Misfit Love - Capítulo 05


[N/A: Meninas, acredito que esse seja o capítulo mais esperado da fanfic. Mas ao mesmo tempo que venho trazer essa felicidade para vocês, também vou ser obrigada a dar uma infeliz notícia ): Muito provavelmente depois desse capítulo só teremos mais outro e o epílogo, terminando, assim, Misfit Love. Realmente queria dizer a vocês que já tenho uma nova fanfic para postagem, mas estou completamente bloqueada de ideias. Se quiserem sugerir alguma, agradeceria, ou se não esperarei uma luz divina para isso kkkk Aproveitem a atualização! Até a próxima - Bia xx]

* * *

Até certo ponto tive esperanças que nossa conversa acontecesse mais depressa do que realmente aconteceu. A partir do momento que dei abertura para que Alex falasse, me deixei acreditar que ele não perderia essa oportunidade, usando-a para esclarecer de vez todos os assuntos até então nebulosos. Depois de uma semana inteira sem trocarmos palavras sobre o ocorrido, entrei na mais complexa confusão, duvidosa do que aconteceria. Comecei a me perguntar se Alex estava preocupado com a melhora das coisas ou que só agiria como alguém que se importa quando o seu trono fosse ameaçado. Caso precisasse me envolver com diversos homens para receber a atenção desejada, nunca sairíamos do lugar, porque graças a briga que gerou, não tive mais coragem de pisar sozinha naquele bar ou de trocar olhares com qualquer cara que use botas de cowboy e fivelas de ouro. Estava parcialmente encurralada. De um lado esperava impaciente que viesse falar comigo e de outro buscava algo que diminuísse minha inquietude, qualquer distração básica que empurrasse para longe a aflição.
Decidi não me disponibilizar por completo a banda. Se antes virava a noite acompanhando as gravações das músicas, agora ficava na mesa de jantar criando desenhos para a loja de tatuagens do centro. Não me interessava o dinheiro baixo ou a pouca procura do serviço, só me sentia entusiasmada por ser útil sempre que levava meus desenhos old school para o velho Billy, um motoqueiro de 60 anos que adorava jogos de carta. E muitas vezes fiquei em sua loja, jogando e bebendo, fumando uns cigarros, sem dar avisos aos que ficavam no Rancho onde perdia minhas noites. Billy era como um personagem rude de Tarantino, mas com o dom da fala do Robert De Niro nos filmes do Scorsese. Numa das conversas filosóficas que tivemos, deixei-o a par do meu relacionamento com Alex. Primeiramente tive de ouvir em sua voz arrastada e sotaque do Kansas que “aquele rockstarzinho que anda naquela camionete tem o topete alto demais para saber o que é amar uma mulher”, embora sua garagem seja abarrota de diversos discos de Johnny Cash e Elvis Presley. Obviamente ele só falara mal de Alex para arrancar a minha risada abafada. Em seguida, num tom mais sério, misturado a sua língua embolada, Billy falou como um verdadeiro apaixonado:
- Se o homem não procura a mulher com que se envolve, não quer dizer que não a ame. Ele muitas vezes pode sair por aí com outras garotas e prostitutas, mas sempre volta pra casa, de cabeça baixa, cigarros gastos, fedendo a bebida, porém com a mesma vontade de amá-la desde a última vez que foi pra rua. Dá para saber que esse menino te ama só pela maneira que se arrasta pra você quando tenta cair fora. Nenhum homem briga por uma mulher em vão, ela tem que valer a pena, criança, e, para esse Alex, você vale.
Dei um sorriso descrente, observando as cinzas do cigarro no chão:
- Não vou aceitar uma briga como prova de amor, Billy.
- Então o empurre contra a parede e arranque algo, Alice! Diferente de vocês, nós somos muito enrolados pra desabafos, isso mostra nossa fraqueza e nenhum homem gosta de mostrar fraqueza.
- Alex nunca teve esse problema comigo, ambos gostamos de honestidade.
- Talvez o coitado só esteja com medo que essa conversa seja o ponto final.
Num suspiro longo, me deixei levar pelo que Billy disse. Parte de mim tentava insistir para que aquilo não fizesse sentido, mas, diante da falta de opções, agradeci em sussurros o conselho tranquilizador que meu novo amigo dera.
Ainda era estranha a possibilidade de Alex como uma vítima, alguém que esteja tendo dificuldades para falar ou evitando um assunto que há muito deveria ter sido discutido. Um dos nossos maiores problemas nesse período foi a falta de diálogo. Ninguém nunca teve a mínima coragem sequer de por em pauta os meses que se passaram. Era sempre a mesma sensação de que o ocorrido na verdade não ocorreu e que, caso alguém falasse, era fruto de uma imaginação fértil e frustrada.
Com meu caderno de desenhos apoiado sobre a perna cruzada, pintava com lápis azul uma âncora que terminara de contornar. Nesses momentos em que a banda estava no estúdio e o resto da casa normalmente ficava vazia e silenciosa, me perdia completamente em pensamentos aleatórios e questionamentos que intrigavam com frequência. Alguém entrou na cozinha, pegando uma garrafa de água e se apoiando no balcão, enquanto me observava atentamente. Embora me concentrasse no colorido do desenho e em seguida do sombreado, evitando olhar para a pessoa que agora me acompanhava, sabia muito bem, através do perfume e dos barulhos do passo, quem estava comigo. Silente, esperei para ver se Alex puxaria um assunto ou simplesmente cairia fora antes de tornar o momento constrangedor.  Obviamente ele preferiu beber sua água e sair da cozinha antes dos primeiros minutos tensos. O que mais incomodava era a maneira como me olhava, tentando dizer algo, mas passando por cima dessa vontade antes de por a língua em confissões. Batendo o caderno sobre a mesa, cruzando os braços e, por consequência, chamando definitivamente a sua atenção, disse, com a voz objetiva e audível:
- Até quando vai fugir, Alex?
Na ponta dos dedos estava a tampa da garrafa e, brincando com ela, ficou parado no corredor. Não sei ao certo por quanto tempo permaneceu ali, estático, de costas para mim, pensando no que deveria fazer. Ansiosamente esperei algum tipo de resposta, retorno, interesse e importância, mas Alex não estava pronto e continuou a caminhar, de volta a cabine de gravações.
Decepcionada com a maneira que agia, fingindo que a última conversa nunca existiu, assim como todo o problema que nos causou, peguei o cardigã e a bolsa, decidindo espairecer no centro. Se nas noites passadas evitei me envolver com um desconhecido, esse dia foi diferente. Escolhi alguém o mais distante possível da aparência de Alex e me entreguei até onde pude no banco de trás de um carro, no estacionamento escuro do bar. Possivelmente um dos meus maiores arrependimentos por toda a vida é de, no meio da minha irresponsabilidade com Tyler, ter ligado para Alex e, depois de ouvir sua voz ao me atender, ter jogado o celular sobre o banco, deixando-o a par do que eu fazia com o desconhecido do dia.
Ao voltar com dificuldade para casa, pelo tanto de bebida que tomei, tarde da madrugada e nem mesmo imaginando que horas eram, sentia-me um lixo. Chorei por todo o caminho, principalmente por ter feito algo que quase me nivelava ao erro de Alex. Descontei todos os meus problemas nessa atitude repentina. Agora mais do que nunca temia o que pudesse acontecer. E, pensando nisso, me surpreendi ao ver a porta do meu quarto aberta e alguém sentado sobre a cama, esperando-me:
 - Alex?
Erguendo a cabeça, ele ficou de pé e andou em minha direção, segurando meu antebraço com delicadeza, guiando-me até a parede. Fiquei encurralada, enquanto seus dedos subiam lentamente, a mão espalmando na parede, nas laterais da minha cabeça. Em nenhum momento pensei que seria melhor fugir daquela armadilha. Estava hipnotizada por seu olhar torturado, muito diferente dos lançados ultimamente, uma espécie de julgamento transformado em aceitação. E quando o seu rosto se aproximou do meu, pude sentir o coração latejando, as batidas apressadas ressoando nos ouvidos. Ao me beijar, meus braços frouxos não o enlaçaram, nem minhas pernas esfregaram-se nas suas. Alex precisou me tomar para que pudesse ter a certeza de que estava ali, porque distraída com seus lábios nos meus, não tive coragem para aproximá-lo por completo. Abraçando minha cintura com força, o beijo não passava de movimentos leves, ritmados e sem pressa. Matávamos a saudade dos últimos dias, mas uma hora chegaria ao fim. E ao afastar sua boca da minha, o semblante de confusão estampado em sua face me assustou, porque não sabia ao certo o que dizer.
- Não tenho o direito de sentir o que estou sentindo. – sussurrou, olhando sobre os meus ombros, buscando palavras precisas – Mas agora entendo o que passou quando me viu com ela.
- É horrível, não? Saber que a pessoa que você ama está entregue a outro? – balançando a cabeça em sinal positivo, Alex se afastou de mim.
- Eu realmente preciso pedir desculpas pelo que fiz, Ali. Nem mesmo sei por onde começar. – disse, sentando-se na cama, cabisbaixo.
Cruzando os braços, ainda no mesmo lugar de antes, vislumbrei o rumo da conversa. Frases profundas, desabafos, um tentando consolar o outro, mais um momento entre velhos amigos do que namorados. Se estávamos dispostos a ser sinceros, embalaríamos numa camada molhada de palavras de efeito e arrependimento. Por muito tempo fugimos do assunto e embora estivesse cética numa resolução feliz, não podia deixar passar a oportunidade de esclarecer tudo. Certamente Alex estava perdido em como começar, porque precisava escolher o modo correto de me deixar a par dos seus motivos.
- A verdade é que nunca me recuperei do que fizemos a Alexa. Nos primeiros dias que começamos a namorar, percebi que tudo não passara de uma decisão precipitada e não muito difícil me arrependi por estar com você. O pior é que não sabia como voltar atrás. Alexa, que ficara bastante magoada, não queria falar comigo e em nenhum momento quis te deixar ciente do que acontecia, porque estava verdadeiramente feliz. Então percebi que era injusto oferecer a esperança de que ficaríamos juntos e depois retirar isso de você. De repente o que era obrigação se tornou prazer e me vi completamente acolhido pelo nosso relacionamento, o arrependimento que um dia sentira agora era uma memória distante. O modo como sorria, me abraçava e se disponibilizava para que passássemos mais tempo um em companhia do outro, fez com que eu jurasse para mim mesmo que nunca seria um mentiroso em nosso relacionamento. Não queria cometer o erro que cometi com a Alexa, a maneira como terminamos, as meias palavras de que não dávamos mais certo, enquanto me recusava a responder sua pergunta de “ Alex, você está apaixonado por outra?”. O meu ponto final foi a composição de Dance Little Liar, sabe disso, que aquela letra é meu maior desabafo. Desde então estive anestesiado e não pensei em nada mais além de nós dois.
- E por que voltou a esse assunto? – perguntei um pouco sentida pela pequena revelação que fizera. O “não ser tão apaixonado por você” como eu pensava que era no começo do nosso namoro.
- Nesse último CD percebi o quanto estive sendo injusto com o passado. Queria me redimir com Alexa e parar de fingir que nunca errei. Assumo que só pensei nisso logo após receber uma ligação dela pedindo para me encontrar. Soube por um amigo em comum que passaria um tempo no Rancho para começar a gravação do novo álbum. Até mesmo cogitei falar para você sobre a ligação, mas acredito que esse era um tabu que ambos evitavam falar. E, Alice, em nenhum momento deixou transparecer qual a sua real posição sobre a Alexa, embora, conhecendo como te conheço, sei muito bem que não se sente a vontade pelo que fez, assim como eu. Diante disso aceitei o convite dela, sugerindo o bar do centro. Ao nos encontrarmos, ela estava do mesmo jeito de anos atrás, quando namoramos. E conversamos como conversávamos antes de você existir. Ignorei por toda a noite a sensação de que aquilo não deveria estar acontecendo e preferi acreditar que minha atitude era certa. Provavelmente a minha primeira pisada de bola foi ter aceitado ir para um lugar menos barulhento, para entramos em assuntos mais sérios. Alexa disse que se hospedaria no Motel da entrada e deu a opção de nos reunirmos lá, beber mais um pouco e falar sobre o combinado. Eu aceitei e não deveria ter feito isso. Mas, depois de hoje, deve saber como é ser influenciado pela falta de olhos. Você pensa que ninguém está vendo e de repente se sente arrependido pela merda que acabara de fazer. Foi mais ou menos isso. Me deixei levar pelo fato de que você nunca saberia desse encontro, se manteria inocente a tudo, como queria que se mantivesse. Alice, toda a minha intenção era isentá-la da culpa de anos atrás, da culpa que jamais disse a mim que tinha, mas que sempre desconfiei que carregasse. Bebi mais do que gostaria, verdade. Acho que ficar bêbado diminuía os calafrios causados por imaginar os seus olhos tristes caso descobrisse onde estava e acompanhado por quem. Alexa parecia feliz, Ali, ela realmente estava feliz por estarmos nos dando bem. Era tudo muito fora desse campo. Um tipo de bolha espiritual que cercou todo aquele quarto, como se o separasse do resto do mundo e afastasse todo o passado e presente. Fui envolvido pela atmosfera íntima e a risada convidativa de Alexa. Não sei quem tomou a iniciativa, sinto em dizer isso, mas não duvido nada que tenha sido eu. Estava deveras bêbado para lembrar em detalhes o que falamos ou fizemos, embora adorasse confirmar para você que tudo não tenha passado de carícias pequenas, mas infelizmente foi além. No outro dia me acordei com uma dor de cabeça terrível, porém, se comparada ao peso que sentia em meu peito, a dor não era nada. Voltei ao Rancho antes que ela se acordasse e mantive em segredo o acontecido. Nas horas seguintes fui tomado por faltas de ar, suor frio e mãos trêmulas. Também bebi, mesmo com a cabeça a mil. Mal trabalhei e só consegui carregar o celular de um lado para o outro, esperando o primeiro ponto de coragem para ligar para você e confessar, mas ele nunca chegou.  No fim da tarde a ligação que recebi foi de Alexa, avisando que pegaria a estrada de noite e iria até a cidade próxima para comprar a passagem de trem. Lembro que ouvi a tudo em silêncio, desinteressado. Os caras da banda, por não conseguirem tirar grandes progressos de mim no dia, decidiram ir ao bar jogar conversa fora. Acompanhei por educação, mesmo preferindo ficar no Rancho, remoendo a merda que fizera. Ao chegar ao centro, automaticamente me encaminhei para o Motel, disposto a esclarecer com Alexa que aquilo deveria ficar em segredo e que de preferência nunca se repetisse. Era uma despedida definitiva. Ela recebeu a notícia melhor do que esperava e, assim, levei-a ao carro. Hoje quando penso nesse momento em particular me arrependo completamente de tê-la beijado em um lugar tão exposto. Não sei por que fiz aquilo se há minutos atrás afirmara que a noite passada devia ser esquecida. Então você nos viu e tudo foi por água abaixo. E não te liguei não por ser orgulhoso, Alice, e sim porque sentia vergonha. Não sabia o que te dizer, porque nada apagaria aquela imagem da sua cabeça. A culpa que antes me atormentava por ter destruído o relacionamento com Alexa foi completamente convertida para nós. Eu me desculpei com ela, mas pequei com a gente. É tudo muito confuso, Ali, porque cometo meus erros com a intenção de fazer o melhor e no final só machuco as pessoas que amo.
Ao ver Alex terminando de falar, as lágrimas rolando pela face e os dedos trêmulos entrelaçados, o máximo que pude sentir foi pena. Se essa conversa tivesse acontecido logo após tê-lo visto com a Alexa, provavelmente o choro que saía dele seria repetido em mim. Mas, no fundo, embalada numa camada de aceitação, só pude continuar a falar com sobriedade:
- A questão, Alex, é que em nenhum momento pedi para que carregasse sozinho o peso da culpa. Exatamente como pensa, não ignorei completamente o sentimento dela. E igual a você, me torturei por muito tempo por termos feito aquilo. Quando te vi pondo-a no carro logo após beijá-la como beijou, fiquei magoada, sim, chorei por dias, mas em todo momento me perguntava se eu não merecia essa traição, porque foi exatamente o que fizemos a ela. O mais doloroso de tudo é que nada disso justifica suas atitudes. E agora fico pensando de quem realmente gosta. Várias frações dos meus dias serviram para pensar nas composições feitas por você, elas são sua parte mais sincera, e a ânsia de saber para quem eram feitas me pôs a mercê do caos. Há algum tempo você cantou Fireside e não pude parar de remoer se o sinônimo de perda estampado nos refrãos era sobre nós ou apenas sobre você e ela.
- Não vou ser hipócrita dizendo que nesses anos nenhuma das letras foram feitas para Alexa, mas em nenhum momento duvide que as melhores fossem e são para você. E Fireside, bem, foi mais uma mistura de momentos do que a descrição fiel de um caso. – ele fez uma pausa, suspirando lentamente, fechando os olhos e os abrindo com pressa, numa tentativa de se situar melhor. Olhando para os próprios pés, voltou a falar – Não sabe como me dói perceber que tem dúvidas do que realmente sinto. – dando um sorriso frouxo, despedaçado, me encarou com os olhos lacrimejantes – É como se estivesse ignorando todo o esforço que tive para mostrar de quem realmente gosto.
Mordi o meu lábio com mais força do que queria e a dor aguda fez meu corpo se arrepiar.
- É complicado ouvir a pessoa que te traiu falando sobre amor. – sorri, sabendo que aquela expressão não cabia a conversa. Era estranho perceber que estava mais calma do que previ. Talvez só agora os vários copos de vodka tenham causado um bom efeito. Talvez só agora os diversos questionamentos tenham sido respondidos satisfatoriamente - Para ser sincera, sei que você gosta de mim, embora às vezes seja tomada pela dúvida de que ainda exista algum vestígio de Alexa em seu coração. Mas na maior parte do tempo, depois de muito detalhar o que houve, concluí que você me ama sim, mas não absolutamente. – dei de ombros, desistente - Não sei se metade do seu sentimento é o suficiente para mim.
Após ouvir minha opinião, Alex ficou de pé e voltou a me sitiar. Ainda mordendo meus lábios, controlava a vontade de chorar que me perturbou por toda a conversa. Dando-me um abraço apertado, carinhoso e acolhedor, agimos placidamente.
- Depois do dia que roubou meu coração, tudo o que eu toco me diz que ficaria melhor se compartilhado com você. – sussurrou, adaptando um pequeno trecho composto há tempos atrás – E sua porção dentro de mim encobre qualquer outro pequeno fragmento desgastado.
 Em seguida beijou minha face cálida, como normalmente fazia nas despedidas antes de ir ao trabalho. Ao vê-lo sair do quarto, parecendo leve, fechei a porta e girei a chave, sentindo que o peso dentro de mim havia diminuído consideravelmente. No quarto ao lado, imaginava que ele sentisse o mesmo. O problema da nossa conversa terminada em reticências é que não sabíamos o próximo capítulo. Ainda separados, os desabafos da noite e os pontos colocados nos “is” abriram novos caminhos em antigas decisões. A mágoa que arranhava meu coração estava parcialmente consolada.
Deitada em minha cama, passei todos os últimos anos em câmera lenta, analisando cada pequeno trecho dos momentos difíceis e felizes. No geral, tive mais sorrisos que choros e grande parte de ambos foram proporcionados por Alex. E me obrigando a recordar da noite que me chutara para o poço escuro, lembrei que antes de qualquer traição, eu almejava por encontrá-lo.
Há meses o Arctic Monkeys trabalhava no Rancho e desde então tivemos poucas oportunidades de ficar juntos. Terminado o projeto que preparava para uma empresa de enlatados de Nova Iorque, que desejavam novas embalagens em estilo pop art, decidi que passaria na Califórnia antes de voltar para a Inglaterra. Era uma singela surpresa. Alex nem mesmo sabia quando visitaria os Estados Unidos. Depois de muito esforço, cheguei ao Rancho, levada por um taxista que me cobrou caríssimo pela corrida. O problema é que ele estava vazio, ao menos das pessoas que esperava. Um dos empregados de Dave, responsável por cuidar da propriedade nos horários noturnos, me avisara que todos os convidados e dono estavam no centro, há alguns quilômetros do Rancho. Sabendo que se tratava da namorada do “cara com cabelo cheio de gel” ofereceu uma das camionetes, marcando no GPS o caminho que deveria seguir. Entrando pela bifurcação que há alguns dias atrás eu e Alex trocamos olhares, a que levava até um Motel de estrada, sinalizador do centro de estabelecimentos, diminui a velocidade e segui a pista de areia que se transformara em asfalto. Antes de fazer a curva, percebi um corpo conhecido no estacionamento do Motel. Ele andava com uma garota em direção ao carro, ambos com os dedos mindinhos entrelaçados. Nesse momento precisei parar para ter certeza do que estava vendo e, quando desci da camionete com a intenção de me aproximar mais, fui surpreendida pelo beijo que o casal trocou, antes da menina entrar no carro. Com as mãos na cintura, o homem esperou que ela saísse do estacionamento e, deslizando o olhar por entre as vagas, finalmente me viu estática. Por uns segundos ficamos parados, até decidir que a única coisa que poderia fazer no momento era correr para longe dele. Nem mesmo pensei que havia um automóvel que me ajudasse com a fuga. Com as minhas próprias pernas corri pela estrada de asfalto que se transformou em terra e depois de muito tempo, sem ser alcançada, parei no meio do nada. Puxando o celular do meu bolso, soluçando e tremendo, o único que pude ligar era Matt, o que mais confiava. Inocente aos fatos, pediu para que indicasse com precisão onde eu estava. Nesse momento fiz um esforço surreal para tentar lembrar para que lado corri, já que mal podia ter controle sobre o meu juízo. Sabendo que estava na beira da estrada, falei que provavelmente andei para o lado oposto ao Rancho. Antes de desligar, disse onde deixei o carro e a chave, que ainda estava na ignição. Minutos depois ele me buscou e seguimos para muito longe.
Foi mais do que complicado explicar para Matt o que tinha acontecido. Revezando entre tomar goles de cerveja e fungar no guardanapo, parecia uma adolescentizinha que era traída pela primeira vez. No fundo a situação ia muito além do meu drama barato. Se fosse qualquer outra garota, talvez não ficasse tão magoada, mas Alexa parecia golpe baixo, já que em minha vida ela se tornara o assunto secreto que evitava lembrar. Dormindo na camionete, pois recusei me hospedar em qualquer Motel que remetesse aquele, só viemos acordar no dia seguinte, em meio ao calor infernal e abafado, devido às janelas fechadas. Só então o deixei a pá dos acontecimentos e Matt compreendera o quão complexo era o meu atual estado. Ele sugeriu que eu voltasse para o Rancho e conversasse com Alex, para depois tomar uma decisão. Mas eu não queria. O fato de estar na Califórnia sem avisos se tornara uma péssima ideia e preferi ir embora o mais rápido possível. Deixada num ponto de táxi, fui levada ao aeroporto e de lá voltei para casa.
Desde então não entrávamos em contato. E apenas um dia antes de deixar Joshua Tree, Alex me ligara avisando do retorno. Já havia passado algumas semanas e o meu desespero inicial se tornara frivolidade. Provavelmente a maneira que fugira o deixara chateado, sem margens para explicações. Quando voltou para casa, ambos estavam magoados e, principalmente, sem nenhuma intenção de entendimento. Logo entramos no jogo do desprezo para ver quem se saía melhor. Pelo visto, ganhei a maior parte do tempo, já que a expressão de frustração se repetiu várias vezes em seu rosto. Secretamente desejava que me despejasse primeiro. Mas nenhum dos dois teve coragem para isso. E questionando o porquê da nossa covardia, concluí que, diferente das armadilhas que minha mente pregava, Alex gostava de mim, talvez mais do que da Alexa, ou provavelmente teríamos terminado há muito tempo. Se um dia tive certeza que poderia abandoná-lo quando quisesse, agora essa hipótese estava fora de questão. Mas voltar para a Califórnia, o lugar que derrubara uma pedra em nossa felicidade, abalara meu equilíbrio. Perdi-me completamente nos meus medos e a decisão precipitada de termino logo me atormentou. Entretanto, depois da conversa que acabamos de ter, possivelmente as coisas se aquietariam. Era incerto, claro, mas uma esperança que há muito tempo não surgia amenizou grande parte das minhas dúvidas. Quando fechei os olhos, diretamente peguei no sono, pois o que me preocupava perdera a intensidade de urgência.

8 comentários:

  1. Bela Pinheiro11/07/2014, 17:02

    SOS, juro que não consigo mais decifrar o que to sentindo pelo Al, o cachorro cafajeste mais maravilhoso desse mundo, aiai.
    Ao mesmo tempo que tô triste pelo fim (sim, vou demorar a superar), tô muito ansiosa pra ver o desenrolar desses dois cabeças duras ai :(

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    1. O coitado falou tão arrependido que a pobre da Alice não conseguiu nem sentir raiva! Ele sabe o erro que cometeu e meio que ela tbm sabe que Alex está tentando fazer o certo, então a expectativa é positiva.

      Bela, tbm vou demorar a superar o fim dessa fic, ela é muito especial ❤️ Enfim!
      Até a próxima atualização
      - Bia xx

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  2. Ahhh, não acredito que a fic está perto do fim! =(
    Esses dois, esses dois...acho que nunca vão se entender! Grande parte por culpa do Alex, né? Alexa é um golpe baixíssimo!
    E eu fico me colocando no lugar da Alice pra ver se consigo entender o porquê dela ficar tão estática diante dessa situação com o Alex e ainda não consegui entender.
    Espero que dê tudo certo no final!
    Beijos!

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    1. Alice já remoeu tanto essa traição e ao mesmo tempo se sente tão culpada por ter tirado o Alex da Alexa, que de certa maneira converteu toda a raiva dela em aceitação. Mas pelo final do capítulo deu para perceber que a probabilidade é melhorar e não piorar.
      No próximo capítulo já vai dar para saber o resultado!
      - Bia xx

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  3. Tomara que eles fiquem juntos, dá pra perceber que se amam muito tipo assim eles merecem um final feliz né, só to triste por estar perto do fim :(

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    1. Não fica triste! Você vai poder reler a fanfic pra matar as saudades ;)
      - Bia xx

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  4. Estou triste e confusa e feliz ao mesmo tempo, não sei bem definir. Mas gostei do capítulo, isso é certo.

    Bjos, Babs.

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    1. Você está sentindo o mesmo que a Alice kkkk Obrigada Babs <3
      Beijão!
      - Bia

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