Antes mesmo que
eu pudesse falar algo, Lucy já olhava para mim com um sorriso malicioso.
- Aquele era Alex
Turner? – perguntou assim que eu a alcancei.
- Em carne e
osso.
- E tesão. Deus,
eu daria tudo para passar uma noite com aquele homem.
Eu arregalei os
olhos e ela riu de minha expressão.
- Vai dizer que
você não faria o mesmo?! O que você estava falando com ele, afinal? E o que ele
está fazendo aqui?
- Ele é... Nossas
mães são amigas. Lembra que eu falei que morei um tempo em Sheffield? Foi na
casa da mãe dele. Ela vai ficar uns dias
aqui, machucou a cabeça e precisa ficar em observação.
Lucy abriu sua
boca em um ‘o’ perfeito.
- Você está
falando sério? Eu. Não. Acredito.
- Eu também não
acreditei quando soube, mas foi só um alarme falso. Ela está bem...
- Eu não estou
falando da mãe dele ou sei lá – ela balançou as mãos um tanto histérica – Você
tem noção do que acabou de falar?
- Depende de qual
parte - arqueei a sobrancelha não entendendo o que ela queria dizer.
- Meu Deus,
Grace. É o Alex Turner! O que mais você quer?
- Eu não quero
nada...
Lucy parou e me
sacudiu pelos ombros.
- Você tem uma
chance de ouro em sua mão, sabia? Uma chance que toda a mulher num raio de mil
quilômetros daria seu par de sapatos mais caro para ter. Por que você não
investe nele, garota?!
Eu analisei por
um segundo e ela parecia realmente estar falando sério.
- Desculpe Lucy,
se você quiser, pode ir em frente. Mas eu, nem em um milhão de anos me
relacionaria com alguém como ele. Você já ouviu o que dizem sobre a vida de
Turner? A mãe dele fica se perguntando se de fato ele fica dormindo com todas
essas mulheres que dizem ter ficado com ele.
Ela rolou os
olhos e então continuamos a andar.
- Você vai com o
pessoal no bar hoje à noite? – perguntou mudando de assunto.
- Eu não estou
com animação para sair, assim que terminar o turno eu vou para casa.
- Grace... Você
tem que aprender a viver a vida.
...
Se viver a vida
significava ficar em casa, deitada no sofá assistindo seriados e comendo todas
as besteiras possíveis era exatamente o que eu estava fazendo. Só percebi o
quanto decadente estava quando assisti a uma temporada inteira de American
Horror Story, o seriado que um amigo havia indicado. Quando menos esperava,
tudo ficou escuro e eu me entreguei ao sono que tanto ansiava por me dominar.
Um barulho
irritante começou a ecoar distante em minha mente. Era o meu celular tocando.
Sem vontade alguma, tateei o sofá a procura do aparelho, olhei na tela e vi que
ainda eram oito horas da manhã e quem me ligava era Jake, meu amigo.
- Alô? – minha
voz era falha.
- Você estava
dormindo? – seu tom descontraído me passava a sensação de que ele sorria do
outro lado da linha.
- São oito da
manhã, o que mais eu estaria fazendo?
- Deixe-me
pensar... Não sei, se arrumando para feira do abrigo animal?
Minha boca
escancarou. Eu tinha esquecido completamente que havia me oferecido para ajudar
na organização.
- Droga... Eu vou
me arrumar rápido, eu chego ai em meia hora – falei já me levantando.
- Tudo bem, vejo
você daqui a pouco. Tchau.
Apressadamente,
troquei de roupa, escovei os dentes e passei a mão pelo cabelo para que eu não
parecesse uma bruxa descabelada, o que não deu lá muito certo. Peguei minha
bolsa e saí em passos largos pelo corredor. Desci as escadas correndo, pois não
havia elevador no meu prédio e já do lado de fora, acenei para um táxi que
passava naquele exato instante, para minha sorte.
- Para onde vai,
senhorita? – o simpático motorista perguntou.
- Abrigo Animal
Wakers.
...
Chegando lá, o
pessoal já organizava as tendas no estacionamento a frente do abrigo. Avistei
Jake colocando os filhotes de labrador no cercado, enquanto eles brincavam uns
com os outros.
- Bom dia, bela
adormecida – me cumprimentou sorrindo.
- Bom dia, Jake.
Ou melhor, senhor Despertador.
- Se não fosse eu
você nem estaria aqui e as pessoas iriam comentar sobre como Grace Portman não
cumpre sua palavra.
- Você tem razão
– disse concordando com a cabeça – Obrigada.
- Não há de que.
Você sempre irá poder contar comigo para desperta-lá lindamente pelas manhãs.
Ri de como seu
tom saiu galanteador. Jake era um bom amigo, nós conhecemos assim que comecei a
trabalhar no antiquário, quando ele foi com seu pai que era colecionador de
peças antigas. Não sei como aconteceu, mas a partir daquele dia nunca perdemos
o contato. Sem falar que ele ficou um mês tentando me convencer a assistir á
AHS, o seriado que eu dormira enquanto assistia. Não era um boa hora pra
comentar sobre aquilo se não ele não pararia de falar.
As adoções iam de
vento em polpa, ver os animais finalmente ganhando um lar e alguém para dá-los
amor fazia com que eu ficasse feliz. Eu adoraria ter um animal de estimação em
casa para me fazer companhia, mas depois que minha gata foi assassinada
(acidentalmente) pelo vizinho quando eu era pequena, nunca me recuperei por
completo.
- Acho que você
precisa – falou Jake me entregando uma lata de refrigerante.
- Obrigada –
tomei um gole e senti o líquido gelado descendo pela minha garganta e
umedecendo meus lábios que estavam secos.
- De nada... E
então, o que você vai fazer depois daqui?
- Acho que eu
vou... – fui interrompida pelo meu celular que havia começado a tocar – Espera
só um pouco.
Ele deu de
ombros. Peguei o aparelho e vi que o número era bloqueado, mesmo achando um
pouco esquisito, atendi.
- Sim?
Não houve nada
além de alguns ruídos do outro lado.
- Alôô? – repeti
– Quem é?
- É do hospital?
Estou precisando de atendimento domiciliar, será que vocês podem mandar uma
enfermeira? – reconheci o tom de voz imediatamente.
- O que você quer
Alex? E só para constar eu não sou enfermeira.
- Para mim tanto
faz desde que você continue usando aquele uniforme.
Respirei fundo e
passei uma das mãos pelo cabelo.
- Eu estou
ocupada e sem vontade alguma de ouvir suas piadas. Então, tenha um bom dia.
Estava prestes a
desligar quando ele começou a rir do outro lado da linha.
- O que foi
agora? E aliás, como você conseguiu meu número?
- Por um acaso você
se esqueceu de que iria visitar minha mãe? Ela disse que tinha avisado que eu
iria ligar.
- Achei que você
não ia se der o trabalho de anotar. Eu não preciso que me busque, eu pego um
táxi.
- Eu prometi a
ela que iria buscá-la. Eu não vou te sequestrar, além do mais eu não estou
fazendo nada de interessante agora.
Aquele comentário
me ofendeu um pouquinho. Quer dizer que ele só iria me buscar porque estava
entediado?
- Eu não vou
agora, eu só vou de tarde – disse tentando escapar.
- Tarde? Você
sabe que horas são? É quase quatro horas da tarde, o que diabos você está
fazendo?
Olhei no meu
relógio de pulso, eram três e quarenta. Eu não vi o tempo passar. Não parei
para comer nada e de repente, minhas pernas estavam cansadas e meu estômago
roncava.
- Eu não estou
em casa – falei.
- Então me diga
onde você está.
...
Estava sentada aproveitando a sombra que a
tenda reproduzia com Andie, a pequena gatinha branca que deitara
preguiçosamente no meu colo enquanto eu a acariciava. Era a filhote mais linda
que o mundo já vira, todos seus irmãos foram adotados, menos ela.
- Por que você não a adota? – Jake estava de
pé em minha frente.
- Não sei... –
comecei a falar e pela milésima vez naquele dia fui interrompida. Dessa vez por
uma buzina que soara. Olhei em direção a calçada e vi Alex dentro de um luxuoso
carro preto, sentado no banco do motorista, com a janela abaixada e usando
óculos escuros. Quanta sutileza.
- Desculpe Jake,
tenho que ir – entreguei Andie em seus braços.
- O-o que? – ele
me olhou espantado – Aquele cara está esperando você? – olhou novamente em direção
a Turner.
- Não é o que
você pensa – dei um abraço nele – Até mais.
- Hã, tudo bem.
Se cuide. E depois você vai ter que me
explicar essa história.
Eu sorri e dei um
beijo em seu rosto.
- Não se
preocupe.
Abri a porta do passageiro e me sentei no banco,
fiz todos os movimentos muito calmamente como se uma bomba pudesse explodir a
qualquer segundo.
- Veja quem
resolveu dar o ar de sua graça: Grace – eu podia sentir seus olhos em mim, mas
eu fixava o para-brisa a minha frente.
- Olá, Alex – o
cumprimentei tranquilamente.
Ele deu a partida
no carro, mas não acelerou.
- É o seu
namoradinho? – o olhei pela primeira vez. Ele indicou com a cabeça, e então
voltei minha atenção para estacionamento do abrigo e vi Jake parado olhando em
nossa direção.
- Creio que isso
não seja do seu interesse – respondi.
- Só achei
curioso – soltou um riso sórdido – Um abrigo para cachorros não é um bom lugar para se arranjar um namorado.
- E por um acaso
você encontra suas namoradas em um galinheiro? – tampei minha boca com a mão
assim que soltei o comentário. Foi completamente automático – Desculpe, eu não
quis dizer isso.
Alex me encarava
com um sorriso débil nos lábios.
- Teria sido um
bom contra-argumento. Pena que você é educada demais para isso.
Encolhi-me no
assento e finalmente, o veículo começou a andar.
Os prédios, as
casas e as pessoas se tornaram vultos à medida que o carro passava por elas. Eu
mal sentia minhas pernas de tão doloridas que estavam, eu não fazia ideia do quanto
fiquei em pé, andando pra lá e pra cá carregando cães, gatos e outros animais.
- Você está
parecendo um defunto – comentou Alex.
- A diminuição de
autoestima foi concluída com sucesso – murmurei.
- E algum dia ela
já esteve em alta?
Fechei os olhos
em uma tentativa tanto quanto frustrada de manter a calma.
- Eu acordei ás
oito horas da manhã em um sábado depois de uma semana cansativa. Fiquei andando
feito uma barata tonta por um estacionamento enorme o dia inteiro e minha única
fonte de energia foi uma latinha de refrigerante, ou seja: Estou muito cansada
para me importar com seu sarcasmo.
Ele não falou
mais nada. Permanecemos em silêncio até chegarmos ao hospital.
...
Enquanto estava
conversando com Penny, pareceu que todo o cansaço havia sumido, mas foi só
fechar a porta do quarto que tudo voltou novamente. Pelo menos, ela estava bem e
ainda ligamos para minha mãe, que após o interrogatório típico, falou que
iríamos nos reunir para o natal. Os Turner e os Portman, todos juntos.
Alex POV
Tomava café com
meu pai na cafeteria do hospital quando vi Grace passar por nós no corredor. Achava
divertido fazer graça ás custas dela, uma garota tão nova e tão inocente da
vida. E virgem, provavelmente.
- Pai, eu tenho
que ir. Vejo você depois.
- Tudo bem - falou
dando um tapinha nas minhas costas - Juízo nessa cabeça e comporte-se.
Me comportar era
a última coisa que queria fazer.
Grace POV
Já estava do lado
de fora do hospital procurando por um táxi quando ouvi sua voz atrás de mim.
Ele não viu, mas fechei os olhos.
- Por que a
pressa? Está fugindo de alguém, Grace?
Girei nos
calcanhares e me deparei com Alex próximo a mim.
- Você poderia se
afastar, por favor – encostei de leve minhas mãos em seu peito.
- Por quê? Você
não gosta da proximidade? – ele deu mais um passo tornando o espaço entre nós
menor ainda.
- É só que você
está parecendo um pervertido.
Ele riu e então,
abriu distância entre nós.
- Muito obrigada –
falei.
Alex tirou um maço de cigarros do bolso e acendeu um.
- Está indo para
casa? – perguntou tragando a fumaça.
- É o meu plano.
E não, não precisa me levar.
Ele riu soltando
a fumaça pelo nariz. A habilidade dele com aquilo eram impressionantes.
- Eu não disse
que ia te levar, eu tenho outros planos.
Depois daquele
tapa que tomei bem no meio do rosto, ri de mim mesma.
- É claro. Então,
eu vou indo. Tchau, Turner – voltei a minha tentativa frustrada de chamar um
táxi.
- Você vai ficar
ai a noite inteira.
Bem quando ele
falou isso, um motorista sinalizou e logo em seguida estacionou ao meio fio.
- Que jogada de
sorte – abri a porta de trás – Boa noite, Turner.
- Só mais uma
coisa – ele veio até mim e tirou um celular com capinha rosa do bolso. Eu abri
um sorriso e ele logo tratou de se explicar – Não é meu, pode parar com isso.
Aquela enfermeira, Lia... Lola... Como é mesmo?
- Lucy? – foi quase
que um pensamento em voz alta.
- Isso. Ela
esqueceu o celular no meu carro ontem à noite. Acho que foi de propósito, não
vou dar o gosto de entrega-lo em suas mãos. E pelo o que eu consigo me lembrar,
ela falou que vocês eram amigas, então... – ele entregou o aparelho em minhas
mãos.
Eu não estava
conseguindo raciocinar direito, por isso o peguei. Só tentava entender o que
havia acontecido, pensava em como aquele happy
hour tradicional das sextas-feiras havia dado o que falar e imaginava que Lucy
com certeza iria vir com uma boca enorme para cima de mim quando eu entregasse
o celular para ela.
- Ah, legal. Eu
entrego – coloquei o aparelho dentro de minha bolsa – Tenha uma boa noite.
Ele tragou mais
uma vez e assim que entrei no táxi, Alex fechou a porta do veículo.
- Tenha cuidado
com a noite, Grace. Ela pode ser traiçoeira para jovens como você.
Tentei ignorar o
fato de como a voz dele havia saído em um sussurro que fez com que minha pele
se arrepiasse por completo e indiquei para o motorista que já podíamos ir.
Pela janela,
espiei Alex jogando o cigarro no chão e pisando em cima dele o apagando.
Grace conseguiu dormir enquanto assistia AHS? Ganhou meu respeito! Eu morro de medo dessa série. hahahahahahahahaha
ResponderExcluirTô adorando a fic! <3
Socorro, Bel! Eu ADORO/odeio esse Alex provocador e você o faz direitinho. Sinto um friozinho na barriga e por uns instantes a Grace sou eu, e os "joguinhos" são comigo. Falar em Grace, ela é muito boazinha e se importa com todos... Admirável! E ainda assim não é boba, nem dá o braço a torcer. O Jake é um fofo e sinto que ele vai sofrer um pouquinho nessa história. Essa história do celular da Lucy... Tsc tsc. Preciso de mais :))
ResponderExcluirBeijos.
Steph
Hahaha adorei o capítulo. Principalmente a bondade da Grace e as gracinhas do Al. ♥
ResponderExcluirPróximo capítulo, please!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!
ResponderExcluircapítulo muito legal :) quero mais!!
ResponderExcluirbeijos