SKY BLUE LACOSTE SIX: HEADS OR TAILS?

384 horas antes

  - Are you mine, Arabella?
  Uma simples pergunta que em cada sílaba carregava uma complexidade tamanha.  Eu podia sentir a angústia de Alex e por incrível que pareça, uma parte do meu coração doía por ver outra pessoa vivendo em uma dor tão profunda. Em suas palavras, pude ver a sinceridade, sem jogos, sem segundas intenções. Apenas um homem lutando para manter os pensamentos na linha correta, no caminho da sanidade.  O que eu responderia? Não podia deixa-lo com uma resposta vazia, não podia deixar que o caso de Alex evoluísse para um caso Arabella.
  Ainda mais quando o meu coração insistia em bater mais forte quando ele estava por perto.
  - Eu... Acho que isso está indo muito rápido, não sabemos direito o que é isso que sentimos – eu mesma não acreditava em minhas palavras.
  - Arabella – ele sussurrou – Eu sei que você necessita de mim tão quanto eu necessito de você. Eu vejo sua pele arrepiar toda vez que eu chego perto – ele deslizou as mãos pelo meu braço - Você pode ser minha cura, não negue ajuda a um sofredor.
  Eu respirava pesadamente e sentia a respiração dele de mesmo modo bater contra meu rosto. Era difícil pensar racionalmente naquela proximidade. Abrindo meu coração de forma clara, admito que a certeza do que eu tentava negar vinha tomando conta de mim. Naquele instante foi quando eu desisti de lutar contra aquilo que aquele homem provocara em mim desde quando sentou-se ao meu lado naquela praia. Algo de mim se ligou a ele como uma corrente elétrica e de modo tão forte como tal. É como aquela sensação que eu tive, não da para explicar, você tem que sentir.
  - Eu já cometi um grande e infeliz erro – coloquei minhas mãos ao redor de seu pescoço delicadamente – não deixe que eu pense que esse seja outro.
  - Eu prometo a você que não será – ele botou uma mecha de meu cabelo atrás da orelha.
  E então, finalmente uniu nossas bocas com um beijo sutil e aproveitador. Alex queria sentir as texturas de meus lábios, beijava-me como se sua intenção fosse captar o sabor daquele instante e guarda-lo em sua memória. Prensou-me contra seu corpo com desejo e fervor, enquanto minhas mãos acariciavam sua nuca. Aquele teria sido o beijo perfeito ao por do sol, mas ai meu celular começou a tocar.
  - Eu tenho que atender, pode ser meu irmão – falei o afastando contra sua vontade.
  Minhas dúvidas foram confirmadas quando identifiquei o nome de Peter no visor.
  - Alô?
  - Bella, onde você está? Preciso que venha para casa.
  - Aconteceu alguma coisa? – perguntei enquanto me levantava.
  - Não, não é nada. Mas preciso que você venha logo – falou tranquilamente.
  - Tudo bem, estou indo. Tchau.
  Desliguei o telefone e encarei Alex que ainda estava sentado observando a cidade.
  - Tenho que ir – falei um tanto triste.
Ele olhou-me e a decepção em seu rosto era perceptível.
  - Sem problemas.

===

  Quando chegamos à frente do prédio onde eu morava, eu relutava para sair do carro. Eu queria ficar ali, com Alex ao meu lado. Porém, meu irmão me esperava lá em cima.
  - Então, eu vou indo...
  - Eu não queria que você fosse – segurou minha mão.
  - Eu também.
  Ficamos sem silêncio por um momento.
  - Alex?
  - Sim?
  Desejei que eu não me arrependesse daquilo que iria sair de minha boca.
  - Você não quer subir?
  Ele sorriu feito um adolescente.
  - Isso não vai lhe causar problemas? Quero dizer, com seu irmão? – perguntou.
  Eu ri. Ele realmente não fazia ideia de como Peter era.
   - É claro que não.

  Assim que abri a porta me deparei com uma mala de viagem gigante no meio da sala. Indiquei para que Alex entrasse e logo depois, meu irmão apareceu.
  - Bella, ai está você! Finalmente, achei que nunca iria chegar – então, ele virou-se para Alex e o analisou – Quem é seu amigo?
  - Ah, esse é Alex Turner – o puxei pela mão para mais perto de nós, pois ele ainda se encontrava em frente à porta – Ele é vocalista do...
  - The Strokes, não é?! Eu sabia que o conhecia de algum lugar – ele falou animado – Eu acho que tenho um CD da sua banda.
  Eu não soube onde enfiar a cabeça e creio que Alex também não.
  - Peter, o vocalista do The Strokes é o Julian Casablancas. Alex é vocalista do Arctic Monkeys.
  Ele soltou um longo suspiro e passou as mãos pela cabeça sem jeito.
  - Ah! É claro que sim. Que isso gente, eu só estava brincando – ele estendeu a mão para cumprimenta-lo – Sou Peter Volturi.
  - Alex Turner, vocalista do The Strokes – disse brincando retribuindo o gesto.
  - Gostei do seu amigo – falou meu irmão dando tapinhas nas costas de Turner.
  - É – disse franzindo a testa já achando aquela situação esquisita demais – Por que da mala? Já vai me expulsar de casa?
  - Foi por isso que eu a chamei – Peter veio até mim – Eu vou ter que ir para Nova York, resolver uns problemas para o papai de última hora. Vou ficar dois dias fora, está tudo bem para você?
  - Pete, eu viajei quase o mundo todo sozinha. Eu consigo me cuidar por dois dias.
  Meu irmão me abraçou forte.
  - Ah Bella, ás vezes eu esqueço que minha irmã mais nova já cresceu. Eu prometo não demorar – ele me soltou e depositou um beijo em minha testa – Agora tenho que ir, não posso perder o voo. E Alex, se você for andar com a minha irmã, fica de olho nela por mim.
  - Pode deixar – respondeu sorrindo.
  Então, Peter fechou a porta rumo à Nova York me deixando ali, sozinha com Alex.

  Alex’s POV

  - Seu irmão é completamente o contrário de você.
  Arabella me olhou como quem não fazia ideia do que eu estava falando.
  - Eu sei ser engraçada também, sabia? – falou se jogando no sofá.
  - Então me mostre esse seu lado que eu estou muito curioso para descobri-lo – sentei-me ao seu lado.
  - Tem uma piada super legal que me contaram na Austrália, é assim: O DVD perguntou para a TV “Você foi ao casamento da Antena?” ai a TV respondeu “Fui, acredita que não teve casamento? Mas a recepção estava incrível”. Entendeu? A recepção do casamento da Antena.
  - Foi horrível – falei rindo.
  - Você está rindo então, missão concluída com sucesso.
  - Estou rindo porque foi horrível.
  - Os Australianos acharam engraçado – deu de ombros.
  - Os Australianos – passei meu braço ao redor de seu ombro e eu poderia ter ficado daquele jeito pelo resto da vida – Quer dizer que você deu a volta ao mundo, foi?
  - Mais ou menos, houve muitos lugares que gostaria de ter ido, mas não tive a chance. Pretendo terminar essa viagem algum dia.
  - E qual foi o lugar que você mais gostou de visitar?
  - Macchu Picchu, sem dúvidas. Acho que foi o que mais me marcou. Lá o céu, eu não sei, parecia que ele estava mais próximo do que nunca. Eu tenho algumas fotos... Vem, eu te mostro – ela me pegou pela mão e me levou até seu quarto.
  Na parede havia um grande mural com inúmeras fotos de vários lugares. Pude identificar o Taj Mahal, as pirâmides do Egito e até mesmo o safári Africano. No topo de todas as fotos, estavam as de Macchu Picchu. Ela tinha razão, mesmo pelas fotografias, o céu parecia próximo demais.
  - É realmente lindo.
  - É uma obra de arte do universo – havia emoção em sua voz.
  Arabella respirou fundo e balançou a cabeça como se quisesse voltar à realidade.
  - Quer alguma coisa para beber? – perguntou.
  - Depende... Tem cerveja?
  - Eu vou ver, deve ter alguma coisa no freezer – disse saindo do quarto.
  Enquanto ela estava na cozinha, fui até o seu pequeno banheiro. Tudo era muito bem organizado. A toalha branca e macia estava pendurada e pude imaginar ela saindo molhada do banho se enrolando nela. Uma caixinha de madeira estava sob a pia de mármore branco, aquilo não era de minha conta, mas isso não fez com que eu a deixasse de abrir. Dentro dela, havia quatro frascos transparentes de remédios. Dois deles estavam quase acabando e a data na etiqueta com o seu nome, mostrava que não fazia muito tempo desde que ela havia começado a tomar aquele frasco. Eu os peguei para ver do que se tratavam. Antidepressivos e pelo o que eu entendi, alguma droga para controlar o humor. E a faixa preta neles coladas, indicavam que eram dos mais fortes.
  - Alex, só tem... – Arabella apareceu na porta de repente – O que você está fazendo?
  - Eu só... Por que você toma isso? – perguntei subitamente.
  - Você não pode mexer assim nas minhas coisas – ela tomou o frasco que eu segurava e o guardou novamente.
  - Isso é receitado por um médico, Arabella?
  - Não é da sua conta – disse ríspida.
  - Arabella isso é muito forte. Você não pode tomar essas coisas sem passar por um médico. Eu sei que ás vezes nós acabamos cedendo a certos tipos de meios não muito saudáveis para tentar aliviar as coisas, mas isso... Quantos desses você toma?
  Ela bufou irônica.
  - Se você usa algo para “aliviar as coisas” não quer dizer que eu também seja assim. Você usa drogas por que quer, eu uso porque eu aparentemente preciso delas. E tenho certeza que diferente das suas, as minhas passaram por um especialista antes de chegarem a mim porque eu não tinha outra opção.
  Ela me deu as costas e saiu dali.
  - Arabella, espere – a peguei pelo braço – Eu só fiquei preocupado. Achei que você tomasse porque...
  - Porque eu gosto? Porque eu não vi outro modo de livrar minha cabeça desses malditos pensamentos? Por livre e espontânea vontade? Eu rezo toda a noite para que um dia eu não precise mais tomar essas pílulas – ela quase chorava.
  - Me desculpe – foi tudo o que consegui dizer.
  Ela passou a mão pelo rosto para enxugar as lágrimas que agora caiam.
  - Vá embora, Alex. Eu não preciso da sua misericórdia.
  - Eu não vou embora, e não é por misericórdia, ou pena, ou qualquer coisa do tipo. É por você.
  Arabella me ignorou, tirou minha mão de seu braço e voltou para seu quarto batendo a porta.
Mesmo depois disso, eu estava decido em ficar ali. Sentei-me no sofá e tentava digerir os pensamentos. Foi ai que meus olhos encontraram a bolsa entreaberta de Arabella que deixava seu caderno, aquele que ela sempre carregava a mostra. Já havia cometido uma invasão de privacidade naquele dia, que diferença faria seu eu fizesse novamente? 
  Peguei o caderno em mãos e suspirei antes de abri-lo. Folheei as páginas que continham anotações de vários tipos, desde poemas, citações e letras de músicas. Em uma página havia uma foto que me chamou atenção. Era uma Arabella mais jovem abraçando uma garota loira sorridente, ambas estavam em um gramado verde, o céu azul indicava que aquele fora um dia ensolarado e bonito. Mas logo abaixo, o que havia escrito não parecia fazer parte daquela página que trazia uma lembrança tão bela:

Nós éramos os anjos caídos em uma terra de monstros e demônios.
Eles me perguntaram: Cara ou coroa?
Perdoe-me por ter dado a resposta errada.

  O barulho da maçaneta fez com que eu ficasse em alerta. Rapidamente guardei o caderno de volta na bolsa, por pouco, Arabella não me pegou no ato.
  - Eu já falei que é para você ir embora – ela pegou a bolsa.
  - Não vou ir.
  - Então não me responsabilize se você acordar no meio da noite.  
  E com isso, voltou para o seu quarto batendo a porta novamente levando a bolsa junto com si.

===

  Olhei para o relógio: 01h45 da manhã. Não consegui pregar os olhos um minuto se quer. Algo me angustiava de maneira insuportável. Pensei em ir embora inúmeras vezes, mas sempre que girava a chave da porta, algo me impedia. Estava na varanda, observando o mar sob a luz da lua e deixando que a brisa refrescasse minha cabeça. O que eu esperava ficando ali afinal? Não fazia sentido algum. Assim que ela acordasse iria me mandar embora como havia feito antes.
  Levantei-me da cadeira, dessa vez decidido em ir embora quando algo me impediu novamente. Mas não foi nenhuma força que eu não saberia explicar o que. Foram os gritos que vinham do quarto de Arabella.
  Andei em passos desesperados em direção ao quarto e quase arranquei a porta ao abri-la. Aproximei-me de Arabella que estava suando e agitada. Aquela cena me assustou.
  - Arabella – passava minhas mãos em seu rosto com o intuito de acalma-la – Está tudo bem, acorde. Por favor. Por favor, está tudo bem. Eu estou aqui.
  Ela abriu os olhos bruscamente e inclinou seu corpo para frente. Sua respiração era descompassada e ofegante, seus olhos demonstravam certo terror, sem falar da tremedeira que tomava conta de seu corpo.
  - Marine, a Marine. Foi tudo minha culpa – falava baixo.
  Sentei-me ao seu lado e a abracei.
  - Calma, foi só um pesadelo. Está tudo bem, eu estou aqui – seu rosto estava afundado em meu peito.
  - Não foi só um pesadelo – sentia as lágrimas caírem sob minha camisa – Ela...
  - Escute – sustentei seu rosto com minhas mãos – Vou pegar um copo de água para você, fique aqui.
  Mesmo com receio de que ela começasse a gritar novamente, fui até a cozinha, enchi um copo com água e voltei ao quarto. Arabella permanecia sentada do mesmo jeito, era como se ao menos piscasse.
  - Tome um pouco – coloquei o copo em suas mãos.
  Alguns pingos de água pularam do copo devido a sua mão trêmula, mas conseguiu beber um gole sem que todo o líquido caísse sobre a cama.
  - Você quer ouvir uma história? – perguntou depois de um tempo.
  Eu estava perplexo demais para responder algo, então apenas concordei com a cabeça.
  - Há muitos anos atrás – começou – Quando os anjos ainda voavam pelo mundo, dois deles resolveram sair por ai em busca de aventura. Eles queriam ir para longe, mas suas asas ainda eram pequenas. Eles não podiam ir para muito distante. Um dia, no meio de uma viagem, eles pararam para descansar em um estábulo. O que eles não sabiam era que estavam sendo observados por monstros desde que haviam levantado voo.

Flashback on

  - Bella, atende a porta. Deve ser o serviço de quarto. Eu vou tomar um banho – gritou Marine.
  Eu levantei-me da cama e fui em direção à porta. Assim que a abri, me deparei com um homem grande vestido de terno com o crachá do hotel.
  - Arabella Volturi? – ele perguntou.
  - Sim?
  Não deu tempo para que eu fizesse movimento algum. Quando menos esperei, o homem pressionou um pano aparentemente mergulhado em algum sedativo contra meu nariz. Segundos depois, tudo havia ficado escuro.

  Quando acordei, minha visão estava turva. Levei algum tempo para ficar completamente consciente. Tentei me mover, mas minhas mãos e meus pés estavam amarrados fortemente com uma corda a uma cadeira. Havia uma fita em minha boca. Olhei ao meu redor e percebi que estava em um quarto do hotel, mas não era o meu.  O horror foi quando minha visão pairou sob a cama e a imagem de Marine amarrada nua foi captada pelos meus olhos. Sua boca estava amordaçada e ela chorava.
  - Arabella Volturi, filha de Benjamin e Desiré Volturi. Dezessete anos, herdeira de cinquenta por cento do império das empresas Volturi – um homem de aparência elegante aparecera na suíte – Um rostinho tão bonito, seria uma pena se alguém o estragasse.
  Ele passou a mão sob minha face e senti meu estômago revirar.
  - Você deve estar se perguntando quem eu sou. Eu sou Alfred Olivers. Sócio de seus pais. Ao menos eu era – deu uma risada – Agora, você deve estar se perguntando o porquê de estar aqui.
  Ele se sentou em uma cadeira a minha frente.
  - É uma história engraçada na verdade. Essas coisas de negócios são muito complicadas, sabe? Então eu vou resumir para não tornar deste um momento entediante. Seus pais e eu, nós éramos sócios e tudo estava indo muito bem até que... Suspense... Eu dormi com a sua mãe! Não é engraçado? Eu te disse que era! A parte ruim é que seu pai descobriu e Desiré, astuta como sempre e é bom nós fixarmos isso, conseguiu sair da história como a pobre e inocente vítima. Seu pai quebrou a sociedade, arruinou minha imagem e com isso, levou as minhas ações para o fundo do poço. Agora, estou a um fio de perder tudo.
  Eu ouvia suas palavras aterrorizada e não fazia ideia do que pensar.
  - Espero que pela breve sinopse do livro você tenha entendido. Eu não muito bom com isso sabe – deu de ombros – Mas a questão é: Porque a pobre filha dos Volturi está aqui? Você saberia me responder?
  Ele pareceu esperar por uma resposta, mas minha boca estava selada com fita isolante.
  - Ah, é mesmo. Perdoe-me, creio que com isso você não pode falar. Eu vou tirar a fita daí e você vai me prometer que não vai fazer nada, ok? – Olivers se aproximou e arrancou a fita de uma vez provocando ardência em meu rosto – E então Arabella, o que você acha? Por que você acha que está aqui?
  Eu não respondi.
  - Não seja mal educada. Sua mãe costumava falar muito quando estava na cama. Responda a minha pergunta.
  Permaneci calada e como consequência, ele deu-me um forte tapa no rosto. Um gemido sofrido de Marine ecoou pelo cômodo.
  - Me responda sua vadiazinha! – gritou.
  - Eu não sei! – meu tom sairia falho em meio às lágrimas que corriam pelo meu rosto.
  - Não sabe? Você não sabe o preço de ser uma Volturi?! – ele tirou um canivete do bolso e então, segurou meu braço com força.
  - Você não sabe do sangue sujo que corre em suas veias, Arabella? – começou a penetrar o objeto afiado em meu dedo mindinho, eu mordia a minha língua para não gritar de dor – O seu pai... A sua mãe... O seu irmão... Você. Todos fazem parte da mesma árvore podre. Você não sabe nem da metade, querida.
  Quando ele retirou o canivete de minha pele pude sentir não só meu dedo, como minha mão inteira latejar.
  - Eu pensei em sequestrar seu irmão. Mas ele poderia me dar mais trabalho, e a vida dele não valeria tanto quanto a sua. Afinal, as meninas sempre são as preferidas do papai. Falando nele, vamos dar uma ligadinha para papai ter certeza que a filhinha está bem?
  Alfred Olivers retirou do bolso um celular, discou o número da chamada rápida e botou no alto-falante. Após três toques, meu pai atendeu.
  - O que você quer, Olivers? Já disse que não vou voltar atrás – eu nunca ouvira meu pai tão raivoso.
  - E eu disse que não estava brincando. Não quer dar um ‘oi’ para a sua filha? Vamos lá, Arabella, diga ‘olá’ para o papai.
  Ele aproximou o aparelho de minha boca.
  - Pai... – tirei forças de um lugar inexistente para conseguir falar.
  - Arabella? É você? Filha? – ele parecia estar surtando.
  - Pai... Me ajuda – supliquei.
  - Tudo vai ficar bem filha, eu prometo.
  Alfred riu friamente.
  - Só vai ficar bem se você fizer o que eu mandar, Volturi.
  - Você não vai fazer nada, Olivers. Você está louco! A polícia vai pegá-lo porque é um covarde!
  - Chega! – aumentou a voz – Você acha que eu estou louco? Eu estou louco.
  Ele retirou uma arma do bolso interno do terno e apontou para a minha cabeça.
  - Não, não... Vamos fazer este jogo mais interessante.
  Colocou o celular na cadeira em que antes sentava e pegou uma moeda do mesmo bolso em que a arma se encontrava.
  - Um lado, você morre. Do outro... – ele apontou a arma para o corpo nu de Marine que chorava desesperadamente – A sua amiguinha gostosa já não vai estar com tanta sorte. Cara ou coroa, Arabella?
  - Quem mais está ai? – era o meu pai perguntando – Marine está ai?
  - Ah, a loirinha se chama Marine? Nome bonito. Vai ser uma pena se você fizer a escolha errada. Vamos, cara ou coroa?
  - Por favor, me mate. Deixe-a em paz – supliquei já derrotada interiormente.
  - Vamos ser justos. É sua última chance de salvá-la, se não eu a mato. Pelo menos, as duas tem cinquenta por cento de chances para sobreviver. Você tem cinco segundos: Cara ou coroa? Um...
  Eu não podia fazer aquilo. Não podia deixar que Marine morresse.
  - Dois...
  O tempo era curto e eu tinha que falar algo.
  - Três...
  O tempo estava se esgotando. O relógio ditava as regras.
  - Quatro...
  - COROA! Coroa... Coroa – gritei a palavra que meu cérebro repetia insistentemente e em seguida, fechei os olhos para que o ar pudesse tocar meus pulmões pela última vez.
  - É... Ótima escolha, Arabella.
  Houve o disparo, mas eu continuei ali. Não tive vontade de abrir os olhos. Meu pai gritava ao telefone. Era como se o mundo tivesse parado. Nada mais importava. A única pessoa que conseguiu me erguer no meio do caos havia perdido a vida. E a culpa era minha.

Flashback off

  - O anjo caiu sem vida ao chão, pois o outro não foi capaz de salvá-lo porque suas asas foram cortadas – ela abraçou suas pernas e apoiou a cabeça nos joelhos – É isso que me assombra nas noites escuras. É para isso que eu tomo os remédios. Eu não os tomei hoje... Ás vezes me parece errado esquecer e dormir tranquilamente.
  Eu não via outra atitude que poderia fazer se não abraça-la forte. A verdade é que eu estava aterrorizado e não sabia como agir diante delicada situação. Arabella havia vivido uma história de terror e tinha sobrevivido. E agora era meu dever reconforta-la.
  - Eu estou aqui com você – falei - E não vou sair do seu lado.
  Ela se aconchegou em meu colo e apertou forte minha mão.
  - Do que você tem medo, Alex?
  Passei meu dedo pelo seu mindinho e senti a cicatriz em forma de ‘V’.

  - No momento, eu só sinto medo de não conseguir a proteger.

***

Olá meninas! E então, as cicatrizes começam a fazer sentido agora? Mas isso não é tudo! Não, ainda há questões para serem esclarecidas. Além de conter uma peça chave do quebra-cabeça dessa fic, é onde começa a contagem. Para que? Isso vocês só vão descobrir mais adiante. É isso, espero que tenham gostado. Beijos, Bel ♥ 

5 comentários:

  1. Meu deus, nada traduz a emoção que estou sentindo. Você me pegou em um momento crítico. Hoje está sendo um dia ruim e esse capítulo me fez chorar mais ainda.
    Já tinha dito que eu me vi na Arabella. Isso se confirmou nesse capítulo, não passei a situação que ela passou, mas em relação a remédios, eu sou idêntica. O capítulo está sensacional, essa emoção, esse drama, esse sentimento GIGANTE que envolve os dois, me faz ficar feliz e triste ao mesmo tempo. Eu não esperava que o Al pudesse ser tão compreensível e amigo pra Bella. Eles podem sentir algo a mais, mas naquele momento, ela só precisava do conforto dele e da proteção. Um ombro amigo. O sentimento pena é terrível, é terrível sentir que os outros sintam pena de você, mas Al não passa isso. Ele sabe o quanto dói e tenta acalmar o coração da pequena.

    Não tenho muito o que dizer. ESTÁ INCRÍVEL. E eu preciso de mais.

    Beijo, anne.

    ResponderExcluir
  2. Bel, só agora tive coragem de ler e devo dizer que estou sem palavras! Como você disse, essa fic é carregada de sentimentos e é justamente isso que estou sentindo... Um emaranhado de sensações. Quanta coisa a Bella passou, fora o que ainda estamos por descobrir. Devo admitir que o sentimento de culpa é um dos piores que existem e agora faz sentido todos os remédios e cicatrizes envolvidos na história. O Alex não poderia ser mais perfeito com a Arabella mas mesmo assim a "fama" que ele tem me preocupa. Ele não pode decepciona-la :( Meu Deus, o que liga esses dois é tão forte e sinto que precisam tanto um do outro! Nem sei mais o que falar... Sempre fico assim a cada capítulo. Quero mais e parabéns por escrever tão lindamente. Beijos.

    Steph

    ResponderExcluir
  3. Este comentário foi removido pelo autor.

    ResponderExcluir
  4. Eu tô chorando feito um bebê :"""(
    Tadinha da Arabella, isso foi tão...tão...horripilante!
    Tô sofrendo com ela, eu não esperava por isso, nossa...
    E o Alex, acho que agora minha reação se compara a dele...
    Odeio drama mas, agora que comecei, vou ter que ir até o fim ><
    Xxx :(

    OBS: desculpe pelo outro comentário Fernanda, o apelido de vcs me confundiu e pra mim o 'Bel' era de 'Bella'. Foi mal mesmo, tá!? Xx.

    ResponderExcluir
  5. Bel, SBL está linda!
    A história tomou um rumo totalmente diverso do que eu imaginava, ou cheguei a cogitar. Bella é alguém muito especial, e o que ela passou não foi fácil. Imagino a dor e atormenta que ela sofreu.
    Alex passando por momentos difíceis, abusando um pouco das drogas, se sentindo deslocado.
    Os dois precisam de uma cura, de alguém para se apoiar e se proteger. Precisam de amor, e sinto que os dois vão nos render cenas lindas...

    Ai, volte logo.
    Beijos grandes, Débs.

    ResponderExcluir

Não precisa estar logado em lugar nenhum para comentar, basta selecionar a opção "NOME/URL" e postar somente com seu nome!


Se você leu o capitulo e gostou, comente para que as autoras atualizem a fic ainda mais rápido! Nos sentimos extremamente impulsionadas a escrever quando recebemos um comentário pertinente. Críticas construtivas, sugestões e elogios são sempre bem vindos! :)