TV IN BLACK & WHITE 05: HOME SWEET HOME

“Mas você não sabe o que é se apaixonar por alguém que você não pode amar. Principalmente quando essa pessoa está muito ocupada sendo feliz nos braços de outra”.

  Se houve algum minuto em que parei de pensar naquelas palavras desde quando entramos naquele bar, ele foi apagado de minha memória. Realmente preferia pensar que não havia algum tipo de ligação entre aquela frase, meu relacionamento com Alexa, Elle e eu, mas tudo parecia querer se conectar.

  Será que no passado não tão distante, Elle Deville foi apaixonada por mim?

  Uma teoria um tanto absurda, mas por que não? Em meio de toda aquela grosseria e olhares furiosos. Pensando agora me pergunto se isso só não era sua maneira de me manter afastado. Pois era a coisa certa a se fazer. Eu e Elle nunca poderia acontecer. Pelo menos não naquela época. 

  Ela estava sentada em uma mesa mais afastada fazendo anotações em uma agenda revestida com couro, um tanto rústica para falar a verdade. Notei isso desde quando ela a tirou de sua bolsa. Os outros pareciam se divertir, ao contrário do que imaginei, eles se deram bem com as câmeras. Entretanto, creio que eles gostaram muito mais de Elle. Ela havia feito parecer com que tudo fosse uma grande brincadeira. Mostrou um lado que eu nunca tive a oportunidade de conhecer. Ela era engraçada e até um pouco lunática.

  Porém, nenhumas das piadas, ou de seus sorrisos foram dirigidos á mim.

  - Será que eu posso me sentar? – perguntei já me sentando a sua frente.

  Ela ao menos tirou os olhos da agenda ao me responder friamente:

  - Não. Mas como você já sentou eu lhe convido a se retirar.  

  - E se eu não aceitar o convite?

  - Isso só mostrará o quão mal educado você é.

  Eu dei um longo suspiro. Fiz menção de me levantar, mas decidi não ceder tão facilmente.

  - Por que você é assim, Elle?

  Ela virou uma página e começou a riscar palavras de algum texto.

  - Você ainda não foi embora? – resmungou.

  Eu então fechei sua agenda e a puxei para mim.

  - Não vou lhe devolver até você olhar para mim e me responder como uma pessoa civilizada faz.

  Ela ergueu a cabeça, apoiou os cotovelos sob a mesa e ficou um tempo me analisando em silêncio. Olhou bem no fundo de meus olhos como se quisesse explodir minha cabeça com a força do pensamento. Não sei se era realmente isso, mas vindo dela, foi o que eu imaginei. Ainda mais pelo fato de eu estar com sua agenda que cheirava a mofo.

  - Pois bem – disse finalmente – Qual foi sua pergunta?

  - Por que você é assim?

  Ela ergueu a sobrancelha e fez cara de quem não entendeu a pergunta.

  - Por que você é assim comigo? – completei.

  - Você não está sendo muito categórico, Turner. Como diabos eu vou saber do que você está falando?

  - Por que... – coloquei minhas mãos sob a mesa deixando a agenda em meu colo – Por que você em um minuto me trata como se eu não fosse alguém que você odeia e no outro você nem olha na minha cara?

  Ela deu de ombros.

  - Talvez eu seja um pouco bipolar.

  - Não é isso. Numa hora você é uma pessoa legal e na outra está cheia de ironias – insisti.

  - Ou eu sofra de um distúrbio de personalidade...

  - Ah, Elle. Não venha com essa – falei um pouco irritado.

  - Não venha com essa? – apoiou a cabeça em uma das mãos – Olhe você! Há uns dias atrás estava se divertindo as minhas custas e fazendo piadas idiotas e agora está preocupado com o porquê eu lhe trato de tal maneira? Por que tamanha mudança, Turner?

  - Não me chame assim. Parece minha mãe quando me dava uma bronca.

  - Não fuja da pergunta, Turner.

  Eu revirei os olhos e então cruzei os braços. É claro que tudo isso tinha haver com a maldita frase que não saía de minha cabeça. Agora, porque eu me importava com isso, eu não saberia dizer. Quem sabe só era a incontrolável e conhecida de todos os humanos, curiosidade.

  - Parecem atitudes de alguém que teve seu amor reprimido – respondi.

  - E por quem seria esse meu amor reprimido?

  - Por... Sei lá... Por mim.

  Elle ficou calada. Apenas ficou me olhando com seus olhos imutáveis. Então, ela cobriu sua face com ambas as mãos. Foi ai que ouvi um gemido, primeiro pensei que estava chorando, mas segundos depois sua risada foi completamente audível para qualquer um que estivesse presente no recinto.

  Eu a observei perplexo enquanto ela ria tanto, que teve que parar inúmeras vezes para recuperar o ar.

  - Eu não entendi a piada – falei depois que ela se recompôs.

  - Você está fora de sua completa sanidade mental? – ela girou o dedo indicador em círculos perto de minha cabeça – De que buraco obscuro do seu cérebro você tirou isso?

  - O que você falou mais cedo... Pareceu que você falou “eu era apaixonada por você, mas você estava sendo feliz com a Alexa”.

  - Eu realmente acho que seu tradutor falhou dessa vez, mas você tem uma fértil imaginação. Deveria escrever um livro, ou sei lá, compor umas músicas. Agora devolva minha agenda.

  Eu peguei o caderno velho e o entreguei. Talvez eu estivesse vendo ligação entre coisas completamente distintas. Afinal, quais as possibilidades de Elle ter sido apaixonada por mim? Extremamente remotas, eu diria.

  - Bem, eu vou aproveitar que não estamos fazendo nada e vou fazer algo que eu já queria ter feito há muito tempo.

  - E o que é?

  - Comprar uma casa – disse se levantando.

  - O que? – me levantei logo em seguida.

  - Comprar uma ca-sa – ela passou pelos outros e parou por um instante – Gente, estou indo comprar uma casa.

  - O que?! – a assistente, cujo nome se me recordava bem era Amanda, teve uma reação tão inesperada quanto a minha.  

  - Eu decidi que eu quero me mudar para uma casa, isso é uma atitude tão estranha assim?

  - Sim – eu e ela respondemos ao mesmo tempo.

  - Eu acho que você deveria comprar – Helders manifestou-se – As melhores decisões que eu tomei foram assim... Do nada.

  - É, vai ser legal – Nick a incentivou e Jamie concordou com um aceno.

  Elle sorriu em aprovação.

  - Brilhante. Eu não devo demorar, meu pai trabalhava no ramo imobiliário e deixou alguns contatos comigo. Nós vemos depois – ela deu as costas e saiu andando.

  - Eu vou com você – a alcancei na porta – Posso lhe dar uma carona.

 

...

  Elle havia ficado no celular o caminho inteiro. Falava com alguém que ela se referia como Sra. Winsolsin.  Ficamos dando voltas e voltas até ela me indicar um endereço.  

  Quando chegamos ao lugar, ela logo saiu do carro e foi correndo em direção a uma casa do outro lado da rua.

  “Ela é completamente maluca” pensei comigo mesmo.

  - Venha! – ela me chamou. Eu a segui.

  Na varanda, uma mulher que aparentava seus cinquenta anos nos esperava. Deveria ser a tal Sra. Wilnscolsin.

  - Anna! – Elle a abraçou deixando claro que já se conheciam de longa data.

  - Veja como você está – a mulher parecia feliz em revê-la – Estou feliz que tenha tomado essa decisão, Elle.

  - Eu também – sorriu quase que emocionada.

  Então, a senhora notou minha presença e me analisou dos pés a cabeça.

  - Quem é o rapaz? Seu namo...

  - Eu sou Alex Turner, sou... Amigo de Elle – falei sem muita certeza.

  - É. Meu amigo. Ele é legal ás vezes, mas não na maior parte do tempo – ela sorriu para mim e daquela vez tive certeza que era para mim.

  - Ah, uma pena. Vocês dois fariam um belo par – a senhora disse e piscou.

  - Você acha Alex?

  - O que? – eu ainda estava processando a insinuação da mulher.

  Elle riu e então me puxou pela mão.

  - Vem, vamos ver a minha casa. Minha doce e adorada casa.

 

  O interior da residência era incrivelmente aconchegante. Havia uma lareira na sala e estava toda mobiliada. Era como se ela nunca tivesse sido esvaziada. Passava a impressão de que ainda era habitada e de que uma mulher com típica feição materna viria da cozinha carregando uma bandeja de biscoitos a qualquer momento.

  - Ainda tem gente morando aqui? – perguntei.

  - Não, pelos menos há uns quatro anos. Desde que meus pais se mudaram para o Canadá.

  Então eu percebi que aquela era a antiga casa da família Deville.

  - Sim, eu morava aqui – disse como se tivesse lido meus pensamentos – Meus pais fizeram questão de encarregar Anna para cuidar de tudo. Você sabe, para quando eu casasse e formasse uma família. Eu não me casei e muito menos tive filhos, mas quero muito viver aqui. Acho que no final nós todos sempre acabamos voltando para nosso ponto de partida, não é mesmo?

  Imaginei se dali a alguns anos eu acabaria voltando para Sheffield, de volta para minhas raízes.

  - Acho que sim – falei simplesmente.

  Estávamos na parte de trás da casa, onde havia uma arejada varanda e um gramado verde vivo.  Um pouco de natureza em meio à selva de pedra que era Nova York.

  - Dá pra imaginar por que você quer viver aqui – falei.

  - Eu acho que preciso de um pouco de ar, de espaço. Vai ser bom para mim.

  Então, a Sra. Winscolsin apareceu atrás de nós segurando um chaveiro que continha três chaves.

  - Quando você se muda, querida? – perguntou.

  - Esse final de semana.

 

***

N/A: Oi meninas! Eu sei que esse capítulo foi curto, mas para ele era o que eu queria. Agora que Elle vai se mudar, que o Alex está conhecendo um pouco mais dela (percebendo que ela é muito mais do que uma carinha bonita e que ele realmente não sabe nada sobre ela), algumas coisas virão. Prometo que o próximo será maior e que não irei demorar tanto para postá-lo. Enfim, eu ia falar algo mais, porém vou ficar calada e deixar que vocês saibam ao longo dos capítulos. É isso. Beijos, Bel.