505 (Extended Version): Track 3 - Side A

Eu não fui pra faculdade naquela quarta-feira, me atrasei, havia sobrecarregado meu corpo no dia anterior e resolvi que ficar em casa era a melhor escolha. Liguei pra Martinéz e avisei que estava doente. Menti, mas como ela havia me visto no dia anterior, acreditou e disse que conversaria com o senhor Williams.
Estava com aquela cara de quem havia perdido a guerra no balcão da cozinha, tentando fazer uma associação com o sonho da noite mal dormida com o pesadelo que fora o dia anterior. Era um sonho confuso, onde eu pegava uma bicicleta e cruzava a ponte do Brooklyn dando voltas infinitas por ela, mas sem conseguir sair. Passei a mão pelos meus cabelos, tentando focar minha cabeça em alguma coisa enquanto minhas mãos abriam o filtro de papel e colocavam dentro da cafeteira.
Ouvi a campainha tocar e me surpreendi. Por um minuto comecei a imaginar quanta gente não me chamava enquanto eu estava em casa. Depois, com toda a minha lerdeza matinal, me esquecendo completamente que eu estava apenas com uma camisa gigante e velha da banda Black Label Society. Abri a porta desconsiderando qualquer empecilho visual e encontrei um Alexander visivelmente igual a mim me esperando.
Quer dizer, não perfeitamente igual, ele estava com uma camisa decente, um jeans velho e devidamente calçado, mas era nítido que ele nem sequer havia se importado em arrumar seus cabelos castanhos.
- Posso entrar? – De início achei que ele estava sendo um tanto quanto grosso em falar daquele jeito, mas estava tão cansada pra brigar que eu apenas dei espaço para que ele entrasse e respirei fundo enquanto ele passava do meu lado. Achei que ele estava sendo grosso por causa de sua voz, rouca, seu olhar ríspido que vinha de baixo para cima.
- Obrigado por me levar pra casa ontem e desculpa pela situação que eu te fiz passar ontem. – Ele disse enquanto sentava na bancada e eu voltava para o meu café logo depois de fechar a porta. Liguei a cafeteira e virei meu corpo para ele, encostando minha cintura no granito e olhando para ele com a mão na lateral do corpo.
- Tudo bem... – Ele sorriu para mim, confesso que ele tinha um belo sorriso. Desses sorrisos que fazem com que as pessoas se sintam em casa. Mordi o lábio inferior e apenas deixei aquela situação acontecer. – Eu encontrei um papel com meu nome...
Eu ia completar quando ele abriu a boca, surpreso, mas sorriu logo depois como se soubesse do que se tratava.
- Uma vez o porteiro disse que você estava viajando e que ele iria entrar de férias, que era pra eu te entregar uma encomenda, mas parece que você chegou algumas horas depois de ele ter me comunicado... Algo assim.
Ele disse dando de ombros. Lembrei-me da tal encomenda, era um Box do Senhor dos Anéis que seria o presente de aniversário do Peter.
Peter não gostava muito dos meus livros, mas eu sempre acabava me tornando uma escrava dos seus gostos. Ele parecia não ligar para mim as vezes também, quando nos víamos ele acabava dormindo no meu colo, reclamava do fato de eu gostar de livros de dois séculos atrás e se achava superior a mim em qualquer coisa.
- Ah sim. Obrigada por se oferecer... – Sorri um pouco sem graça, escutando a cafeteira fazer barulho indicando que o café estava pronto.
Peguei minha caneca ao lado dela e virei todo o conteúdo nela, bebendo o máximo que eu podia.
- Quer café... Alexander né? – Meu tom de voz saiu completamente cansado, como quando se toma água rápido demais depois de um exercício físico pesado. Alexander sorriu de lado, negou com a cabeça e mordeu o lábio inferior logo em seguida.
- Alex... Ok? Alex. Todo mundo me chama assim. – Ergui a sobrancelha e movi levemente meu corpo para trás demonstrando toda a minha surpresa.
- Eu não te conheço o suficiente para te chamar assim. Desculpa, ok? – Alexander deu aquela risada alta, cobriu levemente a boca fina com seus dedos enquanto ria. Senti-me muito errada naquele momento. Comecei a me perguntar em que momento eu havia falhado.
- Espera... Você nunca ouviu falar de mim? – Olhei para ele completamente sem reação. Sua mão estava apontando para si mesmo. Eu via aqueles dedos, aqueles mesmos que estava em seus lábios poucos minutos antes, apontando para aquela camisa branca. Se auto-afirmando “Você nunca ouviu falar de mim?” Me pergunto se deveria realmente saber quem aquele homem era.
- Sinceramente? Não. – Virei de costas e abri a geladeira. Eu estava conhecendo aquele sujeito, mas também estava conhecendo parte da sua arrogância e egocentrismo.
- Eu tenho uma banda. Ela se chama Arctic Monkeys. – Acenei positivamente com a cabeça enquanto virava em direção a ele e colocava um pouco de leite no café.
- Nunca ouvi falar. – Respondi com frieza enquanto me aproximava da bancada onde ele estava sentado, mas não fui e fiquei ao lado dele. Fiquei do outro lado observando aqueles olhos castanhos ficarem completamente perdidos. – Se você é tudo isso, porque mora no Brooklin e fica bêbado na porta do apartamento das suas vizinhas?
Ele congelou. Pude ver.
Naquele momento notei tudo o que havia feito e fiquei completamente gelada. Notei que havia devolvido em dobro toda a grosseria dele. Não sabia pra onde olhar, não sabia o que sentir. Quis pedir desculpas por tudo, quis sumir. E foi nesse momento que ele começou a falar.
- Você já se apaixonou, Daniela? – Meus olhos se perderam tanto quanto os dele segundos antes. Vi meu olho se mover para todos os cantos, sem achar um ponto fixo, buscando uma explicação para toda aquela situação. Aquela pergunta desencadeava outras dentro da minha cabeça. E eu sentia que poderia entrar enlouquecer se pensasse demais sobre o assunto.
- Já... Eu...  – Seu dedo se ergueu mandando que eu esperasse e me calasse.
- Pare e espere um segundo.  Não me olhe desse jeito. Nem ouse usar esse tom. Eu conheço muito disso. – Fiquei um pouco perdida. E ele continuou a falar. – Já se apaixonou por alguém e essa pessoa ficou com você, mas acabou te largando?
Olhei para baixo. Acabei aceitando aquela situação. Era como se eu pudesse sentir que Alex estivesse apenas lendo a minha mente.
- Sabe o que eu sou, Dani? Eu sou um caçador de sentimentos. – Ele disse. Sua voz soou tão profunda que fui obrigada a olhar em seus olhos de novo. E eu pude sentir o quanto aquelas duas bolas escuras estavam firmemente me encarando e de certa forma me intimidando. – Os meus, os de todo mundo. Eu caço, capturo e transformo em música. Tudo o que eu sinto é cinco vezes mais intenso.
Seus olhos se mantinham firmes nos meus e eu senti minhas pernas ficarem bambas. Segurei na bancada de leve, de forma com que ele não percebesse o que estava acontecendo enquanto ele falava.
- Ela me largou há alguns dias. – Ele comentou comigo e eu comecei a ver lágrimas brotando lentamente de seus olhos. – Vou confessar pra você que eu estava até mais equilibrado, passando mais tempo com meus amigos, com mulheres... Mas aí eu vi uma mulher chorando no elevador. Ouvi vidros quebrando, gritos... Não gritos de dor, mas de raiva. Ouvi uma mulher descompensada amaldiçoando o vento... E aí eu me vi em você. Era você despertando um sentimento que eu achei que tinha adormecido.
Me lembrei da sombra no elevador. Era ele.
Achei um pouco estranho, mas ele havia me dito que era um caçador de sentimentos, logo supus que ele pudesse ter “absorvido” o que eu sentia enquanto me observava. Comecei a me questionar se ele não tinha escrito nada sobre aquilo.
- Olha... – A visão dos meus olhos voltou a aparecer em minha mente, que havia sido tomada pelos meus próprios pensamentos. E lá estava Alex, fungando o nariz, que estava levemente vermelho como na noite anterior. Com a cabeça virada para cima com quem quisesse fazer com que as lágrimas que estavam prestes a cair voltassem para seus olhos. – Eu só vim aqui te convidar pra ir ao meu show no sábado. Não sei nem porque entramos nesse assunto.
E de repente eu vi aquele homem arrogante se transformando no poeta mais sensível de todo mundo e comecei a me compadecer dele. Minha vontade foi verdadeiramente de abraçá-lo, mas o meu corpo novamente obedeceu as minhas próprias noções de “eu devo?”. Que no caso da dúvida a resposta do meu cérebro sempre era negativa.
- Eu vou. – Tentei sorrir para animá-lo. Ele estava um pouco sem graça quando respondeu a minha animação. Seu sorriso foi meio bobo enquanto ele passava a mão sobre os olhos para poder secar as lágrimas que estavam por vir.
- Então, quando chegar lá dá seu nome que o segurança vai te levar pro camarote ok? – Eu não conhecia a banda dele, mas eu tinha uma ótima oportunidade de poder escutá-la. Sorri acenei com a cabeça e ele se levantou.
- Novamente obrigado por ontem, Daniela. - Eu sorri e notei o quanto meu nome ficava bem quando aqueles lábios finos e rosados o pronunciavam e quando aquela voz grossa e rouca falava em todos os tons e notas que ela soltava.
- Não precisa agradecer.  – Eu disse enquanto ia em direção a porta. Ele colocou a mão no meu ombro. Achei que ele iria dizer algo, mas apenas foi embora sem fazer nada.
E enquanto ele ia eu via...
A forma que ele andava, que ele agia, como ele parou no meio do caminho para acender um cigarro e com a calma mais nítida do mundo continuava a andar em direção ao seu apartamento.
Eu gradualmente fechava a porta observando aquele homem ir embora. Enquanto ele se virava pra fechar a porta eu tranquei a minha. Não quis deixar na cara que eu o observava de todas as formas possíveis.
Ele me intrigou.
E eu gostava dos homens poetas. Dos homens que sentem.
Eu gosto dos homens que choram, porque neles eu sinto toda a humanidade do mundo, não apenas aquela forçada e ridícula imagem de pedra que formam da personalidade masculina.
Eu gostei de Alex.
Assim... De segunda vista.
Ou da primeira na qual eu comecei a enxergá-lo como alguém que existia. Não apenas um clichê de vizinho problemático e barulhento.
Ou apenas uma sombra ao meu lado caçando meus sentimentos.
Alex era mais que qualquer coisa que eu pudesse vir a cogitar. E eu mal podia esperar para começar a explorar o que ele era de verdade.

3 comentários:

  1. hmmmmmmmmmmmmmm explorar hem! Safadannn!

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  2. Maaaaais! Muito bom <3

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  3. Meu deus, que paixão que eu tenho por essa fic e por esse teu alex <33333 SÉRIO
    Além da Dani ser minha alma gêmea...
    Tirando o fato que NUNCA mais comento pelo celular que faz com que meus comentários sumam, é um êxtase ler um cap novo de 505, esse ponto de vista fica cada vez mais maravilhoso, tô morrendo pra ver logo a Dani explorando o Alexinho
    BJBJ

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