Suck it and see - Capítulo 5

         Depositei algumas moedas na velha máquina e me sentei com a última edição da Vogue UK nas mãos enquanto esperava minhas roupas secarem. Já passava das onze da manhã e a lavanderia estava vazia, fiquei feliz ao constatar que o único som audível eram os ruídos das máquinas a completarem seus ciclos de funcionamento, assim podia me concentrar no artigo que deveria escrever para a próxima edição da publicação.

         Abri o pequeno caderno de capa vermelha que sempre levava comigo e analisei as anotações que havia feito acerca do desfile sublime da Balenciaga na última semana de moda em Paris, pensei em escrever algo a respeito, mas falar sobre grandes grifes e haute couture em uma revista como a Vogue não me pareceu tão original assim. Tentei focar em algum assunto mais banal, como as tendências de maquiagem da última estação ou talvez criar uma lista com itens indispensáveis para sobreviver à uma semana de moda - como se todas as leitoras fossem realmente precisar de uma lista assim.

         Depois de vinte improdutivos minutos resolvi me dar um tempo e ir fumar lá fora, não adiantava forçar uma saída quando minha criatividade se via presa em meu labirinto mental. Assim que saquei o isqueiro rosado do bolso, meu celular começou a vibrar desenfreadamente anunciando inúmeras ligações perdidas. Ia tudo tão bem naquela bolha de tranquilidade que me envolvia dentro da lavanderia que minha mente havia conseguido misteriosamente se desligar do mundo exterior - e de toda a confusão com Alex na noite anterior, mas minha paz foi quebrada ao escutar a mensagem gravada em minha caixa postal.

        

         “Alexa, me ligue assim que receber essa mensagem, é urgente! Você já leu os tabloides de hoje?”

         O nervosismo na voz de Pixie fez meu estômago embrulhar, disquei seu número tragando longamente meu cigarro tentando amenizar minha preocupação, o telefone nem sequer completou o segundo toque quando ela atendeu.

         - Alexa, ainda bem que você ligou! Estou tentando falar com você há séculos, você não viu minhas ligações? - Sua voz era elétrica e parecia vagamente aliviada, eu estava morrendo para saber o motivo de sua preocupação - apesar de ter uma vaga ideia a respeito do que se tratava.

         - Eu estou na lavanderia, acho que não deve ter sinal lá dentro. Acabei de sair para fumar e meu celular começou a ter um ataque epiléptico e daí te liguei - Traguei novamente escutando ela soltar uma risada forçada, deduzi que minha situação não deveria estar nada boa - O que aconteceu, Pixie?

         - Você é quem tem que me dizer, Alexa. Quando foi que você voltou a namorar aquele babaca do Turner?

         - O que? Não! Eu não - Me engasguei com a fumaça que saiu entrecortada de minha garganta com a minha súbita exaltação - É isso o que as revistas dizem?

         - Isso e muito mais! - Sua voz saiu histérica no quase grito que deu - Caramba, Alexa! Como foi que isso aconteceu? Seu nome está em pelo menos uns três sites de fofoca diferentes!

         Encolhi os ombros ao escutar suas palavras, a realidade pesava muito mais do que imaginara. Então eu estava certa sobre os tabloides, mas mesmo assim não hesitei em segurar Alex contra meus lábios com todo o meu desejo adormecido depois desses dois anos. Amassei o maço de cigarros em minha mão, como eu podia ser tão idiota?

         - Hm, e o que eles dizem? - Minha voz saiu num fio, eu temia a resposta de Pixie a minha pergunta.

         - Ah, várias coisas… Tem até uma versão onde Jared parece ter terminado o affair com você, e por isso, ao saber da vinda do seu ex-namorado para cidade, tratou de reatar com ele para fazer ciúmes em Leto - Pixie fez uma pausa ponderando o que havia dito e depois começou a rir - Nossa, de onde eles tiram tanta criatividade?

         - Incrível, não? Adoro como eu sou sempre a destruidora de corações da história - O sarcasmo em minha voz saiu seco, eu parecia ser tão volúvel assim?

         - E quando eu vou saber a respeito da versão oficial da história? Porque olha, depois daquela declaração do Turner para você naquela entrevista fica meio difícil de duvidar dos boatos…

         - Me encontra no meu apartamento em meia hora que te conto tudo - Depois de confirmar, Pixie se despediu de mim quando acrescentei - Ah, não esquece de trazer uma garrafa de vodka, minha cozinha está limpa, mas acho que consigo te oferecer um Bloody Mary decente. Eu com certeza vou precisar beber alguma coisa hoje.

         Cerca de uma hora e dois drinks depois, Pixie já estava ciente a respeito de tudo o que ocorrera na noite passada e eu já tinha escutado seus sermões e ameaças à minha integridade física e moral sem reclamar, ela tinha toda a razão.

         - Ah, e o mais legal da história foi a minha reação ao acordar e ligar meu notebook, quase derrubei minha xícara de café ao ver a foto de vocês dois. Por que eu tenho que saber as coisas do pior jeito?

         - Me desculpe por isso, Pixie. Dá próxima te mando uma mensagem, “hey! Encontrei com aquele meu ex filho da puta hoje, dei uns amassos nele atrás de um carro no meio da Times Square, by the way” - Ela riu, mas logo depois me atirou uma almofada, eu protestei ao quase derrubar Bloody Mary no meu sofá de couro branco novinho.

         - O que você tinha na cabeça? Garotos não mudam da noite para o dia, nem mesmo em dois anos, Alexa - Ela disse com asco se referindo as ações passadas de Alex. Pixie e eu éramos confidentes, eu a contava tudo o que me aborrecia em minha vida e isso incluía as decisões impulsivas que Alex tomava e me deixavam extremamente nervosa. Era previsível que ele agisse assim, afinal eu sou três anos mais velha e isso significa quase o dobro quando se trata da mente masculina.

         - Eu realmente não sei no que eu estava pensando quando o beijei… Argh, isso está precisando de mais tabasco! - Disse depois de experimentar um gole do terceiro drink daquele dia, peguei o copo de Pixie que concordou com minha sentença e virei o frasco de líquido picante nos dois.

         Escutei meu celular vibrar em cima do balcão da cozinha, me levantei do sofá onde estava sentada com minha amiga e o peguei notando o pequeno desenho de um envelope no canto superior da tela, o aviso de uma nova mensagem.

         No conteúdo da mensagem havia uma foto da capa de uma revista qualquer onde eu aparecia vagamente por estar parcialmente encoberta por seus ombros, mas sua mão era claramente visível em minha bunda, o que deu o toque vulgar a fotografia merecedora do lugar em destaque na publicação.

“Achei no aeroporto de LA nesta manhã. Me desculpe por isso”

         Fiquei surpresa ao ver que ele havia ignorado meu pedido de desaparecer de minha vida. Hm, então Alex estava de volta a Costa Oeste. Fiquei feliz por não ter cedido às suas provocações na noite anterior, com certeza iria acordar em uma cama vazia com um bilhete de despedida escrito as pressas ao meu lado - isso se ele realmente se importasse em escrever um.

         - Você acredita nisso? - Mostrei a ela a mensagem, Pixie pegou o aparelho de minha mão e aumentou a foto analizando o estrago.

         - Aposto que aquela tal de Vandenberg deve ter tido uma manhã muito agradável ao ir buscá-lo no aeroporto - Encolhi meus ombros ao escutar aquele nome, era como se ela tivesse tocado em uma ferida aberta - Pelo menos você devolveu a ela na mesma moeda.

         De súbito encarei seu rosto, sua feição se transformara em deboche. Eu não podia acreditar que ela tinha realmente dito aquilo. Me comparar com aquela mulher? Pixie havia ido longe demais com sua ironia ácida.

         - Calma aí, Pixie. Achei que já havíamos entrado num acordo a respeito desse assunto, Alex não me traiu com ela.

         Ela se levantou do sofá ajeitando os fios curtíssimos de maneira bagunçada e soltou um longo suspiro. Eu não podia suportar o cinismo em seus movimentos, engoli o resto do meu Bloody Mary e completei o copo com vodka pura não me importando em misturar o líquido com o resquício do suco de tomate. Ela encarou meu nervosismo indiferente e puxou um cigarro para si, depois ficou em silêncio por alguns segundos quando pôs-se a falar.

         - Olha Alexa, eu só concordei em não dizer mais nada a respeito por solidariedade a você no seu momento de fragilidade. Mas…

         Ela me contou a respeito da noite em que eu havia partido mais cedo do que de costume de uma das festas escandalosas no loft de Agyness Deyn. Lembro de ter discutido com Alex no táxi a caminho da festa, mas não sei dizer ao certo sobre o que, só sei que foi o suficiente para estragar minha noite. Segundo Pixie, assim que eu pisei no apartamento tipicamente decorado com balões metalizados e confete no chão - o clássico das house parties mais cool de Nova Iorque, engoli três Dry Martinis seguidos como se fossem shots de Tequila e fui embora antes mesmo de cumprimentar a anfitriã da noite.

         Alex havia tentado me dizer algumas palavras vociferadas com raiva para que ficasse ali, ele até agarrou meu braço, mas eu me desvencilhei de seu aperto e sai enfurecida pela porta de entrada. Ele ficou desacompanhado na festa e extremamente irritado, já que nem ao menos seus amigos estavam na cidade para lhe fazer companhia, com raiva da minha prematura partida ele teve a minha mesma reação e engoliu os primeiros copos do que viu pela frente. Pixie disse que tentou conversar com ele para evitar que fizesse alguma besteira, mas foi friamente ignorada e trocada por um garçom que distribuía doses de wiskey. Desconcertada com a situação, ela seguiu para junto de seus amigos e esqueceu de Turner.

        Mais tarde, quando fora fumar no beiral de uma janela após várias horas entre risadas com seus acompanhantes, ela pode avistar Alexander saindo cambaleante com os braços dados a uma mulher ruiva e muito alta noite a fora.

        Por minutos eu fiquei em silêncio, atônita com o que acabara de ouvir. Então era mesmo verdade, Alex havia me traído antes mesmo do declínio de nossa relação.

        Pelas minhas contas, a tal festa havia ocorrido em janeiro e o término “oficial” de nosso namoro ocorreu em agosto. Hm, isso explicava como apenas duas semanas depois do fim a mídia já anunciava o novo relacionamento dele com aquela outra mulher.

        Se me lembro bem a respeito daquela festa, quando cheguei em casa passei a noite toda pensando a respeito de nossa briga e me culpando por perder a cabeça tão facilmente. Quando o vi chegar pela manhã carregando seu casaco nos ombros em seu estado pós embriagues, me atirei em seus braços pedindo desculpas pelo ocorrido e nós fomos para a cama gozando da melhor parte das brigas entre namorados, o sexo de reconciliação. Aquilo significava que ele foi capaz de me tocar mesmo depois de passar a noite com outra, aquilo me enojou.

         - Ei, o copo não tem culpa de nada - Pixie disse numa voz suave enquanto se sentava ao meu lado alisando minhas costas numa tentativa me consolar, notei que minha mão apertava o objeto de vidro com muita força - Me desculpa, eu sei que deveria ter dito isso antes… Eu tive que te contar isso agora porque não ia aguentar ver você se apaixonar de novo por aquele idiota depois do que ele fez - Encarei vagamente seu rosto, ela parecia realmente preocupada comigo, meus lábios se curvaram fracamente num sorriso tristonho.

         - Obrigada, amiga. Eu mesma acho que não teria coragem para fazer o mesmo por você - Uma lágrima escapou involuntariamente do meu olho, a sequei antes que Pixie pudesse se comover - Bom, mas não é hora de lamentar pelo passado, dentro de alguns dias vamos entrar na temporada de festivais e é bem provável que eu o encontre nos palcos.

         - E você já sabe qual é a regra - Ela disse enchendo nossos copos com vodka e erguendo o seu próprio ao terminar.

         - Nada de bancar a garotinha magoada - Brindamos e viramos nossos copos, protestando contra a queimação do liquido ao descer nossas gargantas.

         - É assim que se fala, garota - Ela repetiu a frase de que me disse quando deixei o antigo apartamento que dividia com ele, me motivando a superar aquilo. Sorri a abraçando, ela era realmente a melhor amiga que eu poderia ter.

         No fim do dia, após Pixie ter ido embora e a cozinha estar arrumada e reabastecida com algo a mais do que somente bebidas alcóolicas, resolvi me dar ao pequeno luxo de encher a banheira e usar os sais de banhos que comprei num spa em Paris. O banheiro estava tomado por uma névoa esbranquiçada causada pelo vapor da água que umedecia o ar e as paredes, eu estava confortavelmente submersa até o pescoço naquela mistura morna de perfumes florais. Me sentia bem em minha pequena vaidade, gostava de me amar um pouco quando sentia meu coração murchar com minhas decepções amorosas.

         A voz chorosa de Patsy Cline começou a cantar depois que “Take it or leave it” terminou, meu peito doeu com a letra de “Strange”, involuntariamente lágrimas rolaram por meu rosto e um choro baixo irrompeu de minha garganta.

        

“To think I thought you really loved me…But look what thoughts can bring”

         Meus olhos ardiam de ódio, não só pela descoberta da traição de Alex, mas também por ódio de eu mesma por chorar novamente depois de jurar que nunca mais o faria por causa dele. Limpei as lágrimas furiosamente e arranquei os fios molhados de minha franja que grudavam em meu rosto, de súbito peguei meu celular e respondi a mensagem que Turner me mandara mais cedo com os meus mais sinceros sentimentos.

“Vai se foder, seu otário”

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Haute couture : Termo francês usado no mundo da moda que significa alta costura

By the way: Também abreviado como “btw”, pode ser traduzido como “falando nisso” ou “a propósito”.

N/A: Olá pessoas lindas! Uau, esse capítulo foi bem intenso, eu não disse que Alexa sofreria um bocado por causa de Turner? Hahaha Peço desculpas previamente, arrumei um emprego de final de ano e por isso não atualizarei a fic com tanta frequência… Mas peço que vocês continuem a acompanhar a fic e também a deixar os comentários lindos que me motivam a escrever cada vez melhor para vocês! Ah e gente, eu NÃO faço parte do grupo. Nem sabia que tinha um '-' 

Ps: Já escutaram essa música da Patsy Cline? (não vale a versão do Alex, hein) É de cortar o coração…