I CAN BE CRUEL TO YOU



  Eu abri os olhos quando a manhã já estava clara, meu cérebro mal despertara e eu já estava com um sorriso no rosto. Nos últimos anos, o dia de meu aniversário sempre fora igual. Eu acordava, por volta das nove e meia minha avô ligava para avisar que estava a caminho de Londres, Lia chegava a minha casa com o meu bolo preferido e magicamente, o presente que me comprava sempre era o que eu queria. A mágica é que eu nunca falava para ela o que eu queria, mas ela sempre acertava. Nós passávamos o dia juntos, eu, Lia minha avó e meu irmão mais novo George. Eu recebia cartas e e-mails de pessoas que admiravam meu trabalho e fazia questão de demonstrar o quanto eu era grata pelo seu carinho de algum modo, como no ano anterior em que liberei online o primeiro capítulo do livro inédito.
  Mas aquele ano iria ser diferente. Naquele ano, além de minha avó, de Lia e de meu irmão, havia ele. O homem para quem resolvi entregar-me por completa e amar a cada segundo de meu dia.  Além dos amigos que acabei fazendo, como os meninos da banda e Breana.
  Virei-me e abracei o travesseiro que continha seu perfume e fitei seu lado da cama vazio. Alexander estava em Los Angeles, trabalhando no novo álbum, eu tive que voltar para Inglaterra pelos meus compromissos, mas sempre que o tempo permitia eu dava um jeito de atravessar o atlântico só para sentir seus braços entrelaçando meu corpo, o que me trazia uma calma inexplicável. Porém, naquele dia ele viria para Londres e nós iríamos comemorar meu aniversário juntos.
  Levantei-me, tomei um banho longo na medida em que minha consciência ambiental não pesasse, vesti um vestido e dei-me o privilégio de me permitir sentir-se bonita. Não era exatamente pela minha aparência, mas sim pela felicidade que me tomava. Desci as escadas a tempo de ouvir a campainha tocar e fui correndo a abrir.
  - Feliz aniversário! – Lia exclamou animadamente assim que a porta foi aberta.
  - Eu sabia que era você!
  Lia me abraçou forte, mais forte do que pensei que ela seria capaz. Eu possuía confiança suficiente para dizer que Lia era minha irmã e minha protetora. Eu não fazia ideia do que seria de mim sem ela, e abraça-la daquele jeito no dia do meu aniversário só firmou mais os meus pensamentos que já eram certos.
  - Eliza, você está crescendo tão rápido – os seus olhos estavam marejados.
  Seu comentário fez com que eu risse. Era incrível como ela lembrava minha mãe, tal que eu sentia tanta falta.
  - Eu já tenho vinte e dois anos, Lia. Não acho que irei crescer mais que isso – enxuguei a lágrima que escorreu pelo seu rosto.
  - Eu sei, eu sei. Mas, eu não quero ficar chorando que nem uma idiota no seu aniversário. Eu trouxe o seu presente e mais uma coisinha, está no meu carro... Porém, antes nós vamos tomar café! Na sua cafeteria preferida, o que acha?
  - Eu bem que estranhei você não ter trazido bolo – alcei a sobrancelha – Tudo bem, espere que irei pegar minha bolsa.
  - Ok, vá rápido – ela falou indo em direção ao seu carro.

...

  Acomodávamos-nos em uma mesa perto da janela enquanto eu não conseguia tirar os olhos do meu celular e mexia no mesmo um tanto quanto freneticamente desde que havíamos saído.
  - Estou começando a me arrepender de ter incentivado você a comprar um celular aceitável para esse século – disse Lia – O que você tanto mexe nele, menina?
  - Estou mandando uma mensagem para Alexander, ele não me ligou ainda e nem atendeu minhas ligações... Estou preocupada. Era para ele ter chegado já, o voo dele saiu ontem à noite, são doze horas de Los Angeles para cá.
  - Deve ser o fuso horário – comentou séria como aqueles repórteres do jornal que passa no horário nobre – Ou deve estar dormindo, quer dizer, sei lá o namorado é seu você deve saber – ela começou a analisar as unhas – Já sei! O celular dele deve estar em modo avião.
  Tirei os olhos da tela do aparelho para analisa-la, ela mexia nos cabelos a cada milésimo que se passava e tamborilava seus dedos na mesa um tanto rápido demais.
  - Eu já não lhe falei que você tem uns tiques quando fica nervosa? - franzi a testa.
   Ela levou as mãos no rosto e suspirou.
  - Você me pressiona demais, sabia? Eu não sei o porquê das pessoas ainda me pedirem para fazer esse tipo de coisa, eu acabo estragando tudo!
  - Lia, calma. Vamos lá, conte comigo: Um... Respira... Dois...
  Ela seguia minha contagem, mas creio que não foi de muito uso.
  - Ah, dane-se – ela se levantou – Espere aqui, eu já volto.
  Eu, sem saber como reagir diante de inesperada atitude de minha querida amiga, fiquei sentada enquanto ela saía da cafeteria e ia em direção ao seu carro. Eu fiquei entretida com o pequeno cardápio, quando Lia voltou tão rápido quanto saiu. Só que em sua volta, ela carregava um enorme buquê de flores, lindos copos de leite brancos e uma caixa embrulhada com papel de presente.
  - Eu posso perguntar o que é isso? – a analisei enquanto ela se sentava novamente e botava o buquê e a caixa quadrada em cima da mesa.
  - É o seguinte – começou – Esse aqui é o meu presente – ela me passou a caixa com um laço amarrado – Abra.
  Eu respirei fundo antes de desfazer o nó. Tirei a tampa lentamente e então, me inclinei para ver o que tinha dentro. E certamente, fez meu queixo cair.
  - Você está brincando – a encarei com os olhos arregalados.
  - Não, não estou. E antes que pergunte o autógrafo é de verdade e vem com modificador de voz.
  Tirei da caixa uma réplica perfeita do capacete de Darth Vader autografado pelo próprio George Lucas.
  - Como isso aconteceu? – perguntei enquanto apreciava o capacete.
  - Um bom mágico nunca revela seus segredos, cara Eliza.
  Eu não fazia a mínima ideia de como ela havia conseguido isso, mas eu a abracei e agradeci infinitamente por presente tão incrível e inesperado.
  - Eu sei que sou uma ótima amiga... Mesmo que eu não entenda essas coisas de Hogwarts e tal, sabia que você iria amar.
  - Lia, Hogwarts é de Harry Potter.
  Ela deu de ombros e então começou a rir.
  - Ok, tudo bem. E o buquê é seu também? – eu mexia em algumas das delicadas pétalas.
  - Ah sim, o buquê – ela tirou um cartão da bolsa – Eliza, eu tenho duas notícias para te dar: Uma consideravelmente boa e outra não tão boa, qual você quer ouvir primeiro?
  - Bem, nenhumas das opções são muito animadoras, mas... A consideravelmente boa, primeiro, por favor.
  Lia abriu o cartão e pareceu ler seja lá o que estivesse escrito e então, finalmente voltou-se a mim e falou:
  - Alex mandou as flores, junto com esse cartão – me entregou o simples pedaço de papel – Não abra antes de ouvir a notícia não tão boa, assim você não irá ficar com tanta raiva.
  No mesmo instante meu coração começou a bater mais rápido.
  - Pelo amor de Deus, fale logo antes que eu tenha infarto agudo do miocárdio aqui mesmo.
  - Infarto agudo do que?
  - Ataque cardíaco – simplifiquei.
  - Você fala umas coisas estranhas, sabia? – ela balançou a cabeça – Mas indo logo ao assunto antes que você tenha um ataque cardíaco, eu vou ser direta: Jamie, Nick, Matt, Breana... Todos eles pegaram o avião ontem a noite como programado. Mas aparentemente, Alex teve que resolver algo de última hora e só vai conseguir pegar um voo mais tarde. Eles chegaram pela manhã, Alex mandou Matt trazer o bilhete e pediu para comprar especificamente essas flores, ele me ligou e pediu para que eu passasse no apartamento para pegar as coisas. Matt achou que seria melhor se eu entregasse a você.
  Uma das marcas registradas de Lia, era que quando tinha algo para falar, após enrolar muito, despejava tudo de uma vez e sobrava para eu ter que processar toda a informação em um curto período de tempo. Ainda mais uma daquelas, que arrancou um pedacinho do meu coração.
  - Uh... Você sabe que horas o voo dele sai? – perguntei cabisbaixa.
  - Eu não tenho certeza, quer dizer... Liz, não fique assim, ele vai chegar. Vocês irão ter tempo para ficarem juntos. Até meia noite ele chega, eu prometo. Afinal, meia noite é a hora do encanto, não é?
  - Deve ser – dei de ombros.
   A verdade era que eu queria tê-lo perto de mim o mais rápido possível, ainda mais naquele dia em especial.
  - Leia o bilhete – ela sugeriu.
  Eu fitei o papel meio amassado em minha mão e então o desdobrei. Só de ver sua caligrafia, um arrepio percorreu meu corpo por completo. Quando comecei a ler, era como se todos houvessem desaparecido:

Eu já não consigo pensar em algum lugar sem pensar em você. Não consigo encontrar nada para sonhar, pois meus sonhos se encontram todos em seus beijos.
  Me assusta pensar que seria mais fácil se eu não amasse cada detalhe seu, que seria mais fácil se me imaginar sem você não houvesse se tornado uma tortura. Que seria mais fácil fingir que você é só mais uma amante. Tudo isso porque você já se tornou rotina em mim e o medo de não poder nunca mais lhe tocar me assombra.
  As minhas palavras podem parecer confusas, sem sentido, mas tenho certeza que você sabe o que elas significam. Desculpe por não estar ai neste exato momento, para poder abraça-la e desejar-lhe um feliz aniversário. Mas não se preocupe, em breve eu estarei.

Alexander. “

  Inspirei e respirei fundo após ler a última linha. Depois de ler suas palavras, já não me sentia chateada ou triste. Só estava feliz por ele pensar em mim.
  - Ás vezes eu acho que o odeio por me fazer essas coisas... Fazer com que eu sinta como uma garotinha apaixonada por causa de um simples bilhete.
  Lia abriu um sorriso bobo, como uma adolescente indo ao seu primeiro baile.
  - O que foi? – perguntei.
  - Vocês dois, o que você e Alex compartilham um com o outro é algo lindo. Eu fico feliz por ver você feliz e sou grata a ele por fazer você feliz – ela segurou minha mão que estava apoiada na mesa.
  - Você não vai me fazer chorar – falei tentando segurar as lágrimas que ameaçavam sair enquanto Lia ria.
  Nesse momento, uma garçonete se aproximou da mesa com um simpático sorriso no rosto.
  - Eliza Fordie? – a garçonete cujo nome era Natalie pelo o que vi em seu pequeno e delicado crachá dirigiu-se a mim.
  - Sim...?
  - Um passarinho nos contou que hoje é seu aniversário, a informação está correta? – perguntou.
  - Estou completando vinte e dois anos, só espero que daqui para frente não seja como a música da Lily Allen – tal música que no dia anterior ouvi inúmeras vezes mesmo contra a minha vontade.
  - Bem, temos um presente para você – a garçonete virou-se para trás e acenou com a cabeça para alguém.
  Instantes depois, outro funcionário apareceu com uma bandeja que portava cupcakes coloridos e no meio, havia velas daquelas que faiscavam e foi ai que ele puxou o coro e todos do lugar cantavam em conjunto:
  - Happy birthday to you, happy birthday to you. Happy Birthday dear Eliza, happy birthday to you.
  O rapaz colocou a bandeja em minha frente e pude ver que havia livros desenhados nos cupcakes. Eu mal podia acreditar no que acontecia.
  - Faça um pedido – disse Lia toda sorridente.
  Eu fechei os olhos, fiz mentalmente meu desejo e apaguei as velas em um só sopro.

POV Alex

  “Ela é uma escritora de sucesso, um ícone fashion e atual namorada de Alex Turner, vocalista da banda ‘Arctic Monkeys’ e tudo isso aos vinte e dois anos. Seu nome é Eliza Fordie, mas é claro que você já sabia.
  Hoje, dia 24, Fordie comemora seu aniversário em pleno auge de sua vida. Seu último livro foi um sucesso não só de vendas como foi aclamado com grande entusiasmo pela crítica, e o próximo que irá dar sequência a saga ‘Velvet & Riddle - Mentes Sombrias' está a caminho vindo com ainda mais força. Seu relacionamento com o músico, apesar dos rumores intrigantes que cercaram suas vidas pessoais nos últimos meses, envolvendo até o nome de Miles Kane - antigo amigo de Alex e parceiro no projeto paralelo “The Last Shadow Puppets” - claramente anda as mil maravilhas, fato que pode ser constatado apenas ao ver uma das inúmeras fotos que saíram quando ela foi visita-lo em Los Angeles, onde está gravando seu novo disco com a banda. Além disso, Eliza acaba de ser nomeada como “Mulher do Ano” pela Rolling Stone britânica.
 Apesar de tudo, Fordie mantém-se centrada em sua escrita, como afirmou em uma rápida entrevista que concedeu durante sua sessão de autógrafos a que ocorreu há dois dias, em uma famosa livraria de Londres.

Interviewer: O que você acha do peso que seu nome ganhou em tão pouco tempo, não só no ramo da literatura, mas também no mundo da moda e em como as pessoas começaram a se interessar por você e por sua vida?

Eliza Fordie: Eu acho que isso aconteceu pelos meus livros, que é no que eu sempre me mantive focada. O resto é uma consequência disso, eu pude ir a um desfile ou outro e então, alguns convites surgiram e quando percebi estava sendo chamada de ícone. Eu fico muito lisonjeada com isso, mas eu sempre vou manter a escrita em primeiro lugar. E em relação a minha vida – ela ri sem jeito – eu não faço nada de muito interessante, não sei porque as pessoas tem curiosidade sobre ela.

Interviewer: E seu namoro, Alex está em L.A e você tem seus compromissos em Londres. Como vocês lidam com isso?

Eliza Fordie: Quando tenho tempo, eu sempre viajo para vê-lo, é claro que não é a mesma coisa, mas sabe, quando se tem o que nós temos um com o outro é o suficiente.

Interviewer: Você irá fazer vinte e dois anos, o que você espera disso?

  Ela ri e dá de ombros antes de responder:
  “Só espero que vinte e dois não seja o vinte e sete dos escritores.”
Diz fazendo referência ao famoso ‘Clube dos Vinte e Sete’, a idade com que alguns famosos músicos faleceram.

  Nós da equipe Marie Claire UK, gostaríamos de desejar um feliz aniversário para a nossa querida Eliza Fordie, junto com toda a felicidade do mundo. Parabéns, Liz!”

  A matéria havia sido publicada há duas horas no site da revista. Eu estava sentado na sala de espera do aeroporto e após ler aquilo, ansiava ainda mais para que as horas passassem rapidamente. Eu não pude embarcar na noite anterior e agora estava impaciente esperando pelo voo enquanto poderia já estar com Eliza.
   - Chamada para o voo 237 de Los Angeles com destino á Londres. Passageiros embarquem no portão B – a voz soou pelos alto-falantes. Foi quase como uma chamada para um milagre.
  Apressadamente, peguei minhas malas em rumo ao portão de embarque. Aquelas iriam ser longas horas dentro de um avião.

POV Eliza

  - Eles estão demorando – comentei checando o relógio pela milésima vez.
  Eu e Lia estávamos na ferroviária esperando pela minha avó e por meu irmão.
  - Calma, o trem vai chegar daqui a pouco.
  - O avião, o trem, tudo atrasado. Alex, minha avô... Se nós formos pedir pizza hoje à noite, advinha quem vai chegar atrasado? Isso mesmo, o entregador. Porque hoje é o dia do atraso.
  - Como você é dramática – disse rindo – E o entregador não vai chegar atrasado porque não vamos pedir pizza. Eu tenho outros planos para nós.
  Eu a encarei com os olhos cerrados.
  - Outros planos?
  - Outros planos. Ou você acha que eu vou deixar você ficar sentada comendo pizza enquanto Alex está em um avião e sua avó provavelmente dormindo e seu irmão já no trigésimo sonho?
  - Lia, eu já falei que não confio muito nos seus planos?
  - O que você quer dizer? Por um acaso eu já botei você em alguma roubada?
  Toda vez que ela falava isso era porque ela iria me botar em uma ‘roubada’.
  - Eu não se isso é uma boa ideia...
  - Não é uma boa ideia, é uma ótima ideia.
  Mesmo sabendo que era bem possível que eu arranjasse uma desculpa para não ir, preferi não contesta-la, pois ai sim eu iria perder a briga.
  - Olha lá, é o trem de sua avó – ela apontou e saiu correndo em direção a ele.
  Logo vi para onde ela ia e fui atrás tentando manter seu ritmo. Era incrível o quão rápido ela conseguia andar mesmo com aqueles saltos.
  Não demorou muito para que nós os avistássemos saindo do trem e logo que meu irmão nos viu, veio correndo em nossa direção.
  - Liz! – ele gritou e pulou em meus braços.
  - George! – o girei no ar.
  - Eu estava com saudades de você – falou – E eu fiz um presente para você.
  - Você fez um presente?!
  - Fiz sim – ele tirou do bolso um cordão com um pequeno pingente de prata do Peter Pan que eu havia dado a ele quanto tinha seis anos, e em seguida o depositou em minha mão.
  - Para você nunca ficar velha.
  Eu apertei o cordão em minha mão e abracei George.
  - Muito obrigada. Eu gostei muito.
  O coloquei no chão e logo fui abraçar minha avó.
  - Que saudades que eu estava de você, minha querida – ela disse.
  - Eu também, vovó. Senti muito sua falta.
  Ela passou as mãos pelo meu rosto e me analisou em silêncio.
  - Olhe só você, vinte e dois anos e já é tão grandiosa. Sua mãe teria orgulho de você.
  Eu a abracei novamente.
  - Eu acho melhor nós irmos indo se não eu vou começar a chorar – falou Lia.
  Nós separamos e então, minha avó pegou uma mecha de meu cabelo.
  - O que é isso nas pontas?
  - São mechas, a Lia que fez – falei.
  Elas se olharam por um instante.
  - Só podia ser coisa da Lia.
  - Ah, senhora May! Vai dizer que não gostou? – ela contestou.
  Vovó analisou meu cabelo novamente.
  - Até que não ficou tão ruim.
  - Eu gostei – falou George.
  - Viu...George sabe das coisas – brinquei.

...

  Nós ficamos conversando sobre tudo sentados na sala de estar em minha casa à tarde inteira e logo depois, minha avó fez um jantar delicioso. Não demorou muito para que meu irmão estivesse implorando por uma cama e vovó cansada demais para ficar em pé.
  - Eu vou botar George pra dormir e também vou me deitar. Pelo o que Lia disse, vocês vão sair, não é?
  - Na verdade...
  - É, nós vamos sair – ela me interrompeu – Vamos, Liz. Temos que nos arrumar, levanta.
  - Lia, Alex pode chegar a qualquer instante. Não é melhor nós ficarmos aqui?
  - Nada disso! Você sabe como é os aeroportos, um caos. Se ele chegar, ele vai ligar para você, ai nós voltamos. Mas vamos dar uma volta, por favor.
  - Ela tem razão, minha querida. Vão se divertir, se Alex chegar eu aviso.
  Já completamente derrotada, cedi à pressão das duas.
  - Tudo bem, mas vamos voltar logo.
  Lia deu pulinhos de alegria.
  - Se divirtam meninas.
  - Obrigada senhora May, pode deixar. Tenha uma boa noite.  
  - Boa noite vovó.
  Eu olhei para Lia e ela tinha um sorriso largo e um tanto assustador no rosto.
  - Você tem que estar lin-da! Afinal, é o seu aniversário – ela me pegou pela mão e me arrastou pela escada em direção ao meu quarto.

...

  Ela estacionou o carro na frente de um belo prédio, mas não parecia que ali era um lugar que costumava ser tranquilo, porém naquele dia não havia movimento na entrada.
  - Lia, por um acaso isso é uma boate?
  - Uma casa de repouso que não é – respondeu enquanto saímos do veículo.
  - Olha só o meu estado para ir a uma boate.
  - O que foi? Sua roupa está linda, você está linda, está tudo lindo.
  - Não estou falando da aparência, estou falando do meu ânimo.
  Lia rolou os olhos e me puxou pelo braço.
  - Deixa disso, vamos logo.
  O segurança que ficava em frente à porta principal não nos parou para conferir nome nem nada do tipo. Lia com certeza tinha muita influência naquele lugar.
  Ela me orientou por um corredor estreito e escuro, não havia som algum no lugar. Era como se o prédio estivesse morto.
  - Lia, que lugar é esse? – perguntei um pouco receosa.
  Ela me olhou, segurou minha mão e sorriu. Foi nesse instante que de repente a escuridão desapareceu em meio às luzes coloridas e o silêncio foi quebrado por um coro inesperado:
  - Feliz aniversário, Eliza! – olhei para o lado e deparei-me com inúmeras pessoas, luzes coloridas e tudo o que havia direito.
  - O que é isso? – minha voz era trêmula.
  - Uma festa surpresa, oras! – ela me carregou para o meio da multidão.
  Não era fácil reconhecer os rostos pela pouca claridade, mas eu sabia que não conhecia nem metade daquelas pessoas.
  Em uma rodinha, pude ver Jamie, Nick, Matt e Breana, todos rindo e bebendo. Porém não havia sinal de Alexander.
  - A aniversariante finalmente chegou – Breana me abraçou – Feliz aniversário!
  - Parabéns, Eliza – os outros falaram e cada um me abraçou.
  - Muito obrigada – agradeci – Vocês já sabiam dessa festa?
  - Todo mundo sabia, menos você – falou Matt.
  Eu balancei a cabeça como se aquilo fosse a coisa mais óbvia do mundo.
  - Eu tenho que parabenizar Lia por pela primeira vez na vida ter conseguido guardar tão bem um segredo – ela me deu um beliscão pelo comentário.
   - É, chegamos a considerar a ideia de colocar uma fita isolante na boca dela, mas ela se saiu bem – brincou Jamie.
  Conversamos por alguns instantes até que alguém me chamou a atenção. Vi Dave sorrindo e gesticulando enquanto conversava com um rapaz que já havia visto com Lia uma vez.
  - Se vocês me derem licença, eu vou cumprimentar um amigo – os avisei.
  Era bom ver um rosto conhecido no meio de todas aquelas pessoas. Apesar de estar com meus amigos, minha cabeça estava longe e tentava processar a informação da festa.
  Uma festa surpresa, essa realmente foi inesperada. Eu me sentia mal por não estar com ânimo para aquilo, festas nunca foram meu forte.
  - Ei, Eliza – Matt me chamou antes que eu me afastasse – Ele vai aparecer.
  Concordei com a cabeça e fui em direção a Dave.
  Aproximei-me um tanto quanto receosa, mas assim que ele me viu, seu sorriso ficou ainda maior.
  - Veja só se não é a aniversariante! – exclamou alegremente.
  Assim que estava perto o suficiente, ele me abraçou forte.
  - Parabéns, Liz – disse quando nos soltamos – O seu presente está com os outros, espero que você goste – ele apontou para uma mesa com inúmeras caixas. Eu mal podia esperar para abrir todos eles...
  - Parabéns Eliza – disse o outro rapaz – Eu sou Tom, amigo de Lia.
  - Muito prazer – o cumprimentei.
  - Bem, eu vou dizer um “Olá” para ela então – ele disse se afastando – Ah, parabéns pela festa está linda.
  Tom foi falar com Lia deixando eu e Dave sozinhos.
  - Eu tenho certeza que você não fazia ideia dessa festa – ele brincou.
  - E você tem toda razão.
  Dave riu e eu o acompanhei. Era impossível não rir quando ele abria aquele sorriso.
  - Você parece estar bem – falei.
  - E estou. Estou aprendendo coreano e bem... Eu conheci uma pessoa.
  - Jura?! Quem é a garota de ouro?
  - O nome dela é Aria Jiyoung. Mora aqui faz uns anos, mas ela é coreana.
  - Isso explica seu interesse acadêmico – disse rindo.
  Então, o celular de Dave começou a tocar. No meio do barulho, era quase inaudível.
  - Falando nela, veja só quem está me ligando – falou analisando o visor do aparelho – Bem, eu vou lá fora atender. Foi bom rever você Eliza, não imagina o quanto fico feliz em saber que você está bem. Você é uma pessoa incrível e merece o melhor.
  Eu senti minhas bochechas corarem e torci para que estivesse escuro o suficiente para que ele não pudesse ver.
  - Eu também estou feliz por você, Dave. De verdade – falei sincera – Espero que dê tudo certo com a Jiyoung e quero conhecê-la, tudo bem?
  - Mullon ye. Quer dizer “Sim, claro”. É só marcarmos um dia... E mande lembranças ao Alex.
  - Claro, tudo bem. Quer dizer... Mullon ye.
  Dave sorriu e me deu um último abraço.
  - Nós vemos por ai, Eliza.
  O observei entrar em meio a multidão e então, desaparecer completamente de meu campo de visão. Com isso, decidi ir até o bar beber alguma coisa.

    - Um suco de maracujá, por favor – pedi ao barman.
  Sentei-me no banquinho alto e passei os olhos pelo lugar. As pessoas pareciam estar se divertindo, dançavam e conversavam umas com as outras e então concluí que de fato, eu não conhecia a maioria delas.
   - Aqui está – o barman voltou com o copo em mãos.
  Eu agradeci e dei um gole no líquido gelado. Em seguida, senti um arrepio, pensei ter sido pelo gelo, mas o arrepio foi provocado quando alguém se aproximou de mim.
  - Quer dizer que a senhorita está de aniversário – Miles Kane sentou-se ao meu lado – Meus parabéns.
  Eu o observei pelo canto do olho.
  - Obrigada, muito gentil de sua parte – respondi indiferente.
  Miles levou a garrafa de cerveja que tinha em mãos a boca e depois a colocou sob o balcão.
  - Você sumiu Eliza... Não retornou minhas ligações, me deixou falando com as paredes. Só fui ter notícias suas quando soube que você tinha voltado com Turner. Isso me decepcionou. Isso me magoou de certa forma.
  Eu dei outro gole em meu suco e fitava qualquer coisa a minha frente, não estava disposta a discutir aquilo com Kane.
  - Eu não tomei as atitudes mais corretas do mundo, mas minhas intenções nunca foram maléficas. Nunca quis lhe ofender. É só que...
  - É a vida, Miles – o interrompi - Não temos controle sobre ela. Não escolhemos por quem iremos nos apaixonar. Não podemos forçar ninguém. Ela acontece sem avisos prévios, mas nem tudo acontece por uma razão magnífica. Se um copo cai ao chão, não foi porque estava escrito no futuro que isso tinha que acontecer. Ás vezes é só a simples e pura gravidade, sem nenhum significado especial. A gravidade nos fez cair, Miles. A simples e pura gravidade. Mas foi graças a ela que nos levantamos novamente. Foi a vida que aconteceu.
  Nos entreolhamos por um instante e ele apenas balançou a cabeça em concordância. Kane pegou sua garrafa e levantou-se, porém antes de deixar-me sozinha novamente, olhou nos meus olhos e disse uma última coisa:
  - Ás vezes a gravidade só nos ferra, Eliza. Não me diga que você nunca desejou voar.
 
...

  Depois de um tempo, as músicas que saia das caixas de som já haviam se tornado martelos em minha cabeça. Eu estava cansada, a conversa com Miles havia acabado com o entusiasmo em ter visto Dave e a preocupação com Alex não saia de minha cabeça, então conversei com Lia e a avisei que iria embora.
  - Me desculpe, eu agradeço o que fez por mim. Mas eu não estou muito bem.
  - Liz, não se desculpe. Eu a entendo, eu já chamei seu táxi. Eu explico o que aconteceu, pode ir. E por favor se acontecer algo, se precisar de mim, me ligue.
  Eu concordei e depois de um abraço, saí apressada para a saída.

...

  Em minha casa tudo estava escuro, calmo e silencioso. Joguei meus sapatos em um canto da sala e subi as escadas cuidadosamente para não fazer nenhum ruído. Meu irmão podia ter o sono muito leve ás vezes. Quando cheguei ao meu quarto, a escuridão era plena por causa das grossas cortinas que estavam fechadas. Eu tateei o chão até encontrar minha cama e quando me sentei nela, uma luz se acendeu na parede a minha frente. Meu coração congelou e meus músculos se tencionaram. Só depois de alguns segundos percebi que se tratava de uma projeção, era um vídeo. As palavras ‘Dear Eliza’ se formaram e a música começou a tocar:


   Alex surgiu da varanda assim que o vídeo chegou ao fim, nós dois sorríamos como crianças. Ele sentou-se ao meu lado e me abraçou forte.
  - Eu achei que você nunca iria chegar – falei baixinho – Até cheguei a pensar que você... Não se importava.
  Alexander riu contra meu pescoço e começou a cantarolar em um sussurro:
  - Yeah, I’m sorry I was late. Well, I missed the plane and then the traffic was a state. And I can't be arsed to carry on in this debate that reoccurs, oh when you say I don't care…Well of course I do, I clearly do!
  Eu acariciei seu rosto delicadamente.
  - Assim não vale.
  - Cada um usufrui de suas armas – ele colocou uma mecha de cabelo atrás de minha orelha – Feliz aniversário.
  Alexander então finalmente selou nossos lábios em um beijo lento, um beijo que queria suprir a falta que um sentiu do outro, um beijo que carregava mil e um significados. Ele me deitou na cama e depositou pequenos beijos por todo o meu rosto.
  - Por que você não avisou que tinha chegado? – perguntei.
  - Lia tinha armado toda aquela festa, eu sabia que ela iria te carregar para lá. Eu queria fazer a minha surpresa para você. Só nós dois, juntos – ele mordiscou minha orelha.
  - A minha avó e meu irmão estão em casa, sabia?
  - Não estão não – eu o encarei e ele logo entendeu minha expressão questionadora – Sua avó quis ir para casa da Lia assim que eu falei o que eu iria fazer. Eu tentei convencer ela de que não era necessário, mas ela insistiu.
  Isso sim era a cara de minha avó.
  Alex passava uma de suas mãos pelos meus cabelos de um jeito extremamente agradável, e a outra ele deslizava por toda extensão de meu corpo provocando arrepios.  Seus lábios, imperceptivelmente, passaram do meu rosto para meu pescoço enquanto ele começava a brincar com a barra do meu vestido e antes que eu percebesse boa parte da minha coxa estava de fora. Soltei uma risada abafada deslizando meus dedos por seu cabelo, até chegar à nuca. A sensação que Alex causava em mim, era algo completamente inexplicavel, não era apenas aqueles arrepios que passavam por meu corpo como pequenos e infinitos choques, eram uma sensação de calma e paz, um conforto em meu coração e eu senti que não precisava de nada além dele para ser feliz. O único presente de aniversário que eu realmente queria era Alex comigo hoje e sempre.
  Por um segundo seus lábios deixaram meu pescoço para que pudesse olhar em meus olhos. Um sorriso que quase não percebi se formou em seus rosto enquanto ele descia as mãos de minha bochecha, passando por meu pescoço, meu ombro, chegando no decote singelo do do meu vestido. Alex deslizou sua mão por dentro tocando meu seio e se deitou sobre mim cobrindo meu corpo com o seu antes de voltar a me beijar. Era um beijo apaixonado, cheio de desejos e pedidos, cheio de... amor. Segurei sua blusa pela barra a puxando para cima e, antes que eu percebesse, ela já estava jogada em um canto qualquer do quarto e não demorou muito para Alexander resolvesse se desfazer de meu vestido dando a ele o mesmo fim. O calor de sua pele na minha era o suficiente para me manter sempre quente. Virei-me sobre ele espalhando pequenos beijinhos por seu peito, enquanto ele brincava com meu cabelo. Deslizar minha minhas mãos por ele e ter a certeza que ele é meu, é uma verdade que eu nunca serei capaz de explicar, porque cada segundo ao lado dele se parecia com um sonho.
  Alex me segurou pelo quadril e me colocou sentada sobre o dele e com um gesto simples com os olhos pediu que eu mesma tirasse meu sutiã. E eu o fiz sentindo seus dedos passearem pela pele delicada da minha barriga até chegar na parte inferior dos meus seios. Turner passou um tempo apenas me observando, como se quisesse gravar cada centímetro de mim para sempre, e se não fosse pelo sorriso bobo em seus lábios eu ficaria sem graça com a intensidade de seu olhar em mim. Em um movimento rápido, voltamos a nos deitar. Alex beijava meu colo com um misto de desejo e paixão ao mesmo tempo que seus dedos começavam a me tocar já nos lugares certo me fazer afundar meu rosto na curva de seu pescoço e dar leves arranhões em suas costas, o que de, certa forma, atrapalhava todo o seu trabalho. Em poucos minutos as peças de roupas que ainda usávamos se perderam na escuridão do quarto, enquanto eu o sentia me completar, não apenas fisicamente. Fechei meus olhos sentindo sua respiração, que começava a ficar ofegante, bater em minha pele, antes que ela se tornasse palavras. Palavras lindas que só faziam com que eu o amasse cada vez mais:

 - Eu te amo, Eliza. 

***
N/A: DESCULPEM PELO SUSTO! Mas hoje é o aniversário da Eliza, sim, eu tenho uma ficha de personagem com personalidade, aniversário, etc. E eu não podia deixar isso passar em branco, ainda mais quando eu tinha aquele vídeo pronto desde quando eu estava escrevendo BCTM. Mas enfim, eu queria a agradecer a maravilhosa Lai que me ajudou com o capítulo, você é incrível! Obrigada mesmo. 
  Espero que vocês tenham gostado de matar um pouquinho a saudade, caso sentissem. Eu realmente não podia deixar isso passar em branco. BEIJOS NO FUNDO DO CORAÇÃO! Vocês são demais. Com amor, Bel. 

6 comentários:

  1. Nada traduz o quanto eu amo essa casal. Espero que você se lembre daqueles meus longos comentários sobre os dois haha isso evitará que este fique tão longo quanto aqueles. Anyway, Liz e Alex são tão lindos juntos, eu senti frio na barriga ao ler a cena final. Tão singelo, tão único, tão eles...
    Eu não sei bem a magia que essa fanfic tem, mas algo nela é tão peculiar, que me faz sempre ansiar mais e mais. Se você realmente tiver capítulos prontinhos, please, poste-os. Acho que não só eu, mas todas queremos muito isso. MESMO.

    Saudades, saudades, saudades...

    ResponderExcluir
  2. YES! Eu adoro esta fic! :D
    Quando comecei a ler não conseguia parar, fiquei são triste quando acabou D:
    BUT I AM HAPPY NOW.
    AWESOME STUFF!

    ResponderExcluir
  3. SHDKODOLWNDBFKCFRWDFNFJEOWKDNFKDOWKDJFJFRKEOWLDMDNFKWOKQKDNFJRDISMDNFNF Espero que entenda o que issso quer dizer. Estou é morta com essa cena final. Amo esses dois. Continua, Bel.


    Beijos




    Steph

    ResponderExcluir
  4. ESSA FIC SEMPRE VAI SER DO MEU INTERESSE! E EU TÔ TÃO FELIZ! EU AMO A ELIZA! E SIM, EU NÃO ESQUECI O CAPS LOCK LIGADO EU ESTOU REALMENTE GRITANDO, PQ TO TÃO ANIMADA E.. E.. E.. AAAAWWWWWWNNNNNN!

    ResponderExcluir
  5. Ah, isso foi lindo. Fiquei com um sorriso bobo no rosto enquanto estava lendo. Por favor, continua!

    ResponderExcluir
  6. Fic mais do que linda, esse capítulo extra me deixou extremamente feliz! Li o capítulo temendo chegar ao fim e com isso ter que me despedir novamente desses dois ):
    Mas foi tudo lindo, muito obrigada por essa oportunidade de amar mais um capítulo dessa história maravilhosa!

    E posta todos esses capítulos aí, menina! Hahahaha

    Beijos! xx

    ResponderExcluir

Não precisa estar logado em lugar nenhum para comentar, basta selecionar a opção "NOME/URL" e postar somente com seu nome!


Se você leu o capitulo e gostou, comente para que as autoras atualizem a fic ainda mais rápido! Nos sentimos extremamente impulsionadas a escrever quando recebemos um comentário pertinente. Críticas construtivas, sugestões e elogios são sempre bem vindos! :)