You & I, Capítulo 02: With A Little Help From My Friends

Achei que ele não tinha entendido a palavra eu começara a formar, mas ele entendeu. Ele abriu um sorriso quando começou a me reconhecer, e eu senti os meus olhos ficarem arregalados com a confirmação do fato: Nos conhecíamos. Como eu não tinha notado antes? Poderia ter dado um jeito de pular fora dali antes da sessão começar, mas agora era meio tarde. Já era completamente tarde. Lembranças do tempo em que eu morava em Sheffield voltaram a invadir minha cabeça….

FLASHBACK ON

Me sentei no banco da praça perto da escola esperando Alex vir. Tínhamos combinado ali na hora da saída, ele tinha prometido me ajudar no trabalho de literatura, tínhamos que falar sobre o poeta John Cooper Clarke, e Alex era simplesmente viciado no cara. Enquanto brincava com uma mecha solta do meu coque mal feito, observei Alex, Matt e outro cara que eu não conhecia saindo da escola, eles riam e faziam gestos obscenos com a mão. Isso me fez rir. Matt era um cara legal, e muito engraçado, não tinha como não se divertir com ele. Vi Matt e o cara se afastando, e Alex os observando. Quando eles dobraram a rua, Alex veio em minha direção. Me ajeitei direito no banco, eu estava toda largada de qualquer jeito, e arrumei o coque. Alex sorriu quando se aproximou de mim, retribui o sorriso. Ele se sentou do meu lado, e me abraçou sem jeito. Abracei o com força, e ri de sua reação.

— Ta rindo de que? – ele perguntou tirando a mochila dos ombros
— Nada, precisa ter um motivo para rir? Rir é bom, você deveria tentar!
— Vou rir da nota ruim que você vai tirar se não ficar quieta e prestar a atenção...
— Ok senhor poço de simpatia...
— ... Trouxe esse livro do Clarke, é muito bom, vai te dar uma boa base pro trabalho.
— Base para o trabalho? – perguntei, pegando o livro de sua mão e fazendo minha carinha mais fofa.
— Você não pensou que eu iria fazer o trabalho pra você, né?
— Pra falar a verdade... – ele começou a rir — está rindo de que?
— Rir é bom Vic, você deveria tentar! E fazer os seus trabalhos também é bom, e você deveria começar logo, é pra daqui a uma semana, não é?
— Ah Alex, qual é! Eu não tenho ideia de por onde começar! – disse segurando seu braço por impulso.

Ele olhou para minha mão, e quando eu pensei em tira lá, ele a segurou com a mão direita. Ele levantou a cabeça, com uma expressão estranha. Notei que estávamos muito próximos, nossos joelhos quase se tocavam. Ele sorriu para mim, um sorriso fofo, que o deixava com cara de criança. Ele tinha olhos lindos, em um castanho bem escuro, mas que estavam clareados pelo sol. Me senti tonta. Será que era o calor? De repente, notei que não era o calor que me deixava tonta, e sim o sorriso, os olhos, o jeito engraçado que o cabelo dele crescia, o jeito que sua mão segurava a minha, e a expressão em seu rosto.

— Acho bom começarmos o … - o fato é que eu fiquei completamente sem jeito com a situação — o trabalho, antes que fique tarde.
— Tudo bem.

Depois de termos terminado, ele se despediu de mim.

— Vai na festa que o Matthew irá dar hoje à noite? - ele perguntou assim que depositou um beijo em meu rosto.
— Vou sim, você irá também, né? - ele assentiu — então nos vemos lá.
— Pode deixar, tenho que ir, tchau. - sorriu meio tímido, e foi.
— Tchau.


Meu quarto estava uma completa bagunça, por simplesmente eu não ter o que vestir naquela noite. E ter espelhado todo meu guarda-roupa por tudo. Já estava entrando em pânico, até avistar minha baby look dos Smiths, e ao lado dela um saia preta de cintura alta e plissada. Vesti as peças, uma meia 3/8 escura, mas com um pouco de transparência e calcei meu All Star botinha, também preto. Deixei meus cabelos soltos, só dando uma ajeitada com os dedos. Fiz uma maquiagem básica, mas acompanhada de um delineador e batom vermelho.
Desci e pedi ao meu pai que me levasse à casa de Matt, e partimos.

Assim que desci do carro, já dava para ouvir a música que vinha lá de dentro: Sheena Is a Punk Rocker, RAMONES.
Adentrei à casa, e como dizia a tia Jill “Você já é de casa, menina”, fui direto para a cozinha pegar algo pra beber. Só que o que menos esperava, era me deparar com uma cena daquelas, Turner aos beijos e amassos com a Kath, loira mais nojenta e oxigenada da escola.
Assim que percebeu minha presença, Alex me olhou assustado.
— Oi – o cumprimentei, tentando parecer o mais tranquila possível.
— Err.. Er.. Oi – ele estava vermelho, o que me deu vontade de rir.
Virei-me de costas, peguei uma cerveja na geladeira. E saí, sem dar nem as horas.

Me joguei no primeiro sofá que vi, não exatamente, porquê o primeiro que vi havia duas garotas se agarrando, e não quis atrapalhar.
Fiquei ali, quieta, ouvindo os hits, dos anos 60, 70, 80, 90 e 00, mas ao mesmo tempo sem conseguir parar de pensar na cena anterior. Em meio aos meus devaneios, senti alguém sentando ao meu lado. Era Matt.

— Está tudo bem? - ele deitou a cabeça em meu colo. Nosso jeito era esse, muitos achavam que eu e Matt ficávamos devido a nossa mania de andar abraçados, eu ir dormir na casa dele e visse-versa. Mas na verdade, nosso relacionamento, era praticamente de irmãos. Ele sempre estava ali para me proteger, e me aconselhar.
— Tá... Tá tudo bem e com você?
— Também, gostando da festa?
— Bastante.
— Mas então por quê está sentada, com a cabeça em outro mundo?
— Só estou cansada... - ficamos rindo de como as pessoas dançavam, por um bom tempo. Até eu avistar novamente, Turner com aquela vad... aquela outra lá. — Matt...?
— O quê foi, Vic?
— Alexander está namorando a Katherine?
— Não, que eu saiba. Você está assim por causa dele, né? - neguei com a cabeça desviando o olhar dele, e mirando meus tênis. — Victória, oh Victória. Pensa que me engana, eu te conheço mais que você mesma. Está escrito na sua testa que você é afim do Alex.
— Cale a boca, Helders! Não tem nada haver. Só perguntei... por curiosidade – e era por curiosidade, porém acho que Matt estava certo. Alex realmente mexia comigo, é não era de hoje...
— Você está tentando enganar à si mesma, como sempre Srta. Morgan.
— Ah “srta. Morgan” - imitei a sua voz e rimos. Mas novamente, olhei para onde eles estavam, e as coisas perderam a graça novamente.
— Você, vai terminar de beber essa cerveja em um gole só, levantar e ir dançar. Se divertir, e vai mostrar pro Turner que ele não sabe o que está perdendo.
— Matthew – fiz uma espécie de beicinho e ele riu — você sabe que eu não sou assim...
— Se preferir, te levo a força, no colo ainda e te largo lá no meio.
— Ok, ok – me mostrei rendida. E fomos até lá, no mesmo momento começou a tocar Oh! Darling dos Beatles. Estava com um pouco de vergonha pois não era muito de dançar em público, mas quando estava em casa sozinha, me soltava. Fechei os olhos, comecei a dançar conforme a batida da música, ouvindo cada instrumento. Passando a mão nos meus cabelos, no meu corpo, e me sentindo leve. Eu não estava fazendo aquilo para provocar Alex, nem ninguém. E sim porquê eu gostava de dançar, e gostava mais ainda dos “Meus Garotos de Liverpool”.

...Oh, darling.
If you leave me,
I'll never make it alone.
Believe me when I tell you,
I'll never do you no harm.
Believe me, darling.'

FLASHBACK OFF

Depois da sessão eu e Matt havíamos marcado de nos encontrar.
O bar era um pé sujo nojento no subúrbio de Londres, um lugar difícil de qualquer um reconhecer a mim... E principalmente a ele. Sentei em uma mesa discreta, meio escondida, mas assim que chegou, Matt me viu, abriu um sorrisão e veio em minha direção. Não pude deixar de sorrir também, parecia que nossa amizade não havia mudado nada, mesmo depois de tantos anos sem se ver. Matt se sentou na cadeira a minha frente, e nos olhamos.

— Quer mais uma cerveja? – ele perguntou apontando pra garrafa em minha mão, que já estava no fim.
— Quero sim.
Ele se levantou e foi no balcão do boteco, e fez um sinal de dois com a mão. Olhar para Matt ali, agora, fez várias lembranças que estavam guardadas no fundo do meu cérebro voltarem. Matt tinha mudado tanto, estava mais forte, mais alto, e muito mais bonito do que antes, as espinhas haviam sumido como mágica. Mas ele continuava o mesmo cara legal de antes, o que era ótimo.
Ele voltou com duas garrafas já abertas e me entregou uma, sentou-se na cadeira a minha frente e tomou um longo gole da cerveja, fiz o mesmo.
— Vic... Quanto tempo... Meu Deus, isso é estranho!
— É Matt, faz muito tempo mesmo! Nossa você mudou tanto, está tão bonito! Deve ta pegando geral né! – disse rindo e cutucando seu braço.
— Você também está linda garota, não que você não fosse antes, mas agora está mais!
— Muito obrigada senhor Helders!
— De nada senhorita Morgan!
— Argh, senhorita Morgan, isso é estranho!
— Falando em estranho, por que me deu o número errado da sua casa em Belfast?
— Não te dei o número errado! – disse fingindo indignação – é que a dona da casa em que fiquei lá não queria mais ter contato com o ex-marido, dai ela cancelou o número do telefone, fiquei quase três sem falar até com os meus pais. E quando eu voltei pra Sheffield, para visitar todo mundo, vocês e todos os outros tinham sumido!
— Nos não sumimos! Estamos em uma banda agora, sabia? Arctic Monkeys.
— É, uma banda “indiana”- eu disse rindo, tomando um gole da minha cerveja para parar.
— O que? – ele perguntou sem entender a piada
— Nada, nada, pra falar a verdade, eu já ouvi falar da sua banda... ela é bem legal, aliás!
— Bem legal? É isso o que você tem a dizer da banda do seu melhor amigo de infância?

Conversamos por um bom tempo, trocamos telefones para não perdermos contato, rimos, lembramos histórias do passado, contamos o que havíamos feito até ali, planos e futuros, e eu tinha esquecido como era fácil rir e me divertir com Matt, meu melhor amigo de infância. Eu já estava na oitava ou nona cerveja, quando olhei para o relógio na parede do bar, e me assustei. Confirmei que horas eram olhando no relógio de pulso de Matt, bebi o resto da minha cerveja de um gole, coloquei minha jaqueta e catei a minha bolsa.
— Maaatt, tenho que ir embora, olha as horas!
— Isso é hora de ir embora? – disse verificando o relógio – você tem nove anos?
— Nah, tenho dez, crianças de nove anos dormem mais cedo!

Ele riu, bebeu o resto da cerveja dele e se levantou. Jogou uma nota na mesa,e seguimos para a saída.
— Vem – ele disse puxando meu braço — vou te colocar em um táxi.
Saímos do bar de braços dados, como fazíamos antes, e caminhamos alguns metros até a esquina. Vinha um táxi, e Matt fez sinal e o carro parou. Nos abraçamos forte.
— Matt, só quero te pedir uma coisa...
— Fala – ele disse me soltando do abraço e sorrindo.
— Não conta nada pro Alex que você me encontrou, ok? Não conte que você me reconheceu...



n/a: Primeiramente, queria agradecer aos comentários do capítulo anterior. Muito obrigada mesmo, eu e a Rafinha ficamos felicíssimas. Estávamos com medo de não gostarem ou algo assim, mas depois que lemos as palavrinhas de vocês ficamos completamente lisonjeadas.
Buenas, nesse capítulo um pouco daquele mistério já foi revelado, mas ainda tem mais coisas por vir...
Ah, e decidimos que as "bandas" da história, serão Beatles, Stones e Oasis. Essa ideia surgiu, porquê eu tenho mania de escrever ouvindo essas bandas pois elas me inspiram. Então resolvemos encaixá-las. Como já deu para se perceber no título do capítulo, e depois citando "Oh! Darling".
Então, eu já vou ficando por aqui.
Novamente, agradecemos muitíssimo vocês por estarem acompanhando You & I, de coração.

Beijos, Nic e Rafa.