Então, ali eu estava. Angustiado,
sofrendo com os nós que se prendiam em meu coração. Esperava vê-la a qualquer
segundo, a qualquer lugar, em qualquer situação. Apenas vê-la, para poder
toca-la e assim ter certeza de que tudo não passou de mera ilusão. Ter certeza
que a possibilidade de um novo começo realmente existiu. Calar as dúvidas que
insistiam em se perguntar se eu realmente conseguira cair nas graças da paixão
novamente. Confirmar as suspeitas de que quis depositar todo meu futuro nela.
Minha querida Elle, como sentia sua falta.
E como me
decepcionei quando ela não voltou. Naquela segunda de manhã quando fomos
avisados que houve uma mudança de planos, quando soubemos que Elle havia
passado o projeto para as mãos de outra pessoa.
O motivo não foi claramente explicado, mas eu sabia o porquê. Não seria
capaz de falar comigo, sequer olhar para a pessoa que a deixou a beira da
confusão.
- Não estou aqui
com a intenção de substituir Elle – disse a nova diretora, Alison, no dia em
que nos foi apresentada – Afinal, foi ela que arquitetou tudo. Eu apenas irei
executar.
Nem se tentasse
com todas suas forças conseguiria substituir Elle. Alison não era má
profissional, tentava ser engraçada de vez em quando, mas falhava pois ninguém
ali acreditava em sua risada superficial. Seus cabelos louros e seus olhos
azuis lhe dariam uma aparência quase angelical se ela não fosse tão cheia de
si.
Tivemos que
regravar o que já havia sido gravado e os cinco dias se passaram em um piscar
de olhos. Foi como se houvesse constantes blackouts em meu cérebro, não tinha a
noção de tempo. Ás vezes poderia jurar que uma hora se passara em dez minutos,
ou o contrário.
Entretanto, havia
ainda uma última coisa a ser feita. A apresentação que acompanharia o
documentário seria gravada naquele fim de tarde, palco aberto, em frente ao
prédio da MTV.
O relógio marcava 17h15. Em poucos instantes teria que
estar em uma das avenidas mais movimentadas de Nova York.
Vesti minha
jaqueta e antes de sair, verifiquei se o bilhete que Elle havia escrito estava
em meu bolso. O papel já se desgastara
de tantas as vezes que eu o li e reli. Algo nele ainda me incomodava, o fato de
algo parecer desconexo com as demais coisas. Resolvi sentar-me novamente e o
ler mais uma vez. Não que isso fosse meramente necessário, pois as palavras já
estavam gravadas em meu cérebro.
Alex,
Eu estou o deixando por um tempo que não sei
dizer se será um dia, uma semana ou para sempre. Ainda não decidi qual é a
melhor opção.
Você parece não ter noção das consequências
que nossa relação poderia trazer para as pessoas que amamos e assim, as
consequências que poderia trazer para nós.
Preciso de tempo e espaço para pensar e isso
eu só conseguiria fazer em um lugar só meu. Um lugar em que eu não me sinta
responsável pela amargura de outras pessoas.
Desculpe-me se eu o magoei, nunca foi minha
intenção machuca-lo de algum modo.
Eu me perguntei por anos quem você realmente
era e nos últimos dias tive a oportunidade de enxergar claramente o fundo de
suas águas turvas. Foi a coisa mais bela que já vi.
Com carinho e esperando que fique bem, Elle.
Dobrei o bilhete
em quatro partes e o coloquei em meu bolso. Depois de um longo suspiro,
levantei-me e deixei o apartamento.
Antes de ir até o
local do show, teria que passar em outro lugar. Eu tinha a necessidade de fazer
aquilo e isso já me rondava a cabeça há um bom tempo. Elle se afastara, pois se
sentia culpada, mas nunca acreditei que ela fora a causadora de discórdia
alguma. Tão pouco minha consciência estava pesada, nunca senti culpa por ter
desejado ficar com ela. Elle ser a melhor amiga de Alexa não passava apenas de
um fato controverso do destino. E não conseguia enxergar porque isso
atormentava tanto as pessoas envolvidas naquela história.
Por isso e alguns
outros motivos, me dirigi até o prédio de minha ex-namorada. A mulher que não
só me proporcionou momentos felizes, mas também foi a responsável por uma dor
que achei que jamais iria ser curada. Ela não morava mais no Brooklyn, onde costumávamos
viver. Imaginei que também deveria ter boas e más lembranças quando o
assunto era nós.
Tive receio de
que ela não me autorizasse a subir, então caminhei até o porteiro como se não
quisesse nada. O senhor de óculos com lentes grossas que estava atrás do
balcão, olhou para mim e perguntou simpático:
- No que posso
lhe ajudar?
- Eu queria saber
se Alexa Chung se encontra. Gostaria de falar com ela – respondi calmamente.
- Qual o seu
nome?
- Alexander...
Turner.
- Só um momento –
ele virou as costas, foi até o telefone pregado na parede oposta e discou três
números. Pude ouvir coisas como “Ele deseja falar com a senhorita” e “Sim
senhorita, eu o aviso”.
Então, novamente
onde estava o senhor sentou-se em sua velha cadeira e me informou:
- A senhorita
Chung falou que desde que o senhor seja breve, poderá subir. Ela irá para o
aeroporto em alguns minutos e não pode se atrasar.
- Tudo bem, não
vou demorar muito.
- Sendo assim, 7º
andar, apartamento 705.
Eu concordei com
a cabeça e me dirigi ao elevador. 7º andar. Pouco tempo se passou até que as
portas se abrissem. Vi-me no corredor enfeitado com suas portas brancas e
números dourados pregado nelas. Comecei a andar e permanecia mirando seu fim.
505, 705. Qual a diferença? Tudo acabou em lágrimas.
I’m going back to 705.
Não. Não estou indo de volta. Nunca estive lá.
Então me dei conta
da realidade que me cercava novamente. A porta branca com os números dourados
705 estava me encarando e eu a encarava de volta. O que estava eu fazendo ali?
“Buscando uma razão para trazê-la de volta” respondeu
meu inconsciente. Trazer a Elle,
falei para mim mesmo só para ter certeza.
Suspirei uma,
duas, três vezes. Obriguei meu braço a seguir o comando de meu cérebro. Toquei
a campainha.
No mesmo instante,
a porta se abre e lá estava ela. Bem vestida, cabelo arrumado, os olhos claros
com as marcas pretas de delineador nas pálpebras. Ali estava Alexa e sua beleza
estonteante. E mesmo assim, a única coisa em que conseguia pensar era na melhor
amiga dela.
- Entre – deu um
passo para trás para que eu passasse.
Assim que o fiz,
senti seu perfume. O mesmo, nada mudara. Mas agora, aquela essência que antes
era a melhor coisa do mundo para mim, mal se comparava ao perfume que Elle
exalava por sua pele.
- Não vou demorar
– avisei.
- Tudo bem, eu
sempre chego atrasada de um jeito ou de outro. Além do mais, meu compromisso é
só depois de amanhã.
Reparei nas malas
que estavam na sala. Eu bem sabia para onde ia com aquilo tudo.
- Temporada de
desfiles na Europa – completou como se lesse meus pensamentos – Mas creio que
não é sobre isso que você veio falar.
- Na verdade não.
Antes mesmo que eu
falasse alguma coisa, reparei em uma revista sobre a mesa de centro. Uma foto
de Elle, seguida por duas menores estavam na capa. A manchete chamativa dizia “Onde está Elle Deville?”.
- Você não é o
único que quer falar sobre ela – falou ao perceber para onde eu olhava.
- Você não devia
ler isso.
- Qual é Alex,
você acha que eu fui à banca e comprei a revista? – respondeu irônica - Eles
mandaram para mim junto com um telefone de contato. Esses malditos parasitas
querem vender notícia em cima de nossos nomes e aceitam qualquer coisa.
- I don’t give a fuck about it – disse um
tanto irritado.
- And you think I give a fuck about it? Eu não estou nem aí para o que eles
dizem sobre mim – fez uma pausa para limpar a garganta - mas você devia ver as
coisas horríveis que eles escreveram sobre ela.
Aquelas palavras tiveram
o mesmo efeito que um soco em meu estômago. Deixaram-me nauseado. Não podia
pensar na ideia de ver a integridade de Elle sendo devorada por pessoas que
nada tem para se fazer da vida.
- Não é culpa
sua, Alex... Olha, eu sei por que você está aqui. Você veio me pedir para dizer
para Elle que ela não fez nada. Eu não sou idiota. Não tenho problemas com
isso. Ela merece ser feliz e foi por isso que liguei para ela dois dias atrás.
Fiquei sem
reação. Eu podia sentir o suor frio e meu coração batendo rápido.
- Alexa, eu...
- Não fiz isso
por você – deixou claro – Não é que eu o odeie, mas eu senti algo que não sei
exatamente o que é. Mas é egoísta e ilógico de minha parte eu dizer que vocês
não podem ficar juntos. Ela já fez tantas coisas por mim, sempre esteve ao meu
lado. Sempre. Quando todos estavam desacreditados, quando todos tinham algo
melhor para fazer, quando todos estavam olhando para o seu próprio umbigo, ela
estava ao meu lado. Não me abandonou nem por um segundo. E você... – respirou
fundo – eu terminei com você. E naquele dia disse que queria te ver feliz não
importasse a situação, ou com quem estivesse nela.
- E essa é uma
situação em que quero ser feliz com Elle.
Ela concordou com
um aceno.
- Eu vou me acostumar com o tempo. Quando toda
a poeira abaixar, vamos ver que tudo pode ser tão fácil – falou por fim.
Dessa vez fui eu
quem concordou.
- Então... Tenha
uma boa viagem, Alexa – me dirigi até a porta depois de um tempo em silêncio.
- Obrigada, Alex.
Nós vemos em breve.
Antes de partir,
não pude deixar de fazer uma última pergunta:
- Quando ela vai
voltar?
- Voltar?
- Do Canadá, da
casa dos pais dela.
Sorriu com os lábios
selados.
- Na hora certa.
Até mais, Alex.
Assim, a porta
branca com números dourados estava me encarando como antes.
Olhei para o
relógio. Era hora de ir.
...
Mal pude
acreditar na multidão de pessoas que se encontrava naquela Avenida de Nova
York. Fui o último a chegar. Matt, Jamie e Nick já estavam se preparando no
backstage e soltaram um suspiro de alívio quando me viram. Alison parecia
furiosa e seus olhos azuis pareciam maiores do que nunca.
Antes que ela
pudesse chegar a mim, Amanda, a assistente de produção que virou oficialmente
produtora do documentário (pois Elle exigiu isso após sua saída), veio correndo
em minha direção para ligar o receptor do microfone, se colocando entre a fera:
- Todos já
estavam à beira de um ataque de nervos – ela ia sussurrando – Já pensou? Fechar
uma avenida movimentadíssima para um show sem vocalista? Mas tudo bem, agora
você está aqui.
Ela me deu um
tapinha nas costas e foi para o outro lado. Fui ao encontro de meus amigos que
me cumprimentaram e Matt me passou uma garrafa de cerveja.
- Está tudo bem? –
perguntou Jamie.
Eu confirmei com
um aceno enquanto dava um gole no líquido gelado.
- Eu vou entrar
no palco agora – Alison avisou – Vocês entram logo em seguida, entendido?
- Si-sim, senhora
– Nick gaguejou. Desde o primeiro dia ela havia botado certo medo nele.
Quando Alison
subiu ao palco, podemos ouvir a agitação da plateia. Era sinal de que entraríamos
á pouco.
- Bem vindos ao
MTV Live! – sua voz ecoou pelas caixas de som – E esse não é qualquer MTV Live,
é o MTV Live Special: Five Days With Arctic Monkeys – houve gritos de todos que
estavam ali – Eles são os garotos de Sheffield que viraram astros do rock
internacionais e que pela primeira vez gravaram um documentário em solo Americano
em parceria com a MTV. Por favor senhoras e senhores, aplausos para o Arctic
Monkeys!
E essa foi nossa
deixa. Matt foi o primeiro a se direcionar ao palco, pude ouvir as pessoas indo
à loucura. Tudo aquilo era uma grande loucura. Seguido por Jamie e depois Nick.
Por último, eu me direcionei para aquilo tudo. A claridade ofuscou minha visão
por um momento, mas logo depois voltou ao normal. De frente ao microfone, olhei
para frente e fitei aquele mar de euforia. Logo atrás, em um prédio alto nas
telas de led havia os slides na
seguinte ordem: “MTV Live Special: Five
Days With Arctic Monkeys” e uma foto nossa.
“Five Days With Arctic Monkeys – MTV’s
exclusive documentary” e outra foto nossa.
“Hosted by Alison Belissario” e uma foto
da Alison.
“Produced by Amanda Whitemore” e uma
foto da Amanda.
“Directed by Elle Deville” e uma foto da
Elle.
Em seguida quase
caí em um estado de transe, mas ouvi a voz de Amanda no meu ouvido. Mesmo com o
volume do aparelho alto, me esforcei para ouvi-la: “Foco, depois você pensa
nisso”.
Foi o que eu fiz.
Acenei para as pessoas, agradeci por sua vinda. Virei para trás e vi que todos
estavam prontos para tocar. Afinal, era para isso que estávamos ali.
- Antes de
começarmos, eu queria dizer que é a primeira vez que tocamos essa música ao
vivo – todos vibraram – É engraçado, porque é como se o momento em que vivo
agora tivesse uma trilha sonora, seria essa. Mas tudo bem, porque eu gosto
dessa música. Ela fala de um amor meio extremo, com seus altos e baixos, mas
não deixa de falar de amor.
Sorri comigo
mesmo ao ver a imagem dela reaparecer na tela a minha frente.
- This one is called Piledriver Waltz and it’s
for Elle.
Matt fez a contagem de três e tudo
começou:
I etched the face of a stopwatch
On the back of a raindrop
And did a swap for the sand in an hourglass
I heard an unhappy ending it sort of sounds
like you leaving
I heard the piledriver waltz
It woke me up this morning
You look like you've been for breakfast
At the heartbreak hotel
And sat in the back booth by the pamphlets
And the literature on how to lose
Your waitress was miserable and so was your food
If you're gonna try and walk on water
Make sure you wear your comfortable shoes
Mysteries flashing amber go green
When you answer but the red on
The rest of the questionnaire never changes
I heard the news that you're planning
To shoot me out of a cannon
I heard the piledriver waltz
It woke me up this morning
You look like you've been for breakfast
At the heartbreak hotel
And sat in the back booth by the pamphlets
And the literature on how to lose
Your waitress was miserable and so was your food
If you're gonna try and walk on water
Make sure you wear your comfortable shoes
Oh, piledriver
...
N/A: Oi gente!!!!! Demorou, mas chegou. Quem é vivo sempre aparece e antes tarde do que nunca! Começo das aulas, meus professores acharam que seria legal encher os alunos de trabalhos, o tempo que eu tinha eu ia ler ou descansar, porque sinceramente eu estava com criatividade 0. Então comecei a estudar um pouco mais sobre os romantistas dos séculos passados e me encheu de vida e assim, toda vez que eu tinha um tempinho ia escrever. Não sei se isso transpareceu de algum modo (??), mas enfim. Está ai, espero que tenham gostado. A fic está acabando, só para lembrar. Ok, já falei demais. Beijos, Bel.
Awwwwnnn! Minha fic preferidaaa! *-* Tava com saudades jááá! Maas.. aqui está ela, tão boa quanto sempre! Piledriver Waltz dedicada a Elle! Morri! Música mais linda ever! *-*
ResponderExcluirO lado ruim é que tá acabandooo.. D:
muito muito muito boa!!!!!!!!!
ResponderExcluirTô no chão pelo falto da fic estar acabando e pelo fato de que esse capítulo foi lindo e emocionante. Apenas esperando o retorno da Elle, porque depois de ter "Piledriver Waltz" dedicada todinha pra ela, ela não tem desculpa para não voltar correndo pros braços do Al <3
ResponderExcluirAmei o capítulo.
Beijos.
Ai que saudade que eu tava dessa fic... amei o capítulo! Sensacional, como sempre.
ResponderExcluirPena que tá acabendo.. Mas eu quero que eles fiquem juntos logo!
Beijos
Que lindo ele dedicar Piledriver Waltz pra Elle!!
ResponderExcluirNão quero que a fic acabe!!! Mas mal posso esperar pelo próximo capítulo.
Que final lindo !!! Como senti falta dessa fic.... Minha preferida <3
ResponderExcluirNão demora pra postar naoooo!!!
Bjs
alo? por favor continuem com essa fic, pelo amor !!!!!!!!1 li tudo de uma vez ontem, pq realmente estava interessante, me apaixonei lendo cada capítulo. Essa história merece continuar. Eu realmente estou entusiasmada pelo que ira acontecer. Isso é um apelo :( bjoks
ResponderExcluircade o resto??? continua please!!!
ResponderExcluirBel, pufavô, continua! É maravilhosa demais essa fic <3 Preciso de um final pra encher esse coração romântico de mais romantismo hahaha Estou no aguardo. Beijo!
ResponderExcluircade o final?? continua pelo amor de Deus!
ResponderExcluir