(D)evil Twin 05: Born to be Bad.

N/A: Capítulo novinho pra vocês! E com capa nova e uma das melhores das Runaways!








— Cara, você tá legal? — perguntou Jules, analisando minha expressão de tédio.

— Eu sei lá. — tomei um gole do café que ele havia preparado. Enquanto isso, Miles atendia um casal adulto, e eu poderia jurar que se não fosse pelo seu entusiasmo, sua simpatia e seu “personagem” que incorporava numa venda essa livraria já teria ido para o saco.

Em outras palavras, Miles era a razão de aquele negócio ainda estar de pé. Eu não havia atendido mais de quinze pessoas durante uma semana e aquilo meio que me deprimia, mas não tanto.

— Tem certeza? — ele disse, mesmo sabendo que a resposta era um óbvio “não”. — Porque não é o que parece, sabe.

— Problemas, Jules. Muitos deles.

— Desembucha. — abocanhou um pedaço de coxinha. — Porque se for para encher linguiça, é melhor deixar para lá mesmo.

Respirei fundo, me apoiando na vitrine morna de salgados. Encarei uma empada sem saber o porquê. Respirei fundo e voltei meu olhar para Jules.

— Suponhamos que a irmã da sua namorada seja uma tentação...

— Oh, cara, minha nossa...

— Não acaba por aí. Ela é daquelas que te odeia, mas você a segue para onde ela for sem saber o motivo.

Jules congelou com uma expressão de “cara, agora fudeu tudo”. Foi quando percebi que a minha situação era pior do que parecia.

— Continue.

— E quando você vê, você já está sofrendo na mão dela pela segunda vez, sem nem mesmo saber da primeira.

— Cara... Quer saber de uma coisa? — ele botou sua mão sobre o meu ombro. — Se a garota é realmente uma tentação, boa sorte. Porque não vai ser fácil, amigo, eu sei do que você está falando.

Engoli em seco, concordando.



(...)


Abri a porta, fazendo o sininho tocar. A loja de discos onde Nick trabalhava era humilde, e a decoração era de deixar qualquer um de queixo caído. Vinis pendurados, luzes de natal contornando as estantes, pôsteres e tudo o que alguém pode imaginar encontravam-se lá.

— Como posso ajuda-l.... Ah, é só você. — Nick apareceu à minha esquerda.

— Há-há-há, muito engraçado.

— Terminou o turno mais cedo hoje?

— Algo assim. — eu disse, examinando um vinil dos Beatles. — Parece que ninguém quis comprar livros hoje.

Nick deixou os ombros caírem. — Poxa, isso é bem chato.

— De uma certa forma, sim. Por outro lado, John não nos vigia e podemos lanchar a hora que quisermos já que Jules não nos dedura.

— E quem faz os lanches?

— A irmã dele. Mas ela só não conta porque eles tem uma trégua assim como todos nós, e se ela contar a trégua acaba e Jules para de ajudar ela a pagar a aula de desenho que ela faz nos finais de semana.

— Entendo. Enfim — ele começou, animado —, não sabe quem passou por aqui hoje.

Na verdade, eu sabia. A resposta começava com JO e terminava com HANNA. O negócio é que quanto menos eu soubesse daquela garota, melhor. Então o certo a fazer era esquecer que ela existia.

Só que isso se tornava impossível às sete e quarenta e cinco da noite, quando a mãe de Arielle chega em casa e desconta a raiva do trabalho em discussões onde Johanna é a que venceria no quesito gritaria.

— Quem?

Nick riu. — Johanna, é claro!

— Hm.

Ele olhou para mim, confuso. Em resposta, imitei sua expressão facial de uma forma mais engraçada.

— “Hm?” Como assim “hm”? Não vai querer saber o que ela levou?

— E por que eu deveria? — eu disse, me encaminhando para a seção de CDs.
— Não seja bobo, Al. Nós dois sabemos que você quer a análise completa do que aconteceu hoje mais cedo, até a cor da calcinha dela.

Me virei para ele, espantado. Perguntei a ele como ele sabia a cor e me arrependi instantaneamente, porque ele caiu na gargalhada. Só então percebi que ele não falava sério, mas eu sim. Isso pode ser um péssimo sintoma.

— Cara, se a Arielle descobre...

— Vá se foder! — o cortei. — Você nem pense em dar uma palavra sobre isso para ela! Nada rolou com a irmã dela e nem vai rolar.

— Se nada rolou — continuou —, por que está tão preocupado com dedo-duro?

Olhei para Nick com nojo. — Você... Argh! Será que podemos mudar de assunto?

— Ela é realmente bipolar.

— Você não me escutou?

— Sim, eu escutei. Não significa que eu necessariamente vou atender ao seu pedido.

— Tecnicamente, você precisa atender ao meu pedido, já que o funcionário aqui é você. — Ponto para mim!

— Usando o meu trabalho como desculpa para fugir do assunto. Alex, você já deu desculpas melhores. — ele disse, dando tapinhas no meu ombro.

Respirei fundo, lendo as faixas do Sabbath Bloody Sabbath.

— Ela levou o último do Exodus. Sabe o que isso significa, não é?

— Não. — neguei, sem tirar os olhos do material.

— Que a garota é durona pra porra.

— É, eu percebi. Mas só por que ela escuta Exodus? Grande merda, Nick. Não é legal julgar os outros pelo gosto musical, por mais que ela tenha esse perfil.

Nick cruzou os braços, se apoiando na grande estante. — Você tem razão, Alex. Mas aquela garota não foi educada com você nem tentando. Além do mais, me avise no dia em que encontrar uma garota delicada e frufru cujos ouvidos não veneram nada além do Slayer.

Revirei os olhos. Infelizmente, Nick estava certo. E Arielle também. A música muda mesmo as pessoas.

— Ah, e à propósito, a inscrição para a Batalha das Bandas será aqui mesmo no sábado que vem. Eu não vou estar aqui porque é meu dia de folga e eu consegui um encontro.

— É mesmo? Isso é legal. Qual é o nome dela?

— É Amy.

— Ela é legal?

— Ela é extraordinária.

Sorri. — Boa sorte, parceiro! E pode deixar que eu faço a inscrição assim que sair do meu turno.

— Obrigado, amigo. Eu aviso aos caras. Agora se manda antes que meu chefe corte metade do meu salário porque fiquei de papo com você.



(...)


— Olá? Alguém em casa? — eu disse, fechando a porta e jogando as chaves na mesinha de centro da sala. Não obtive respostas, mas Jamie encontrava-se na janela, olhando para baixo. Uma música não muito alta, mas o suficiente para se escutar de maneira clara, tocava.

— Cara, a sua namorada tem uma banda e você não nos fala? — Jamie disse, com um sorriso no rosto.

Fiz uma careta.

— Arielle não tem uma banda. Ela nem deve estar em casa agora. Ela trabalha no shopping center até as seis, esqueceu?

— Bom, eu nem mesmo sabia, então obrigado pela informação por mais inútil que ela seja na minha vida. — bufei. — Se ela não tem uma banda, então o que é isso aí embaixo?

— Eu não sei e não quero saber. Eu preciso é cochilar.

Me dirigi até o meu quarto, porém o som pareceu ficar mais forte, mesmo não vindo do quarto de Arielle que ficava logo abaixo. Seria impossível até mesmo descansar com aquela música.

Soquei o travesseiro umas quatro vezes, bufei, olhei para o teto. Não tinha como ignorar. Essa era a pior parte.

— Aaahh, mas que merda! — resmunguei, me levantando e indo em direção à janela.

Levantei o vidro e desci as escadas cautelosamente. A janela de Arielle estava destrancada, mais tarde ela levaria um sermão por isso. Entrei no apartamento, torcendo para que ninguém me notasse. Mas, de repente, a porta se abriu e uma força mágica vinda do nada fez com que eu me escondesse a tempo.

— Tem certeza de que ela tem um batom vermelho? — uma voz perguntou.

— Absoluta. Ela não sai de casa sem passar. Tem até tons diferentes, mas que são a mesma coisa, sabe? Chega a ser assustador. — era a voz de Johanna.

Levantei um pedaço do edredom, podendo ter a visão dos pés de Johanna e da outra garota. Ambas usavam botas e eu não conseguiria dizer qual tinha mais tachinhas. Johanna parecia usar uma meia calça rasgada, já a outra não usava nada.

— Acho que prefiro o batom vinho.

— Eu também. Combina mais com esse seu cabelo preto.

— Ei, não fale assim dele. Falando em cabelo, quando você vai dar um trato no seu?

— Bom, quem sabe agora mesmo?

As duas ficaram em silêncio e minha curiosidade aumentou.

— Sua irmã tem tesoura para cabelo?

— Deve ter, é ela quem corta... — disse Johanna, abrindo milhões de gavetas ao mesmo tempo. — Ahá! Eu disse.

Johanna! Valerie! Por que a demora? — outra voz gritou.

— Estamos indo, vadia! — gritou Johanna, em resposta. — Acho melhor deixar isso para depois.

— É verdade, vamos ensaiar.

As duas saíram, deixando com que o salto alto das botas fizesse barulho pelo corredor. Esperei alguns minutos para checar se tudo estava livre e então me levantei assim que o som começou novamente.

Então Johanna tinha uma banda. Interessante. Muito interessante.
A batida começou lenta, como se fosse a primeira música a tocar em um filme dramático sobre uma ex-stripper. Caminhei lentamente até o quarto onde todas estavam e avistei a cena, escondido.


Bodies without minds
I hear you're the ones with the bleeding hearts
Blue and bitter sweet
You tear my dreams apart.


Johanna estava inacreditável, isso era de se admitir. Vestia uma jaqueta de couro cinza por cima de um vestido vermelho-sangue que contornava seu corpo de uma maneira que me deixara louco no mesmo instante. Um elástico preso à sua lingerie impedia que suas meias-calças caíssem, e meu doce Deus, que pernas.


'Cause I was born to be bad
I'm not sad
And I'm glad I did it
Born to be bad
I'm not sad
I think you should all get with it.


A letra da música caracterizava-a perfeitamente e o fato de ela ter sido cantada por sua voz deixou a coisa melhor ainda.

Analisei as outras garotas. Aquelas sim pareciam ter dezessete anos, talvez uma delas vinte. No caso, essa seria a guitarrista, que depois de um monólogo no meio da música fez um solo do caralho, e eu fui sortudo o suficiente para ver aquilo de perto com um bônus de Johanna rebolando lentamente e sacudindo os cabelos ao som dos acordes em sequência. A baterista, de cabelos curtos e repicados, parecia uma garota da sétima série, mas que para seus colegas aparentava ser mais velha pelo seu estilo. A baixista tinha dois piercings na boca e um cabelo louro platinado com mechas pretas e uma franja pra lá de estranha.


I want ya to bring me his ears
to satisfy my mad desires
And if it bites the dust
I guess you're just gonna have to miss my fire


Mais um refrão e a música terminou. Saí dali só porque eu ainda tinha um resto de juízo na cabeça. E Johanna também. Eu precisava de um cigarro.


Eu precisava muito de um cigarro.

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