__ A-A-Alex? – tentei lutar contra a gagueira,
mas foi impossível. Um segundo depois, a
expressão de espanto relaxou e ele repuxou aquele característico sorriso de
lado, tirou os óculos escuro e redondo do rosto sedutoramente para depois
invadir meus ouvidos com seu timbre de voz suave e rouco.
__ Você de
novo senhorita?
Ficamos nos
encarando por alguns segundos até que eu finalmente me movi para pegar o
espanador em meus pés, estava tentando ganhar tempo até criar a coragem
necessária de dirigi-lo a palavra.
__ Deseja
algo? – perguntei desconcertada, tentando não olhá-lo diretamente nos olhos,
mesmo há alguns passos de distância eram ameaçadores demais.
__
Depende... Essa espelunca tem algo de bom? – murmurou com toda sua prepotência
enquanto varria o local com os olhos.
__ Depende
do seu conceito do que é bom ou ruim – contra ataquei. Ô sujeitinho
metido.
__ Vou ver
se consigo achar algo do meu interesse – murmurou passando por mim e indo em
direção a velha estante que eu limpava a pouco. Havia muitos discos lá, de Jimi Hendrix a Britney Spears, todos frutos de trocas ou doações.
Ele começou
a procurar entre os ínumeros discos enquanto eu voltei ao meu lugar atrás do balcão, já que não tinha
muito que fazer mesmo. Ele avaliava cada um dos discos que passavam por sua mão
despreocupadamente e assoviava descontraído, me restando apenas observá-lo,
mesmo que de costas.
Após longos
minutos Alex saiu de lá com dois discos na mão e veio até mim, neste momento
meu coração permaneceu com sua frequência cardíaca inalterada, já que eu estava
a todo o tempo me concentrando em não parecer uma idiota quando ele chegasse
perto.
__ São 10
dólares – murmurei mirando-o. Ele nada disse, apenas tirou a nota da carteira e
a jogou em cima do balcão. Eu o encarei incrédula, será possível maior falta de
respeito?
__ Que foi?
– perguntou dissimulado como se eu fosse algum tipo de retardada.
__ Eu tenho
mãos, então, por favor – murmurei gesticulando com a cabeça para a nota jogada
no balcão. Tá pensando o que? Só porque é gato e famoso pode me tratar do jeito
que quer é?
__ Você não
está querendo que eu... – ele apontou para a nota no balcão, repuxou aquele
sorriso que eu tanto odeio e logo depois cruzou os braços, com o sorriso ainda
maior e mais prepotente e olhos desafiadores. Sustentei o olhar o máximo que
pude, mas fui vencida por aquela imensidão negra e baixei o olhar, mirando meus
velhos tênis novamente.
Ele riu
debochado, tive vontade de xingá-lo, porém detive-me ao perceber que ele se
afastava indo na direção da porta. O dinheiro ainda estava em cima do balcão,
encarei a cena pasma e o filho da puta ainda teve o disparate de olhar para
trás e dar uma piscadela pra mim. Se o objetivo era me matar de raiva, ele
conseguiu passar bem perto.
Depois da
ilustre visita me mantive inquieta, olhava para a porta de tempos em tempos
numa agitação incontrolável. Tinha a impressão de que ele adentraria a porta à
qualquer momento. O sorriso debochado em seu rosto decorava minha mente, tentei
de vários artifícios para expulsá-lo de mim, liguei um vinil antigo do Elvis Presley,
tentei me concentrar em um dos milhares de livros ao meu redor e até mesmo
retomar a faxina interrompida por ele. Mas nada adiantou.
Quando o
relógio marcou 16: 30hs mesmo ainda faltando 30 minutos para o fim do
expediente, fechei a loja em tempo Record. Caminhei pela rua passando em frente
à enorme gravadora e rumei para o ponto de ônibus.
__ Ana! –
ouvi um gritinho de alegria assim que terminei de girar a maçaneta da porta
__ Oi Cata
– sorri de volta largando a mochila em um canto qualquer – Que animação toda é
essa?
__ Adivinha
só? Consegui entradas para a inauguração daquela mega boate lembra? – murmurou
abanando as duas entradas no ar – Eu sei que você não cur...
__ Sério? –
me aproximei pegando as entradas de suas mãos – E são VIP? – completei ao ver o
enorme VIP impresso na parte posterior do ingresso – Legal. Eu estou precisando
de distrações mesmo – murmurei menos animada.
__ Ainda
bem que você gostou da ideia, já estava cogitando ter de chamar outra pessoa.
Você nunca vai aos lugares que eu te chamo pra ir – ela pegou os ingressos de
volta e depositou um beijo em cada um deles. Rídiculo.
__ Agora
você já tem companhia – fui até a bancada da que separava a sala da cozinha e
peguei uma maça de cima dela – Que dia é mesmo?
__ Esse fim
de semana, menina o tempo passa voando... – desliguei a parte do meu cérebro
que abstrai o que Catarina diz. A partir daí com certeza o assunto viraria um
monólogo de longos minutos, as vezes eu até tentava prestar atenção no que ela
diz, mas são muitas palavras em um curto espaço de tempo, além do que Catarina
tem uma facilidade incrível para mudar de assunto e eu sempre acabo me perdendo
no meio do caminho.
O fim de
semana chegou para meu deleite. Era sábado e pude dormir até mais tarde,
Catarina andava elétrica pela casa com bobs no cabelo e uma mascara verde na
cara extremamente preocupada com o que vestir na grande noite enquanto eu comia
minha torrada tranquilamente e observava ela andar de um lado para o outro
freneticamente e fazendo combinações de roupa de cabeça.
__ Se
aquieta garota ou você vai ter um troço antes da festa.
__ Eu tenho
que estar PERFEITA, você não está entendendo, vai ter um monte de gente
importante lá. É a minha chance de ser descoberta!
__ Eu sei,
só acho que você tem que ter o pé um pouquinho fincado ao chão – Catarina vivia
sob a perspectiva de um dia virar uma grande estrela.
__ Eu estou
com eles bem fincados – murmurou de volta, levemente irritada.
Faltando
uma hora para o horário de sairmos, tomei banho e me arrumei relativamente
rápido. No fundo preferia ficar em casa assistindo um filme, mas eu realmente
estava precisando distrair a cabeça. Vesti-me de maneira relativamente simples,
porém elegante o bastante para aumentar minha autoestima, prendi a frente do
cabelo, me maquiei e sai logo do quarto, pois Catarina já estava tendo um filho
na sala de tanta ansiedade.
__ UAU você
está linda amiga – ela deu seu característico gritinho feliz, eu apenas sorri
de volta.
__ Obrigada
e nem preciso dizer que você está maravilhosa
__ Vamos
arrasar! – murmurou contente, rolei os olhos diante de tamanha empolgação
__ Anda
vamos logo!
A porta da
boate estava lotada de pessoas que esperavam para poder entrar e até mesmo quem
ao menos tinha convite. Graças ao divino nossos convites eram Vips, que nos
poupou de vegetar naquela fila interminável. O local era escuro, fumacento e
ensurdecedor tinha uma vaibe bem rock ’n roll. A decoração era baseada nos anos
60 e tinha discos, guitarras e conversíveis em miniatura nas paredes. Após
alguns segundos admirando o local, entrecortamos com certa dificuldade a
multidão na pista para chegar até as mesinhas perto do bar.
__ As
senhoritas desejam algo?
__ Hm eu
quero um Martine – ela praticamente gritou devido ao barulho e cruzou a perna
se sentindo adulta.
__ Eu quero
só uma agua com gás – falei em um tom acima do normal, ele anotou o pedido e
foi buscá-lo.
__ Você viu
que sonho esse lugar? Aquele ali não é o ator daquele filme famoso? – disse
apontando para uma área restrita no canto esquerdo.
__ Não sei
– murmurei de volta, na verdade não prestei muito atenção no tal ator, mas sim
em alguém atrás dele.
O tal
baterista do Arctic Monkeys, cujo o nome não faço a mínima ideia tinha uma
garrafa de cerveja nas mãos e conversava sorrindo com uma mulher que não me era
totalmente estranha.
__ Ana? –
Catarina me chamou desviando minha atenção – O que você está olhando?
__ Não nada
– Catarina não precisava saber.
__ Hm –
ralhou desconfiada, mas não me perguntou nada. O garçom voltou pouco depois com
as bebidas e ficamos caladas por um tempo.
__ Tá a fim
de dançar? – perguntou em expectativa, ela estava odiando estar ali sentada
pude ver em seus olhos e só por isso mesmo sem vontade aceitei o pedido.
__ Eba! –
ela pulou do banco em uma velocidade absurda e desamarrotou a roupa toda
animada. Catarina é um tipo de pessoa que fica feliz com muito pouco, eu ri e a
segui para a pista tumultuosa.
A pista
estava apertada e desconfortável, alguns homens vieram me chamar para
conversar, só que nenhum deles me chamou atenção o suficiente. Em todos faltava
algo que nao sei explicitar. Catarina ficou pasma e faltou me apedrejar quando
dispensei mais um.
__ Você é
doida? Quer me falar o defeito desse?
__ Não sei,
musculoso demais – respondi e ela negou com a cabeça. Não tinha o direito de
falar nada, já que também havia dispensado homens maravilhosos – tô cansada
vamos nos sentar?
__ Hurum –
concordou e então me virei para voltar à nossa mesa. Só não contava ser
praticamente atropelada por alguém, fechei os olhos com o impacto e senti algo
me molhar.
__ Cuidado
– Catarina gritou logo atrás de mim e senti suas mãos segurarem meus braços.
Abri os olhos e uma mulher me olhava com cara de poucos amigos.
__ Argh!
Olha isso? – gritei afastando a camisa molhada da pele.
__ Você
apareceu do nada na minha frente garota! – ralhou visivelmente entediada e
parecia não sentir nem um pouco por derrubar sua bebida na minha camisa branca.
__ Você que
praticamente passou por cima de mim! – revidei nervosa. Mulherzinha Cínica.
__ Tá
querendo dizer que a culpa foi minha é? – praticamente gritou tentando me
intimidar, algumas pessoas nos olhavam com curiosidade e aquilo estava me
incomodando. Mas eu nem sabia o que estava por vir. Ela ainda me encarava com
seus olhos grandes e verdes quando ouvi a voz que faz meu coração parar.
__ Que
merda está acontecendo aqui? – e então ele apareceu no meio da multidão, com a
expressão visivelmente irritada.
__Amor essa
garota está insinuando que eu joguei meu drink nela de propósito, mas eu juro
que não! – choramingou falsamente. Foi incrível como o tom de voz e a expressão
corporal da vadia ruiva mudaram de ameaça para vítima. Que ódio!
E então
Alex pousou suas orbes negras em mim, mais precisamente no transparente que o
líquido havia deixado bem em cima dos meus seios. Um leve sorriso brotou em
seus lábios e nesse momento eu soube que estava perdida.
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