- Marie, me ajuda. Preciso comprar roupas novas. – Eu estava
desesperada no telefone. De repente eu havia notado que não tinha roupa nenhuma
para ir ao show. Por algum motivo isso me deixou levemente desesperada. Comecei
a pensar que aquilo seria um desastre. Faltava apenas um dia.
- Calma, calma eu estou aqui. Que horas você sai do trabalho
hoje? – Ela era quase uma fada madrinha para mim. Eu não sei o que eu faria sem
ela. Seu visual também combinava com esse ar, os cabelos loiros curtinhos e
repicados iam muito bem com ela.
- O horário de sempre. – Quase que pude vê-la assentindo
positivamente do outro lado, eu já conhecia sua forma de agir.
- Ok! Eu te busco aí. – Sorrio, percebo que não estou
sozinha e esse é o melhor sentimento do universo. Pode faltar amor, mas não
pode faltar amizade, isso é uma coisa que eu aprendi na minha vida. Apesar da
minha amiga não ser o melhor exemplo de pessoa ela nunca havia me abandonado,
nossas diferenças diminuíam quando ela se juntava a mim para fazer sua parte.
Marie era moderníssima, trabalhava num escritório como
Designer, desenhava e as vezes fazia
desenhos de tatuagens para um estúdio próximo a nossa casa. Ela me prometeu que
minha primeira tatuagem seria feita de um desenho dela. A minha melhor amiga
sempre sabia dos últimos lançamentos da música, estava nas melhores festas e
haviam boatos de que ela havia ficado com o Jude Law uma vez, ela nunca
desmentiu, mas também nunca confirmou.
Eu era esse projeto de arquiteta, completamente antiquada.
Não fazia nada além do meu curso na
faculdade e reclamar da vida. Não gostava de festas, não gostava de shows e
tinha a mesma playlist há 10 anos. Nunca fiquei com mais de 10 pessoas e não
sabia muito bem se me orgulhava disso ou não.
Minha eterna coleção de jeans, camiseta e vestido de repente
não cabia mais para o show do Arctic Monkeys, eu precisava vestir algo decente,
por algum motivo eu queria muito impressionar o Alex. Enquanto eu deveria estar
analisando o pedido de reforma de um prédio antigo no Harlem eu estava analisando
os videoclipes da banda.
Alex parecia ser um cara badass,
com seu topete Elvis Presley, camiseta branca ou preta, por de baixo de um
casaco de couro, jeans e botas de motociclista. Me senti completamente sem
estilo para sair no show dele. Eu pareceria minimamente errada, me senti
completamente estranha.
Ele fazia poses, carões, fumava um cigarro com mais estilo
que qualquer coisa.
E pensar que alguns dias antes ele estava era bêbada na
minha porta, chorando e completamente sem nenhuma condição de chegar em casa
era para ser cômico. Por algum motivo me sentia bem por saber que ele não era
esse machão todo. Sei que isso soa um pouco sádico, mas no meu lugar qualquer
um sentiria o mesmo, isso é um fato.
Engraçado é que a louca descompensada também era eu e agora
eu queria pagar de boazona, exatamente como ele fazia nos clipes. Pensar que um
rockstar tem fraquezas é tão engraçado quanto pensar que o presidente dos
também tinha.
- Oh, olhe para mim eu sou o cara que vai molhar sua
calcinha. – Comecei a imitar de um jeito cômico e exagerado o estilo do Alexander
nos cilpes fazendo um sotaque britânico exageradíssimo enquanto o fazia.
- Tá tudo bem, Dani? – A Senhora Martinez me fez tomar um
susto, dei um eleve saltinho da cadeira, que era velha e acabou rangendo junto
com meu movimento. A mulher deu um sorriso meio bobo e eu senti que ela estava
vendo minhas reações há um tempo e se divertindo com ela.
- Tá sim. – A mulher assentiu com a cabeça segurando o riso
nos lábios. – Você pode trazer uma xícara de café para mim?
- Claro! – E ela saiu dando risadinhas. Senti meu rosto
corar.
***
Marie entrou na John John enquanto me prometia com um
sorriso nos lábios:
- Você vai sair igual uma celebridade. – Reviro os olhos.
Por Deus, Marie fala muita besteira.
- Eu vou sair pobre. – Ela riu alto e chegou cumprimentando
todo mundo na loja. Logo reconheci que o gerente, que eu logo supus por ser um
pouco mais velho que os outros naquele lugar, tinha uma tatuagem que havia sido
visivelmente desenhada por Marie.
- David, me diz o que você usaria no camarote de um show da
banda Arctic Monkeys. – Marie chegou no balcão colocou as palmas das mãos sobre
eles e olhou fixamente nos olhos do gerente.
Ele deu um sorriso malicioso, os dois pareciam ser do mesmo
planeta estranho.
- Se eu fosse uma mulher e quisesse conquistar o coração do Alexander?
– Marie aumentou seu sorriso de gato da Alice no País das Maravilhas. Confesso
que pensei que ela fosse desaparecer do nada também.
- Sim. – Resolvi não falar sobre o assunto, era ela se metendo
naquela historia e eu não queria entregar meu jogo.
David deu um sorriso malicioso e foi até uma das araras
enquanto eu via Marie lançar um olhar afetado, como quem diz “eu sei muito bem
o que eu tô fazendo” e cruzava os braços. Segurei uma mão com a outra e olhei
enquanto o vendedor trazia um vestido preto acompanhado com um casaco de couro.
- Isso daqui. – A roupa era linda, de verdade, mas a única
coisa que eu conseguia pensar era:
- Vocês dividem em quantas vezes?
***
Meus pés estavam doendo.
Depois de voltar da loja Marie me fez andar mais com ela,
porque ela também queria comprar roupa nova, e depois me levou no Starbucks
onde me pagou um frappuccino. Eu nunca fui muito fã do café de lá, ia mais pelo
hype do lugar.
O elevador estava quebrado, pra variar, e fui obrigada a
subir cinco andares de escada. O show era no dia seguinte e eu estava morta de
cansada.
Respirei fundo e empurrei a pesada porta corta-fogo do meu
andar. Respirei fundo, cansada, precisava tomar um copo de água. Pesquei minhas
chaves no bolso do meu enorme casaco jeans e fui logo abrindo a porta. Com a
outra mão eu peguei o celular no bolso e chequei as horas. 23 horas, eu não
costumo a chegar tarde assim.
Enquanto giro a chave e abro a porta do meu apartamento
escuto do outro lado a guitarra de Alexander. Respiro fundo, ele está tocando
baixinho uma música super lenta. Mordo o lábio inferior.
“Será que devo perguntar a ele se está tudo ok pra amanhã?”,
questiono a mim mesma enquanto entro e vou pra cozinha, enchendo um copo com água
da geladeira, deixo a porta aberta assim como a minha mente está para
questionamentos.
Enquanto viro o copo garganta abaixo começo a imaginar ele
sentado na sala da casa dele, vestindo apenas um jeans, sozinho, com vinis de
Jimi Hendrix, Janis Joplin e Bob Dylan espalhados pelo chão.
Imaginei sua barba por fazer, ele tinha cara de quem não
tinha desenvolvido muita barba e por isso raspava, imaginei seu cabelo sem gel
e completamente bagunçado. Imaginei em seu lado direi um cinzeiro cheio de
bitucas queimadas e no canto esquerdo de seu lábio um cigarro caído enquanto
soltava uma leve fumaça.
Aquela cena quase poética fez com que eu terminasse o copo,
colocasse na pia e saísse do meu apartamento, não me esquecendo de encostar a
porta para esconder a bagunça e a sacola com as roupas.
Ok, confesso que eu também não queria mostrar a ele que
tinha comprado roupas especialmente para o show, não queria ceder ao
“molhador-de-calcinhas” a minhas verdadeiras intenções que estavam mais do que
conscientes, mas eu insistia em esconder.
Respiro fundo e dou três batidas na porta do apartamento
505.
A guitarra para, silêncio, escuto a guitarra sendo colocada
no chão, barulhos intensos de passos.
- Quem é? – Ele grita do outro lado.
Bolo na minha garganta.
“Acho que fiz merda”, penso.
- É a Daniela! – Respondo. Mais passos, um xingamento do
outro lado. Barulhos de alguém girando a chave e soltando trinco da porta. Alexander
aparece bem na minha frente. Ele está exatamente do jeito que eu imaginava, mas
não consigo deixar de notar que há algo estranho nele.
Seu corpo está rígido, vejo claramente deus músculos
tensionados.
- Aconteceu alguma coisa? – Sua voz está trêmula, há algo de
muito errado naquela situação.
- Eu só queria saber se tá tudo confirmado para amanhã. –
Meus olhos inspecionam o apartamento. Vejo Alex ficar mais tenso e começar a me
observar, quase posso notar uma gotinha de suor se formar em seu rosto.
- E-e-está sim. Seu
nome já está na lista. – Ele diz, é aqui vejo um sutiã de renda vermelho
no sofá, depois noto uma marca vermelha no pescoço dele. Encaro com tanta força
que ele percebe e coloca a mão em cima, fingindo coçar a área, mas já é tarde
demais, eu já vi.
A vontade que eu tenho é de brigar com ele, mas não faço
isso, ele nota que eu fico desconcertada. Sinto meu olho começar a lacrimejar,
mas não tenho nenhuma coragem de reagir.
Me sinto traída pelo amor que nunca conseguiu sequer
começar. Respiro fundo, não posso demonstrar minhas emoções na frente dele.
- Obrigada. – Digo seca e dou as costas.
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