Suck it and see - Capítulo 3

         Alguém bateu no vidro me avisando que devia sair do carro, pisquei algumas vezes afastando o sono de meus olhos, meu relógio marcava 5:45 pm o que indicava que o show estava no seu fim e logo deveria entrevistar a banda, engoli seco e me levantei alisando a roupa. O estagiário abriu a porta para mim, lancei um sorriso torto em agradecimento constrangida por ter sido deixada dormindo na van pela equipe.   O garoto de cabelos ruivos e sardas no rosto - que não deveria ter mais do que seus 20 anos - me estendeu um bloco com algumas anotações em letras tortas e corridas, aquilo era ilegível demais até para mim, haviam muitos rabiscos aleatórios nas páginas o que indicava o abandono repentino do escritor para manifestar sua excitação por estar assistindo ao show de sua banda favorita, olhei para seu rosto para comentar algo a respeito e vi que sorria infantil para mim.
        
         - Nossa foi um show incrível! Cara, você não tem ideia…! - Sua súbita intimidade comigo me fez encará-lo em reprovação, mas ele estava entusiasmado demais para notar e não parava de falar coisas como a lista de música que eles tocaram, o quão fodas eles eram e que ia desmaiar se conseguisse um autógrafo, eu apenas segui escutando tudo aquilo enquanto ria de sua reação juvenil.
        
         Haviam muitas pessoas lá, o palco fora montado em cima da fachada de uma grande loja o que me fez ficar na ponta dos pés procurando enxergar alguma coisa, mas foi inútil, aquilo estava uma loucura. O pessoal da filmagem fez sinal indicando o lugar reservado para a imprensa ao lado do palco, meu estômago começou a se revirar só de escutar a voz dele tão perto de mim. 

         - Você chegou na melhor parte, o bridge já vai começar! - Eu não entendia nada do que aquele garoto falava, a ansiedade dele só fazia ficar mais nervosa.
        
         E lá estava ele, Alexander David Turner.

         Por um minuto, parecia que todo o mundo tinha se calado, tudo o que eu conseguia ver era o homem em cima daquele palco. Meu coração estava martelando num ritmo tão descompassado e violento que pude escutar meus batimentos pulsando em meus ouvidos, amassei o bloco de anotações em minhas mãos suadas, eu estava me comportando como uma adolescente.
         Era tão estranho vê-lo mudado daquele jeito. O cabelo comprido que eu amava acariciar agora dera lugar para um topete lustroso de gel - uma releitura de Elvis Presley e James Dean -, o modo como tocava a guitarra também mudara, já não se encurvava sobre o instrumento naquela postura despreocupada de quem não parecia em se importar em entreter o público e só tocar sua música, agora ele tinha uma postura ereta, como se quisesse ostentar o visual imponente que a jaqueta de couro e o topete lhe deram. Não se comportava mais como um garoto perdido em cima do palco, agora seus quadris moviam-se de forma descompassada e exagerada por trás da guitarra, afim de chamar a atenção de todos ali. Ele havia se tornado um homem egocêntrico, um verdadeiro showman, mas mesmo assim continuava mais irresistível do que nunca.             
         Quando a música explodiu, nossos olhos se encontraram.

"But I crumble completely when you cry"

         Alex arregalou os olhos como se tivesse visto um fantasma e se engasgou com a frase, o que soou muito estranho pelas caixas de som. O resto da banda olhou para o vocalista confuso com sua reação, seus olhos evitaram os meus, ele parecia constrangido por me ter assistindo seu nervosismo em cima de um palco.
         Ele se virou de costas para o público enquanto cantava o resto da música, ninguém entendia o que se passava com Turner. Nick vasculhava a multidão procurando algo que explicasse aquilo, quando seus olhos pousaram sobre mim suas sobrancelhas se ergueram num misto de surpresa e espanto, eles não sabiam que eu viria para entrevistá-los? O baixista apontou com a cabeça para a minha direção e os outros dois monkeys pareceram entender o que se passava com o vocalista, Jamie sorriu para mim e depois abaixou a cabeça rindo da reação de Alex.
         Assim que a música terminou a platéia irrompeu em aplausos e gritos de animação, Turner acenou retirando a guitarra do pescoço e se despediu rapidamente dos fãs, deixando o palco antes que os demais pudessem sequer largar os instrumentos. A situação foi embaraçosa, Nick até se atrapalhou com a correia do baixo e saiu coçando a cabeça por nervosismo.
         O público esperou pelo bis que não veio, pude ver muitas pessoas reclamando da súbita reação do vocalista no final do show e o xingavam pelo descaso com os fãs nova iorquinos. Depois de alguns minutos a multidão se dispersou, restando apenas a nossa van no local.
          Agora que o show acabara, era uma questão de minutos até que Alex chegasse com o resto da banda para a entrevista, o nervosismo tomou conta de mim, eu podia sentir meu coração martelando em meu peito. Ao fundo alguém anunciara que os Arctic Monkeys já estavam a caminho do estacionamento aonde tínhamos montado tudo para a filmagem.
         Respirei fundo tentando me acalmar, percebi que ainda tremia segurando o bloco de anotações em minhas mãos, o que eu estava fazendo? Caminhei pelo estacionamento procurando pelo garoto ruivo no meio da equipe, ele estava conversando com alguns outros garotos da iluminação perto de uma van. Acenei para ele que veio ansioso até mim, entreguei o objeto retorcido parabenizando-o pelas palavras escritas e tratei de de afastar antes que ele pudesse me perguntar o que aconteceu com seu caderno. Ele agradeceu sem jeito coçando a cabeça enquanto folheava as folhas amassadas.
         Alguém entregou meu microfone e me acompanhou até o lugar da entrevista, em frente a uma parede com desenhos de cores desbotadas que faziam propaganda de uma bebida do século passado. Comecei a repassar o tolo script na cabeça ensaiando a postura a e o sorriso convidativo em meu rosto, uma garota de cabelos negros e bem curtos começou a retocar o meu cabelo e minha maquiagem. Eu não conseguia tirar a expressão de Alex ao me ver da cabeça, ele parecia tão chocado quanto eu. Como ia conseguir agir normalmente durante a entrevista?
         Involuntariamente balancei minha cabeça negando esses pensamentos, eu não podia perder minha postura profissional por isso, era só uma entrevista simples como qualquer outra, seis minutos e quarenta e cinco segundos de perguntas e respostas, não deveria ser tão difícil assim.
         Um cara da equipe me chamou a atenção para os vultos se aproximando, agradeci a garota que me desejou boa-sorte e peguei minha ficha com a cola de meu script. Quando vi rostos tão familiares chegando, o resto de meu estômago pareceu se desintegrar, meus olhos passaram ansiosos por todos mas não encontraram quem eu procurava.

         - Ei, Alexa! - Me cumprimentou a voz animada de Matt entusiasmado com um beijo no rosto, eu o abracei apertado surpresa por ver que ele ainda me cumprimentava como antes. Jamie e Nick também o imitaram, era estranho como aquilo parecia natural, nem parecia que fazia dois anos que não nos víamos.

         Conversamos durante alguns minutos sobre suas viagens e shows recentes, eles pareciam muito compenetrados em divulgar o último trabalho deles que consideravam ser “uma obra-prima de referências muito fodas”.

         - Não sabia que você e o Nick tinham essa vocação para ser backing vocals, Matt. Vocês alcançam umas notas bem agudas em algumas músicas! - Fingi conhecer o novo álbum, quando na verdade só citava o que o roteiro de Ashley continha a respeito. Escutar Alex cantando através de fones de ouvido era uma ideia bizarra demais para mim.

         - Na verdade quem sempre cantava fino como uma bixa durante as viagens era o Helders. A gente só teve a idéia de aproveitar isso de um jeito mais másculo - Disse Nick batendo nos ombros do baterista, todos explodimos em risadas.

         - Não fode O’Malley, você bem que curtiu quando eu cantei “Poker Face” pra você dançar que nem um escroto.

         - Nossa cara cala a boca, isso foi há quantos anos atrás? - Revidou Jamie rindo. Eles continuaram a discussão a respeito de Matt e seu hábito de cantar em falsete, eu apenas concordava, ele realmente irritava quando abria a boca para alcançar aquelas notas agudas, principalmente quando todos estavam bêbados e cansados.

         Era bom saber sobre suas vidas novamente, eu não tinha ideia de quanto sentia falta desses caras, estávamos rindo e conversando como se todos fossemos íntimos novamente, reunidos planejando a bebedeira das sextas-feiras à noite - nossa, aquilo parecia ter acontecido uma eternidade atrás.
        
         - Adorei ver vocês de novo! E ei Jamie, você pode ter casado, mas continua o mesmo safado de sempre - Disse empurrando Cook que deu de ombros, todos riram de sua reação - Bom, eu podia ficar a noite toda conversando com vocês, mas eu realmente preciso trabalhar agora, a equipe de filmagem já está pronta. Mas cadê o …?
        
         - Ele não vai poder vir, pediu mil desculpas - Matt me interrompeu antes que pudesse terminar a frase, ele coçou a nuca sem saber o que dizer.

         - Tinha umas tretas pra resolver - Completou Jamie tentando encobrir o amigo, mas eu sabia que não tinha treta nenhuma para resolver, o seu olhar ao me ver mais cedo já tinha dito tudo.

         - Ah, tudo bem! - Disse tentando quebrar o clima - Então se vocês não se importam, podemos começar? - Todos assentiram e a câmera foi ligada.

          A entrevista ia bem, mesmo com as perguntas sem-graça de meu script, Matt e Jamie respondiam a maioria das perguntas com humor, o que deixava aquilo mais divertido. Incitei Nick a responder uma ou duas perguntas, mas sua timidez não o deixava dizer mais do que algumas palavras monossilábicas e sucintas, vendo isso Jamie se intrometeu e o completou com sarcasmo. Pude escutar O'Malley praguejar baixinho quando Cook o zuou na frente das câmeras, era engraçado ver eles agindo como garotos mesmo já sendo homens.

         - Alright Monkeys, last one - Disse ainda rindo da última piada de Matt. Agora só restava mais uma pergunta, respirei fundo me preparando para dizer aquelas palavras ridículas - Nesse álbum, assim como nos outros 4, existem algumas músicas bem intensas sobre garotas, mas com um - digamos - apelo maior, como em "Arabella" aonde uma garota surreal é descrita. Vocês teriam alguma musa inspiradora entre vocês?

         Inclinei o microfone esperando a resposta de algum deles, minha cara queimava de vergonha. Cara, musa inspiradora? Eu tinha que mandar uma carta de reclamação para o pessoal da criação, que coisa mais sem imaginação. Mas todos olharam automaticamente para algo atrás de mim, não entendi o que eles estavam fazendo. Escutei alguns passos desajeitados se aproximando, Jamie soltou uma de suas risadas sacanas quando um braço envolveu meus ombros.

         - Only you, babe - Disse a voz rouca mais real do que qualquer memória minha.

 N/A: Olá garotas! Finalmente o Alex apareceu na história (chamando toda a atenção para ele como sempre hahaha) e posso dizer que tudo vai ficar mais complicado para a Alexa…Gostaria de agradecer a todas que lêem a fic e principalmente as que comentam nos capítulos, vocês não têm ideia de quão lisonjeada eu fico quando leio seus elogios – sejam eles a respeito da história ou sobre minha escrita Agradecimento especial a Bella que betou esse capítulo para mim, muito obrigada!

PS: Só eu ou mais alguém chorou com a não confirmação dos Monkeys no Lolla 2014? )’:


6 comentários:

  1. Socorro menina como você acaba o capítulo assim????? Tô morrida aqui, hahahaha. Não demora pra postar o próximo, tá?

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  2. Eita to apenas morta com esse capitulo, "only you, babe" ai Alex <3

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  3. Já falei e faço questão de repetir todo o carinho que tenho por essa estória. A descrição sobre o Turner ficou incrível. Menina, você escreve muito bem. Fico ansiosa toda vez que leio, quase caí quando o Alex apareceu. Não seja cruel e não demore para postar o próximo. Beijos.


    Steph

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  4. Quero colocar a Alexa em um potinho e guarda-la para sempre. Como é linda e como você a descreve perfeitamente. Essa história é linda demais MESMO, e não vejo a hora de você continua-la, porque eu preciso. Trabalho o dia todo e quanto entro aqui e vejo att das fanfics, dou sempre um saltinho de alegria.
    Gostei da reação do Alex, foi tão real. Apesar do homem que ele é, a alma de meninão, timido tenho certeza que ainda está lá. E você explorou isso muito bem... A descontração dos meninos, a maneira como eles agiram fora tudo tão incrível e real. Acho que é isso que tua fanfic passa: Realidade.

    Só espero mais. (ps: Eu não sei quem é tu, acho que nunca conversamos no grupo, ou é impressão minha e eu realmente estou ficando com a memória falha?! haha) beeeeeijo ^^

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  5. É exatamente como as meninas disseram: é tudo muito real. Eu ao menos sei o que falar, estou amando a fanfic e sua escrita é linda. Estou esperando ansiosamente pelo próximo!

    Beijos, Bel.

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  6. estou MORTA 'only you babe' é de foder
    Parabéns!!

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