completamente bagunçado. Meu
quarto ainda estava coberto de folhas com as músicas do novo álbum que ficaria
pronto em breve. Eu vi como ela estava puta por causa do ex-namorado. Agora eu
percebia que era ex, mas antes, eu a via brigando com ele, eu a via discutindo
com ele, eu a via se estressando por causa dele. Eu queria falar alguma coisa,
mas não podia. Ela iria me achar estranho, ia se perguntar porque eu estava
prestando a atenção em sua vida.
Eu prestava atenção porque eu a amava.
E ela era um turbilhão. E isso era lindo. Eu, sinceramente,
acho curioso a forma como os não-artistas lidavam com suas emoções. Elas
criavam tempestades dentro delas. E as vezes era como se eu pudesse vê-las. Eu
poderia ver seus peitos enchidos com uma tempestade, um furacão, todos aqueles
sentimentos presos, desesperados. Dani era assim.
As vezes eu me pegava me sentindo meio que um stalker
observando-a daquele jeito. Mas era quase sem querer. Eu reparava nela aquela
energia pulsando. Por isso ela não percebia quando os outros estavam ao seu
redor e ela estava falando alto demais. Ela não percebia quando amava demais,
quando sentia demais, quando chorava e sofria demais. Ela tinha alma e jeito de
artista, mas não sabia como colocar pra fora.
Lembrei que ela fazia arquitetura, lembro dela trazendo
várias vezes projetos para casa. Comecei a me perguntar se ela não desenhava.
Se ela desenhasse, pelo menos parte da carga sairia...
Joguei a cabeça para trás, estava sentado no chão junto com
as minhas coisas, encostado na cama. Minha cabeça tocou o colchão, girei pro
lado. Minhas mãos correram até minha testa. Eu sentia que eu estava tenso,
nervoso. “Eu consegui falar com ela...” O lado ruim de se envolver com várias
mulheres famosas, modelos, atrizes, é que quando eu dava de cara com uma mulher
“comum” meu mundo caía e eu não sabia o que fazer.
Peguei o celular, que estava perdido entre o primeiro
manuscrito de She’s Thunderstorms e a letra final de 505, junto com sua demo.
Abri a parte de contatos, estava ansioso pra falar com Matt. Era uma vitória. E
era engraçado eu pensar assim sobre eu mesmo, como alguém que falar,
simplesmente falar, não se declarar, com a pessoa que se ama era um sacrifício
enorme. Mas era Daniela. Daniela era uma mulher diferente, Daniela era forte,
era linda, era maravilhosa. Tão cheia de si. Isso me prejudicava porque eu
estava acostumado com mulheres fracas, que precisavam que outras pessoas
dissessem que elas eram bonitas, que elas eram maravilhosas, que elas eram
fortes para que elas se sentissem como tal. Daniela simplesmente era.
E os choros? E as lágrimas? E as dores? Dani era humana, e
quando ela agia desse jeito me fazia acreditar que ela era de verdade alguém
que merecia meu amor, que merecia minha atenção. Sinto falta de mulheres como
ela.
- Mathew James Helders III! – Meu tom de voz estava animado,
de verdade. De um jeito que eu raramente ficava, eu já poderia imaginar a
expressão de Matt do outro lado da linha. Conhecendo-o como eu o conhecia,
depois de todos esses anos, eu sabia que ele estava tocando bateria naquela
hora. Breana estava fora da cidade.
- Porra, agora que eu to sem dinheiro? – Dei uma risada. Matt me conhecia de um jeito que ninguém no mundo jamais
conheceria, por isso eu o admirava.
- Eu pago pra você. – Eu consegui imaginar o sorriso em seus
lábios.
- Então eu vou.
***
Matt tinha um bar preferido em Nova York, ele era parecido
com um clássico pub britânico inclusive se chamava The Yorkshire Rose Pub, o
que era cômico porque éramos justamente do condado de Yorkshire que nós viemos.
Sentávamos sempre no balcão, a bartender era uma moça que já
nos conhecia, uma moça muito simpática de Dublin. Quando chegávamos ela nem
perguntava, já rapidamente corria para preparar nossas bebidas. Eu bebia minha
clássica Marguerita e Matt pedia sua cerveja de sempre.
No fundo tocava Save a Prayer do Duran Duran na versão do
Eagles Of Death Metal.
- Esse lugar não poderia ser melhor. – Matt comentou
enquanto Julia, a tal bartender irlandesa colocou a cerveja preferida dele em
cima do balcão, ele agradeceu com uma piscada de um olho enquanto começava a
fazer meu drink.
Eu apenas dei de ombros observando enquanto dois grupos de
pessoas entravam e saíam do bar.
- Qual o seu problema? – Matt colocou a mão no meu ombro
fazendo com que eu me virasse pra ele. – Sempre que você me liga tem alguma
coisa acontecendo. – Dei um suspiro pesado e olhei enquanto as mãos de Julia
agiam de uma maneira completamente ágil com os ingredientes do drink.
- Mulher. – Ele deu um sorriso malicioso, sempre fazia isso
quando eu falava que meu problema era com o sexo oposto. Ele achava graça da
minha desgraça nesse sentido. Matthew estava casado enquanto eu parecia um
cachorro no cio.
Quando você tem a fama, você tem mulheres. E quando você
sofre por alguém você acha que transando com o máximo número de gente possível
você vai resolver. O problema é que não resolve.
- Arielle? – Por mais que tivéssemos terminado há alguns
dias ela não era assim tão importante, eu já não gostava dela quando
terminamos, minha mente estava na Dani há muito tempo e Arielle estava
completamente chata nos últimos meses também, por mais bem humorada que fosse.
- Não.
- Alexa? – Alexa era uma paixão forte e antiga, mas ainda
era só minha melhor amiga para minha mente.
- Não.
- Daniela? – E é claro que meu melhor amigo sabia dessa
minha paixão.
- Sim.
Ele torceu os lábios.
- Ela terminou com o namorado. – Ele bateu com força na mesa
usando as duas mãos, me fazendo dar um pequeno pulo de susto.
- Essa é a sua chance, Alex! – Revirei os olhos.
- Ela vai ao nosso show sábado.
- Aposto que ela pirou quando você fez o convite.
- Ela não conhecia a banda. Eu sou um zero a esquerda pra
ela, Matt. – Dito isso meu drink surge na minha frente, lindo, brilhante e com
aquela borda de sal sempre associada a tequila.
- Não é porra nenhuma. Bebe! Bebe pra esquecer essa merda.
Ela vai se derreter por você, vai ver só. – Revirei os olhos novamente e bebi
um gole da minha bebida preferida. Tudo bem esquecer por aquele momento, tudo o
que eu queria lembrar dela estava em minhas músicas.
Olha, olha... Quem é vivo sempre aparece, kkk. Adorei a att Bella <3. Achei de verdade que você não escreveria nada nunca mais, até porque você desapareceu de tudo. Vê se não some de novo, por favor :c. Beijos.
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