— Alex?
Alex! — disse Jules, chamando a minha atenção.
— O
que foi?
Ele
olha para mim e solta um riso cínico.
— Está
brincando? Eu e Miles já trocamos inúmeros assuntos aqui e você apenas encarou
o saleiro. Algo lhe pertuba?
Penso
em Johanna. Já faziam dois dias desde o acontecido e parecia ter sido cinco
minutos atrás. Jules não sabe do beijo, e por algum milagre Miles também não.
Nenhum ser humano no mundo sabe, a não ser eu e ela.
A
ação, a iniciativa tomada por ela havia me chocado tanto que eu não tinha
parado nem para pensar em Arielle ainda. Ela continuava a me tratar normalmente
e não parecia suspeitar, embora eu demonstrasse sinais que pudessem provocar
desconfiança. Por quarenta e oito horas, foram poucas as que não estive de
olhos arregalados e boca completamente imóvel. Deve existir um nome, não,
vários nomes e descrições para esse tipo de reação. Eu não concordaria com
nenhum deles. Este era, de fato, o meu único pós-temor. Do tipo em que o
indivíduo tem um tipo bizarro de fetiche pelo próprio pesadelo.
Isso
depois de descobrir quem realmente é o sinônimo de terror, no meu ponto de
vista.
—
Não. Nada. Só estive calado, ultimamente. É só.
Olho
para baixo, tendo a visão do andar de baixo da livraria. Não consigo pregar o
olhar por muito tempo; pensar na possibilidade da presença de Johanna por ali
já me causava temor. Era vergonhoso.
—
Você está é cansado. — disse Miles, dando tapinhas em meu ombro. — Com essa
chegada de estoque e lançamento de romances adolescentes, você realmente
trabalhou muito. Vá para casa. John não está por aqui para vigiar mesmo.
—
Tem certeza? Ainda há uma pilha de livros para...
Miles
me interrompe. — Eu dou conta do recado. E você precisa ensaiar, a Batalha das
Bandas é no final de semana que vem.
Sorrio.
— Te devo uma, Miles.
Penduro
aquele avental que me fazia parecer ridículo no cabide ao lado da porta da loja
e logo me vejo em uma rua cheia de NYC. Jamie tinha razão – era como nos
filmes. Aquela imensidão de gente andando por todos os cantos, prédios altos e
grandiosos, a estátua da Liberdade... Eu nunca visitei a estátua da Liberdade.
Bem,
até então tenho o resto da minha vida idiota para fazer isso e não vai ser
agora.
Sinto
o celular vibrando na metade de um percurso para atravessar a rua e vejo que é
Arielle. Minha barriga esfria num piscar de olhos, por mais que fosse comum
Arielle ligar para mim o dia inteiro.
—
He-ey, como vai a minha ruiva preferida? — essa foi, de longe, a pior voz que
já fiz na minha vida.
—
Onde está você?! Preciso de sua ajuda!
—
Ei, relaxa. O que aconteceu?
— É
a Johanna!
Fico
quieto por alguns segundos, sentindo o celular deslizar de minha mão e quase
cair. Arielle nunca comentava sobre a irmã quando estava comigo, a não ser que
ela tenha aparecido cinco minutos antes. Naquele momento pude perceber que,
para ser pelo telefone e o principal motivo daquele telefonema existir, era
algo sério.
(...)
—
Arielle? — digo, empurrando a porta destrancada de seu apartamento.
—
Alexander! — berrou Jonah numa má pronúncia, aparecendo de surpresa à minha
frente.
—
Oh. Olá, amigo. Sabe onde está sua irmã?
Ele
olha para cima, pensante. — Arielle... Banheiro!
Dou
um tapinha em seu ombro e sorrio para o garoto. Em seguida, ando até o banheiro
da casa, e a medida que me aproximo, as vozes de Johanna e Arielle ficam mais
altas.
—
Quando eu disse sobre uma mudança de visual, eu quis dizer luzes, um corte
novo, não isso!
—
Quando você vai parar de ser tão chata?! O cabelo é meu!
—
Jesus Cristo, Johanna. Seu cabelo era completamente invejável, olha só o que
você fez!
Paro
em frente às duas quando Arielle solta um “Você é louca.” Ela olha para mim,
diz um “oi” e me beija intensamente. Demoro a retribuir o beijo, pois estou
ocupado demais sendo um idiota abrindo os olhos e vendo o reflexo da gêmea no
espelho revirando os olhos.
—
Então, qual é o problema?
—
Por favor, diga à ela que o cabelo dela é perfeito como ele é.
Hesito.
Johanna me encara pelo espelho, com um sorriso ameaçador enquanto engulo em
seco ao mesmo tempo em que Arielle olha para mim. Como ela não desconfiava?
—
Seu... Hm-hm. Seu cabelo é... Bonito. Não há a necessidade de fazer nada nele.
— E
eu não sei como seu cabelo aguenta tanto gel, e também não há a necessidade da
opinião de nenhum de vocês.
—
Johanna!
Observo-a
concentrada no corte do cabelo, agora louro e caindo um pouco abaixo dos
ombros. Ela o repicava num estilo punk dos anos 70, talvez quisesse parecer com
Suzi Quatro ou Joan Jett, naquela altura do campeonato.
—
Quer saber? Eu desisto. — disse Arielle. — Faça o que quiser, mas saiba que a
mamãe vai te matar.
Arielle
sai do banheiro, ignorando completamente a minha existência, ao contrário de
Johanna. Agora isso é algo que eu
nunca pensei que fosse acontecer.
Permaneço
parado, encarando a figura ao meu lado separando mechas artificialmente louras
e cortando-as, deixando tufos de cabelo caírem sobre o chão cinza. Nisso, ela
volta a olhar para mim e diz:
—
Ainda prefere o ruivo?
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