Brooklyn Baby 02: The Radio.


I don't even notice how hard life was
I don't even think about it now because
I've finally found you

  Ao acordar, estava sozinho na cama. Fazia tempo que Alexa não o beijava nas manhãs assim que despertava e esse simples gesto o machucava com a mesma intensidade de um soco no estômago. Alex levantou-se, passou pela sala e foi até a cozinha. Ela não estava em casa. Encheu uma xícara de chá quente e sentou-se no banco do balcão. Então, a imagem da garota em sua jaqueta jeans e seu All Star surrado passou pela sua cabeça. Como alguém poderia possuir duas personalidades tão distintas dentro de si? O jeito esquivo que o olhou do lado de fora do bar não condizia nem um pouco com o da mulher que subiu no palco em um vestido vermelho, saltos altos e com os lábios e olhos bem delineados pela maquiagem. Talvez ele tenha se confundido, talvez tivesse sido outra garota que vira. Talvez sua mente estivesse lhe pregando peças.
  Seu celular tocou o livrando de seus pensamentos, ele pegou o aparelho que estava em cima do balcão e ao reconhecer o nome no visor, atendeu:
  - O que você quer? – perguntou sem muito humor.
  - Isso é jeito de me desejar ‘bom dia’? – falou Matt – O que aconteceu?
  - Não aconteceu nada.
  - Ah qual é! Pode falar Alex, eu te conheço – insistiu.  
  - Nada, cara. Nada... Mas porque você me ligou mesmo? – tentou desviar do assunto que a conversa poderia tomar.
  - Bem, é sábado e está fazendo um belo dia. Você não está a fim de vasculhar alguns becos de Nova York? Quem sabe o que podemos achar por aí.
Ele encarou sua xícara de chá e a fumaça densa que saía do líquido. Não queria sair, mas ficar naquele apartamento se perguntando a que horas ela chegaria também não era a melhor opção.
  - Tudo bem, daqui a pouco eu passo ai – finalmente respondeu.
  - Ótimo! Até logo, então.

  Nas ruas do Brooklyn, Elizabeth caminhava rumo á loja de discos The Radio onde trabalhava. O lugar era conhecido e até bem frequentado, discos que jamais imaginariam encontrar, lá as pessoas os encontravam. Era um bom emprego apesar de ter que trabalhar nas manhãs de sábado e na verdade, foi o mais próximo que conseguiu chegar da faculdade de Artes que queria fazer.
  A fachada da loja era peculiar, quem a via tinha a impressão de ver uma enorme TV. Era toda pintada em preto, branco e tons de cinza. A vitrine funcionava como a tela e a porta, como o painel de controle assim como nas antigas televisões. Em seu interior, a loja era grande, continha três níveis e ainda contava com uma cafeteria deixando o clima ainda mais agradável.
  Ao adentrar a loja, logo avistou Sasha Montgomery, a dona que tinha trinta e sete anos, mas que passaria fácil por uma garota em seus vinte e poucos e Kyle, o garoto de olhos azuis com seus dezoito anos que também trabalhava lá. Os dois eram seus bons amigos. Eles estavam no mais alto nível da loja planejando qual seria o tema da semana no Black Radio, o folhetim que era distribuído aos frequentadores.
  - Que bom que você chegou – exclamou Sasha – Nos ajude com uma coisa: L.A Woman ou Physical Graffiti? – ela se referia a dois álbuns, o primeiro do The Doors e o outro do Led Zeppelin. Um dos dois iria para a coluna de álbum da semana no Black Radio.
  - Physical Graffiti – ela respondeu indo para trás do caixa jogando sua bolsa no canto.
 Sasha fez algo como uma dança da vitória e mostrou a língua para Kyle.
  - Sério? Que maturidade! – ele zombou – Isso não vale, todo ser humano sabe que Elizabeth prefere Led Zeppelin a The Doors.
  - Você está errado meu amigo, eu não tenho preferência. Gosto das duas bandas, mas acho Physical Graffiti uma obra de arte em um todo e todos aqui sabem disso.
  - Mas L.A Woman foi o último disco gravado com a formação original da banda! – ele rebateu.
  - Jim Morrison morreu, John Lennon morreu, Sid Vicious morreu, as pessoas morrem. Mas isso não torna o álbum melhor, só aumenta as vendas.
  - Ela tem razão – concordou Sasha balançando a cabeça.
  Kyle bufou derrotado e deu de ombros. Ele sabia que se continuasse naquele debate teria que arranjar um juiz e uma sala de tribunal.
  - Vocês duas são impossíveis, sabiam?
  - Eu costumo praticar às vezes – Elizabeth sorriu inocentemente.
  Ele deu um soco de leve em seu ombro e ela fez cara de dor, mas seu momento descontraído foi interrompido quando Sasha começou a sacudi-la pelos ombros e logo em seguida puxou o braço de Kyle.
  - Deus, você tomou o seu remédio hoje? – ele perguntou livrando-se das mãos dela.
  - Seus idiotas, olhem para entrada – ela deu um enorme sorriso e saiu indo em direção aos clientes que haviam acabado de chegar.
  Elizabeth e Kyle olharam para os dois homens enquanto Sasha descia o mais rapidamente os degraus. Ao perceber de quem se tratava, Elizabeth se abaixou para debaixo do balcão e sua respiração começou a perder o ritmo.
  - Aqueles são Alex Turner e Matt Helders? – o garoto olhou para o lado, mas não viu a amiga. Ele deu a volta no balcão e se deparou com Elizabeth sentada com a mão no peito, na altura do coração.
  - Eu devo estranhar isso? – ele perguntou rindo.
  - Cala a boca – puxou sua perna o obrigando a sentar – Eles me viram como Carmen ontem.
  - E por um acaso agora você se tornou a Hannah Montana?
  - Muito engraçado – abriu um sorriso irônico – A questão é que Alex Turner conversou com Carmen. E nós dois sabemos o que acontece quando me falam da Carmen e fazem todas aquelas perguntas. Não falta muito para me internarem em um manicômio por dupla personalidade.
  - Era para você estar em um manicômio há muito tempo – ele riu e recebeu um tapa no braço pelo comentário que fez – Ok, desculpe.
  - Kyle? – era a voz de Sasha o chamando.
  Ele se levantou imediatamente e deparou-se com Sasha ao lado de Turner e Matt.
  - O que você estava fazendo ai? – a dona perguntou.
  - O meu... – ele olhou para baixo e Elizabeth o indicou a caneta no chão – A caneta caiu – se abaixou para pegar o objeto e ao fazer isso arregalou os olhos em uma tentativa silenciosa de conta-la que o que tentava evitar estava bem atrás do balcão. Logo depois, ele se pôs de pé novamente.
   - Prontinho – colocou o objeto no porta-canetas.
  Os três o olharam desconfiados e seu sorriso nervoso não o ajudava em nada.
   Sasha não satisfeita, andou em direção ao balcão. Kyle só fechou os olhos com força e torceu para que ela não berrasse, ou não tivesse nenhuma atitude exagerada como costumava ter quando se surpreendia com algo. Ao chegar atrás do balcão, Elizabeth imediatamente fez sinal para que ela não falasse nada, sibilando o nome “Alex Turner” e depois passando o dedo polegar pelo pescoço como uma faca.
  - Alex Turner quer te matar? – falou em um sussurro alto o suficiente para que eles ouvissem.
  Kyle suspirou rolando os olhos e Elizabeth desejou enfiar sua cabeça debaixo da terra.
  - Algum problema? – perguntou Helders meio confuso.
  - Nenhum – Sasha sorriu – Por que não vamos dar uma olhada na sessão lá de baixo?
  - Ah, claro – ele concordou.
  - Eu vou ficar por aqui – falou Alex.
  A dona olhou para Kyle e ele deu de ombros como se não pudesse fazer nada a respeito.
  - Ok, então. Qualquer dúvida, pergunte a Kyle – falou.
  O garoto olhou para baixo e viu a amiga balançar negativamente com a cabeça. Ela estava disposta a ficar ali até que os dois fossem embora. As chances de Alex não se lembrar dela eram enormes, mas quando se tratava de Carmen, o assunto era outro.
  Turner começou a andar entre as prateleiras de discos, pegava alguns em mãos e logo os colocava no lugar novamente. Kyle mantinha os olhos nele e Elizabeth ficava com as mãos na boca com o intuito de fazer o máximo de silêncio possível.
  - Kyle! Será que você pode me ajudar aqui? – chamou Sasha do nível abaixo.
  Ele olhou para a amiga escondida ali e ela acenou a cabeça em afirmação. O garoto a deixou sozinha ao ver que Alex estava entretido demais analisando um raro disco, uma das poucas cópias de Sid & Nancy – Love Kills. O disco continha a trilha sonora do filme de mesmo nome. A quantidade de vezes que o casal mais polêmico do punk rock estava sendo lembrado naqueles dois últimos dias chegava a ser dramaticamente irônico.
  
  Após algum tempo passado sem que Kyle voltasse e o silêncio parecesse absoluto, a não ser pela música que saía das caixas de som, Elizabeth decidiu espiar para ver se ainda havia sinal de Turner. Ela prendeu a respiração inclinou minimamente a cabeça para fora do balcão. Para o seu azar, ele olhava bem em sua direção. Sem saída e não querendo parecer mais maluca ainda, ela levantou-se. 
  Alex a encarou surpreso, seu rosto familiar o chamou atenção. Ele já vira aquele rosto, mas pertencia a outra mulher. Ou quem sabe estava certo sobre quem vira noite passada.
  - Então... Posso ajuda-lo? – ela perguntou sem jeito.
  Turner apenas continuou a analisando em silêncio e naquele momento, a garota desejou nunca ter saído de trás do balcão.
  - Você é... Você é Carmen – falou ainda surpreso.
  - Sim. Quer dizer, não – ela respirou fundo – É complicado.
  Alex se aproximou do balcão. Com ela, ele não tinha receio de falar. Era uma garota inofensiva. A prova disso foi o passo em recuo que deu para manter a máxima distância entre os dois.
  - É como se fossem duas pessoas, como gêmeas. Mas Carmen é a sua versão do mal – puxou um sorriso no canto dos lábios.
  - Você vai levar? – apontou para o disco ignorando completamente seu comentário sobre seu outro lado.
  Alex analisou o vinil em suas mãos por um instante.
  - Uma vez me disseram que não existe nada mais poético que a morte e o amor – ele a olhou nos olhos ao repetir a frase de Carmen, mas ela desviou o encarando os próprios pés – E é exatamente isso que esse disco retrata.
  Ambos ficaram sem dizer palavra alguma. A voz de Bob Dylan ecoava pelo lugar e alguns clientes vinham subindo para o nível superior com seus discos em mãos. Elizabeth olhou para baixo e viu que Matt Helders já estava com uma sacola da loja em frente ao outro caixa e agradeceu pelo sinal de que aquilo iria acabar logo.
  - Será que eu poderia pagar logo? – ele perguntou.
  Ela concordou com a cabeça e pegou a nota que ele tinha entre os dedos. Colocou o dinheiro na registradora e antes que pudesse pegar o troco ele a interrompeu.
  - Não precisa – deu uma piscadela do mesmo jeito que Carmen fizera no bar noite anterior e após isso, virou as costas e a deixou ali.

  Depois que Alex e Matt deixaram a loja, Sasha e Kyle subiram os degraus que levavam ao nível superior tão rápido que Elizabeth não soube como eles não caíram um belo tombo.
  - Oh, querida Elizabeth Grant! – Sasha falava ritmicamente – Existem vantagens em ser dona de uma loja de discos e se tornar melhor amiga de Matt Helders.
  - Melhor amiga? – repetiu Kyle – Quem tocou no assunto fui eu!
  - Shh – ela colocou o dedo indicado em seus lábios – Isso não é importante agora.
  - Alguém pode me dizer o que está acontecendo? – perguntou Elizabeth.
  - Querida Elizabeth – ela a segurou pelos ombros – Nós três vamos ao um show do Arctic Monkeys com acesso livre ao backstage.
   Sasha começou a fazer uma dança como a da vitória, só que muito mais animada e muito pior.
  - Vamos fazer a melhor edição do Black Radio de todos os tempos – comemorou Kyle.

  Elizabeth sorriu pela animação dos dois amigos, mas por dentro sentia-se apreensiva só de pensar em ver Alex Turner novamente. 

***

N/A: Olá!! Como prometido, aqui está o capítulo dois. Queria agradecer o carinho e por terem a paciência de me aturar por aqui hahaha Muito obrigada! ♥ 
Beijos, Bel. 

Um comentário:

  1. Bel, eu AMO tudo o que você escreve, e com essa fic não está sendo diferente. Gostei de como você introduziu os personagens secundários e adorei a complexidade da Elizabeth/Carmen. Já estou ansiosa pra ler o desenvolvimento desse relacionamento "a três" e também quero ver como a Alexa vai se encaixar nisso tudo.

    Amei! Amei! Amei!

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