Reli
a mensagem tantas vezes que decorei frases específicas, a maioria ecoando em
minha cabeça. Na ponta da língua estavam as músicas Cryin’ e Crazy do Aerosmith,
ou talvez Darlene, do Led Zeppelin. Recitei baixinho partes das letras que Alex
usara em seu texto.
Um
dardo atirado certeiramente no pequeno alvo vermelho.
Logo
me lembrei de quando reservamos a tarde de uma sexta-feira para explorar a
cidade, descobrindo lojas com todo tipo de produto. Numa de vinis, intitulada
Sugar Baby, conhecida por Sugby, perdemos algum tempo conversando sobre música.
Alex, com todo o seu jeito reservado, desinteressado e introspectivo, tentava
me convencer que gostava de intensidade, não apenas de baladinhas românticas filosofais.
Ele puxou um The Best Of do Aerosmith, dando-me o prazer de ouvi-lo cantarolar
um pedacinho de cada música, um mushup particular. Ansioso, esperou que eu me
posicionasse. Estava convencida ou não?
-
Não sei o que você está esperando. Só porque o Steven dá uns berros não quer
dizer que a maioria das músicas da banda não seja balada romântica.
Alex
murchou como uma criancinha ao ouvir o pai dizendo “não”. Eu sorri para que ele
sorrisse. Não deu certo. Passei as mãos em sua frente, acenando para o seu
rosto, para que despertasse da sua rápida depressão: nada.
-
Eu ouvi a demo de Crying Lightning que me deu noite passada. – comecei,
apoiando-me na bancada de vinis, chamando a sua atenção – Mesmo acústica é uma
ótima prova que Alex Turner é intenso.
Sim,
um sorriso divertido, de quem saíra do emburramento forçado e agora estava
disponível para um papo animado.
-
O que achou?
-
Muito boa. – ele repetiu a minha posição, perto o suficiente para que eu
pudesse sentir o cheiro de cigarro que exalava de sua boca – Me surpreendeu.
-
O que foi? Pensou que eu te daria um monte de merda? – Alex sorriu, balançando
os cabelos compridos.
-
Não é bem isso, beleza? Acho que ainda não estou muito acostumada com o som da
banda.
-
Talvez eu deva me desculpar. – passando
as pontas dos dedos nos lábios ressecados, Alex tomou um ar pensativo –
Esqueci-me de explicar que a sonoridade estava um pouco diferente. E não faço a
mínima ideia de como você ou qualquer outra pessoa poça reagir a isso. Ainda
estou um pouco receoso quanto a mudança.
-
Sem bajulação ou medo de dizer a verdade... – comecei, com o porte mais crítico
e menos descontraído – Eu gostei do que ouvi. E não chegou nem perto do que
esperava.
-
E o que esperava? – ele cerrou os olhos, curioso, mas também malicioso.
-
Imaturidade. – dei um sorriso, de quem acabara de contar um segredo – Vai ver
eu não sou a pessoa certa para julgar Crying Lightning. Eu curto músicas
soturnas, metafóricas, cruéis e ao mesmo tempo apaixonadas.
-
Deu para perceber isso quando você desatou a falar do Kurt Cobain, como se
fosse amiga íntima dele. – sua voz soara irônica, quase como uma alfinetada.
-
Ei, vamos relevar que eu estava bêbada e tocava In Utero bastante alto no apê.
– fiquei um tanto vermelha, tentando não pensar no fanatismo besta que deixara
transparecer – O que quero dizer é que Crying Lightning é um bocado madura
comparada ao seu antigo trabalho. E fico me pergunto se o resto do CD será
assim.
-
Dependendo da sua ajuda... Provavelmente. – aparentemente era um convite,
embora o jeito tímido que o fizera me deixasse confusa – Quero conhecer mais de
você, Ali. Acho que temos muito o que trocar.
-
Por que não começamos por você fazendo uma gravação para mim, por exemplo, de
Cryin’? É a música do Aerosmith que sempre pensei em um cara com uma voz
maneira cantando para mim.
-
Literalmente? – balancei a cabeça num sinal positivo, arrancando um sorriso
atrevido de seu rosto – Vamos à gravadora. Tenho uma surpresa para você.
-
É o que estou imaginando?
-
E o que está imaginando?
Calei-me.
Não queria dizer a ele que meu coração inquietou só em supor que cantaria algo
do gênero para mim.
-
Me espera comprar esse vinil? Tenho um em casa, mas, sabe, gosto de guardar
coisas de momentos que quero lembrar.
Houve
um carinho em sua expressão que o transformou num homem completamente doce por
entender esse meu costume.
-
Te espero lá fora, vou aproveitar para fumar pouco. Tenta não demorar, que aí
podemos ficar mais tempo no estúdio.
Não,
eu não demorei. Provavelmente fiquei em fila por cinco minutos e corri para o
lado de fora, abordando-o para que fossemos embora. Fora um dos dias mais
mágicos que vivi. Alex se entregara por completo quando fez o acústico da
música sob as luzes baixas do estúdio, deixando os meus olhos marejados,
arrancando palmas empolgantes quando terminou.
Na
geladeira havia algumas cervejas. Tomamos duas, cada um, e colocamos para tocar
o The Best Of. Começamos brincando com os instrumentos. Na época de colégio meu
primo me ensinara o básico de percussão. Era terrível nos de corda. Nesses Alex
teve uma paciência memorável para me ensinar alguns acordes. Por último, já
nas faixas finais do vinil, estávamos deitados no chão. Desde então havíamos
trocado apenas um beijo, que fingimos esquecer, culpando as diversas bebidas
que tomamos na noite. Agora não era o caso. Minha cabeça apoiada no peito de
Alex subira de fininho quando conversávamos. Houve um momento de silêncio que
talvez fosse constrangedor se ele não tivesse me puxado para, até então, o
melhor beijo da minha vida. Depois desse dia paramos de esquecer que
constantemente flertávamos e que tínhamos uma atração sexual e amorosa quase
irresistível de um para o outro.
*
* *
No
vagão do metrô, sentada no banco arranhado e pichado, derrubei o celular graças
aos trêmulos dedos. Ele escorregou até bater no pé da moça ao meu lado, que o
pegou do chão e o entregou gentilmente. Seria impossível fazer qualquer
movimento além de olhar fixamente para frente. Estava estática, com o coração
palpitante, suando frio, tão alva que poderia me misturar com o fundo branco da
propaganda de creme dental pregada na parede metálica.
Condições
para responder a mensagem? Nenhuma. No primeiro momento, ainda influenciada
pelos velhos pensamentos de superioridade, cogitei a possibilidade de um jogo
feito por Alex, em que eu era impedida de fazer o meu trabalho para que, assim,
nos afastássemos definitivamente. Passada a mistura de sensações, pré e
pós-mensagem, enganada pelo príncipe encantado, acreditei firmemente na
belíssima e apaixonada declaração.
Dúvidas.
Havia muitas delas. Malditas e insistentes dúvidas que se transformaram num
emaranhado de questões que foram analisadas por todo o caminho que fiz até o
Gray’s Papaya. A única certeza é que não cancelaria o trabalho. O
antiprofissionalismo poderia foder minha carreira que mal havia começado.
Assim
cheguei à lanchonete: bem vestida, penteada, atrasada, neutra. Alex foi o
primeiro a olhar sobre o óculos escuro. Em frente ao Gray’s, o Arctic Monkeys estava
encostado charmosamente na longa janela de vidro, repleta de adesivos com
preços e nomes de pratos. Perceberam minha presença sem alarde. Jamie empurrou
metade de um cachorro-quente na boca e Matt se agitou em minha direção.
- Começava a ficar preocupado. – apoquentado,
tornou-se sério ao falar.
-
Está tudo bem, ok? Desculpe o atraso, mas é que tive alguns imprevistos. – suspirei,
sem querer criar muito caso com o protecionismo.
Aos
poucos os outros integrantes se mexeram, formando um quase “v”. Matt, Jamie e o
cachorro-quente, Alex e a sua indiferença, Nick e sua timidez. O último eu
trocara poucas palavras. Pelo que soube, gostava de dizer apenas o essencial.
-
Cabelo legal. – Alex apontou rápido para mim, com um sorriso amigável no rosto
– Roupas maneiras.
Balancei
a cabeça em agradecimento, como uma colega de trabalho faria, sem o mínimo de
intimidade. A mensagem com elementos simbólicos estava guardada dentro de uma
boneca pequena, sobre ela vinha uma boneca maior, e maior, e maior, e maior...
A mensagem de texto se espremia numa Matryoshka.
Em
um segundo montei a câmera, conferi a configuração, pensei na primeira ideia.
-
Podemos começar? – eles balançaram a cabeça positivamente – Sem comidas, Jamie.
Arregalando
os olhos com chateação, o guitarrista limpou a boca e enfiou o guardanapo no
bolso da calça. Se esse lanche cair de forma errada em seu estômago, brotha, nunca sairá de uma privada.
A
primeira foto tirada foi no próprio Gray’s Papaya. Não pude ignorar a ótima
formação que estavam quando cheguei, enfileirados descontraidamente na janela,
distraídos em suas conversas que não eram da minha alçada. Educadamente pedi
que repetissem a pose e obedientemente eles o fizeram. Saída a primeira imagem,
mostrei na tela digital se estavam de acordo. Gostaram do resultado e
perguntaram se eu tinha algumas ideias. Sugeri que caminhássemos pelas ruas por
tempo indeterminado e sem lugar fixo para ir. Simplesmente andassem e, quando
eu achasse que era um bom momento para tirar a foto, tiraria. Deveríamos terminar
por volta das 15h, se tudo corresse bem.
Inicialmente
nervosa, já que era o meu primeiro trabalho importante com a banda, assim como
o meu primeiro projeto em fotografia, pratiquei os ensinamentos assimilados nos
últimos meses. Ryan gostava de me usar como modelo em suas fotografias e
enfrentei vários tipos de ideias esquisitas que tinham um fundo psicológico
quase impossível de se definir. Além das versões em preto e branco de uma
sessão colocada em seu portfólio, em que inteligentemente usou a minha solidão
numa nova cidade como ponto de partida, Ryan também fizera um maravilhoso
ensaio sobre rotas. Em lugares misteriosos de Nova Iorque, ele fotografava
minhas pernas como uma indigente num ambiente ignoto. Foi um dos trabalhos mais
elogiados por professores e classe. Como Ryan era o meu principal meio de
referência, exercitei seus ensinamentos e as técnicas que usava quando eu era a
sua modelo. Aos poucos fui me acostumando com a espontaneidade da Street Photography,
um ótimo treino para o que mais tarde se tornaria a publicidade do Arctic
Monkeys. Quando desenvolta e menos pressionada pelo julgamento que receberia
dos caras da banda, criei minhas próprias interpretações do aprendizado.
Ao
saber da notícia que ficaria responsável por essas fotos, tive uma leve e
rápida preocupação sobre como me sairia com o grupo. Do Matt e do Alex já era
mais íntima, entretanto Nick e Jamie permaneciam como uma interrogação. Logo
percebi que o meu medo era incabível. Simpáticos, trataram-me muito bem desde o
começo. E, sim, Nick era um bocado calado, às vezes até mais do que Alex, quem
eu achava o cúmulo do mudo. Entre eles, eram mais soltos do que comigo e em
várias vezes me peguei pensando na cor dos pombos, por simplesmente não
conseguir acompanhar os assuntos. Quanto mais o tempo passava, menos isso
acontecia. Nick descontraidamente decidiu que deveria brincar com os nomes
bobos das lojas. Jamie e Alex conversavam bem baixinho sobre as experiências
que tiveram em cidades diferentes. Para mim, era estranho vê-los tão próximos.
Al sempre falou muito de Jamie, com carinho e admiração, contando pontos
íntimos da amizade dos dois com ar nostálgico. Apesar disso, não conseguia
compreendê-los tão bem como acontecia com ele e Matt. Isso me fez lembrar outro
amigo de Alex que ele muito comentava, um tipo exótico de pessoa que deve ser
absurdamente divertida de conhecer. Seu nome era Miles Kane, que trabalhou com o
Al há pouco tempo no projeto The Last Shadow Puppets. Quando fui presenteada
com uma cópia do CD e uma dedicatória no mínimo adorável, concluí que Miles era
a “alma gêmea” musical do Alex. Pensando bem, depois de todo esse fuzuê e
contratempo que foi a discussão não discutida entre nós, a possibilidade de
conhecer pessoalmente o senhor Kane foi quase reduzida a zero.
Durante
a caminhada e sessão, houve alguns momentos um tanto constrangedores. Muito de
Nova Iorque foi descoberta entre mim e Alex, seja juntos ou sozinhos. Saíamos
por aí, batendo um pé, pensando que deveríamos encontrar uma cafeteria melhor
que a do dia anterior, uma livraria mais completa, uma loja de CDs variados,
uma galeria escondida, e assim por diante. Diversas vezes eu o guiei para um
bar que os meus amigos me levaram, diversas vezes ele me guiou para uma
lanchonete que sua namorada o apresentou. Obviamente mantínhamos o porte nesses
lugares. Olheiros e jornalistas curiosos tinham aos montes. Os atrevimentos
ficavam restritos ao horário noturno, nas boates underground em que
dificilmente um paparazzi se aventuraria. Era complicado distinguir quais
estabelecimentos deveriam ficar em meu mundo ou no seu. Por mais de uma vez
apontamos para o mesmo lugar fazendo comentários bastante parecidos. Por
último, ao falarmos simultaneamente uma frase idêntica sobre uma pizzaria,
Nick, sorrindo, disse:
-
Ei, vocês ensaiaram isso?
Desconcertados,
rimos. Despistamos com uma explicação fajuta sobre marcar um almoço de negócios
na pizzaria e que gostamos tanto dela que voltamos outras vezes, sozinhos ou com
pessoas próximas, mas em nenhum momento juntos novamente. Aprendida a lição,
evitamos abrir a boca para indicar qualquer loja.
Por
volta das 13h fizemos uma pausa no Cinema Cafe da 3rd Avenue, pedindo comida e
bebida para enganar a fome. Eu, mais faminta que eles, que em meu atraso se
empanturraram de cachorro-quente, principalmente Jamie, pedi um lanche com mais
alimentos. Na mesa quadricular, com o tilintar das xícaras de café e o mastigar
dos salgados, conversamos sobre o que fariam agora que estavam reunidos em Nova
Iorque.
-
Alex precisa nos mostrar as composições e então trabalharemos nas melodias. –
explicou Jamie.
-
Você ouviu alguma? – perguntou Nick, inocentemente.
Balancei
a cabeça em sinal negativo, ignorando propositalmente o acústico de Crying
Lightning.
-
Não fico tão seguro até ouvir a opinião de vocês. – Alex justificou, tentando
soar convincente.
O
assunto prosseguiu por mais tempo e prestei atenção o máximo que pude. Confusa,
buscava a essência do álbum, que parecia se distanciar de mim. Arctic Monkeys
significava incógnita. Eu não era fã da banda e o pouco que sabia se resumia
aos dois primeiros álbuns. Entrando num momento de mudança, sentia-me como uma
criança perdida no supermercado. Perguntava-me se eu era a única assim ou se
os próprios integrantes experimentavam a sensação de um caminho turvo.
Por
um momento Matt deu as costas a Nick. Sentado ao meu lado, pôs uma mão
educadamente em minha perna, abaixando o tom de voz e perguntando suavemente
sobre a minha mãe. Do outro extremo da mesa, Alex, que até então observava o
que Jamie dizia, voltou-se disfarçadamente para mim. Quando estávamos juntos,
acompanhou o desenrolar da segunda cirurgia da minha mãe. Talvez agora quisesse
alguma notícia sobre o seu estado.
-
Mamãe está melhor, se recuperando aos poucos. Todo dia ligo para ela e, na
medida do possível, sempre parece animada. – respondi a Matt, apoiando o meu
cotovelo no encosto da cadeira, tentando restringir a conversa a nós dois.
-
Se precisar de ajuda, qualquer tipo, sabe que pode contar comigo, não é? – Matt
era absurdamente solicito quando não estava entediado.
-
Eu sei. – sorri em agradecimento, pondo a minha mão sobre a sua, ainda em minha
perna – Mas vai ficar tudo bem, posso sentir isso.
Ao
arrumar a minha posição, o negro do óculos escuro de Alex estava fixo em meu
corpo. Os dedos finos apertavam a xícara encaixada delicadamente em sua mão
clara, as costas tesas pressionadas contra a cadeira, os braços esticados na
mesa, como se quisessem manter distância de seu tronco. Enciumado, com os lábios
entreabertos e o ar incrédulo, levantou-se da cadeira indicando que iria ao
banheiro. Ninguém se importou. Matt se entrosara novamente no assunto e eu
estava isolada numa cúpula de vidro. Tomando o celular da bolsa, disse que
precisava fazer uma ligação. Capciosamente sumi pelos corredores em que tempos
atrás Alex sumira.
Por
trás do Cinema Cafe havia um beco. Nesse beco havia um estacionamento
improvisado. Alex atravessara a porta dos fundos deixando os vestígios de sua
sombra e através dela me guiei. Do lado de fora, encostado nos tijolos imundos
com cheiro de xixi de cachorro, enfiou um cigarro na boca, acendendo com o
isqueiro metálico. Sem banheiro ou ligação, sem o fingimento barato que criamos
para despistar os inocentes do outro lado do estabelecimento, ficamos frente a
frente, eu, ele e a deserção.
- Não deveríamos praticar esses joguinhos. –
Alex começou, pondo o óculos escuro no suéter preto.
-
Que joguinhos? E, não que eu deva me justificar, mas aquilo lá fora...
-
O Matt? – com a mão livre apontou sobre os ombros – Ele só precisa saber que
estamos juntos.
-
Até onde sei, não estamos.
Alex
cravou em mim um olhar imparcial. O dedo médio e indicador que apertavam o
cigarro um no outro foram direcionados até os meus cabelos cortados. Ele os
alisou com afeição.
-
Combinam com você. – absorto, sorriu.
De
repente entristeceu-se, estremecendo os ombros. Concentrou-se num imenso campo
de batalha, minado com escolhas das quais eu não tinha conhecimento. Em suas
terras, em seus limites, eu era uma estranha que nada podia fazer para ajudá-lo
nos próprios confrontos. Era uma relação consigo.
-
Umas merdas aconteceram, Ali... E eu não queria que fizesse parte delas. –
confesso, murmurou, encarando as pontas dos sapatos pretos.
Fitei-o
receosamente, um tanto pessimista.
-
A Alexa descobriu? – cerrei os olhos, tensa – Por favor, diga-me que não.
Desperto
de seu mundo, percorreu a extensão do beco buscando um movimento suspeito.
Havia um ar preocupado e cuidadoso em sua repentina atitude. Alex puxou
gentilmente o meu pulso, levando-me para detrás de uma pilastra acoplada a
construção. Encostado em panfletos velhos de casas de show, prostíbulos e
animais desaparecidos, tirou do bolso da calça jeans um papel amassado. Em
frente ao Victrola, uma foto nossa numa situação aparentemente suspeita
estampava uma coluna de 10 cm, acompanhando um bloco de texto absurdamente
sensacionalista. “Quem será a
desconhecida que toma o lugar da Alexa?”, perguntavam em letras garrafais
de amarelo chamativo.
-
Esse é o motivo de sua distância? – ergui os olhos do recorte para o seu rosto.
-
Eu fiquei estarrecido. Mal a Alexa chegou em casa e quase cuspi um pedido de
desculpas, independente de ter conhecimento ou não dessa matéria.
Devolvi
o recorte lutando contra a dormência dos meus dedos. Respirei fundo, buscando
controle, e guiei as mãos à testa, penteando os cabelos para trás. Balancei-me
preocupada, culpada e chateada. Abaixo dos meus olhos Alex rasgou o papel,
jogando os pequenos pedaços ao vento. Levando-me para o seu corpo, tentou dar
um abraço consolador.
-
Não. É melhor não. – o afastei, optando o meu lugar e os meus próprios braços,
muito mais seguros que os dele.
-
Num estado muito parecido ao seu fiquei todos esses dias. – pondo as mãos nos
bolsos da calça, falou com a voz tradicionalmente embolada - Era como um lago
frio que me impedia de alcançar o outro lado. Sempre houve um barco sob os meus
pés, mas temia remá-lo em sua direção.
-
Eu fui tola em julgá-lo, pensando que seu entusiasmo esgotara. Que entediado não tinha motivos para voltar após cansar-se dessa brincadeira.
-
Meu Deus, Ali, não sou tão cruel. – Alex ergueu uma mão, repreensivo – Que tipo
de monstro pensa que sou?
-
A maneira que me tratou quando te procurei no estúdio...
-
Eu me arrependi. Ou acha que não? Estava do outro lado da rua enquanto se
divertia com os seus amigos, perguntando-me toda a noite se deveria
acompanhá-la ao invés de ir embora. Até a madrugada esperei que fosse a janela
procurar-me, mas pelo visto tinha mais o que fazer.
-
Na verdade desejava que me tirasse daquele aborrecimento e me guiasse através
de uma porta secreta. – dei de ombros – Ambos terminaram frustrados.
Quieto,
Alex cruzou os braços ao suspirar. Repentinamente um carro entrou no espaço
entre os dois prédios, invadindo a camada protetora transparente da nossa
propriedade. Estacionando o automóvel numa vaga apertada, próximo a uma lata de
lixo, o homem saiu apressado para dentro do Cinema Cafe. Quem sabe tivesse um belo
dia com um encontro amoroso adorável ao lado de uma pessoa solteira.
-
Devemos entrar. – quebrei o silêncio, tentando soar sensata – Logo estranharão
nossa ausência.
-
Usou qual desculpa?
-
Celular. E é melhor você ir primeiro.
Confirmando,
enfiou a ponta do cigarro no buraco de um tijolo qualquer. Afastando-me para
que saísse de seu abrigo, surpreendi-me ao ser puxada pela cintura. Fui
encaixada entre o seu corpo e a parede a sua frente, escondida por seus ombros magros,
mesclada aos velhos tijolos laranja. Havia o olhar mútuo, a complacência, o
cheiro suave de café e nicotina, os sentimentos que lutávamos para que se
dissipassem em meio ao caos do mundo, tudo se transformando num
compartilhamento mental da circunstância. Os problemas que tínhamos não eram
únicos, como galáxias perdidas junto aos vários borrões luminosos do universo. Alex
pôs sua mão em meu rosto, beijou os meus lábios, acariciou a minha bochecha,
banhou no meio da ponte aquilo que considerava uma pedra entre nós. De areia, a
pedra se desfez com a batida da água, caindo sob a ponte, se misturando aos
outros empecilhos que se impunham. Seus lábios se projetaram para frente,
deslizando entre os meus, voltando a tomá-los, pressionando os rostos, forçando
o contato do meu tronco contra o seu, das suas pernas em meio as minhas. Ele
abriu os olhos, inicialmente estrábico, situando as cores do jardim secreto que
surgem com o despertar. Eu estava zonza, frágil e acariciando constantemente o
meu nariz no seu.
-
Amanhã, em seu apartamento. – sussurrou, apertando a minha cintura antes de dar
as costas.
Mal
ele saiu e me sentei completamente tonta no chão sujo. O sentimento de poder do
início do dia, o autocontrole que lutei para ter, a superação que quis mostrar,
de nada serviram. Eu agora participava da batalha em seu campo minado e perdia
miseravelmente para o seu feitiço.
Biazinha de PE e do meu coração, você me deixa sem estruturas! Estou acabada após esse capítulo incrível. Meu Deus, que desespero o meu quando Alex e Ali se encontraram e aparentemente nada aconteceu. Agradeci mil vezes por eles terem saído para finalmente conversar. Que diálogo perfeito. Meu coração chorou dessa vez. O beijo! Meu... Sem condições para uma pobre mortal como eu. Os flashbacks são igualmente maravilhosos, não poderia esquecê-los. Sua fic é poesia sim. Estoy abalada, ainda não digeri direito. Quero mais.
ResponderExcluirBeijos, Steph <3
"Sua fic é poesia sim" pegando essa frase e guardando no coração Steph de PE <3 Amo os comentários das minhas leitoras porque vocês sentem o que Alice sente e isso é ótimo! Até a próxima atualização gatinha
Excluir- Bia x
Quem é que dá conta de esconder a ansiedade debaixo da cama depois de um capítulo desses, me diz, dona Bia? E não é que você fez a pobre Alice ficar pianinho nas mãos do nosso Alex? (quem não ficaria?) hahaha
ResponderExcluirAaah, tô morta de nervoso pro próximo capítulo, queria poder entrar aqui todos os dias e achar uma nova atualização de Humbug. Tá perfeito!
Beijinhos da Thaís. ♥
Thaís, que saudades de você!
ExcluirQuem diria que Alice com toda a sua pompa e passando por todo aquele processo de "vou superar, já superei" cairia facilmente na lábia do Alex? Resta saber se ele estava sendo sincero ou não. Até quinta/sexta com a próxima atualização, viu? Espero te ver por aqui.
Beijos enormes!
- Bia xx
É impressão minha ou nesse momento a Alice gostava mais do Alex que ele gostava dela, tipo sei lá ela ta super apaixonada e ele gosta dela mas ainda ta meio ZZzzz.Enfim eu super amo sua fanfic, parabéns mesmo viu!!!
ResponderExcluirTô muuuito ansiosa pro próximo <3
Lembra que o Alex em ML 1 disse a Ali que quando terminou com a Alexa ficou meio arrependido? Ele está em total dúvida de quem realmente gosta, mas a Ali tem certeza de que o ama e esse é o problema. Vamos ver como os dois vão reagir no resto da história, né? Até a próxima atualização, Rubia <3
ExcluirBeijos!
- Bia
Tou adorando! Confesso que a parte da transformação dela me deixou bem mais satisfeita, porque acho que combina mais com ela e com Alex ~~comentários inúteis~~ hahaha
ResponderExcluirNão demora a postar, por favor!
Um comentário inútil muito útil para curiosidades kkkk Inicialmente Alice ia ficar Humbug inteira com os dreads, mas quando fui pesquisar uma foto aleatória para a capa, gostei da ideia da personagem de cabelos curtos. Agora meio que já sei a aparência do penteado dela até o período AM kkkk
ExcluirBeijos, Dani! Até a próxima atualização <3
- Bia x
Nossa, foi difícil ler esse capítulo, mas eu li hahaha. Eu li um pedaço antes de começar a prova da fuvest - e admito que fiquei pensando na fic durante a prova! - um pouco depois de sair, e agora, quando cheguei em casa! Porque apesar de todas as complicações não dava pra parar no meio!!!
ResponderExcluirNem preciso dizer que você escreve incrivelmente bem, né? Ainda mais que o final eu li agora que eu to meio down e complementou perfeitamente!
Cara, eu me conecto tanto com a fic, com a Alice... Eu me sinto como se eu estivesse lá em NY, com o Alex, trabalhando com os meninos! Eu senti em cada poro meu essa tentativa de engolir o choro e levantar o queixo e não se sentir mais submissa ao Alex! E senti também essa desistência na hora do beijo, e o abalo ao descobrir que o amor deles, tão proibido, estava sendo descoberto. Não sei como, mas você me transporta pra dentro dessa fic de tal maneira que... ai <3
Acho que esse comentário ficou hiper confuso, mas resumindo: eu AMEI esse capítulo e quero um novo nesse momento!
Muuuuitos beijos, Bea <3
Justamente num meio de um capítulo que fica aquela ansiedade "o que será que vai acontecer entre Ali e Alex" você teve o azar de ler todo partidinho!
ExcluirEu entendi perfeitamente seu comentário, Bea <3 Quando está lendo ML tu entra naquelas máquinas do tempo e vai parar em 2009, em NY, com o Arctic Monkeys e os amigos da Ali. Por favor, só não use drogas como eles usam! Desconte tudo no sexo! Enfim... É bom ver que Alice nem sempre passa por cima do que sente, né? Querendo ou não ela tem o um abismo pelo Al e esse tipo de coisa seeeempre é difícil de resistir.
Até a próxima a atualização, que será bem pertinho da sua fanfic do Nick (aguardando ansiosamente)!
Beijos enoooooooooooormes, Beazinha ♥
- Bia x
EIKE COISA MARAVILHOSA, não tenho palavras pra descrever meu amor pela relação desses dois <3
ResponderExcluirÉ assustador como tu conseguiu me levar ao cenário deles, me senti perfeitamente num dos meu lugares favoritos no mundo, sou fã dessa meia transição da Ali, e o melhor: YOU GOT ME IN THE OLD YELLOW BRICKS, i see what you did there, hahahah <3
VOCÊ PEGOU A REFERÊNCIA NO PONTO, ISA! Hahaha Amo Nova Iorque também, acho a coisa mais maravilhosa do mundo pelo tanto de diversidade que tem lá <3 É ótimo escrever uma história numa cidade assim, dá pra botar a Alice bem livre mesmo nessa transição, um pouco mais atrevida que no período AM de ML 1.
ExcluirObrigada pela comentário, Isa <3 Até a próxima atualização!
- Bia xxx
Bia, essa fic é amor! <3 Sério, depois de ler fico meio assim de comentar, porque tá sendo tão lindo que eu não consigo achar palavras... *-----------*
ResponderExcluirAi, nem sei o que comentar. Sai daqui Bianca, com sua poesia e bla bla bla. Tô com raiva de ti porque nunca escrevi/vou escrever algo tão bonito.
ResponderExcluirBjos, Babs.