- Está entregue – ele disse assim que estacionou em
frente à entrada de meu prédio.
A chuva do lado de fora caía ainda mais intensamente. A
impressão era que o céu de Nova York a qualquer hora iria cair.
- Obrigada –
agradeci enquanto aqueles olhos negros me fitavam. Os fios de seus cabelos
molhados caíam sobre sua testa e sua camiseta colava-se ao corpo – Eu gosto de
quando chove.
Depois de
perceber o que falei, ri e Alex me acompanhou achando graça do comentário
aleatório.
- A chuva é
bonita, mas eu gosto mesmo é quando o sol sai. Gosto de andar enquanto o vento
bate em meu rosto, isso me faz bem – falou olhando para o céu nublado.
- O que eu mais
gosto quando o dia está ensolarado, são as nuvens brancas. O jeito que elas se
movem...
- Passa a
impressão de que é a terra que está girando naquela velocidade – ele completou minha
fala de modo que poderia dizer que estava lendo minha mente.
Eu apertei a
jaqueta que ainda estava no meu colo com os dedos e percebi que eu tinha que
deixar aquele carro e aquela companhia.
- Sua jaqueta – a
estendi para ele.
- Pegue... Quer
dizer, para se proteger da chuva até a entrada. Você pode me devolver depois.
Pensei em recusar
a oferta, mas por algum motivo a pressionei mais ainda contra a palma das minhas
mãos e aceitei a gentileza. E não era só por causa da chuva.
- Obrigada. De
novo. Até mais – falei já abrindo a porta do veículo.
- Tudo bem... Até
mais, Elle.
Posicionei a
jaqueta sob minha cabeça e corri até a parte coberta da entrada. Dei alguns
passos em direção ao elevador, então parei e espiei por cima do ombro. Alex
ainda não havia partido. Sorri de modo
que no momento em que me toquei o que eu estava fazendo, balancei a cabeça
tentando me livrar daquilo. Eu deveria estar ficando maluca.
Ao chegar em
casa, despi-me de minhas roupas, enfiei tudo na secadora junto com a jaqueta e
fui direto para debaixo do chuveiro. Após ficar longos minutos submersa na água
morna, coloquei minha calça de pijama e uma blusa de mangas compridas, pois nem
com o aquecedor ligado eu me sentia aquecida.
Na cozinha, preparava
chá quente quando ouvi o apito que sinalizava que a secagem de roupas estava
completa. Eu normalmente deixaria ali até que precisasse de alguma peça, mas
deixei a chaleira no fogo e fui até a lavanderia. Da secadora, a única coisa
que peguei foi a jaqueta de couro. O seu calor envolveu meus braços de modo que
me senti confortável. Se eu deveria me sentir confortável, eu já não sei.
Voltei à cozinha,
preparei meu chá e me aconcheguei no sofá com a xícara em uma mão e a jaqueta
em meu colo. Na minha cabeça, eu só estava com ela, pois o couro preservava o
calor da secadora e eu estava apenas me aquecendo. Porém, no fundo eu não sabia
ao certo porque eu estava com ela ali. Eu só estava. Ponto.
...
Quando acordei,
já estava anoitecendo. Não vi quando peguei no sono, mas quando retomei a
consciência, eu estava abraçada a jaqueta e minha xícara de chá estava no chão.
Por sorte, não havia quebrado, mas o líquido que restava espalhou-se pelo
tapete felpudo.
Foi quando eu
estava completamente acordada que percebi que a campainha que estava soando era
a minha. Relutante, levantei e caminhei lentamente até a porta. Só poderia ser
Alexa, pois o porteiro não havia telefonado.
Então, abri a
porta, e em um gesto rápido sem que ao menos percebesse, eu senti seus lábios
contra os meus. Ele estava com as mesmas roupas, encharcado, pois a chuva não
havia cessado. Então senti o mais forte cheiro de álcool e nicotina do mundo
exalando dele e deduzi que nem ao menos para casa ele tinha ido. Alex se
separou de mim lentamente, seus olhos estavam vermelhos e marejados. Uma
expressão sofrida tomava conta de seu rosto.
- Me desculpe - disse
em um sussurro – Me desculpe.
Eu estava
perplexa demais para esboçar algum tipo de reação. Ele só ficou me olhando
fixamente enquanto eu tentava assimilar as ações que haviam acabado de ocorrer.
Se é que eu conseguiria entender o que havia acontecido.
- Eu vou embora –
falou já dando as costas.
- Alex – o chamei
quando desisti de tentar processar a informação – Você está bem?
Ele chutou de
leve a parede do corredor e deu de ombros.
- Eu não sei.
Eu não podia o
deixar pegar o carro naquele estado, já era um milagre ele ter chegado sã e
salvo ali pelo estado em que se encontrava. Mas como eu bem sabia o estrago que
uma má direção podia causar, eu respirei fundo e o puxei pela mão.
- O dono do bar
em que você foi deve ter ganhado o lucro do mês inteiro em uma tarde – falei
enquanto fechava a porta atrás de nós.
Eu analisei seu
estado, realmente ele estava com uma aparência horrível. Antes de fazer
qualquer coisa, tratei para que ele fosse se aquecer antes que pegasse uma
pneumonia ou algo pior.
- Você vai tomar
um banho enquanto eu vejo se tenho algo que possa usar – fui o empurrado pelos
ombros até o banheiro que ficava em meu quarto – E depois, você vai ter que me
explicar o que diabos está acontecendo.
Ele balançou a
cabeça silenciosamente em concordância e sentou-se na borda da banheira.
- Se estiver se
afogando, me chame – falei o deixando sozinho.
Por sorte, eu
tinha algumas calças masculinas da Burberry que haviam ficado comigo após um
editorial que participei. Peguei uma que caberia em Alex, junto com uma
camiseta do Joy Division que na verdade era minha, mas era um tanto larga. E como
eu havia ganhado do meu próprio primo, ele não poderia reclamar falando que era
de mulher, até porque não havia absolutamente nada que indicasse que fosse uma
camiseta feminina.
- Eu deixei roupa
seca em cima da cama para você, ok? – falei por trás da porta – Alex?
- Hã... Tudo bem.
Obrigado.
Com isso, saí do
quarto para que ele pudesse se organizar sozinho. Eu realmente não precisava
estar lá quando ele saísse em volto a apenas uma toalha.
...
Preparei duas
xícaras de café quente, pois sabia que um simples chá não teria efeito algum
naquele cérebro, e bati na porta do quarto assim que deduzi que já havia
passado tempo o suficiente.
- Entre.
Era estranho
alguém me dar permissão para entrar em meu próprio quarto.
Abri a porta
devagar, pois estava equilibrando as duas xícaras. Assim que realizei minha
proeza, fui até Alex que estava sentado na escada de incêndio que proporcionava
uma extensão de minha janela. A chuva havia cessado, as nuvens estavam se
movendo deixando que um céu estrelado ficasse a mostra.
Indiquei uma das
xícaras para ele, que pegou e logo deu um gole. Sentei-me ao seu lado e ficamos
em silêncio por um tempo.
As luzes dos
carros abaixo de nós, as pessoas andando apressadas e o barulho das buzinas
fazia parte da paisagem noturna de Manhattan. Mas naquele momento, parecia que
o silêncio era puro e absoluto. E isso estava me deixando desconfortável.
- Que bom que
você coube na minha camiseta – falei.
Alex sorriu em
meio a outro gole no café.
- Sorte a minha
que eu faço a dieta de Elle Deville.
- Eu parei com as
dietas faz muito tempo, meu caro. Agora estou me dedicando ao prazer de degustar
as mais deliciosas comidas que não fazem parte da dieta de uma modelo.
Ele balançou a
cabeça e me fitou.
- Eu lembro que
toda vez que pedíamos alguma comida, você sempre fazia uma lista de exigência
de ingredientes que deveriam ter ou não ter no seu pedido – falou – Isso me
dava nos nervos.
- Agora eu vou
lhe falar uma coisa... Você até hoje achou que eu fazia isso para me manter no
peso, mas na verdade é porque eu sou alérgica. Vocês gostavam de pedir comida
chinesa e eu não queria atrapalhar, mas vinham todos aqueles temperos. Então,
eu tinha que fazer aquilo para não acabar no hospital.
Alex ergueu uma
das sobrancelhas como se estivesse com dúvidas em relação ao que eu havia
contado.
- Não me olhe com
essa cara, é verdade. Se eu comer eu fico cheia de pontinhos como catapora.
- Isso é
engraçado – falou rindo.
- Isso foi há
tanto tempo, agora eu posso pedir alguma comida que não vá me matar.
Então, o riso
cessou. Sim, foi há tanto tempo. Quando ele e Alexa ainda estavam juntos,
quando nós saímos com nossos amigos, quando as únicas palavras que trocavam
eram as necessárias. Por que afinal de contas eu estava ali com ele?
- Por que você
está aqui, Alex? – logo perguntei.
Ele baixou o
olhar e segurava a xícara com as duas mãos. Meu chute era que ele não sabia o
porquê estava ali.
- Eu bebi
muito... Eu acho.
- Não sabia que
me apartamento era a primeira opção para os bêbados se refugiarem.
- Não foi isso
que eu quis dizer. Ah, sei lá. Eu comecei a pensar sobre o passado e eu me
perguntei “Por que eu e a Elle nos odiávamos tanto?” e quando eu vi eu estava
na sua porta.
- Então me beijar foi um pedido de desculpas?
– o questionei sobre o beijo que quase já tinha esquecido.
- Me desculpe
por isso – Alex ergueu a cabeça e olhou para mim.
Eu abracei minhas
pernas e dei um longo suspiro. Talvez
fosse mesmo a hora de resolver as coisas já que iríamos passar cinco dias tendo
que um ver a cara do outro.
- Eu nunca o
odiei. Odiar é uma palavra muito forte, só acho que você era meio rude comigo.
- Mas você sempre
me olhava com aquela cara de quem queria me matar. Você sempre me cortava
quando eu falava algo.
- Não é bem
assim... Ás vezes você ultrapassava os limites do egocentrismo.
- Você está me
chamando de egocêntrico?
- Estou falando
que seu ego chega a ser do tamanho do mundo – retruquei no mesmo tom irônico
que ele havia usado.
- O meu ego? Já
que estamos falando de ego porque não vamos lembrar-nos de “Ah, olha só eu saí
na capa da Vogue. Eu fui o rosto da coleção de inverno da Prada. I’m Elle
fucking Deville, líder e fundadora do site EuOdeioAlexTurner.com!”
– ele usou uma imitação barata de minha voz e aumentou o tom na última frase.
- Quem sabe, eu
crie mesmo um site assim. Nós iremos ter fóruns do tipo “Qual a frase mais
idiota que já saiu da boca de Alex Turner” e iremos falar sobre como você não
foi viajar em tour porque o seu ego não coube dentro da mala!
- Quer saber? Já chega – ele levantou-se e
passou pela janela – Eu não vou ficar discutindo com você. Você só liga pra si
mesma, e eu acho que já até lembrei porque nos odiamos. Por que você não para
de ler revistar e vai ler um livro? Quem sabe seu cérebro evolui um pouco –
Alex berrava enquanto atravessava o apartamento em direção à saída.
- Não sou eu quem
toca em uma banda que tem “Macacos” no nome – eu dava passos apressados logo
atrás dele.
Então, quando
chegamos à sala, ele parou. Olhou para o sofá e viu sua jaqueta. Alex a pegou,
a analisou por uns instantes e depois se virou para mim.
- Você dormiu
abraçada nela, não foi?
Eu ri ironicamente.
- É claro que
não. Olha só a minha cara de quem vai dormir agarradinha em sua jaqueta.
- Elle, defina
dormir.
- Eu não vou
definir porcaria nenhuma – cruzei os braços impaciente.
- Pois eu acho
que você e eu temos conceitos muito diferentes de dormir, porque o que você fez
foi dormir agarrada a minha jaqueta – ele cheirou a peça – Olha só, tem até o
cheiro daqueles cremes que tem em seu banheiro e dessa sua camiseta.
- Você andou
mexendo nos meus cremes?!
- Aqueles que
você usa para esconder sua verdadeira idade? Sim – deu de ombros.
- Você está
falando que eu tenho cara de velha?
- Estou falando
que você é tão amarga e ranzinza, que só pode ter quase um século de vida.
Irritada, eu fui
até a porta e a abri.
- Você já pode ir
embora, Turner.
Ele andou até mim
e ficou a poucos centímetros de meu rosto.
- E eu vou,
querida Elle. Com todo o prazer – o modo
que ele falou aquilo me deixou com o sangue fervendo ainda mais.
Ele já havia
chamado o elevador, mas eu ainda não havia fechado a porta.
- Vai ficar me
admirando por quanto mais tempo, amorzinho? – falou de costas para mim.
- Amorzinho?
Nossa, Alex parabéns. Você realmente mereceu o prêmio de maior babaca do ano! –
assim que falei, as portas do elevador se abriram. E lá dentro, estava Matthew
Hitt, meu ex-namorado.
Alex e Matt se entreolharam
por um tempo, e então ele olhou surpreso em minha direção. Alex entrou na caixa
metálica e Matt saiu no mesmo instante. Ele veio caminhando até mim e parou em
minha frente.
- Eu devo
estranhar isso? – perguntou.
- Depende do seu
conceito de estranho.
Depois que
terminamos, não havíamos conseguido ficar um sem o outro. Quero dizer, o namoro
havia terminado, mas a amizade não. Eu me sentia muito pressionada em
relacionamentos, mas fiquei triste quanto terminamos. Ele se importava muito
comigo e vice-versa. Matt era uma pessoa incrível, e eu seria uma tola se
quisesse tirar ele completamente de minha vida.
- Você está
triste, chateada? – ele passou a mão pelos meus cabelos – Ou você só está
descabelada? Por um acaso Turner veio aqui e lhe fez alguma coisa...?
- Estou bem. Sem
nenhum arranhão, só descabelada – sorri. Depois de Alexa, ele era a única
pessoa que conseguia me acalmar.
- Que bom. Por
que não suportaria a ver machucada. E se ele tivesse feito algo com você, eu
iria atrás dele agora mesmo.
- Não exagera,
Matt.
- Exagerar? Elle,
se algum dia o Alex, ou qualquer outra pessoa a machucar, eu vou até os confins
da terra para fazer essa pessoa se arrepender. Acho melhor ele abrir o olho –
disse em um tom divertido.
- Então eu acho
melhor eu fechar os meus.
Matt Hitt!! Já conversei/tirei fotos com ele, hahahaha <3 Adorei o capítulo!
ResponderExcluirEles já estão começando a se gostar e nem percebem isso. Ansiosa pelo próximo!
ResponderExcluirESSA FIC É MUITO AMOR! Esses 5 dias vão ser longos, viu? hahahahahahahaha
ResponderExcluirAmandoooooo a fic! Morro de rir com esses dois, cara! kkkkkkkk
ResponderExcluirContinua!! :)
Gosto como essa fanfic anda. Elle é tão eu hahahaha. Acho que se eu ficasse com a jaqueta do Alex eu faria a mesma coisa. Só ficou um pouco vago a intenção do Al quando foi até o apartamento dela, eu esperei alguma little explicação por parte dele, mas acho que você planejou isso, porque me intrigou bastante. Quero mais e mais!!!! beeeeeeeeijo
ResponderExcluirEssa fic, ai socorro! Matt e Elle/Al e Alexa x Matt e Alexa/Al e Elle. Jsjwjwjjdjsdskksd mal posso esperar. Estou adorando. Muito! Quero a jaqueta do Alex :((((( Amei a frase do finalll. Quero maaaisssss
ResponderExcluirBeijos
Steph
Matt Hitt, sério? SERIO MESMO? Para, cara. Eu tenho que estudar, não ficar ansiosa pelo proximo capitulo ):
ResponderExcluirHAHAH to adorando a fic, eu gosto da sua escrita e consigo ver o que acontece dentro dos diálogos. É muito... verossímil, sabe?
Beijos