INNOCENT 02: SMOKE FROM CIGARETTE

  Antes mesmo que eu pudesse falar algo, Lucy já olhava para mim com um sorriso malicioso.    
  - Aquele era Alex Turner? – perguntou assim que eu a alcancei.
  - Em carne e osso.
  - E tesão. Deus, eu daria tudo para passar uma noite com aquele homem.
  Eu arregalei os olhos e ela riu de minha expressão.
  - Vai dizer que você não faria o mesmo?! O que você estava falando com ele, afinal? E o que ele está fazendo aqui?
  - Ele é... Nossas mães são amigas. Lembra que eu falei que morei um tempo em Sheffield? Foi na casa da mãe dele.  Ela vai ficar uns dias aqui, machucou a cabeça e precisa ficar em observação.
  Lucy abriu sua boca em um ‘o’ perfeito.
  - Você está falando sério? Eu. Não. Acredito.
  - Eu também não acreditei quando soube, mas foi só um alarme falso. Ela está bem...
  - Eu não estou falando da mãe dele ou sei lá – ela balançou as mãos um tanto histérica – Você tem noção do que acabou de falar?
  - Depende de qual parte - arqueei a sobrancelha não entendendo o que ela queria dizer.
  - Meu Deus, Grace. É o Alex Turner! O que mais você quer?
  - Eu não quero nada...
  Lucy parou e me sacudiu pelos ombros.
  - Você tem uma chance de ouro em sua mão, sabia? Uma chance que toda a mulher num raio de mil quilômetros daria seu par de sapatos mais caro para ter. Por que você não investe nele, garota?!
  Eu analisei por um segundo e ela parecia realmente estar falando sério.
  - Desculpe Lucy, se você quiser, pode ir em frente. Mas eu, nem em um milhão de anos me relacionaria com alguém como ele. Você já ouviu o que dizem sobre a vida de Turner? A mãe dele fica se perguntando se de fato ele fica dormindo com todas essas mulheres que dizem ter ficado com ele.
  Ela rolou os olhos e então continuamos a andar.
  - Você vai com o pessoal no bar hoje à noite? – perguntou mudando de assunto.
  - Eu não estou com animação para sair, assim que terminar o turno eu vou para casa.
  - Grace... Você tem que aprender a viver a vida.

...

  Se viver a vida significava ficar em casa, deitada no sofá assistindo seriados e comendo todas as besteiras possíveis era exatamente o que eu estava fazendo. Só percebi o quanto decadente estava quando assisti a uma temporada inteira de American Horror Story, o seriado que um amigo havia indicado. Quando menos esperava, tudo ficou escuro e eu me entreguei ao sono que tanto ansiava por me dominar.

  Um barulho irritante começou a ecoar distante em minha mente. Era o meu celular tocando. Sem vontade alguma, tateei o sofá a procura do aparelho, olhei na tela e vi que ainda eram oito horas da manhã e quem me ligava era Jake, meu amigo.
  - Alô? – minha voz era falha.
  - Você estava dormindo? – seu tom descontraído me passava a sensação de que ele sorria do outro lado da linha.
  - São oito da manhã, o que mais eu estaria fazendo?
  - Deixe-me pensar... Não sei, se arrumando para feira do abrigo animal?
  Minha boca escancarou. Eu tinha esquecido completamente que havia me oferecido para ajudar na organização.
  - Droga... Eu vou me arrumar rápido, eu chego ai em meia hora – falei já me levantando.
  - Tudo bem, vejo você daqui a pouco. Tchau.
 
  Apressadamente, troquei de roupa, escovei os dentes e passei a mão pelo cabelo para que eu não parecesse uma bruxa descabelada, o que não deu lá muito certo. Peguei minha bolsa e saí em passos largos pelo corredor. Desci as escadas correndo, pois não havia elevador no meu prédio e já do lado de fora, acenei para um táxi que passava naquele exato instante, para minha sorte.
  - Para onde vai, senhorita? – o simpático motorista perguntou.
  - Abrigo Animal Wakers.

...

  Chegando lá, o pessoal já organizava as tendas no estacionamento a frente do abrigo. Avistei Jake colocando os filhotes de labrador no cercado, enquanto eles brincavam uns com os outros.
  - Bom dia, bela adormecida – me cumprimentou sorrindo.
  - Bom dia, Jake. Ou melhor, senhor Despertador.
  - Se não fosse eu você nem estaria aqui e as pessoas iriam comentar sobre como Grace Portman não cumpre sua palavra.
  - Você tem razão – disse concordando com a cabeça – Obrigada.
  - Não há de que. Você sempre irá poder contar comigo para desperta-lá lindamente pelas manhãs.
  Ri de como seu tom saiu galanteador. Jake era um bom amigo, nós conhecemos assim que comecei a trabalhar no antiquário, quando ele foi com seu pai que era colecionador de peças antigas. Não sei como aconteceu, mas a partir daquele dia nunca perdemos o contato. Sem falar que ele ficou um mês tentando me convencer a assistir á AHS, o seriado que eu dormira enquanto assistia. Não era um boa hora pra comentar sobre aquilo se não ele não pararia de falar.

  As adoções iam de vento em polpa, ver os animais finalmente ganhando um lar e alguém para dá-los amor fazia com que eu ficasse feliz. Eu adoraria ter um animal de estimação em casa para me fazer companhia, mas depois que minha gata foi assassinada (acidentalmente) pelo vizinho quando eu era pequena, nunca me recuperei por completo.
  - Acho que você precisa – falou Jake me entregando uma lata de refrigerante.
  - Obrigada – tomei um gole e senti o líquido gelado descendo pela minha garganta e umedecendo meus lábios que estavam secos.
  - De nada... E então, o que você vai fazer depois daqui?
  - Acho que eu vou... – fui interrompida pelo meu celular que havia começado a tocar – Espera só um pouco.
  Ele deu de ombros. Peguei o aparelho e vi que o número era bloqueado, mesmo achando um pouco esquisito, atendi.
  - Sim?
  Não houve nada além de alguns ruídos do outro lado.
  - Alôô? – repeti – Quem é?
  - É do hospital? Estou precisando de atendimento domiciliar, será que vocês podem mandar uma enfermeira? – reconheci o tom de voz imediatamente.
  - O que você quer Alex? E só para constar eu não sou enfermeira.
  - Para mim tanto faz desde que você continue usando aquele uniforme.
  Respirei fundo e passei uma das mãos pelo cabelo.
  - Eu estou ocupada e sem vontade alguma de ouvir suas piadas. Então, tenha um bom dia.
  Estava prestes a desligar quando ele começou a rir do outro lado da linha.
  - O que foi agora? E aliás, como você conseguiu meu número?
  - Por um acaso você se esqueceu de que iria visitar minha mãe? Ela disse que tinha avisado que eu iria ligar.
  - Achei que você não ia se der o trabalho de anotar. Eu não preciso que me busque, eu pego um táxi. 
  - Eu prometi a ela que iria buscá-la. Eu não vou te sequestrar, além do mais eu não estou fazendo nada de interessante agora.
  Aquele comentário me ofendeu um pouquinho. Quer dizer que ele só iria me buscar porque estava entediado?
  - Eu não vou agora, eu só vou de tarde – disse tentando escapar.
  - Tarde? Você sabe que horas são? É quase quatro horas da tarde, o que diabos você está fazendo?
  Olhei no meu relógio de pulso, eram três e quarenta. Eu não vi o tempo passar. Não parei para comer nada e de repente, minhas pernas estavam cansadas e meu estômago roncava.
   - Eu não estou em casa – falei.
  - Então me diga onde você está.

...

    Estava sentada aproveitando a sombra que a tenda reproduzia com Andie, a pequena gatinha branca que deitara preguiçosamente no meu colo enquanto eu a acariciava. Era a filhote mais linda que o mundo já vira, todos seus irmãos foram adotados, menos ela.
  - Por que você não a adota? – Jake estava de pé em minha frente.
  - Não sei... – comecei a falar e pela milésima vez naquele dia fui interrompida. Dessa vez por uma buzina que soara. Olhei em direção a calçada e vi Alex dentro de um luxuoso carro preto, sentado no banco do motorista, com a janela abaixada e usando óculos escuros. Quanta sutileza.
  - Desculpe Jake, tenho que ir – entreguei Andie em seus braços.
  - O-o que? – ele me olhou espantado – Aquele cara está esperando você? – olhou novamente em direção a Turner.
  - Não é o que você pensa – dei um abraço nele – Até mais. 
  - Hã, tudo bem. Se cuide.  E depois você vai ter que me explicar essa história.
 Eu sorri e dei um beijo em seu rosto.
  - Não se preocupe.

   Abri a porta do passageiro e me sentei no banco, fiz todos os movimentos muito calmamente como se uma bomba pudesse explodir a qualquer segundo.
  - Veja quem resolveu dar o ar de sua graça: Grace – eu podia sentir seus olhos em mim, mas eu fixava o para-brisa a minha frente.
  - Olá, Alex – o cumprimentei tranquilamente.
  Ele deu a partida no carro, mas não acelerou.
  - É o seu namoradinho? – o olhei pela primeira vez. Ele indicou com a cabeça, e então voltei minha atenção para estacionamento do abrigo e vi Jake parado olhando em nossa direção.
  - Creio que isso não seja do seu interesse – respondi.
  - Só achei curioso – soltou um riso sórdido – Um abrigo para cachorros não é um bom lugar para se arranjar um namorado.
  - E por um acaso você encontra suas namoradas em um galinheiro? – tampei minha boca com a mão assim que soltei o comentário. Foi completamente automático – Desculpe, eu não quis dizer isso.
  Alex me encarava com um sorriso débil nos lábios.
  - Teria sido um bom contra-argumento. Pena que você é educada demais para isso.
  Encolhi-me no assento e finalmente, o veículo começou a andar.
  Os prédios, as casas e as pessoas se tornaram vultos à medida que o carro passava por elas. Eu mal sentia minhas pernas de tão doloridas que estavam, eu não fazia ideia do quanto fiquei em pé, andando pra lá e pra cá carregando cães, gatos e outros animais.
  - Você está parecendo um defunto – comentou Alex.
  - A diminuição de autoestima foi concluída com sucesso – murmurei.
  - E algum dia ela já esteve em alta?
  Fechei os olhos em uma tentativa tanto quanto frustrada de manter a calma.
  - Eu acordei ás oito horas da manhã em um sábado depois de uma semana cansativa. Fiquei andando feito uma barata tonta por um estacionamento enorme o dia inteiro e minha única fonte de energia foi uma latinha de refrigerante, ou seja: Estou muito cansada para me importar com seu sarcasmo.
  Ele não falou mais nada. Permanecemos em silêncio até chegarmos ao hospital.

...

  Enquanto estava conversando com Penny, pareceu que todo o cansaço havia sumido, mas foi só fechar a porta do quarto que tudo voltou novamente. Pelo menos, ela estava bem e ainda ligamos para minha mãe, que após o interrogatório típico, falou que iríamos nos reunir para o natal. Os Turner e os Portman, todos juntos.

Alex POV

  Tomava café com meu pai na cafeteria do hospital quando vi Grace passar por nós no corredor. Achava divertido fazer graça ás custas dela, uma garota tão nova e tão inocente da vida. E virgem, provavelmente.
  - Pai, eu tenho que ir. Vejo você depois.
  - Tudo bem - falou dando um tapinha nas minhas costas - Juízo nessa cabeça e comporte-se.
  Me comportar era a última coisa que queria fazer.

Grace POV

  Já estava do lado de fora do hospital procurando por um táxi quando ouvi sua voz atrás de mim. Ele não viu, mas fechei os olhos.
  - Por que a pressa? Está fugindo de alguém, Grace?
  Girei nos calcanhares e me deparei com Alex próximo a mim.
  - Você poderia se afastar, por favor – encostei de leve minhas mãos em seu peito.
  - Por quê? Você não gosta da proximidade? – ele deu mais um passo tornando o espaço entre nós menor ainda.
  - É só que você está parecendo um pervertido.
  Ele riu e então, abriu distância entre nós.
  - Muito obrigada – falei.
Alex tirou um maço de cigarros do bolso e acendeu um.
  - Está indo para casa? – perguntou tragando a fumaça.
  - É o meu plano. E não, não precisa me levar.
  Ele riu soltando a fumaça pelo nariz. A habilidade dele com aquilo eram impressionantes.
  - Eu não disse que ia te levar, eu tenho outros planos.
  Depois daquele tapa que tomei bem no meio do rosto, ri de mim mesma.
  - É claro. Então, eu vou indo. Tchau, Turner – voltei a minha tentativa frustrada de chamar um táxi.
  - Você vai ficar ai a noite inteira.
  Bem quando ele falou isso, um motorista sinalizou e logo em seguida estacionou ao meio fio.
  - Que jogada de sorte – abri a porta de trás – Boa noite, Turner.
  - Só mais uma coisa – ele veio até mim e tirou um celular com capinha rosa do bolso. Eu abri um sorriso e ele logo tratou de se explicar – Não é meu, pode parar com isso. Aquela enfermeira, Lia... Lola... Como é mesmo?
  - Lucy? – foi quase que um pensamento em voz alta.
  - Isso. Ela esqueceu o celular no meu carro ontem à noite. Acho que foi de propósito, não vou dar o gosto de entrega-lo em suas mãos. E pelo o que eu consigo me lembrar, ela falou que vocês eram amigas, então... – ele entregou o aparelho em minhas mãos.
  Eu não estava conseguindo raciocinar direito, por isso o peguei. Só tentava entender o que havia acontecido, pensava em como aquele happy hour tradicional das sextas-feiras havia dado o que falar e imaginava que Lucy com certeza iria vir com uma boca enorme para cima de mim quando eu entregasse o celular para ela.
  - Ah, legal. Eu entrego – coloquei o aparelho dentro de minha bolsa – Tenha uma boa noite.
  Ele tragou mais uma vez e assim que entrei no táxi, Alex fechou a porta do veículo.
  - Tenha cuidado com a noite, Grace. Ela pode ser traiçoeira para jovens como você.
  Tentei ignorar o fato de como a voz dele havia saído em um sussurro que fez com que minha pele se arrepiasse por completo e indiquei para o motorista que já podíamos ir.
  Pela janela, espiei Alex jogando o cigarro no chão e pisando em cima dele o apagando.


***


5 comentários:

  1. Grace conseguiu dormir enquanto assistia AHS? Ganhou meu respeito! Eu morro de medo dessa série. hahahahahahahahaha
    Tô adorando a fic! <3

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  2. Socorro, Bel! Eu ADORO/odeio esse Alex provocador e você o faz direitinho. Sinto um friozinho na barriga e por uns instantes a Grace sou eu, e os "joguinhos" são comigo. Falar em Grace, ela é muito boazinha e se importa com todos... Admirável! E ainda assim não é boba, nem dá o braço a torcer. O Jake é um fofo e sinto que ele vai sofrer um pouquinho nessa história. Essa história do celular da Lucy... Tsc tsc. Preciso de mais :))

    Beijos.

    Steph

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  3. Hahaha adorei o capítulo. Principalmente a bondade da Grace e as gracinhas do Al. ♥

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  4. Próximo capítulo, please!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!

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  5. capítulo muito legal :) quero mais!!
    beijos

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