Antes que pudesse sair do restaurante uma voz chamou meu
nome. Não era o tom doce e sereno que desejava tanto ouvir, mas do mesmo jeito
meus pés fincaram no chão e eu ali fiquei... Parado, querendo me mover, mas
impossibilitado por algo que nem parecia existir.
- Alex, me desculpe.
Eu fui idiota demais para não ligar os pontos – era Miles falando.
Fechei os olhos e
respirei fundo. Quando me virei para ficar frente a frente com ele, minha
vontade foi de soca-lo sem qualquer pudor. Não era somente o fato de ele estar
com Eliza, por mais que me doesse, ela tinha o livre direito de sair com quem
bem entendesse agora que não estávamos juntos. O que me atormentava mesmo era o
fato de que meu amigo na primeira oportunidade dava em cima da mulher que amo
como uma águia arrebata sua presa. E se tratando de Miles, não pensava de outro
jeito.
- Você se quer
leu o e-mail que eu te mandei, Kane? Você passou quanto tempo desligado do
mundo? Me responde uma coisa: Quantas escritoras chamadas “Eliza Fordie”
existem por ai? – não fui capaz de controlar o tom alto.
- Eu sei, foi
mal. Eu andei muito ocupado nos últimos tempos. Eu só a vi em uma festa, ela me
chamou a atenção e achei que...
- Achou o que?
Que era só você usar esse charme barato e pagar um almoço que ela ia transar
com você? Ele não é do tipo que você está acostumado, meu caro.
Então, Miles riu
de tal modo que fez com que meu sangue fervesse.
- Alex, não venha
com esse papo pra cima de mim. Até parece que esqueceu o que você fazia. Não sei como você a
conseguiu, mas sabe, não lamento que tenham terminado. Assim ela possa ter a
oportunidade de conhecer alguém ao seu nível. E estou disposto a isso.
As palavras que
ele usou fizeram com que todos os meus músculos ficassem rígidos. Meu coração
batia tão forte que tive a impressão que ele iria pular de meu peito a qualquer
instante. Minha visão ficou turva pelo ódio que consumia cada uma de minhas
veias. Meus punhos cerraram e os meus dedos imploravam pelo contato agressivo
contra a face de Miles. O controle que havia mantido até tal ponto, já não era
mais possível de se manter.
Estava prestes a
acabar com aquela ânsia que tanto predominava em meu corpo, mas então, a
presença repentina dela fez com que aquilo passasse rapidamente. Era o efeito
Eliza.
- Alexander, não
faça isso – ela segurou meu punho entre seus finos dedos, que só então percebi que
estava pronto para o ataque – Vá para casa. Se poupe de qualquer arrependimento
que possa a vir ter.
Pude sentir meus
batimentos voltando ao compasso habitual.
POV Eliza
Não era correto
eu ficar sentada assistindo a cena sem fazer nada. Assim que percebi que os
gritos de Alex iriam se tornar ações que poderiam trazer muitas consequências,
não pensei duas vezes em interferir na situação. Sabia que a mim, ele iria
escutar.
Segurei o mais
firme que pude seu punho que estava a meio caminho de atingir Miles. Sua pele
estava quente como se acabasse de sair de uma sauna. Seus olhos estavam vermelhos
e pude vê-los marejar discretamente. Alexander se encontrava em um estado emocional
que jamais havia o visto de tal modo.
- Eliza... – sua voz
alterou-se do tom agressivo para um falho sem muita convicção. Como da água
para o vinho – Me desculpe.
- Você não quer
fazer isso agora, Alexander. Vá para casa, tudo irá melhorar.
- Não, não irá. Não
irá melhorar porque você não vai estar comigo.
Fui soltando seu
braço sutilmente, mas fui impedida por sua mão que se colocou por cima da
minha.
- O que aconteceu
com a gente, Eliza?
- Aconteceu a
vida. Ela separa as pessoas com o tempo. Não há nada que possamos fazer sobre
isso – respondi tentando manter o tom firme.
- E o que
acontece comigo? Você não imagina como está sendo difícil pra mim.
Fechei os olhos e
procurei manter minha cabeça no lugar. Eu não ia me deixar levar. Não dessa
vez.
- Não se preocupe
Alexander. O remorso é doloroso, mas vai tão rápido quanto aparece – disse finalmente
me livrando de seu contato físico.
Voltei-me a Miles
que assistia a tudo muito apreensivo e procurei sorrir de um modo que
aparentasse estar tudo bem.
- Será que
podemos ir embora? – perguntei a ele.
- Claro, sem
problemas – ele passou o braço por trás de meu ombro em um meio abraço. Algo
naquele gesto fez com que eu me sentisse mais aliviada.
...
Se eu fosse
contar quantas vezes Miles me pediu desculpas, iria precisar de uns bons dias para
chegar a um resultado. Só depois de afirmar pela milionésima vez que ele não
precisava se desculpar por nada, eu pude sair do carro. Tudo do que eu
precisava era de um bom banho quente.
Enquanto as gotas
corriam pelo meu corpo fazendo com que a tensão fosse aliviada de meus
músculos, o efeito contrário ocorria em meu cérebro. Parecia que quanto mais
tentava me livrar de tantos sentimentos confusos e incertos, mais eles pareciam
se aprisionar em minha mente. Após quase uma hora debaixo do chuveiro, decidi
desistir daquela tarefa inútil de tentar esquecer as coisas. Quem sabe, quanto
menos eu desse importância mais fácil seria esquecê-las.
Por fim, as
necessidades primitivas acabaram dando-se o trabalho de chamar a atenção de meu
cérebro. Devido à tentativa frustrada de almoço, meu estômago não era
preenchido desde cedo quando tudo o que teve foi uma xícara de café. Desci a
escadas e fui até a cozinha procurar algo que saciasse a incontrolável fome,
mexia em um dos armários quando aquele perfume exageradamente doce infestou o
local me provocando náuseas. Sabia que uma hora ou outra, eu teria que
enfrentar aquele problema.
- Apareceu à
margarida – a voz de Sam que parecia naturalmente sarcástica me deixou em
estado de alerta – Achei que você tinha desaparecido, nunca mais vi você ou o
seu namorado...
A menção dele fez
com que eu tivesse vontade de rir, mas não era hora de tal feito.
- Não seja
cínica, Samanta – falei rispidamente.
Ela cruzou os
braços e me encarou com deboche.
- Pra que tanta
formalidade agora, Eliza? Achei que nós já tínhamos passado dessa fase.
- Pelo visto
passamos mesmo, você até andou transando com o meu namorado – coloquei minhas
mãos na cintura como se ali elas estivessem seguras de cometer alguma bobagem.
Samanta suspirou de um modo que tive a
impressão que seu pulmão remetia todo o ar da terra.
- E o que você
quer que eu faça se você não é capaz de satisfazer o próprio homem?
Tive que tirar
paciência de algum lugar desconhecido para me manter em pé.
- Escuta,
Samanta: não é minha capacidade de satisfazer ou não alguém sexualmente que
está em questão aqui, mas posso afirmar que pelos batimentos rápidos e o suor
que escorria da testa dele sempre quando terminávamos, creio que eu dava mais que conta do recado –
dei dois passos em sua direção – Mas o ponto é: Eu quero que você arrume suas
coisas e vá embora daqui.
Ela não hesitou
em fazer o mesmo se aproximando de mim.
- Vai me expulsar
por que ele terminou com você, é? Por que tem medo de que ele venha atrás de
mim?
Dessa vez não
contive a risada.
- Não foi ele que
terminou comigo... E se você realmente acha que ele vai atrás de você, bem,
você pode usar essa imaginação fértil para escrever um livro, o que acha?
Sam deu um sorriso
venenoso dando outro passo ficando ainda mais perto de mim.
- O seu problema,
querida prima, é que ninguém suporta você. Você acha mesmo que eu vou sentir
algum tipo de arrependimento por ter feito o que eu fiz? Veja por si própria,
Alex não a queria mais assim como sua família... Nem seu irmão, nem seu pai e
nem sua mãe suportavam você. Todos eles preferiram morrer ao ter que olhar para
essa sua cara todos os dias.
Aquilo havia sido
a gota d’água. Sem pensar muito, depositei todas as minhas forças no tapa que
dei no rosto de Samanta. Não sei o quanto de força usei, mas foi o suficiente
para que ela caísse no chão e deixasse uma boa marca vermelha com meus cincos
dedos estampados em sua bochecha.
A olhei enquanto
ela levava a sua mão no local atingindo e uma lágrima rolava pelo seu rosto.
- O seu problema
Samanta, é que você é uma vadia. E vadias não são amadas, são usadas e jogadas
fora. Assim como Alexander fez com você, a usou. Não sei que tipo de droga você
anda usando para pensar isso, mas ele nunca vai lhe amar como ele me ama.
Ela riu sem
alegria.
- Suas palavras
não vão me torturar, Elizabeth.
- Não, não vão. Mas
dentro da sua mente existe um quarto escuro que aprisiona uma mulher sozinha e
acabada. A mulher mais cruel que você possa conhecer. O nome dela é consciência,
e essa sim vai se encarregar de lhe torturar. Não eu.
Senti um estranho
prazer em vê-la pela primeira vez na vida desarmada, sem palavras para contra-atacar.
Também me senti mais forte, destemida por ter enfrentando meus problemas, por
não ter deixado que passassem por cima de mim como sempre deixava. Por não ter
aceitado calada a situação sem ao menos contestar. Samanta havia se mostrado
infiel, traíra, sem o mínimo consenso de respeito. E esse era o tipo de pessoa
que eu não fazia a mínima questão de ter em minha vida.
- Quando eu descer eu não quero ver um fio de cabelo
seu. E vê se levanta daí, não quero o piso da minha cozinha sujo.
Junto com
Samanta, o peso que se encontrava nas minhas costas também foi ao chão.
POV Alex
O relógio marca
16h10. Nuvens carregadas começam a se formar no céu. Estou sozinho em meu
apartamento. Meu coração dói.
O relógio marca 16h30.
A garoa começa a cair sorrateiramente com seus pingos finos e tímidos. Continuo
sozinho. Meu coração ainda dói.
O relógio marca
16h50. A garoa tímida se transforma em chuva. Tenho uma necessidade absurda de
Eliza. A dor no peito se transforma em sofrimento.
O relógio marca 17h20. Lembranças invadem minha mente. O
seu cheiro, o seu toque, o seu sorriso. O fim de tarde se aproxima com uma onda
de frio.
O relógio marca
17h45. A chuva se transforma em tempestade. Eu me dou conta de que preciso tê-la
em meus braços para sempre.
...
Estacionei na
frente da casa de Eliza e o nervosismo parecia tomar conta de todos os meus
sentidos. Desci do carro e quase que instantaneamente senti os pingos gelados
começarem a encharcar minha roupa. Parei na frente da porta e respirei fundo.
Toquei a campainha e esperei. Não houve nenhum sinal. Toquei outra vez. Não
houve uma resposta.
Fui para o meio
da rua de modo que tentasse ver alguma coisa e consegui enxergar seu vulto de
relance. Ela estava ali.
- Eliza! – gritei
o mais alto que pude – Eu preciso falar com você, por favor.
As cortinas
continuaram imóveis, ninguém apareceu na porta.
- Eliza! – gritei
novamente – Eu imploro.
A essa altura
minhas roupas já pesavam o dobro e a chuva não dava trégua por nem um segundo,
apenas se intensificava.
Chamei seu nome
mais uma vez. Outra e outra. Era como se eu estivesse falando com uma parede.
Então, fechei meus olhos e me lembrei do dia em que ela se escondeu de seus
próprios convidados no Museu de Literatura e como eu tive sorte em tê-la visto
fugindo para poder ir atrás dela. Lembrei-me do porque de estar ali, no meio
daquela tempestade, deixando de lado meu orgulho e tudo que pensava acreditar.
Era por ela. Era para ser o motivo de seu sorriso novamente. Era para ter Eliza
de volta em meus braços.
Um sorriso
preencheu meus lábios, então soube como fazê-la me ouvir. Fechei os olhos
novamente e comecei:
-“She’s
thunderstorms
Lying on her front
Up against the wall
She’s thunderstorms...”
Os abri e ainda
não havia ninguém a vista então, prossegui:
- “I've been feeling foolish
You should try it
She came and substituted
the peace and quiet
for acrobatic blood, flow, concertina
Cheating heartbeat
Rapid fire”.
A silhueta de Eliza apareceu na janela. Ela
abriu as cortinas aos poucos e sua presença foi o suficiente para que eu
tivesse coragem de continuar:
- “She’s thunderstorms
Lying on her front
Up against the wall
She’s…
Tão rápido quanto
apareceu, a pontinha de alegria que me permiti sentir partira. Como um raio
inesperado, o que os meus olhos haviam visto me atingiu violentamente. Logo
atrás de Eliza, a imagem de Miles apareceu. Os dois se entreolharam e trocaram
algumas palavras, e então, ele fechou as cortinas por completo.
Minhas pernas fraquejaram
e não foram mais capazes de sustentar o peso de meu corpo. Meus joelhos se
chocaram contra o asfalto rígido e áspero.
A escuridão se aproximava
sem cautela. A tempestade caia fortemente. Estava sozinho. Meu coração já nem
parecia mais bater.
***
N/A: Oi oi meninas! Bem, eu só queria agradecer mais uma vez os comentários e todas vocês que acompanham essa fic de coração, eu me esforço o máximo para que vocês não se decepcionem. E espero não ter as decepcionado. Acho que esse é o momento em que tudo parece estar perdido, mas eu digo pra vocês: Vem coisa ai. Enfim, obrigada mais uma vez e muitos beijos no coração, Bel ♥
ISSOOOO! A SAM LEVOU UM TAPA! VOU DORMIR FELIZ HOJE!
ResponderExcluirO Alez por outro lado, aawwnn, não consigo, já tô com peninha dele, eu sei, a culpa disso tudo é dele, mas aawwnnnn... ele cantou thunderstorms, gente! *-*
BEL VC JÁ PENSOU EM SE TORNAR ESCRITORA?
ResponderExcluirAI MEU DEUS! AI MEU ALEX! MILES SEU SAFADO! (Kkkkkk eu tô em duvida de que lado ficar!)
ResponderExcluirEliza tá certissima, mas ver o Turner sofrendo assim me parte o coração :""(
Sim, eu acho que tá tudo perdido pra eles mesmo...ai!
Continua logo Bels, tô com o coração de ver o panaca do Alex assim, e apesar de ter um precipicio pelo Kane e torcer pela felicidade da Eliza acima de tudo, nao quero meu Turner sozinho.
Ps: AQUELE TAPA FEZ A MINHA NOITE!
Xxxxx Mrs.Helders
Ai meu deus esse capitulo ta tão bom, vou chorar
ResponderExcluirMiles meu, não fode.
ResponderExcluirQue capítulo sensacional, senti um pontinho de dor com o Alex. E agora estou sentindo pena dele. Se a Eliza ficar com o Miles só por pirraça ela vai acabar nada diferente do que o Alex foi quando transou com a Sam. Espero que a consciência dela fale mais alto.
Miles meu, não fode.
Miles meu, não fode.
Fiquei desesperada com a situação do Al, ai meu deus. Continua!
Miles meu, não fode.
Sou uma manteiga mesmo, viu. Quase chorei com ele fazendo "uma serenata" pra ela. Já derreti.
ResponderExcluir"Estou sozinho em meu apartamento. Meu coração dói." Tem como ter raiva de uma coisa dessas?
Continua Bel, please!
Meu Deus, estou sem fôlego com esse capítulo! Adoro o fato da Eliza não maneirar com o Alex, nem com a Sam nem com ninguem que queira machuca-la. MAAAS... WTF você esta fazendo com a Fordie, Miles? Sinceramente, não quero que esses dois fiquem juntos! Tadinho do Al... Tô me comovendo com o sofrimento dele. Bel, me socorre! Não demora p postar. Bj
ResponderExcluirMeu deus se o alex turner cantasse she's thunderstorms pra mim,na chuva....eu nem sei o que faria tbh
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