Voltei para casa apenas quando o sol estava partindo. A
luz laranja que exalava pintou os prédios de modo encantador. Minha cabeça
estava leve, porque me proibi de pensar em qualquer assunto que me deixasse
confusa. Porém, de pouco adiantou já que meu coração parecia estar carregado de
chumbos.
Deitei-me na cama
e repassei o dia. O trabalho estava indo bem, os meninos eram engraçados e
fáceis de socializar. Foram simpáticos e gentis comigo e parecera não se
importar com as perguntas que eu lhes fazia. Eu decidi voltar a morar em minha
antiga casa, não fora uma decisão que tomei de uma hora para a outra na
verdade, semanas atrás já havia conversado com meus pais por telefone e eles me
lembraram da casa. Além do mais, se eu pretendia levar o plano que eu tinha em
minha cabeça a sério, seria bom ter um lugar mais espaçoso e aconchegante.
Então por fim,
Alex. Meu corpo se estremeceu só de pensar em seu nome. Fiquei pensando o que
deu nele para falar daquela história de amor reprimido. E no final, do que
importava? Há uns dias atrás ele estava implicando comigo mais do que qualquer
outro ser humano, e agora esperava que eu o tratasse com beijos e sorrisos? É
verdade que ás vezes eu me esquecia de que ele era uma pessoa egocêntrica e
irritante demais e o tratava com afeto. Até mesmo, em plena consciência,
tentava ser legal com ele, porque uma parte de mim me forçava a isso, mas a
outra, aquela que guardava sentimentos completamente desagradáveis e que não
fez nenhum bem a mim, parecia gritar mais alto.
Com o rosto ainda enterrado no travesseiro,
ouvi a campainha tocar. Não me movi desejando que não fosse em meu apartamento
para eu voltar me afogar em meus pensamentos. Contudo, ela soou de novo e me vi
obrigada a levantar.
Praticamente rastejando,
fui até a porta para logo em seguida de abri-la, ver Alexa em um estado pior do que o meu. Além disso, o
fato de vê-la naquele instante me lembrou de que ela era uma parte da muralha
entre mim e Alexa.
- O que
aconteceu? – perguntei a abraçando – Por que está chorando?
Ela tentou falar
algo, mas soluçava tanto que resolvi deixar as perguntas para depois.
Após fazê-la se
sentar, pois não parava no lugar, andando de um lado para o outro incapaz de
pronunciar uma palavra se quer, preparei chá para ambas e tentei fazer com que
ela conseguisse me explicar o motivo de tanta apreensão.
- Tudo bem, calma
– segurei suas mãos – Agora me diz: por que você está assim?
- E-Eu não sei.
- Como não sabe?
Alguém lhe fez alguma coisa?
- Não... Quer
dizer sim, mas não justifica o meu estado. Não sei porque tive essa reação.
- Sei – dei um
gole no meu chá quente – E quem exatamente fez o que?
Ela fechou os
olhos e permaneceu em silêncio.
- Alexa, quem fez
você ficar assim?
- Ele me ligou.
- Quem ligou?
- Alex.
“É claro que ele ligou”, pensei comigo
mesma. Eu respirei fundo e tentei permanecer indiferente diante da situação.
- E o que ele
disse? – perguntei.
- Primeiro ele
disse que só queria saber como eu estava... Depois começou a falar de lugares
que costumávamos ir e de coisas que costumávamos fazer. Ele foi gentil e me fez
rir. Ai ele me convidou para jantar. Amanhã.
- Você aceitou?
- Sim, eu
aceitei. Eu não sei, comecei a me perguntar por que terminamos. Alex faz com
que eu me sinta tão bem... Você acha que eu sou idiota por isso?
Após um longo
suspiro, respondi:
- Não importa o
que eu acho. Você tem que fazer o que tiver vontade de fazer.
...
No dia seguinte,
encontrei com a banda no Central Park. Nossa primeira parada em meio a outros
pontos turísticos de Nova York. Procurei falar com Alex apenas o necessário,
mas ele insistia em me perguntar coisas que qualquer outra pessoa poderia
responder.
- Elle, você está
bem? – ele havia diminuído o passo para me acompanhar e se afastar dos outros
que estavam mais a frente.
- Melhor
impossível.
- Não parece.
- É uma pena que
não pareça, por que estou ótima.
Permanecemos em
silêncio por alguns minutos até que Alex voltou a falar:
- Você quer fazer
algo essa semana? Podemos sair, ou sei lá...
Eu sorri. Não de
felicidade, mas por não estar acreditando no que eu havia acabado de ouvir.
- Sair? Eu e
você?
- É, por que não?
– deu de ombros – Somos livres e desimpedidos.
- Somos livres e desimpedidos? – ri
debochada – Que bom! Que tal hoje á noite? Por que não vamos jantar?
- Hoje? Eu estava
pensando em...
- Por que não? –
parei de caminhar – Há algum problema em ser hoje? Achei que éramos livres e
desimpedidos.
- É porque
hoje...
- É porque hoje
Alex, você vai jantar com a Alexa! – imediatamente eu coloquei minha mão sob a
boca ao perceber que eu estava praticamente gritando.
Ele olhou ao
redor, alguns curiosos haviam parado para bisbilhotar a vida alheia, mas logo
trataram de seguir seu caminho.
- Como você sabe?
- Ela é minha
melhor amiga!
- É, eu sei. Foi
uma pergunta idiota.
- Muito idiota. E além do mais, eu não
quero jantar com você. Hoje você vai á um jantar com a Alexa, amanhã você vai á
um jantar comigo e depois de amanhã pega um voo e vai correndo para os braços
da Arielle, que até onde eu sei é sua namorada.
- Eu e a Arielle
a gente...
- Eu não quero
saber. Não precisa me dar explicações – falei irritada.
- Até quando você
vai ficar me interrompendo, Elle? Até agora você não me deixou terminar uma
frase.
- Eu não quero
ouvir mais uma palavra sua! – saí andando em passos firmes.
- Mas o que
eu...
- Vai se ferrar,
Turner! – gritei olhando para trás, o lançando um olhar furioso.
Alex’s POV
Após um dia
cansativo, tentando manter pelo menos um metro e meio de distância entre mim e
Elle para minha própria segurança, fui para meu apartamento para relaxar um
pouco antes de me encontrar com Alexa. Uma decisão que eu havia tomado após
revirar uma caixa com fotos e filmagens de um, dois, até três anos atrás.
Velhas memórias que trouxeram a tona sentimentos que pensei terem desaparecido
de uma vez por todas.
Peguei a caixa,
que ainda estava no chão da sala e a guardei no armário. Quando estava prestes
a virar as costas, vi que uma fita de vídeo estava a ponto de cair da
prateleira. A fita havia sido gravada em meu aniversário anterior.
Como eu ainda
tinha tempo, decidi revê-la. Coloquei a fita em um antigo vídeo-cassete que eu
guardava e dei play. Na tela, meus amigos me desejavam feliz aniversário. Matt,
Jamie, Nick, meu pai, minha mãe, Alexa... e Elle. Seu cabelo estava mais curto naquela época,
parecia cansada e muito mais magra. A impressão que tinha era que se uma brisa
seria capaz de derruba-la.
- Seja legal – Alexa pediu, era ela quem
estava filmando – É o aniversário dele,
ok?
- É, tanto faz – deu de ombros – Feliz aniversário, Alex. Apesar de não
gostar muito de você...
- Elle! – a amiga a repreendeu.
- Tudo bem. Feliz aniversário Alex! Eu não
odeio você, apesar de parecer isso a maior parte do tempo. E mesmo nós não
sendo lá muito chegados, eu desejo toda a felicidade do mundo a você. E eu... – houve uma pausa, e logo após ela
sorriu – Eu espero que fique bem.
Elle’s POV
Estava em minha
antiga/nova casa, resolvi adiantar a mudança e com a ajuda de Matt, empacotei e
transportei algumas caixas. Depois do dia estressante, a melhor coisa a fazer
era me distrair um pouco dos problemas.
- Essa é a última
– ele havia deixado uma caixa com as palavras “CDs/Vinis” escritas com um
pincel atômico azul no canto da sala.
- Que bom, porque
eu achei um balanço lá atrás e você vai ter que me ajudar a amarra-lo na
árvore.
- Achei que você
tinha sido escoteira – disse enquanto nos dirigíamos para o jardim.
- É verdade, mas
eu nunca disse que eu fui boa nisso. Eu não suportava a líder das escoteiras
gritando toda hora “Deville, um bebê faz
um nó melhor que o seu! Deville, não é assim que se acende uma fogueira!”.
- Parece meu pai
quando estava brigando comigo... “Matthew
James Hitt, você já fez o seu dever de casa? E não me venha dizer que a
professora sofreu um acidente! – imitou o pai em um tom severo.
- Você já usou a
desculpa que a professora sofreu um acidente? – perguntei quando já estávamos
embaixo da árvore que o balanço ficaria.
- Acredite, não
foi uma desculpa tão ruim quanto as outras.
- Eu não quero
nem ouvir as outras – disse pegando uma das cordas do balanço e dando outra
para Matt – Você alcança o galho?
- Acho que sim...
Mas tem certeza que isso não vai cair?
- Bem, me
sustentava quando eu tinha 10 anos.
Ele lançou a corda
em volta do galho, e fez um nó surpreendentemente ágil.
- Não sabia que
você era bom com nós.
- Passe um verão
com meu avô e você verá o que acontece. Vai ser capaz de dar um nó até um cano
de aço.
Depois de checar
algumas milhares de vezes para ver se estava firme, resolvi me sentar e Matt
começou a me balançar, para frente e para trás em um ritmo constante. A brisa
gelada em meu rosto, junto com a noite que vinha caindo me dava a sensação de
infância. Fechei os olhos e era como se eu tivesse 10 anos novamente. Minha mãe
faria um bolo de chocolate, meu pai iria me balançar tão alto que eu poderia
tocar o céu. Então mais tarde, nós iríamos nos sentar em frente á lareira, meu
pai iria contar uma história sobre algum reino distante e comeríamos o bolo de
chocolate.
Abri os olhos. Eu
tinha 23 anos. Minha mãe não fez um bolo e meu pai não estava me balançado. O
balanço havia parado e Matthew estava com a mão sob meu ombro. Então, olhei
para a varanda e o vi. Parado, nos observando. Meu coração acelerou e meus
músculos se enrijeceram. O que ele estava fazendo ali?
- Você quer que eu
vá falar com ele? – perguntou Matt.
- Não. Não
precisa, eu cuido disso. Me espere aqui, tudo bem?
Levantei-me
lentamente e atravessei o gramado. Subi os dois degraus que nos separavam e
parei em sua frente.
- Como você sabia
que eu estava aqui?
- Eu fui até seu
prédio e o porteiro falou que você havia saído carregando caixas.
- E por que você
está aqui? Achei que ia jantar com a Alexa.
- Eu... Eu
preciso falar com você.
Eu cruzei os
braços e suspirei. Analisei sua expressão, sua cara não era das melhores.
- Tudo bem.
Vamos dar uma volta.
Andávamos pela
rua, com árvores nas calçadas e casas aconchegantes. A tranquila vizinhança
dava a sensação de que estávamos em uma cidadezinha pequena, não na grande e
barulhenta Nova York.
- Matthew não vai
se importar com sua saída? – perguntou.
- Não, ele vai
passar a noite lá.
Alex pigarreou.
- Vocês, é...
Voltaram?
- Não – respondi simplesmente
– Mas o que você quer, Alex?
Ele chutou uma pedrinha que estava em seu
caminho, chutou com uma força maior do que a necessária. Ele parecia estar com
raiva.
- O que há de
errado com você? – parei o segurando pelo braço.
- Sabe o que eu
queria, Elle? – ele mantinha as mãos nos bolsos da jaqueta e seu tom era um
tanto melancólico.
- Alex...
- Eu queria
voltar no tempo e ter conhecido você antes de ter conhecido a Alexa.
Abri a boca para
falar, mas nenhuma palavra saiu.
- De repente, é
como se isso fosse a coisa mais óbvia do mundo – ele continuou – Não que eu não
tenha amado a Alexa, mas, se eu pudesse escolher...
- Mas você não
pode. Não, não pode. Você... O que você está falando?
- Por que eu vim
atrás de você, Elle? Por que eu deixei a mulher que eu tanto queria de volta me
esperando e vim atrás de você?
- Porque você é
um idiota – falei – Você é um completo idiota.
- Sou é? – riu –
Mas você gosta de mim do mesmo jeito. E é por isso que você era tão chata.
Porque você não podia me ter. Você me queria, mas eu estava com sua melhor amiga
e você sabia que eu a amava. Mas sabe qual o mais engraçado disso? Por mais que
você fosse uma garotinha irritante, eu sempre prestei atenção em você e me
perguntava o que eu faria com Elle Deville se as coisas não fossem como eram –
ele se aproximou – Diz que eu estou mentindo.
- E o que importa
se for verdade? – mantive o tom firme – Nos já fizemos nossas escolhas.
- Ah, ai que você
está enganada – sua boca estava ao lado de meu ouvido – Se for verdade, o que
nós dois sabemos que é, podemos ir para meu apartamento e fazer o que esperamos
tanto tempo para acontecer. Por que eu quero você pra mim Elle, e você também
me quer.
- Acontece
Turner, que do outro lado do país tem alguém lhe esperando. E bem aqui, em Nova
York, a mulher que você poderia ter já foi embora para casa porque você a deixou
plantada em um restaurante. Alem do mais, diferente de você hoje á noite – me
afastei de seu corpo - Eu não vou dormir
sozinha.
***
N/A: Oi! Quanto tempo, pois é, me perdoem por isso. Mas finalmente, aqui está a atualização.
Espero que tenham tido um bom final de ano e que esteja tudo bem com vocês. Também espero que minha falta de ânimo não tenha transparecido no capítulo porque eu prometi para mim mesma que ia terminar por vocês. Mas enfim, torço para que tenham gostado. Beijos, Bel.
ಥ⌣ಥ ai meu Deus que bom ler um novo capítulo dessa história. Espero que a próxima atualização não demore tanto, porque eu já to com o coração na mão...
ResponderExcluirOii!! Adorei seu post...muito bem escrito! Por favor, não nos abandoneee!!! Hahaha.. continue postando pois já estou curiosa... :)
ResponderExcluirAh, que bom ver uma nova atualização dessa fic, já tava sentindo falta.
ResponderExcluirAI MEU DEUS! CARAMBA QUE CAPITULO PFTO. Eu esperei semanas por essas atualização e valeu a pena, tava sentindo tanta falta de atualizações dessa fic e vem esse capitulo lindo, nossa tô com o coração na mão, mal posso esperar pelo aproximo, sério.
ResponderExcluirFalta de ânimo? Eu adorei o capítulo, só aqui curto hehe... E que maneira de terminá-lo, hein! Eu, claro, já estou ansiosa pro próximo capítulo! Beijos
ResponderExcluirBeeeel! Ai que saudade das suas estórias... A Elle é uma personagem ímpar, me surpreende o quanto ela consegue resistir ao Alex; que por sinal, está mais vulnerável do que nunca. "Eu não vou dormir sozinha" hddjhcdfkifahkfdh Nossa! Massageou até o meu orgulho hahaha Continue, por favor. Beijos
ResponderExcluirSteph
Confesso que não achava que o Alex fosse pra cima da Elle tão cedo. E a pergunta é: como ela consegue resistir ao Alex? Continua, por favor! Essa fic é demais!!!!!!!!!!!!
ResponderExcluirParando pra analisar, o ''ódio'' e a implicância dos dois faz todo sentido do mundo. Criaram formas de defesa para que os sentimentos não se aflorassem tanto... Mas pelo visto a máscara caiu. Hahah capítulo lindo Bel, não vejo a hora de postar o próximo.
ResponderExcluirxx Anne