(D)evil Twin 08: Arabella.

N/A: Boa leitura!




— Será que dá para tirar as mãos dos meus olhos? — questionou Arielle, irritada.

— Não até chegarmos.

Peço para Arielle ficar de olhos fechados enquanto abro a porta do apartamento. A pobrezinha deve achar que estou fazendo algo do tipo Oliver Tate – o serial killer prestes a perder a virgindade, ou não. Ela não devia nem fazer ideia de que aquele livro existia. A questão é algo bem melhor a esperava.

Guiei-a até a sala de ensaio da banda, onde todos já esperavam com cara de tédio. Fuzilei-os com o olhar e fui para o meu posto, carregando a minha guitarra.

— O que é isso? — ela perguntou, finalmente abrindo os olhos.

— Apenas assista. Helders?

Matt brincou com as baquetas e começou a tocar juntamente de Nick, que acompanhava o ritmo da bateria. O olhar de Arielle está em mim e eu sorrio de lado para ela, fazendo com que tudo saia como o esperado: ela esconde a cara vermelha e seu belo sorriso com as mãos.

My days end best when the sunset gets itself/Behind that little lady sitting on the passenger side/It’s much less picturesque without her catching the light/The horizon tries but it’s just not as kind on the eyes/As Arabella, oh! Estou pontuando, liberando as mais belas notas enquanto meus dedos pressionam firmemente as cordas. Meu peito começa a suar e agradeço mentalmente por estar de camiseta desabotoada. Matt capricha nesse refrão, botando força máxima, como o pedi: “Pense em algo que te deixe com raiva, cara!” e finalmente vejo que meu conselho deu certo. A “batera” está saindo melhor do que eu pensava e a minha voz hipnotiza Arielle por completo. Capricho nos acordes, marco o tempo para que Nick volte à tona.

É a parte da música em que finalmente falo sobre os lábios da garota, Arielle entende o que estou dizendo e posso garantir que seu rosto deve estar doendo de tanto sorrir. Passamos por mais um refrão, e começamos a acelerar o ritmo. That’s magic in a cheetah print coat/Just a slip underneath it, I hope. Canto o mais alto que posso, aperfeiçoando minha voz a cada falsete dado por Matt. Takes a sip of your soul and it sounds like... É a minha deixa, pressiono as cordas, levanto a guitarra, há cabelos nos meus olhos mas isso não me impede de continuar com o melhor solo que já fiz na minha vida, e os pratos da bateria deixam a coisa ainda mais intensa. Então ouço uma batida na porta, me viro num susto, desafinando completamente e a música torna-se um desastre instantâneo até que todos param e eu me desintegro, vendo-a do lado de Arielle com aquele olhar mortal.

Por um segundo, penso que estou alucinando, mas os olhares dos caras e da minha namorada dizem o contrário. Como ela havia entrado ali?! Pergunto-me, até lembrar que o idiota aqui deixou a porta aberta.

— Por acaso você é surdo?! Será que dá para você e os seus colegas abaixarem o som?

Arielle irritou-se. — Johanna, o que você está fazendo aqui?!

— Que estranho, porque foi você mesma quem nos aconselhou de pegar mais pesado no som. — não pude evitar, simplesmente saiu. E eu não podia deixar ela me fazer de idiota outra vez.

— Quando eu disse “pegar mais pesado”, eu disse para se inspirar no som do The Vines ou algo assim, não fazer uma merda que me tira a concentração para a tarefa da faculdade!

Olhei para os caras, que não pareciam dar a mínima. Merda, a garota era, de fato, preparada para qualquer tipo de resposta.

— Vocês vão deixar ela falar assim do nosso som?

— Nosso? — disse Jamie, confuso. — A ideia de fazer essa música foi sua, Alex. Completamente sua.

Traidor!, pensei. Com tantas mulheres no ramo do rock para venerar, por que ele foi escolher logo ela?!

— Que seja. Foda-se. Não vamos abaixar, temos tanto direito de tocar música alta quanto você. E precisamos ensaiar para a Batalha das Bandas, caso tenha esquecido disso.

Johanna apenas soltou um riso e disse: Se é isso o que você chama de música, desista de uma vez, porque com isso aí será impossível.

A parte estranha disso tudo era que suas críticas não me colocavam para baixo. Eu não me sentia um lixo, e sim, desafiado.

— Não está um lixo, Alex. — disse Arielle, acariciando meu rosto. — Está perfeito. Eu amei e quero colocar no meu iPod.

Johanna não estava mais lá, mas eu ainda encarava a porta.


(...)



— Onde estão os livros, Miles?

— Bem ali. — ele apontou para uma caixa de papelão posicionada no pé da porta que dava para a sala do estoque.

Tentei carregar a caixa (e, caralho, que caixa pesada!) e coloquei-a em cima do balcão. Uma onda de desânimo tomou conta de mim ao ver a quantidade de livros que havia ali. E tinha sido assim nos últimos dias. Ah, se o John não aumentasse meu salário...

Ok. Por onde começo? Esse livro deve ser de ficção científica. A seção de ficção científica fica no fundo da loja. Droga, eu não vou ter paciência para isso.

— Sabe, ela é a irmã da sua namorada, é a obrigação dela infernizar a sua vida. — disse Miles. Eu havia comentado com ele sobre o ensaio e conversamos sobre isso desde então. — Você se importa demais com ela, é o que eu acho. E pelas demos que você me mostrou, cara, eu te garanto, não está uma merda.

— Eu sei que não está — digo, enquanto coloco os livros em seus devidos lugares. —, mas é como se ela fosse uma tutora ou algo do tipo. A cada crítica, sinto-me ainda mais motivado. De alguma forma, sei que ela não odeia a nossa música como diz odiar.

— Exatamente, ela só faz isso para te irritar. A diferença é que ela não é uma adolescente e faz com que você leve na brincadeira. Pelo jeito ela é árdua, e tal. E você acaba levando a sério a ponto de achar que isso é um jogo.

E não era? Johanna era uma mistura complexa de rebeldia e maturidade, juntamente de uma sexualidade volúpia, o sonho de qualquer astro do rock. Basta pensar nela, enxergar seu rosto em minha mente para que eu perca completamente a noção do tempo, do lugar, de tudo. Amo Arielle mais do que devo, e sua irmã simplesmente aparece para estragar tudo sem as mínimas intenções comigo. Johanna era diferente simplesmente pelo fato de tornar o fato de que ela penetra os meus pensamentos sem querer querendo, inegável. Isto é, poderia ser qualquer outra, até agora eu poderia negar, negar e negar. O fato é que no começo eu a queria morta por ser uma garota arrogante e insuportável, mas agora por ela me deixar louco.

Não fora algo da noite para o dia, vocês veem; tento passar a maior parte do tempo possível com Arielle, consequentemente tendo encontros e desencontros com Johanna. Ela, quando não está usando camisetas de banda (que, por serem justas, já tornam-se uma provocação), anda por aí com roupas vulgares. São meias-arrastão, shorts de couro, uma maquiagem tentadora. E ela havia cantado o Miles.

Tento deixar isso para lá e coloco o “Celebration Day” para rodar na televisão da lanchonete. Em instantes, um dos shows mais fodas da história da humanidade é transmitido e eu coloco no volume máximo. Jules não nota a minha presença ali, pois continua vidrado no celular, falando com a mesma paquera. O som de Good Times Bad Times me anima um pouco mais para continuar o irritante processo de empilhar os livros.

— Alex, abaixa isso, está muito alto! — reclama um dos funcionários. Acho que o nome dele era Jed.

Revirei os olhos e fui em direção às escadas. Mas uma voz me interrompeu.

— Não abaixa, eu gosto.

Viro lentamente, com pensamentos suicidas explodindo na minha cabeça. Lá estava ela, parada, com um vestido cinza curto e rasgado e meia-calça transparente.

— Acho que agora vou ter que me inspirar no som deles para que você não reclame mais, ou estou errado?

— Se você se importa tanto assim. — ela disse — Mas não vale a pena. Led Zeppelin é Led Zeppelin.

— Bem, nisso eu tenho que concordar. Enfim, o que você está fazendo aqui?
Ela riu. — Estou sendo uma cliente, será que não posso?

— Eu sei lá, com tantas livrarias na cidade...

— Você sabe porque eu gosto de vir aqui.

Engoli em seco. Merda, eu não podia deixar transparecer.

— Porque você está cantando o meu amigo?

— Não, tente de novo. — ela mordeu o lábio.

— Então, porque... Esquece. Precisa de ajuda com algum livro?

— Sylvia Plath, por favor?

Andei até a seção onde provavelmente estariam os livros da tal autora, e Johanna me seguiu. Procurei e procurei, mas eu me sentia extremamente desconfortável com ela me encarando ali.

Foco, Alex. Você namora a Arielle. Você gosta da Arielle. E você só precisa achar um livro para a irmã dela. Não é tão difícil assim.

O pensamento me reconfortou um pouco e voltei a me concentrar, para no final descobrir que não tinha livro nenhum.

— Temo que está fora de estoque. Perdão.

Johanna me encarou com um olhar lascivo e, depois de três segundos, me surpreendeu ao me puxar para um beijo.

Não pensei duas vezes e retribuí imediatamente – eu acabaria beijando-a de qualquer maneira, por mais que ela se revidasse. Johanna me beijava como se estivesse ansiando por aquilo há muito tempo, e verdade seja dita, eu também estava. Guiei-a para o fundo entre as duas estantes, apoiando as minhas mãos em livros que caíram em seguida. Suas mãos bagunçavam o meu cabelo, o meu cabelo demoradamente arrumado e colocado nos trinques, enquanto suas unhas arranhavam a minha cabeça. Ela demonstrava tanta técnica que nem parecia ser gêmea de Arielle. Pelo contrário, ela era o oposto da irmã. Era como se Arielle fosse o anjo, e ela o diabo em carne e osso. A minha própria espécie de demônio particular, destruindo completamente a imagem do homenzinho vermelho com um rabo pontudo.

Nos beijamos desesperadamente, Johanna geme baixinho entre os pequenos intervalos feitos para conseguirmos fôlego e isso me deixa mais estimulado ainda, o suficiente para que eu tente enfiar a minha mão por baixo de seu vestido. E é justamente nessa hora que Miles grita por mim, Johanna para de me beijar e a vida fica uma merda novamente.

Ela não faz uma pausa nem para dizer “não conte para ninguém”, apenas sai correndo porque sabe que se eu abrir a boca sobre isso sou um homem morto. Um homem morto pelas mãos dela. Eu estava entregue à ela, aquele beijo confirmara isso e não havia sensação pior.

— Céus, cara, o que você está fazendo aí? Vai me ajudar ou não?

Arrumo o cabelo e sigo Miles até a caixa que me causou desânimo novamente. Tudo aconteceu tão rápido. Nenhum sinal de Johanna na loja e eu não consigo parar de pensar nela. Johanna. Johanna. Johanna.


Logo depois desta situação incalculável, livros erroneamente empilhados e de um tempo refletindo sobre o quão arrebatadora Johanna era, finalmente consegui entender o porquê de Arielle não ter apresentado ela antes.

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