Criminal: Capítulo 1 - Fucked Up World


“Back to these backdoor bitches begging me to behave” (The Pretty Reckless)

A escola se tornara insuportável desde que pus os pés pela primeira vez na Duchesne Institute, na semana passada. Eu já tinha garotas insuportáveis que me odiavam por eu simplesmente ser do jeito que eu queria ser, eu me sentia um pouco sozinha, porque no caso a minha melhor amiga, a Henrieta, estudava em outro ano e com a solidão as pessoas já me olhavam de lado.
Eu não fazia o tipo de menina comum naquele ambiente, eu não fazia o tipo boneca Barbie e eu simplesmente detestava ficar no meio daquelas pessoas. Enquanto boa parte das meninas preferia sonhar com o dia em que iam superar a Victoria Beckham e pegar o David Beckham, eu preferia imaginar como seria se eu estivesse com uma estrela do indie rock, eu não estava nem aí para um monte de coisas enquanto atravessava o corredor e dava um beijinho no rosto da Henrieta. Eu era do tipo que passava como quem não queria nada. Os meus tímpanos estouravam com o som alto e intenso de uma música qualquer do The Smiths, algo que fosse dos anos 80 e que não fosse deprimente era realmente importante para mim naquele momento, eu me sentia deprimida naquele ambiente onde Anne Cook passava por mim rindo e me olhando como se eu fosse de outro planeta.
- Ela continua implicando com você? – Henrieta percebeu a forma que eu fiquei quando Anne passou e tocou meu braço na esperança que eu me animasse, mas na verdade eu sabia que tudo o que ela prestava naquele momento era solidariedade pela minha situação complicada. Ela havia feito uma pergunta, mas eu sabia que aquilo estava muito mais para uma afirmação.
- É. Pois é. – Foi tudo o que eu consegui dizer antes de olhar para trás com um olhar de quem quer dizer “o que eu posso fazer?”, e o que eu fazia era dar de ombros e seguir em frente rumo à sala de aula. Todo dia, principalmente as segundas-feiras era aquele mesmo festival de frustrações e olhares. Anne não precisava dizer absolutamente nada. Nadinha.
Naquele momento resolvi me deixar levar pelo sentimento deprimente, quase que suicida das músicas dos anos 80, Joy Division, Tears For Fears e um pouquinho de Ramones. Não importava o quanto eu tentasse me reerguer, por fora eu era orgulhosa, durona, a dona de um olhar raivoso e cabelos desgrenhados e por dentro eu estava com a auto-estima chegando a níveis próximos ao magma e rumo ao centro da Terra. Aquela primeira semana num colégio de elite me fez começar a considerar o suicido como uma alternativa viável.
Liberty Black, 17 anos recém feitos, terceiro ano do ensino médio, esperando passar para alguma faculdade que tenha algo relacionado à música ou administração e seguir em frente cuidando da gravadora do meu pai, que valia milhões, afinal, estávamos na Inglaterra a central do rock, do punk, do indie, do alternativo, de tudo que venha a ser diferente e revolucionário. “Todos querem mudar o mundo”, já diziam os Beatles em Revolution.
Puxei a maçaneta e entrei na sala, que parecia estar na era glacial em comparação ao corredor que era levemente frio e úmido devido ao fim do verão e a entrada do que viria a ser um rigoroso outono. A aula do professor Rupert, o adorável, e levemente afeminado, holandês que nos dava aula de Geografia estava prestes a começar. Pedi licença e desculpas pelo meu pequeno atraso e fui em direção ao meu lugar de costume, entra a Renée e o Patrick. A Renée era uma garota de cabelos curtos e óculos meio geek, com quem eu compartilhava o amor pelo seriado Doctor Who. E o Patrick era um fofoqueiro, quase que uma versão real da Gossip Girl, cujo maior talento era enviar mensagens para os celulares alheios avisando sobre quem estava com quem, quem estava em qual clube noturno na última noite e quem estava vestindo o que. Eu me aliava a ele na esperança de diminuir o número de comentários em cima de mim. Não adiantava tanto quanto eu esperava, mas eu pelo menos tentava.
Ajeitei minhas coisas na cadeira ficando feliz enquanto a playlist “vou acabar como o Ian Curtis até o final do ano” ficava mais alegre com a ajudinha do Blondie, bem, claro que apesar de admirar o talento musical do Ian como vocalista do Joy Division, mas eu não sabia muito bem se esse negócio de pensar em suicídio era sério ou só o devaneio de uma mente que perdeu toda a esperança.
Eu deveria estar realmente distraída na batalha que minha mente travava internamente entre: mudar a playlist e não prestar a atenção na aula, ou colocar os cadernos na mesa e me dedicar em investir em um futuro decente para mim.
A minha mente estava tão atordoada que eu só percebi que havia algo diferente quando a mão gelada de Patrick tocou em meu ombro e fez com que eu despertasse e olhasse para o professor. Eu esperava que ele fosse falar alguma coisa sobre a sala estar em silêncio e o volume dos meus fones estivesse absurdamente alto, como ele já havia feito umas duas vezes na semana anterior, mas na verdade eu tive que retirar meus fones por outro motivo: havia um aluno novo.
Pense em um aluno novo. Bem, ele pode ser uma pessoa completamente esquisita e extravagante, que é o meu caso, ou que é um nerd feio e anti-social, principalmente quando ele atende pelo nome de “Alexander”, mas quando eu subi o olhar e tive o prazer de encontrar com os olhos castanhos mais cheios de provocação que já vira fiz o favor de mudar de ideia.
O caso, é que o tal Alexander não era só bonito por causa dos olhos, ele todo era lindo. O corpo estava numa postura de presença e ousadia que poderia deixar qualquer um daquela sala completamente abalado, seu rosto tinha uma clara expressão de desafio e autoconfiança, que se intensificava com a presença do seu queixo quadrado e do seu cabelo arrumado de um jeito que parecia que ele tinha fugido de um show de rock, ele parecia alguém que deveria estar no segundo ano da faculdade e não no terceiro ano do ensino médio.
- Alexander, já que você está sem material, pode escolher alguém para sentar com você, por favor? – Alexander acenou positivamente para o professor e olhou para cada um dos alunos da sala com o que parecia ter uma análise minuciosa. Senti meus músculos contraírem, eu me encolhia ao ver o olhar claro de todas as garotas da sala, como se implorassem que elas fossem escolhidas, todas lindas em suas madeixas loiras, cachos bem penteados, ou cabelos lisos e longos. Eu me sentia um pedaço de nada e constatava que em relação as outras eu não era nada.
Suspirei frustrada e cruzei os braços esperando Anne, ou qualquer uma do seu grupinho, fosse escolhida, quando eu vi aqueles olhos olhando bem fixamente nos meus e se aproximando. Senti um colapso interno um bug mental de proporções infinitas. Comecei a cogitar outra coisa, que ele fosse gay e estivesse indo em direção ao Patrick. Porque um milagre daqueles com toda a certeza não poderia ser real. Dizem que felicidade de pobre dura pouco, no caso eu não era pobre, mas meus momentos felizes chegavam a ser injustos de tão curtos.
Mas naquele momento eu comecei a acreditar que Deus estivesse finalmente sendo bom comigo e que milagres poderiam sim acontecer. Alexander havia me escolhido, Alexander estava puxando uma cadeira vazia no fundo da sala, de uma forma que seus músculos ficassem levemente inchados e chamassem a atenção. Alexander usava vestes simples, uma camisa preta, jeans e tênis. Ele se sentou do meu lado e eu senti um cheiro forte de perfume masculino e cigarros tocar o meu nariz. Aquilo tinha um cheiro gostoso de aventura, de gente que andou fazendo merda, aquele cheiro era a explicação do fato de ele estar atrasado naquela manhã, ele estava fumando antes de entrar na escola.
- Qual é o seu nome? – Sua voz grossa me tirou dos meus pensamentos de forma brusca enquanto eu o encarava com um olhar típico de criança assustada. Ele soltou um sorriso de lado, como quem acha graça das minhas reações, dei de ombros enquanto ele descia o olhar para a minha mochila, com toda certeza se perguntando motivo pelo qual eu não tinha o material sobre a mesa, corri para pegar o caderno e o livro. Seu olhar subiu de volta me encarando, esperando uma resposta.
Quando pus o material sobre a mesa e o encarei novamente, suas sobrancelhas estavam erguidas, ele estava esperando a resposta que eu ainda não tinha dado, dei um pigarro, ainda sem entender ao certo o motivo pelo qual ele havia me escolhido e disse:
- Liberty Black. – Ele sorriu e virou a cabeça para o lado.
- Prazer, Alex Turner. – Acenei positivamente para ele, disposta a ignorar, por simplesmente não saber o que fazer enquanto ele estava sentado ali ao meu lado. Imaginei que ele fosse ficar quieto, no canto dele, acompanhando minhas anotações e exercícios. Apesar de estar cheia de perguntas em minha mente eu não queria ficar conversando, eu tinha algo dentro de mim e não sabia o que fazer com aquilo.
- Eu sei que perdi uma semana, posso pegar o caderno emprestado com você para poder me atualizar da matéria? – Seus lábios se aproximaram da minha orelha enquanto ele dizia aquilo. A sala estava quase em silêncio e isso explicava o fato de ele ter falado no meu ouvido, mas o que não explicava o fato de sua voz me deixar tão arrepiada e seu cheiro quase atordoar meus sentidos.
- Posso sim. – Sorri, me afastando um pouco, me sentindo incomodada com uma distancia tão pequena entre eu e ele. Algo naquilo pareceu agradá-lo, pois ele deu uma leve torcida nos lábios, formando um sorriso sacana, como se ele estivesse feliz em me incomodar, e arqueou levemente as sobrancelhas. Meu coração estava acelerado, eu conseguia sentir, tinha ímpetos de colocar a mão sobre o peito, mas fiquei com medo de que ele percebesse. Percebi que aquilo não passava de um joguinho para a felicidade de um ego sádico, que era o ego de Alex e resolvi jogar. – Quantos anos você tem? Você não tem cara de um aluno do terceiro ano.
- Eu tenho 19, realmente, eu não deveria estar aqui, mas preciso concluir o ensino médio. – Alex tinha respostas diretas, principalmente quando seus olhos estavam me olhando de uma maneira um tanto quanto dura, como se ele quisesse me desafiar a questioná-lo novamente. Como se ele estivesse satisfeito com a forma que eu reagi, meu corpo se afastou e meus olhos se arregalaram em surpresa. Ele deu um sorriso de lado e baixou seu olhar, me olhando levemente de baixo para cima. Alex me provocava novamente, ele mal me conhecia e já sabia quais eram meus pontos fracos, aquilo era fatalmente injusto. – Mais alguma dúvida, senhorita Black?
- Não.
No intervalo, quando me juntei ao grupo sentado na grama do jardim do colégio eu sabia que ali o assunto seria eu, de qualquer maneira eu não estava sozinha, estariam falando de Alex também, de certa forma, eu era a garota mais sortuda do dia, e naquele momento no grupo eu queria deixar bem claro que eu não era.
- Vocês viram a bunda dele? É linda! – Foi a primeira coisa que escutei quando sentei no círculo, vindo da boca de Patrick que falava histericamente enquanto digitava no celular. Nem seus dedos nem sua boca pararam em nenhum segundo.
- Ele tem um hálito bom, Libbie? – Escutei alguém me chamar e percebi que era Johanna, amiga da Renée, uma menina meio patricinha cujo gosto era duvidoso para roupas e música.
- Cigarro e chiclete de menta. – Foi tudo o que eu disse enquanto abria a boca e tentava abocanhar do cupcake o máximo de glacê possível. O pessoal se entreolhou.
- Ele é maior de idade, não é? – Renée quis ter certeza de que ele era uma pessoa correta, apesar de cerca de 80% dos alunos do ensino médio menores de 17 anos gostassem de encarar a lei e o toque de recolher e passar madrugadas em clubes noturnos, boates e pubs, Renée era a pessoa mais correta do mundo.
- 19 anos.
- Ele deve ser um bad boy daqueles, ouvi falar que ele passou os últimos dois anos representando a máfia em cassinos em Las Vegas. – Patrick se intrometeu olhando para o celular e logo em seguida olhando para o grupo como quem tivesse uma baita fofoca em mãos. – Olha, Liberty, se eu fosse você eu cairia com tudo em cima dele.
Eu sabia que todo mundo daquela escola faria a mesma coisa, mas eu não. Eu não conseguia me convencer que aquilo pudesse ser algo bom, eu não fazia o tipo de pessoa que chamava a atenção de garotos como Alex. Dei um olhar furtivo pra mesa onde ele estava sentado em cima, falando animadamente sobre algo que eu não sabia do que se tratava enquanto todos os garotos e garotas ao redor dele, pareciam atentos ao que ele falava. Ele segurava uma garrafinha de coca-cola como quem segurava uma garrafa de cerveja num pub numa sexta-feira a noite. Ele olhou para mim rapidamente e eu desviei. Eu não o compreendia, eu não compreendia aquelas pessoas.



4 comentários:

  1. ADOREI o Patrick! Cara, é tão estranho imaginar o Alex sendo colega de sala, sei lá ajhssnhGfgbs mas tá tudo muito bom, adorei esse capítulo e esse aluno novo me tirou o fôlego!
    Beijão<3

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  2. Do me a favor, suba rapido o segundo capitulo!

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  3. PATRICK A SENHORA É DESTRUIDORA MESMO NÉ BIXA! HAHAHA JA AMOOO
    Alex sendo meu coleguinha de sala? aiaia hahahahhaa

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