O sol estava nascendo em toda sua grandiosidade laranja e
amarela. Eu sentia a relva roçar em minhas mãos e o ar puro tomar conta de meus
pulmões. A maioria das pessoas dormia em suas barracas no extenso campo,
descansavam suas mentes após um longo dia e se preparavam para mais um tão
agitado quanto o anterior. O céu se mesclava em tons quentes e o azul vinha
chegando sorrateiramente para predominar. Era nesses momentos em que eu sentia
a paz prevalecer em meu interior. Quando completei dezoito anos, as dúvidas
começaram a surgir de todos e quaisquer buracos de meu cérebro, foi nesse
momento em que me perguntei: “E agora?”. Só que então percebi que a questão era
exatamente aquela, o agora. O presente. O deixar as coisas acontecerem, o não
planejar cada segundo de minha vida. E era o que eu estava fazendo, tentando
curtir o que o momento me proporcionara, e o fato de ter aquela visão magnífica
resumia bem o que eu tentava entender.
Com o sol já a
mostra por completo em todo seu esplendor, o segundo dia do Coachella havia
começado. Levantei-me de onde estava sentada e fui em direção à barraca onde
meu amigo dormia. Abri o zíper que a fechava cuidadosamente e me ajoelhei no
fino colchão. Cutuquei seu braço de leve inúmeras vezes, mas já era de se
esperar que no caso de Leonard aquilo não fosse o suficiente para acorda-lo.
Por isso, peguei o travesseiro que estava ao seu lado e tentando não ser muito
bruta, o bati em seu rosto.
- NÃO FUI EU! –
gritou alto assim que o primeiro sinal de consciência o tomou.
Eu ri de sua
expressão assustada enquanto ele analisava o seu redor percebendo que a única
pessoa além dele mesmo era eu.
- Sendo acusado
de um crime que não cometeu, é? – zombei o observando respirar fundo e passar
as mãos pela cabeça.
- Você é o diabo
em pessoa, Roxanne – falou pondo-se a sentar.
Rolei os olhos de
sua afirmativa injusta a minha pessoa.
- Talvez se seu
sono não fosse tão pesado quanto um tiranossauro, eu não precisaria usar esses
métodos – dei de ombros – Agora se levante, temos que aproveitar bem esse dia.
É o nosso último, lembra? Eu tenho que trabalhar.
Leonard balançou
a cabeça em concordância e se livrou de seu lençol.
- Tudo bem, eu já
vou indo.
Com isso, o
deixei sozinho na barraca.
...
Com
meu amigo já vestido adequadamente, nós resolvemos dar uma volta no lugar. A
área era imensa, muito bonita e o verde predominava. Estávamos tão entretidos
que se quer percebemos as horas se passarem. A brisa soava de leve fazendo com
que meu chapéu mencionasse sair voando e isso aconteceu quando caminhávamos
pela parte de trás do palco principal. Ele voou como uma pena até aterrissar no
gramado verde vivo que ficava atrás de uma pequena cerca branca.
- Eu pego pra
você – falou Leonard indo em direção a cerca.
- Espera! –
aumentei meu tom de voz para impedi-lo – Não podemos entrar ai, é a área VIP.
A parte restrita não estava tão cheia devido ao horário,
apenas um ou outro conversavam entre si não parecendo ligar muito para o que
acontecia ao seu redor.
- Eu não vou atacar ninguém, só vou pegar seu
chapéu. Eles não vão ligar.
- Você viu onde
foi ele foi parar? – apontei para o bar montado ali com algumas pessoas
sentadas no grande balcão, onde o chapéu parara a poucos metros.
- Então vai você,
oras – disse franzindo a testa – Você tem cara de quem poderia estar ali.
Fitei o pequeno
objeto no chão. Ele nem havia sido caro, porém era meu chapéu e eu o queria de
volta. Pensei por um instante e deduzi que não haveria problemas se eu entrasse
ali por dois minutinhos.
- Ta legal, fique
aqui – falei andando prestes a cruzar o limite que a cerca marcava.
Como se tivesse a
completa autorização e status para fazer aquilo, entrei na área VIP. Caminhava
o mais naturalmente possível, mas não pude deixar de sentir alguns olhos em
mim. Assim que me aproximei do bar, a silhueta do chapéu ficou clara, apressei
meus passos para que eu pudesse sair dali o mais rápido e quando faltava um milésimo
para que meus dedos encostassem nele, senti uma forte e grande mão em meu ombro.
Endireitei minha postura lentamente e quando ergui meu rosto, deparei-me com um
segurança de aparentemente dois metros que não aparentava querer dialogar.
- Você tem
credencial? – perguntou. Eu permaneci calada branca como um papel – Algo me diz
que você não deveria estar aqui.
Eu começava a
criar uma história mirabolante em minha cabeça quando uma voz masculina soou da
direção do bar.
- Ela está
comigo.
O segurança
virou-se em direção ao homem e concordou com um aceno como se tivesse recebido
uma ordem inexorável. Ele pegou levemente meu ombro e empurrou-me em direção ao
balcão de modo tanto sutil para um brutamonte.
- Você a conhece,
senhor?
O homem do balcão
deu um gole de sua bebida e pousou suas órbitas em mim. Mesmo por trás dos
óculos escuros, soube que ele me analisava dos pés a cabeça, pois logo em
seguida um sorriso sujo brotou no canto de seus lábios.
- Não tanto
quanto eu gostaria – falou com sotaque inglês e com a voz levemente falha – Mas
está tudo bem. Pode ir.
O funcionário
largou-me e voltou para seja lá onde estava antes de arruinar meu “resgate”.
Coloquei o chapéu novamente e fitei o homem que me tirara de uma fria. Ele já
não me olhava mais, apenas encarava fixamente algum ponto em sua frente levando
a garrafa à boca.
Pigarreei
chamando sua atenção, entretanto o mesmo ignorava minha existência.
Resmunguei um “tudo
bem” e então, dei de costas para sair dali.
- Sua mãe não te
ensinou boas maneiras, não? – ele falou quando eu já estava a uns passos de
distância.
Girei em meus
calcanhares para depositar meu olhar mais incrédulo em sua pessoa.
- Desculpe, o que
disse?
Foi a vez de ele
girar o corpo em minha direção, apoiando um dos pés no banco alto que se
encontrava e me encarar.
- Normalmente
quando as pessoas concedem um favor, a outra agradece dizendo “muito obrigado“,
conhece essa expressão?
- Ignorar a
presença de outra pessoa também não é nada educado, sabia? – levei uma de
minhas mãos à cintura.
Ele riu sarcasticamente
e retirou os óculos com uma lentidão desnecessária. Agora livre das escuras
lentes, pude ver suas íris incrivelmente negras, carregadas por uma densa névoa
que mascarava seus pensamentos.
- Não banque a garotinha
má. Não se faça de durona. Você e eu sabemos o que realmente quer – seu tom era carregado de malícia.
Sem mais
paciência para aquilo e me segurando para não bater naquele estúpido em minha
frente, virei-me e saí caminhando o mais rápido que pude.
Assim que cheguei de encontro a Leonard o mesmo ria feito
uma criança assistindo ao desenho animado.
- Qual o seu
problema? – dei um tapa em seu braço mais forte que imaginava.
Ele continuou
rindo apenas levando a mão no lugar atingido.
- Leonard, será
que você pode parar com isso? – nós já estávamos se afastando da área VIP, tal
que eu nem queria mais chegar perto.
- Ok, ok – ele ia
recuperando o fôlego aos poucos – Mas sério, essa cena foi hilária.
- Que cena? A que
eu quase sou pega por um segurança gigante ou que eu quase dou um soco em um
babaca? – falei ironicamente.
- Bem, eu
realmente pensei que você fosse se dar mal com aquele segurança com cara de
Rambo... Seria terrível se isso acontecesse – deu uma batidinha em meu ombro
como se me consolasse – O que aconteceu para ele desistir de chutar sua bunda?
- O cara do bar
me ajudou. O pingo de respeito que eu tinha criado por ele desapareceu assim
que ele abriu a boca pela segunda vez. O cara é um idiota, me controlei ao
máximo para não deixar uma marca de meus cinco dedos na face dele.
Meu amigo começou
a rir novamente, mas meu olhar repreensivo fez com que ele parasse.
- Sua sorte que
você não fez isso, minha querida. Do contrário você teria agredido nada mais
nada menos que o vocalista do Arctic Monkeys.
- Cala a boca, o vocalista do Arctic Monkeys é
aquele tal de Alex Turner.
Leonard arqueou a
sobrancelha e sorriu astutamente. Eu o analisei e ele não parecia estar
brincando, então, parei de andar bruscamente.
- Você está
brincando não é? – tinha certeza que minha expressão era uma das mais ridículas
existentes.
- Roxy, não é
possível que você nunca tenha visto uma foto do cara! Como você é desligada.
- É claro que eu
já vi, mas ele tinha um cabelinho pro lado e era magricelo... E tinha cara de
ter uns dezessete anos e não de ser o cover do John Travolta em Grease.
- Talvez porque
você tenha visto uma foto de mil anos atrás. Pelo amor de Deus, por onde que
você andou nos últimos tempos?
Eu ri de um jeito
meio bizarro e voltei a caminhar.
- É só que eu não
acompanho a banda, eu acho que só ouvi umas duas músicas em toda minha vida.
Por sinal, aquelas que você me mandou ouvir.
- Eles vão tocar
hoje. Se você quiser assistir... Os caras são fodas.
Pensei em negar e
dizer que iria meditar junto com os hippies á tarde, mas então conclui que,
bem, não poderia julgar a banda baseado em um vocalista de ego inflado.
- Ok. Que mal tem
nisso, não é mesmo?
...
Por sorte,
conseguimos ficar na grade. A aglomeração de pessoas ficava cada vez maior com
o tempo e os gritos vinham de todos os lados, era evidente que a banda possuía
fãs leais de todos os gêneros.
- Posso saber que
músicas eles vão tocar? – perguntei para Leonard que estava cantarolando alguma
coisa.
- Músicas do
último álbum, algumas mais antigas. Que eu sabia eles estão trabalhando em algo
novo e a turnê está prestes a acabar.
- Ah... Legal.
Estava pensando
em meu trabalho que infelizmente, teria que voltar no dia seguinte quando os
gritos aumentaram drasticamente anunciado que o show iria começar. Após alguns
segundos de suspense, os integrantes finalmente entraram no palco, cada um em
seu devido lugar e com seus devidos instrumentos. O vocalista tomou frente ao
microfone e ajeitou a alça da guitarra em seu ombro.
- We are Arctic Monkeys, and it’s a pleasure be
here at Coachella!
Com isso os
primeiros acordes começaram a pairar pelo ar.
...
O show seguiu e
as pessoas não pararam de cantar um minuto sequer, todos acompanhavam as letras,
fossem as músicas mais animadas até as mais lentas. Realmente, a banda era
muito boa apesar de eu não possuir as músicas na lista de mais tocadas do meu
iPod.
Quando a última
música finalmente foi anunciada, a reação eufórica permaneceu, mas foi acompanhada
pela sensação do fim de um bom momento.
Então, o último
verso foi cantado, os últimos acordes tocados e as palmas, berros e agradecimentos
não cessavam.
- Thank you so much, San Francisco! I have
a really great time today, it was amazing playing at Coachella – Alex permanecia
fitando a multidão quando por um segundo seu olhar vacilou e pendeu sobre as
pessoas próximas ao palco, e por uma fração de milésimo tive a impressão que
nossos olhares se conectaram.
Foi ai que suas
últimas palavras antes de deixar o palco foram proferidas:
- Just remember one last thing… Don’t be a
little bad girl.
***
> N/A: Oi!!
Espero que vocês tenham gostado dessa pequena introdução, muitas coisas ainda
estão por vir e vocês podem esperar fortes emoções de “Mad Sounds” hahaha.
Quero agradecer os comentários da sinopse e as que leram esse primeiro
capítulo, muito obrigada. Beijões, Bel.
Você voltou com uma história incrível!!!!! Achei muito peculiar a Rox. Curioso. Prevejo tanta confusão entre esses dois. Leonard é o tal do amigo fofo e eu fico feliz que Rox o tenha. Do mais, estou ansiosa para o próximo e espero que não demore pra postar hahaha. Beijo anne
ResponderExcluirYaaaaaay! Adorei essa fic! ótima introdução! *-*
ResponderExcluirA Rox chegou pra mostrar que ela é mais uma no time das que resiste ao Alex, coisa na qual eu não me incluo! Adoro o Turner prepotente e rabugento apesar de sentir vontade de soca-lo. Essa criatura é como um karma e pobre Rox... não faz ideia com quem se meteu. O Leonard é ótimo, gostei dele. "Don't be a little bad girl" aaaai. Quero mais. Beijos
ResponderExcluireu to amando essa fic, mas eu meio que não entendi umas partes (????) tipo, quando o alex chama ela de bad girl assim do nada (???) e a parte do "você e eu sabemos o que realmente quer" tipo (????) interpretei como se o alex pensasse que ela entrou de penetra ali e era algum tipo de groupie (tenho certeza que interpretei errado) me explica, to me sentindo burra por não entender kkkkkkkkk
ResponderExcluirgive me more, please!!!!!
ResponderExcluir'Mermããããão!!! OQUEQUEIIIIIIIIIIISSO!? Hahaha AMEI essa introdução Bels! AMO o nome Roxanne (por motivos de Roxanne do The Police<3) e AMEI o modo engraçado como eles se conheceram kkkk
ResponderExcluirTô quicando pela próxima atualização #ANDALOGOPORRA u.u kkkkkk zoa, demore o tempo que quiser <3
Xxxxxx, Mrs.Helders (pq se vc voltou, meu codinome também voltou haha)