Uma semana
após a loucura que foi trabalhar no festival minha vida parecia ter voltado ao
ritmo normal, não sem antes hibernar por dois dias seguidos. Catarina ainda
estava eufórica por ter conhecido e falado com seu grande ídolo e não perdia a
oportunidade de gritar para todos, mesmo que eles não queiram saber.
Ressaltando o quanto ele foi atencioso e gentil. Hoje especialmente ela estava
um pouco pior.
__ Aí é hoje Ana. É hoje! - dava pulinhos pela sala abraçando um urso que apelidara
carinhosamente de Alex - Nem acredito que eu consegui!
Cata havia
se inscrito em uma promoção de uma radio que estava sorteando um par de
ingressos por dia durante uma semana para o mega show que o Arctic Monkeys
faria na cidade. Ela ganhou e não preciso comentar os berros que tive de ouvir.
Não posso dizer que não fiquei feliz, só de cogitar a ideia de ouvi-lo cantar
ao vivo mais uma vez, meu corpo se arrepia. A imagem de seus olhos negros sobre
os meus e aquele sorriso contido e torto me serpenteavam a todo o momento,
todos os dias sem falha. Não sei se vê-lo de novo é uma boa ideia.
Como os
convites eram da pista Premium, pudemos chegar bem tarde, apenas uns 20 minutos
antes do show começar. A casa de shows estava completamente lotada, não havia
espaço para mais um ser humano sequer, o publico era bastante variado, pois a
banda atinge à vários gêneros, idades e ambos os sexos. Catarina e eu
conversamos com algumas pessoas próximas à nós até que as luzes se apagaram.
Os
integrantes entraram, como de costume o baterista tomou o último gole da
cerveja e se sentou em frente à bateria. Alex e os outros se posicionaram
rapidamente com seus instrumentos e a primeira música começou, não era a mesma
do festival, mas igualmente boa. O nome desta é My Propeller e
sim eu passei a semana ouvindo os discos, o fato de trabalhar em uma livraria
ajudou muito, mas o principal fator foi ter os discos no quarto ao lado.
No show não tirei
os olhos dele um segundo sequer. Ele estava tão perto que Catarina esticava o
braço ao máximo na ilusão de tocá-lo. Eu permaneci parada, apenas absorvendo a
energia da musica e gravando os traços perfeitos de Alex na memória.
O show foi
simplesmente perfeito, melhor que o festival e eu tinha a louca impressão de
que ele cantava olhando pra mim, isso já estava passando dos limites talvez eu
tenha que marcar uma consulta ao psicólogo. No final, quando o show havia
acabado um homem negro e musculoso de óculos e blusa preta com um crachá de
identificação ao redor do pescoço nos abordou.
__ As
senhoritas não desejam ir até o camarim? A banda costuma atender alguns fãs
após o show.
Arqueei a
sobrancelha achando aquilo muito estranho, afinal eles não pareciam ser o tipo
de banda que recebe fãs após o show e muito menos manda chamá-los quando estão
prestes a ir embora.
__ Não
brinca! - minha amiga gritou eufórica - Vamos lá o que estamos esperando?
Pensei em
exteriorizar minhas desconfianças, mas desisti com ela não adiantaria de nada
mesmo.
Seguimos
por um corredor atrás do palco até uma portinha que era o camarim. Não havia
uma fila de garotas esperando por autógrafos e fotos, só havia nós duas lá. E
isso me intrigou, talvez fosse um pretexto para um sequestro – pensei. Mas
assim que a porta foi aberta e avistei aqueles homens conversando
despreocupadamente, o pensamento foi descartado. E mesmo se fosse um sequestro,
eu não teria nenhum problema com aquilo. Catarina foi muito rápida, entrou no
recinto já pedindo fotos, autógrafos e etc. Eu entrei logo após, me mantive um
pouco mais afastada distribuindo sorrisos tímidos, porém simpáticos.
Alex me
encarava violentamente com aquele mesmo sorriso torto nos lábios, mas hoje
havia algo de diferente nele, um ar diabólico talvez. Não tive tempo para
filosofar, pois logo depois uma mulher passou ao meu lado, quase correndo e foi
na direção dele, atirando-se em seu colo. Um beijo apaixonado foi trocado e
logo depois sorrisos decoraram seus rostos. Tive vontade de chorar, eu sei que
é uma bobagem sem tamanho, mas o ódio e inveja que senti daquela mulher, alta,
linda e de cabelos incrivelmente ruivos foi imensa. Forcei-me a olhar para o
outro lado esperando a cena melosa terminar e os ataques da Cata pararem.
__ Essa é a
minha amiga Ana Clara, ela é um pouco tímida não liguem – a voz dela me chamou
atenção e olhei instintivamente pra ela, tenho certeza que minha cara não era
das melhores.
__ Olá – o
baterista que adora cerveja acenou com a mão e os outros fizeram o mesmo.
Acenei de volta sem esboçar sorriso, Catarina já era o suficiente.
__ Então?
Vamos tirar as fotos logo? –perguntei querendo me livrar logo daquela situação,
a ruiva ainda estava pendurada no pescoço do Alex e aquilo me irritava
profundamente.
__ Sim
claro – eles começaram a se mexer, Alex se levantou do sofá vindo até mim, logo
os outros fizeram o mesmo, assim como Catarina.
Alex passou
seu braço ao redor do meu ombro e foi o suficiente para que eu perdesse
completamente a linha do raciocínio. Que homem é esse? Pensei ao senti-lo
curvar um pouco o corpo, ficando ainda mais colado à mim. O cheiro de tabaco
era menos gritante dessa vez, mas mesmo assim eu pude senti-lo perfeitamente.
Um dos seguranças tirou a foto e quase fui cega pelo flash da câmera.
__ Bom... –
murmurei querendo engatar uma despedida – Temos de ir agora, amanhã acordamos
cedo.
__ É
verdade – Catarina concordou contrariada – Temos de ir, mas foi ótimo. Obrigada
por disponibilizarem esse tempo.
__ Não há
de quê – Alex sibilou sorrindo e foi ao encontro da ruiva que tinha uma
expressão de tédio.
Mesmo
depois de ter saído do camarim, me sentia em estado de choque, sentia os
efeitos dele em minha pele. Forcei-me a repelir os pensamentos inapropriados
para com aquele ser inatingível, porém os comentários de Catarina de sobre como
todos estavam lindos e perfeitos não ajudaram muito.
Ao
chegarmos em casa, tratei de tomar um banho e esquecer tudo o que havia
acontecido, eles voltariam para Londres e me deixariam em paz.
No outro
dia acordei bem cedo para ir à escola, fui até a cozinha e liguei a cafeteira
para que quando voltasse o café já estivesse pronto. Arrumei-me, o dia estava
frio então limitei-me ao velho all star, jeans, camiseta e um casaco por cima.
__ Bom dia
Ana – Catarina disse alegremente enquanto tirava o café da cafeteira e colocava
à mesa.
__ Bom dia
– murmurei um pouco lerda, por conta do sono – Você está animadinha hoje
hein...
__ E tem
como não estar? Eu vi o Alex. Duas vezes!! – completou fazendo um dois com os
dedos, eu apenas concordei sem vontade e me juntei a ela na mesa, tomamos café
rapidamente já que como sempre estávamos atrasadas.
***
__
Atrasadinha como sempre – ouvi um murmúrio ao meu lado enquanto retirava meus
livros do armário, sorri ao perceber que era Daniel. Um grande amigo.
__ Oi Dan –
fechei o armário e sorri para aquelas orbes azuis e perfeitas bem em minha
frente.
__ Nossa o
que aconteceu com você? Está com cara de quem não dormiu nada.
__ É minha
noite não foi muito boa mesmo, quase não dormi.
__ O que
você andou fazendo hein? – sua voz desconfiada e sua sobrancelha levantada me
fizeram sorrir antes de respondê-lo
__ Tive de
aturar os chiliques da Catarina ontem no show dos Monkeys.
__Vixê ela
pro lado desses caras...
__ Pois é –
murmurei enquanto caminhávamos lado a lado até a sala.
A manhã
cinzenta e fria se arrastou lentamente. O horário do almoço chegou para meu
deleite Daniel, Catarina e eu almoçamos juntos como todos os dias no refeitório
do Colégio. Catarina não parava de falar sobre o show, fato que arrancou
algumas caras e bocas de Daniel que não tinha tanta paciência.
__ Aí seu
chato! – ela murmurou ao perceber as caretas que ele fazia.
__ Chato
eu? Você não parou de falar desses caras desde que chegou! Chega né?
__ Você
está com inveja isso sim
__ Chega
vocês dois – murmurei cansada daquela ladainha, os dois sempre arrumavam uma
desculpa para brigarem.
__ Ele que
começou – ela gritou indignada
__ Eu tenho
que trabalhar – me levantei da mesa e peguei minha mochila completamente
irritada – Te vejo a noite Catarina, até amanhã Dan.
__ Até – os
dois murmuraram juntos e logo depois se olharam, rindo do acontecido.
Meu
trabalho era simples. A única funcionária de uma pequena “livraria”, como Sr.
Smith insistia em chamar aquilo que você conhece popularmente como sebo.
O lugar era
pequeno e aconchegante, situado em uma avenida esmagado por dois enormes
prédios comerciais; de um lado uma grande gravadora, do outro uma empresa de
contabilidade, ou seja, o local é praticamente invisível. Quando eventualmente,
um cliente entra costuma ser alguém bastante interessante que aprecia a leitura
ou coleciona discos antigos. Muitas das vezes alguns músicos da gravadora ao
lado passam por aqui, porém na maioria das vezes não encontram nada do seu
interesse.
Apesar das
crises de espirro provocadas pelo pó e cheiro de mofo característicos dos
livros velhos nas antigas e maltratadas prateleiras do fundo, eu gosto de
trabalhar aqui. É silencioso, um lugar em que posso usufruir dos diversos
livros disponíveis e por vezes adiantar alguma lição do colégio, mas na maioria
das vezes eu apenas coloco a velha vitrola para tocar algum disco e fico
vagando em pensamentos enquanto observo o mundo que se passa fora da vitrine de
vidro.
Meu expediente
havia começado a menos de 5 minutos e minha crise de espirro já tinha começado.
Decidi então fazer uma faxina no local, afinal era eu quem ia ficar espirrando
que nem uma louca o dia inteiro se não o fizesse. Por isso decidi com a cara e
a coragem espantar a preguiça do meu corpo.
Resolvi
começar pelos discos, minha sessão favorita da loja, enquanto espanava-os ainda
tomada pela preguiça mortal que me assolada, escutei o barulho do sino que
avisa quando um cliente entra na loja. Oh ótimo, esse lugar passa dias sem
receber uma pessoa sequer e justamente hoje me aparece alguém?
Virei-me
para receber seja lá quem fosse, mas meus olhos desacreditaram do que viram.
Deixei o espanador cair sobre meus pés, aquilo não podia ser possível.
Alex estava
parado perto da porta e rolava os olhos pelo local, procurando por algo. Por
mim, a balconista. Quando me despertei do estado latente de choque que meu
corpo se encontrava, pigarreei alto e ele direcionou o olhar para mim. Parecia
estar tão surpreso quanto eu.
__ A-A-Alex?
– tentei lutar contra a gagueira, mas foi impossível. Um segundo depois, a
expressão de espanto relaxou e ele repuxou aquele característico sorriso de
lado, tirou os óculos escuro e redondo do rosto sedutoramente para depois
invadir meus ouvidos com seu timbre de voz suave e rouco.
__ Você de
novo senhorita?
O/ hello sua linda ! era do Nyah e estou aqui acompanhando tudo, é tão perfeito ler os capitulos de novo *o* bom...só passei pra dizer que estou aqui acompanhando as novidadeeeeeessss hahaha, beijoss
ResponderExcluirHAHAHAHAH Fico muito feliz que esteja acompanhando... vou postar todos e continuar de onde parei! Um beijo
ResponderExcluirNana
Kkkkk' Ta eu fiquei assustada agora. Fala sério eles tem imãs dentro deles ou oque?
ResponderExcluirEu gostei do capitulo, ficou bem legal.
hahaha acho que mais ou menos isso. O fato é que tem uma gravadora ao lado do sebo (Não sei se vc se apegou a esse detalhe) então...
ExcluirFico feliz que tenha gostado *-*