Now Then Mardy Bum? - 20: Separate And Ever Deadly

— Vocês... Vocês já vão embora? Para Sheffield? — não consigo processar a informação tão rápido quanto meu cérebro deveria. Nem mesmo consigo disfarçar o desapontamento. A frase “dando uma festa de despedida ou algo do tipo” de vários dias atrás passa pela minha mente e eu me amaldiçoo por não ter feito a conexão antes. 

É Matt quem responde minha pergunta do outro lado da sala, enquanto bebe um liquido borbulhante num copo aparentemente caro. Alex afina o violão um pouco afastado, sentado no braço do sofá oposto ao meu, sem me olhar nos olhos, mas sei que está ouvindo. 

— É, nós terminamos de gravar esse álbum e agora a turnê começa pela Inglaterra, mas queremos passar um tempo em casa, provavelmente alguns dias. Fuck, sinto falta do Nandos. — diz se referindo a franquia de frango frito que vive falando. Se ele já não fosse estupidamente rico, suspeitaria que por trás da paixão por asinhas de galinha estava um contrato de merchandising valendo milhares de dólares, porque até eu já sinto vontade de conhecer o lugar. E eu nem gosto de frango. 

— Yeahhhh — Jamie concorda sorrindo com um olhar nostálgico. 

— Wow. Eu não pensei que seria tão rápido. Vocês chegaram aqui há algumas semanas...

— San Diego é foda, não me entenda mal, mas nós sentimos falta de Shefield. — Nick diz com aquele sorriso e olhar de filhotinho. Devo estar com uma cara ruim pra ele sentir que deve se “desculpar” por estarem indo. Sento mais ereta e tento manter a expressão indiferente. 

— Eu sei, eu sei.... Isso é ótimo, na verdade. Uau, estou feliz que finalmente vão para suas casas! — forço um sorriso e eles me acompanham pensativos — Deve ser ótimo voltar lá e tudo o mais, depois de tanto tempo. A Inglaterra deve ser um lugar incrível... 

— Estrangeiros e suas obsessões pela Inglaterra. Nunca vou entender. O clima é fodido o tempo todo! 

— Eu nunca estive em um lugar que realmente fizesse frio. A minha cidade era quente na maior parte do tempo e desde que cheguei em San Diego, o sol está por toda parte, o que faz com que ela pareça mais uma extensão do Brasil do que outra coisa. Pablo me fez comprar casacos e coisas assim, mas nunca usei. Parece idiota, provavelmente, homens não entendem quão doloroso é ter algo bonito no guarda-roupa e não poder usar. — faço biquinho. 

Não é inteiramente verdade. Seria legal finalmente poder usar os casacos e jaquetas de couro sem que eu sinta vontade de tirar a roupa, mas Londres fascina estrangeiros por vários outros motivos. O sotaque, a literatura, o cavalheirismo e os ônibus vermelhos adoráveis; é basicamente o que conheço da cidade, mas parece o suficiente para desejar conhecer mais. 

— Quando? — pergunto soar casual. 

Nick franze o cenho. 

— Depois de amanhã. O Alex... não te disse? 

— Não. Deve ter esquecido. 

Ou achado que não faria diferença. 

Nick concorda com a cabeça com um sorriso desconfortável, Jamie bebe alguma coisa de um copo escuro e encara o liquido dentro com interesse assustador – ele sempre parece ter essa expressão “aérea”, mas aposto que tem pensamentos fascinantes -, Matt continua bebendo seu líquido misterioso - champagne? Prosecco? – do copo transparente e ri para mim. Ele é o tipo de cara com quem eu facilmente faria amizade, mas tenho passado tempo demais com um outro amigo dele... 

— Posso fazer umas ligações com algumas gravadoras e revistas de música aqui em San Diego, se ainda quiser — Alex finalmente diz, mas ainda está com a atenção voltada ao violão — Não conheço tantas aqui nos Estados Unidos, mas verei o que posso conseguir. Talvez um estágio e se você se der bem... Talvez consiga escrever, como sempre quis. 

Fico feliz que se lembre disso. 

— Nah, eu não poderia escrever. 

— Claro que poderia. — diz finalmente me olhando e lançando um quase sorriso. 

— Seria legal, então. — respondo quebrando o contato visual — Ajudaria. Não vou saber o que fazer do meu dia se não tiver que buscar nutella pro Nick ou levar as camisas sujas do Matt pra lavanderia. 

— Awww — Matt faz de brincadeira e coloca o braço ao redor do meu ombro de um jeito protetor e afetivo — Nós vamos sentir sua falta também, Olivia. 

E eu forço um pequeno sorriso já que não há nada mais a se fazer, mas parte de mim se encolhe e fica em silencio, porque não sabe exatamente como agir. Alex vai... Embora? 

 *** 

Eu tinha que admitir que o lugar era foda. Em outras circunstâncias, eu estaria procurando uma plaquinha de “emprega-se” ou estaria entrando por vontade própria, simplesmente para beber uma alguma coisa (que eu provavelmente não teria dinheiro para pagar, vale ressaltar) e ouvir uma boa musica. Ao contrario da iluminação fraca e das paredes vermelhas do Hard Rock, o Bloody Brothers tinha paredes brancas e mesa com pequenas iluminaria individuais. 

 Assim como o Hard Rock, porém, a decoração do local ficava por conta de quadros e pôsteres de décadas passadas. Uma parede solitária lateral era feita de quadro de giz e ainda que isso soasse infantil e piegas, era legal. Depois de todos os Monkeys e amigos assinarem, Alex empurrou sua cabeça contra a minha, indicando que eu fizesse o mesmo. “Helder’s god/ Jamie crack whore e O’Malley porn addicted” foram adjetivos colocados ao lado de cada nome por um dos caras que estavam sempre com a banda e que o nome eu não recordava. O nome de Alex estava escrito numa letra ilegível, com um “A” que mais parecia um triangulo que uma letra do alfabeto, esperando por um adjetivo condizente. 

Peguei um giz azulado, “I’ll miss you” escrevi numa letra que não fazia jus aos meus desejos de me tornar escritora. 

— O que isso significa? A Olivia resmungona finalmente foi substituída por uma Olivia mais doce? 

Balancei a cabeça e roí a unha, observando a parede. 

— Não. Significa que você não vai estar aqui e eu vou perceber. 

— Ou isso ou até você está começando a perceber que gosta de mim. 

— Não faz diferença. 

— Eu disse isso? 

— Nem precisa. — resmungo. 

— Aí está ela. Bem vinda de volta, Mardy Bum. 

Ignorei o tom zombeteiro. 

— Deveria ficar feliz que não sou uma das suas tietes e implora para que cancele os shows e fique em San Diego. 

Seu olhar suavizou um pouco, por uns segundos. 

— Eu não faria isso... 

— Ótimo, porque eu não estou pedindo. 

— Então o que está pedindo, Olivia? O que quer dizer? 

Seus dedos fazem carinho na minha cintura e eu sinto meu peito inflar com algo mais denso que ar. Ele está indo embora. E não há nada que eu possa fazer. 

— Pode passar a mostarda? 

Sua cabeça pende pro lado e ele estreita os olhos, pensativo. A maneira como me encara faz parecer que ele está tentando ultrapassar meu crânio e enxergar o que estou pensando. É estranho porque na metade do tempo, sou eu quem tenta entender Alex.

— “Pode passar a mostarda”... — ele repete ao colocar a garrafa na minha frente. — Eu preciso fumar. 

 Enquanto ele vai se afastando da mesa, eu coloco a cabeça entre as mãos e encaro meu colo. O que está acontecendo comigo? No que eu me meti? 

— Posso anotar seu pedido, senhorita Fernandes? 

— Hm... Não, eu ainda não me decidi — resmungo para o garçom, antes de levantar a mirada e me deparar com um Jesse vestido de branco. 

— Jesse... 

— Olha só, ela ainda lembra meu nome! — exclama sarcasticamente. 

— O que? Eu... 

— Onde esteve desde o dia do festival? — sua expressão trás um leve ar de diversão, mas sei que ele está se forçando ao máximo para mostrar que não se importa. Atrás dessa fachada de cara durão, porém, se esconde o cara mais doce de todos os tempos. Um cara que magooei. 

Abaixo a cabeça. 

— Estive ocupada. 

 Seus olhos acompanham o movimento de Alex do outro lado do salão, fumando distraidamente ao lado de Cook. 

— Aposto que sim. 

— Trabalhando para ele. — sua expressão de deboche demonstra que ele não acredita em mim. — Você está sendo injusto. 

— Ótimo. Então estamos quites. 

 Suas orbes claras me encaram, esperando uma resposta. Jesse foi o primeiro cara a me dar uma mão desde que cheguei em San Diego e me sinto tão horrivelmente culpada por tê-lo negligenciado nessas ultimas semanas. Por ter ignorado ou não dado valor aos seus sentimentos por mim; mesmo que eu saiba que não sinto o mesmo. 

— Não sei o que dizer... 

— Nem precisa — interrompe — Como a namoradinha do rockstar ali, você não precisa falar. Só ficar aí parada sendo bonita e desejável. 

 Meu peito se enche de raiva e orgulho. 

— Não somos namoradinhos. — cuspo. 

— Não, mas você adoraria que fossem. Admita, Olivia, está de quatro por ele. 

Balanço a cabeça freneticamente, tentando espantar aquela sentença. 

— Eu trabalho para ele, só isso. E você está agindo como um idiota. 

— Não é um pré requisito pra ir pra cama com você? Não é só comprar alguns cigarros e usar uma jaqueta de couro que você abre as pernas? 

O tom ácido da acusação machuca como um tapa. Eu recuo com os olhos ardendo e marejados. No segundo seguinte Jesse está no chão e Alex parado do seu lado, flexionando a mão direita, os lábios numa linha rígida. 

— ALEX! — Eu berro me abaixando pra ver o estrago no rosto de Jesse. O supercílio abriu e sangra bastante e eu sei o quão ridículo deve parecer a cena; o cara me chama de puta e eu estou o ajudando... Mas ele não quis dizer aquilo, só quis me machucar. É mais fácil acreditar nisso, murmuro pra mim mesma. — Porque caralhos você tem que sair por aí socando todo mundo?! 

Ele da um sorrisinho descrente, arqueando as sobrancelhas em surpresa. 

— Está ficando do lado dele?! — ele balança a cabeça. — Você é inacreditável... Quer saber? Talvez ele esteja certo. Diz pra ele que eu compro minha jaqueta de couro na Levis e cigarro ele encontra em qualquer esquina. Divirtam-se. 

 E aí Alex sai na chuva, me deixando com um Jesse machucado e um coração mais ainda.

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N/A: Essa é a razão da falta de posts. Eu não sie mais escrever... Fora que os capítulos que tenho que escrever não são tão felizes, e isso acaba tirando minha criatividade... :/ Sei la, nao to satisfeita com nada que escrevo, mas NTMB merece um final digno. To fazendo meu melhor, acho... Im sorry se desapontei alguém.