TV IN BLACK & WHITE 10: 705

  Então, ali eu estava. Angustiado, sofrendo com os nós que se prendiam em meu coração. Esperava vê-la a qualquer segundo, a qualquer lugar, em qualquer situação. Apenas vê-la, para poder toca-la e assim ter certeza de que tudo não passou de mera ilusão. Ter certeza que a possibilidade de um novo começo realmente existiu. Calar as dúvidas que insistiam em se perguntar se eu realmente conseguira cair nas graças da paixão novamente. Confirmar as suspeitas de que quis depositar todo meu futuro nela. Minha querida Elle, como sentia sua falta.
   E como me decepcionei quando ela não voltou. Naquela segunda de manhã quando fomos avisados que houve uma mudança de planos, quando soubemos que Elle havia passado o projeto para as mãos de outra pessoa.  O motivo não foi claramente explicado, mas eu sabia o porquê. Não seria capaz de falar comigo, sequer olhar para a pessoa que a deixou a beira da confusão.
  - Não estou aqui com a intenção de substituir Elle – disse a nova diretora, Alison, no dia em que nos foi apresentada – Afinal, foi ela que arquitetou tudo. Eu apenas irei executar.
  Nem se tentasse com todas suas forças conseguiria substituir Elle. Alison não era má profissional, tentava ser engraçada de vez em quando, mas falhava pois ninguém ali acreditava em sua risada superficial. Seus cabelos louros e seus olhos azuis lhe dariam uma aparência quase angelical se ela não fosse tão cheia de si.
  Tivemos que regravar o que já havia sido gravado e os cinco dias se passaram em um piscar de olhos. Foi como se houvesse constantes blackouts em meu cérebro, não tinha a noção de tempo. Ás vezes poderia jurar que uma hora se passara em dez minutos, ou o contrário.
  Entretanto, havia ainda uma última coisa a ser feita. A apresentação que acompanharia o documentário seria gravada naquele fim de tarde, palco aberto, em frente ao prédio da MTV.
O relógio marcava 17h15. Em poucos instantes teria que estar em uma das avenidas mais movimentadas de Nova York.
  Vesti minha jaqueta e antes de sair, verifiquei se o bilhete que Elle havia escrito estava em meu bolso.  O papel já se desgastara de tantas as vezes que eu o li e reli. Algo nele ainda me incomodava, o fato de algo parecer desconexo com as demais coisas. Resolvi sentar-me novamente e o ler mais uma vez. Não que isso fosse meramente necessário, pois as palavras já estavam gravadas em meu cérebro.

Alex,

  Eu estou o deixando por um tempo que não sei dizer se será um dia, uma semana ou para sempre. Ainda não decidi qual é a melhor opção.
  Você parece não ter noção das consequências que nossa relação poderia trazer para as pessoas que amamos e assim, as consequências que poderia trazer para nós.
  Preciso de tempo e espaço para pensar e isso eu só conseguiria fazer em um lugar só meu. Um lugar em que eu não me sinta responsável pela amargura de outras pessoas.
  Desculpe-me se eu o magoei, nunca foi minha intenção machuca-lo de algum modo.
 Você não precisa se


 Eu me perguntei por anos quem você realmente era e nos últimos dias tive a oportunidade de enxergar claramente o fundo de suas águas turvas. Foi a coisa mais bela que já vi.

Com carinho e esperando que fique bem, Elle.
    
  Dobrei o bilhete em quatro partes e o coloquei em meu bolso. Depois de um longo suspiro, levantei-me e deixei o apartamento.
  Antes de ir até o local do show, teria que passar em outro lugar. Eu tinha a necessidade de fazer aquilo e isso já me rondava a cabeça há um bom tempo. Elle se afastara, pois se sentia culpada, mas nunca acreditei que ela fora a causadora de discórdia alguma. Tão pouco minha consciência estava pesada, nunca senti culpa por ter desejado ficar com ela. Elle ser a melhor amiga de Alexa não passava apenas de um fato controverso do destino. E não conseguia enxergar porque isso atormentava tanto as pessoas envolvidas naquela história.
  Por isso e alguns outros motivos, me dirigi até o prédio de minha ex-namorada. A mulher que não só me proporcionou momentos felizes, mas também foi a responsável por uma dor que achei que jamais iria ser curada. Ela não morava mais no Brooklyn, onde costumávamos viver. Imaginei que também deveria ter boas e más lembranças quando o assunto era nós.
  Tive receio de que ela não me autorizasse a subir, então caminhei até o porteiro como se não quisesse nada. O senhor de óculos com lentes grossas que estava atrás do balcão, olhou para mim e perguntou simpático:
  - No que posso lhe ajudar?
  - Eu queria saber se Alexa Chung se encontra. Gostaria de falar com ela – respondi calmamente.
  - Qual o seu nome?
  - Alexander... Turner.
  - Só um momento – ele virou as costas, foi até o telefone pregado na parede oposta e discou três números. Pude ouvir coisas como “Ele deseja falar com a senhorita” e “Sim senhorita, eu o aviso”.
  Então, novamente onde estava o senhor sentou-se em sua velha cadeira e me informou:
  - A senhorita Chung falou que desde que o senhor seja breve, poderá subir. Ela irá para o aeroporto em alguns minutos e não pode se atrasar.
  - Tudo bem, não vou demorar muito.
  - Sendo assim, 7º andar, apartamento 705.
  Eu concordei com a cabeça e me dirigi ao elevador. 7º andar. Pouco tempo se passou até que as portas se abrissem. Vi-me no corredor enfeitado com suas portas brancas e números dourados pregado nelas. Comecei a andar e permanecia mirando seu fim. 505, 705. Qual a diferença? Tudo acabou em lágrimas.
  I’m going back to 705.
  Não. Não estou indo de volta. Nunca estive lá.
  Então me dei conta da realidade que me cercava novamente. A porta branca com os números dourados 705 estava me encarando e eu a encarava de volta. O que estava eu fazendo ali?
  “Buscando uma razão para trazê-la de volta” respondeu meu inconsciente. Trazer a Elle, falei para mim mesmo só para ter certeza.
  Suspirei uma, duas, três vezes. Obriguei meu braço a seguir o comando de meu cérebro. Toquei a campainha.
  No mesmo instante, a porta se abre e lá estava ela. Bem vestida, cabelo arrumado, os olhos claros com as marcas pretas de delineador nas pálpebras. Ali estava Alexa e sua beleza estonteante. E mesmo assim, a única coisa em que conseguia pensar era na melhor amiga dela.
  - Entre – deu um passo para trás para que eu passasse.
  Assim que o fiz, senti seu perfume. O mesmo, nada mudara. Mas agora, aquela essência que antes era a melhor coisa do mundo para mim, mal se comparava ao perfume que Elle exalava por sua pele.  
  - Não vou demorar – avisei.
  - Tudo bem, eu sempre chego atrasada de um jeito ou de outro. Além do mais, meu compromisso é só depois de amanhã.
  Reparei nas malas que estavam na sala. Eu bem sabia para onde ia com aquilo tudo.
  - Temporada de desfiles na Europa – completou como se lesse meus pensamentos – Mas creio que não é sobre isso que você veio falar.
  - Na verdade não.
  Antes mesmo que eu falasse alguma coisa, reparei em uma revista sobre a mesa de centro. Uma foto de Elle, seguida por duas menores estavam na capa. A manchete chamativa dizia “Onde está Elle Deville?”.
  - Você não é o único que quer falar sobre ela – falou ao perceber para onde eu olhava.
  - Você não devia ler isso.
  - Qual é Alex, você acha que eu fui à banca e comprei a revista? – respondeu irônica - Eles mandaram para mim junto com um telefone de contato. Esses malditos parasitas querem vender notícia em cima de nossos nomes e aceitam qualquer coisa.
  - I don’t give a fuck about it – disse um tanto irritado.
  - And you think I give a fuck about it? Eu não estou nem aí para o que eles dizem sobre mim – fez uma pausa para limpar a garganta - mas você devia ver as coisas horríveis que eles escreveram sobre ela.
  Aquelas palavras tiveram o mesmo efeito que um soco em meu estômago. Deixaram-me nauseado. Não podia pensar na ideia de ver a integridade de Elle sendo devorada por pessoas que nada tem para se fazer da vida.
  - Não é culpa sua, Alex... Olha, eu sei por que você está aqui. Você veio me pedir para dizer para Elle que ela não fez nada. Eu não sou idiota. Não tenho problemas com isso. Ela merece ser feliz e foi por isso que liguei para ela dois dias atrás.
  Fiquei sem reação. Eu podia sentir o suor frio e meu coração batendo rápido.
  - Alexa, eu...
  - Não fiz isso por você – deixou claro – Não é que eu o odeie, mas eu senti algo que não sei exatamente o que é. Mas é egoísta e ilógico de minha parte eu dizer que vocês não podem ficar juntos. Ela já fez tantas coisas por mim, sempre esteve ao meu lado. Sempre. Quando todos estavam desacreditados, quando todos tinham algo melhor para fazer, quando todos estavam olhando para o seu próprio umbigo, ela estava ao meu lado. Não me abandonou nem por um segundo. E você... – respirou fundo – eu terminei com você. E naquele dia disse que queria te ver feliz não importasse a situação, ou com quem estivesse nela.
  - E essa é uma situação em que quero ser feliz com Elle.  
  Ela concordou com um aceno.
   - Eu vou me acostumar com o tempo. Quando toda a poeira abaixar, vamos ver que tudo pode ser tão fácil – falou por fim.
  Dessa vez fui eu quem concordou.
  - Então... Tenha uma boa viagem, Alexa – me dirigi até a porta depois de um tempo em silêncio.
  - Obrigada, Alex. Nós vemos em breve.
  Antes de partir, não pude deixar de fazer uma última pergunta:
  - Quando ela vai voltar?
  - Voltar?
  - Do Canadá, da casa dos pais dela.
  Sorriu com os lábios selados.
  - Na hora certa. Até mais, Alex.
  Assim, a porta branca com números dourados estava me encarando como antes.
  Olhei para o relógio. Era hora de ir.

...

  Mal pude acreditar na multidão de pessoas que se encontrava naquela Avenida de Nova York. Fui o último a chegar. Matt, Jamie e Nick já estavam se preparando no backstage e soltaram um suspiro de alívio quando me viram. Alison parecia furiosa e seus olhos azuis pareciam maiores do que nunca.
  Antes que ela pudesse chegar a mim, Amanda, a assistente de produção que virou oficialmente produtora do documentário (pois Elle exigiu isso após sua saída), veio correndo em minha direção para ligar o receptor do microfone, se colocando entre a fera:
  - Todos já estavam à beira de um ataque de nervos – ela ia sussurrando – Já pensou? Fechar uma avenida movimentadíssima para um show sem vocalista? Mas tudo bem, agora você está aqui.
  Ela me deu um tapinha nas costas e foi para o outro lado. Fui ao encontro de meus amigos que me cumprimentaram e Matt me passou uma garrafa de cerveja.
  - Está tudo bem? – perguntou Jamie.
  Eu confirmei com um aceno enquanto dava um gole no líquido gelado.
  - Eu vou entrar no palco agora – Alison avisou – Vocês entram logo em seguida, entendido?
  - Si-sim, senhora – Nick gaguejou. Desde o primeiro dia ela havia botado certo medo nele.
  Quando Alison subiu ao palco, podemos ouvir a agitação da plateia. Era sinal de que entraríamos á pouco.
  - Bem vindos ao MTV Live! – sua voz ecoou pelas caixas de som – E esse não é qualquer MTV Live, é o MTV Live Special: Five Days With Arctic Monkeys – houve gritos de todos que estavam ali – Eles são os garotos de Sheffield que viraram astros do rock internacionais e que pela primeira vez gravaram um documentário em solo Americano em parceria com a MTV. Por favor senhoras e senhores, aplausos para o Arctic Monkeys!
  E essa foi nossa deixa. Matt foi o primeiro a se direcionar ao palco, pude ouvir as pessoas indo à loucura. Tudo aquilo era uma grande loucura. Seguido por Jamie e depois Nick. Por último, eu me direcionei para aquilo tudo. A claridade ofuscou minha visão por um momento, mas logo depois voltou ao normal. De frente ao microfone, olhei para frente e fitei aquele mar de euforia. Logo atrás, em um prédio alto nas telas de led havia os slides na seguinte ordem: “MTV Live Special: Five Days With Arctic Monkeys” e uma foto nossa.
 “Five Days With Arctic Monkeys – MTV’s exclusive documentary” e outra foto nossa.
  “Hosted by Alison Belissario” e uma foto da Alison.
  “Produced by Amanda Whitemore” e uma foto da Amanda.
  “Directed by Elle Deville” e uma foto da Elle.
  Em seguida quase caí em um estado de transe, mas ouvi a voz de Amanda no meu ouvido. Mesmo com o volume do aparelho alto, me esforcei para ouvi-la: “Foco, depois você pensa nisso”.
  Foi o que eu fiz. Acenei para as pessoas, agradeci por sua vinda. Virei para trás e vi que todos estavam prontos para tocar. Afinal, era para isso que estávamos ali.
  - Antes de começarmos, eu queria dizer que é a primeira vez que tocamos essa música ao vivo – todos vibraram – É engraçado, porque é como se o momento em que vivo agora tivesse uma trilha sonora, seria essa. Mas tudo bem, porque eu gosto dessa música. Ela fala de um amor meio extremo, com seus altos e baixos, mas não deixa de falar de amor.  
  Sorri comigo mesmo ao ver a imagem dela reaparecer na tela a minha frente.
  - This one is called Piledriver Waltz and it’s for Elle.
  Matt fez a contagem de três e tudo começou:

I etched the face of a stopwatch
On the back of a raindrop
And did a swap for the sand in an hourglass
I heard an unhappy ending it sort of sounds
like you leaving
I heard the piledriver waltz
It woke me up this morning

You look like you've been for breakfast
At the heartbreak hotel
And sat in the back booth by the pamphlets
And the literature on how to lose
Your waitress was miserable and so was your food
If you're gonna try and walk on water
Make sure you wear your comfortable shoes


Mysteries flashing amber go green
When you answer but the red on
The rest of the questionnaire never changes
I heard the news that you're planning
To shoot me out of a cannon
I heard the piledriver waltz
It woke me up this morning


You look like you've been for breakfast
At the heartbreak hotel
And sat in the back booth by the pamphlets
And the literature on how to lose
Your waitress was miserable and so was your food
If you're gonna try and walk on water
Make sure you wear your comfortable shoes


Oh, piledriver

  Houve gritos, risos, palmas. Senti algo incrível. Olhei para Matt, Jamie e Nick e todos estavam sorrindo tanto quanto eu. Olhei para o mar de pessoas e foi como se eu visse ela, escondida no meio de todos. Talvez ela estivesse de fato ali. Talvez tenha sido apenas coisa de minha cabeça.


...

N/A: Oi gente!!!!! Demorou, mas chegou. Quem é vivo sempre aparece e antes tarde do que nunca! Começo das aulas, meus professores acharam que seria legal encher os alunos de trabalhos, o tempo que eu tinha eu ia ler ou descansar, porque sinceramente eu estava com criatividade 0. Então comecei a estudar um pouco mais sobre os romantistas dos séculos passados e me encheu de vida e assim, toda vez que eu tinha um tempinho ia escrever. Não sei se isso transpareceu de algum modo (??), mas enfim. Está ai, espero que tenham gostado. A fic está acabando, só para lembrar. Ok, já falei demais. Beijos, Bel. 

10 comentários:

  1. Awwwwnnn! Minha fic preferidaaa! *-* Tava com saudades jááá! Maas.. aqui está ela, tão boa quanto sempre! Piledriver Waltz dedicada a Elle! Morri! Música mais linda ever! *-*
    O lado ruim é que tá acabandooo.. D:

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  2. muito muito muito boa!!!!!!!!!

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  3. Tô no chão pelo falto da fic estar acabando e pelo fato de que esse capítulo foi lindo e emocionante. Apenas esperando o retorno da Elle, porque depois de ter "Piledriver Waltz" dedicada todinha pra ela, ela não tem desculpa para não voltar correndo pros braços do Al <3
    Amei o capítulo.
    Beijos.

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  4. Ai que saudade que eu tava dessa fic... amei o capítulo! Sensacional, como sempre.
    Pena que tá acabendo.. Mas eu quero que eles fiquem juntos logo!
    Beijos

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  5. Que lindo ele dedicar Piledriver Waltz pra Elle!!
    Não quero que a fic acabe!!! Mas mal posso esperar pelo próximo capítulo.

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  6. Que final lindo !!! Como senti falta dessa fic.... Minha preferida <3
    Não demora pra postar naoooo!!!
    Bjs

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  7. alo? por favor continuem com essa fic, pelo amor !!!!!!!!1 li tudo de uma vez ontem, pq realmente estava interessante, me apaixonei lendo cada capítulo. Essa história merece continuar. Eu realmente estou entusiasmada pelo que ira acontecer. Isso é um apelo :( bjoks

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  8. cade o resto??? continua please!!!

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  9. Bel, pufavô, continua! É maravilhosa demais essa fic <3 Preciso de um final pra encher esse coração romântico de mais romantismo hahaha Estou no aguardo. Beijo!

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  10. cade o final?? continua pelo amor de Deus!

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