Stuck On the Puzzle 09: The Jeweller's Hands.

N/A: Fiz uso de um clichê nesse capítulo, conseguem adivinhar qual? Boa leitura!







Era para ter sido uma viagem de duas horas.


Bom, era para ter sido.


A velocidade na qual aquele motorista dirigia havia me assustado um pouco. Ainda assim consegui achar demorado, já que Jamie e Ellie reservaram o andar de cima só para eles (se é que me entendem) e nesse meio tempo Alex fez o favor de me mostrar o verdadeiro significado da palavra ‘insuportável’.


Quando eu já não aguentava mais sentir a presença do vocalista, me dirigi a Nick, que tomava uma cerveja e lia uma revista. No começo, conversei com ele para ver se me distraía, mas o papo acabou se prolongando. Perguntei a ele se era difícil tocar baixo e ele disse que nem tanto assim, mas que era preciso prática. Ele chegou até a tocar um pouco para mim. Seria mentira se eu disse que não admirei sua técnica.


Depois que Nick começou a tocar um versinho de uma música da banda, Alex surgiu do nada com uma guitarra, acompanhando-o. Decidi que era a hora de me mandar e fingi que sairia em busca de algo para comer. Isso não os impediu de continuar.



And now it's no ones fault but yours
At the foot of the house of cards
You thought you'd never get obsessed
You thought the wolves would be impressed



Me dirigi até um pequeno frigobar que ficava no canto do local e peguei uma lata da única coisa que tinha ali: cerveja. Eu não gostava tanto assim, mas eu estava morta de sede e não tinha bebido nada desde a hora em que saí de casa, então...



And you're a sinking stone
But you know what it's like to hold the jeweller's hand
That procession of pioneers all drowned



Me sentei num pufe ao lado de um colchão onde Matt dormia profundamente. Impressão minha, pois assim que torci a tampinha da lata ele acordou.


“Oi.”


“Oi.”


“Você me acordou.”


“É, talvez.”


Matt fez uma careta e se ajeitou no que podia ser chamado de cama.


“Você sabe que não tem idade para beber isso aí, né?”


“Não tenho idade pra muita coisa que eu faço, senhor Matthew.”


Ele olhou para mim com um sorriso.


“Have you been drinking, son? You don’t look old enough to me” cantarolou Alex, aproximando-se.


“Ah, ótimo.” Reclamei, baixinho.


“Algum problema, Marine?” perguntou, com aquele sotaque irritante.


“Sempre há um problema”, respondo.


“Onde?”


“Em todo o lugar.”


Levantei-me, procurando algum lugar para ficar – que, particularmente, não fosse aquele. Subi para o segundo andar e depois de alguns minutos ali sentada, me lembrei do porquê de ali estar vazio.


É claro que as batidas incrivelmente fortes e o nome de Jamie Cook sendo pronunciado entre gemidos me deram uma ajudinha.


Mas eu estava tão acostumada com aquilo que ignorar era algo fácil para mim. Minha meia-irmã, meu irmão, minha mãe...


Meu celular tocou surpreendentemente e, para uma grande inconveniência, o volume estava no último. Procurei-o nos bolsos o mais rápido possível. Enfim, achei-o. E falando em mãe...


Obviamente não atendi, porque todos os sons que se repercutiam por ali poderiam gerar suspeitas. Eu havia deixado um bilhete em cima da cama. É.
Deixei o negócio tocar, ainda mesmo depois de colocar no mudo.


Então, o ônibus freou.



(...)



Assim que desci, atrás de Matt, percebi que estávamos no meio de um deserto californiano (assim eu esperava), em frente a um motel com toques do velho oeste chamado Pioneertown Motel.


“Isso aqui não é San Diego.” Eu disse.


“Óbvio que não” disse Alex, bem atrás de mim. “Surpresa.”


“Que porra é essa?”


“Marine, seja bem-vinda à Pioneertown, uma cidade no meio do nada que parece mais um cenário de filme.”


“Muito obrigada, guia turístico, mas não foi esse o combinado.”


“Vamos logo.”


Matt e Alex seguiram em frente adentrando o motel, me deixando parada em frente ao ônibus, com os braços cruzados.


De repente, alguns rapazes de camiseta preta surgiram para retirar os equipamentos do ônibus. Devem ser os roadies, pensei.


“Ah, olha só quem chegou!” exclamei, ao ver Ellie arrumando a roupa enquanto descia as escadas.


“Cale-se, sua...” ela ia falar alguma coisa, mas ainda não tinha se recuperado da êxtase pós-sexo.


“Transa no ônibus, confere” disse Jamie, envolvendo-a no seu braço. “Agora só falta o quarto do seu irmão.”


Ellie e Jamie voltaram a se beijar loucamente, tudo o que fiz foi respirar fundo e seguir em frente para a entrada daquele lugar.


Quando entrei, analisei completamente o lugar. A recepção também tinha decoração característica e era pequena, mas eu tinha certeza de que aquele corredor atrás do balcão poderia dar passagem para um lugar enorme.


“E a pequena princesa, quem é?” disse uma voz desconhecida.


Alex e Matt afastaram-se e então pude reconhecer o dono. Era um cara que certamente ultrapassava os cinquenta anos de idade e usava um chapéu de caubói.


“Essa é a Marine” respondeu Matt. “Ei, venha aqui, precisamos de ajuda sua.”


Dito e feito, cheguei mais perto. Como eu esperava, era sobre os quartos. Jamie e Ellie, já sabem – e sobre isso tudo o que posso fazer é sentir pena da faxineira. Matthew disse que provavelmente iria trazer alguma garota bêbada pois estava no clima para transar, mas para mim aquilo tudo era invenção só para ele não entrar no enfim conflito ‘qual-quarto-eu-vou-ficar’.


“Eu durmo no ônibus, está bem?”


“Não, o que é isso? Lá é desconfortável.”


“Desconfortável é descer num lugar no qual eu não faço ideia das coordenadas.”


“Vem cá, do que tanto reclama? Pelo menos está uma hora mais perto de casa.”


“Não interessa, eu menti para a minha mãe e agora não sei nem onde eu estou.”


“Está em Pioneertown, moça!” disse o velhinho.


É, não havia mais nada para fazer ali.


Se bem que...


“Isso é sequestro.”


“Desculpe?”


Alex riu, socou o braço de Matt e me puxou pelo braço até a porta de entrada.


“Está falando sério?”


“Pareço estar rindo?”


Ele deu sermões e mais sermões enquanto o baterista resolvia as reservas com o balconista. Enfim, ele nos interrompeu.


“Pessoal” ele disse, mostrando um conjunto de chaves na palma da mão. “Já podemos ir para os quartos.”


Desviei de Alex e andei até Matt. Peguei a primeira chave que vi e segui para o corredor, sem olhar para trás. Apenas parei quando vi onde eu havia parado, uma área aberta com caminhos para a esquerda e direita. Chequei o número do quarto. 505. Esquerda.


Era como se fosse uma enorme varanda compartilhada pelos vários hóspedes, porém também usadas de um jeito privado.


Olhei para trás. Ninguém. Bom, por enquanto.


Continuei pelo caminho do piso de madeira. 503, 504, 505. Meu quarto dava para uma varanda até que agradável. Tinha um balanço, um lampião e algumas plantas.


Rodei a chave na fechadura e entrei. Para a minha não-surpresa, o quarto também era pequeno, mas dava pro gasto. Tinha tudo o que era realmente necessário, especificamente falando.


Com muita preguiça, me joguei na cama. Que cheiro de quarto de hotel. Não, que cheiro de lavanda. Deve ser o piso.


Mamãe deve estar tão preocupada a essa hora.


“Merda...”


Já estava tudo ficando uma bosta, então ouço batidas na porta.


“Vai embora.” Eu disse.


“Sou eu.” Disse Alex.


“Eu sei.”


Ele abriu mesmo assim, e conseguiu entrar. Parabéns para a crânio aqui, que sempre esquece do mais importante.


“Hey, foi mal por isso... É que nós temos um show agendado aqui.”


“Não importa” rebati. “San Diego é San Diego, Pioneertown é Pioneertown.”


Alex respirou fundo. “Como se você estivesse dando a mínima para isso. Está usando isso como desculpa para me botar na merda, pensa que eu não sei?”


Encarei-o, desejando para que algum louco com uma panela na mão entrasse ali e batesse com ela na cabeça dele.


“Não me olhe desse jeito.” Apontou.


“Que jeito?”


“Esse aí.”


Revirei os olhos.


“Como vai ser essa babaquice toda de quarto?”


“Se você for madura o suficiente para conseguir dormir ao lado de um de nós sem pensar nada ou fazer nada...”


“Isso eu sou. Agora você, por outro lado...”


Alex me olhou por tempo e foi se aproximando aos poucos.


“Fala sério, garota, você realmente acha que eu ia deixar isso passar?”


“Isso o quê?”


“Nick e você no mesmo quarto.”


“Não vejo problema algum. Sei que ele não faria nada comigo.”


“Vai nessa...” riu.


“Eu sei que ele não faria, sabe por que? Porque ele é gentil e educado até mesmo quando bebe, e entenderia se eu dissesse que eu tenho um namorado.”


Alex deu mais uma risada e chegou mais perto.


Perto demais.


“Que bom que nós sabemos que isso é mentira, não é?” ele disse, deslizando seu dedo indicador pelo meu queixo.


Dei um tapa em seu pulso, afastando-o. “Só se for pra você.”


Ele arregalou os olhos.


“Jura? Quem é o felizardo?”


“Não te interessa.”


“Interessa, senão eu não estaria perguntando” disse. “Ou você está blefando?”


“Eu não ‘tô blefando.”


“Então me diga o nome dele. Quantos anos ele tem?”


“Que porra é essa? Virou meu pai agora?” digo, rispidamente.


“Eu só quero saber.”


“Bom, acho que está querendo demais.” Falo sem muita esperança de que aquilo fosse acabar logo.


Andei para a varanda. “Marine, volta aqui!”


Ignoro-o, me sentando no pacato balanço, junto com uma leve vontade de se matar.


“Oi.” Ele diz, se sentando ao meu lado.


“Oi.”


“Você liga se eu sentar aqui também?”


“Eu não sou dona desse balanço, muito menos desse lugar. Se quiser, você se senta até no chão.”


“Ótimo. Eeh, eu queria pedir desculpas.”


“Pelo que, posso saber?”


“Ah, você sabe” ele tossiu. “Ser um babaca com você.”


“Isso você já é por natureza.” Eu disse.


“Ei!” por incrível que pareça, nós dois rimos. Fraco, mas rimos. “Eu me referia ao beijo em frente ao pub.”


“Deixa pra lá, você ‘tava bêbado.”


“Eu sempre estou.”

“Não exagera, Turner.”


“É verdade, eu juro. Desde que meu namoro está em crise, tudo o que faço é beber, beber e beber.”


Eu realmente não estava com paciência para ouvir aquilo.


“Como é com você e seu namorado?”


“Perdão?” pergunto, sem prestar atenção.


“Quando vocês brigam, sei lá. Como vocês se resolvem?”


Pensei e pensei. Quando foi a última vez que eu e Rodrigo brigamos?


Porra...


“A gente não briga muito.”


“Isso é ótimo, parabéns. Mas o que vocês fazem quando acontece? Por mais raro que seja?”


“Eu não sei dizer porque eu não lembro quando foi a última vez.”


Cruzei os braços no peito, observando o horizonte daquele lugar enquanto Alex insistia no assunto. Honestamente, eu lá tinha cara de conselheira amorosa? Ainda mais para um bêbado de vinte e quatro anos.


“Se você estivesse no meu lugar, o que você faria?”


Eu suspirei.


“Terminaria tudo e depois seguiria em frente.”


“Não acha isso meio difícil? A dor...”


“É claro que dói. O que você esperava?” me remexi no banco, inquieta. “Não sei você, mas eu prefiro sentir uma última dor do que ficar constantemente remoendo-a com bebidas e pensamentos infelizes.”


Os olhos castanhos de Alex vacilaram e se firmaram em mim.


“Você não pode ter dezesseis anos” disse, por fim. “Uma garota de dezesseis anos nunca diria isso para mim.”


“Deve ser porque todas as que você encontrou até hoje só conseguiram dizer “Ai, Alex, eu te amo, autografe os meus peitos!”


“Você imitou igualzinho.” Riu baixinho.


Ficamos em silêncio por um tempo. Alex balançava de leve a cadeira com o impulso do pé e eu carrancuda e com desconforto da situação.


“Me desculpa por ter que te fazer ouvir sobre os meus problemas.” Murmurou.


“Para pedir desculpas a cada cinco segundos, provavelmente você já recebeu um ‘foda-se’ de uma pessoa bem importante.”


“Já pensou em ser psicóloga?” perguntou, surpreso.


“Não precisa pedir desculpas” eu disse, com um sorriso fraco. “Ouço os problemas das pessoas o tempo todo.”


“Você é boa nisso, não é?” questionou. “Ouvir.”


Olhei para ele, sem saber o que fazer.


“Se é o que parece.”


“Marine... Você...” tossiu. “Quer sair comigo, depois do show?”


“Turner, nós dois somos comprometidos” choraminguei. “Aonde pretende chegar com isso?”


“Lugar nenhum” respondeu, imediatamente. “Eu só... Hum... Quero companhia.”


“Você tem seus amigos.”


“Bom, todos estão no clima para transar hoje, mas eu estou no clima para caminhar e conversar com uma garota de cabelos bagunçados e olhos escuros.”


Olhei para ele, com pena.


“Você não pode fazer isso.”


“O que?”


“Você sabe... Começar a gostar de mim.”


Alex me encarou por um tempo.


“Eu sei.”



Dizendo isso, levantou-se e andou para o outro quarto, sumindo de vista.



***

N/A: Vocês devem estar pensando: que drama! Foi mal, ehuehuehuwuhuehuhakewrjdfjkdpwql. Enfim. Eu coloquei TJH como o tema do capítulo porque eu não sabia que outra música colocar, e além disso, Alex e Nick tocaram um pedaçinho dela. Eeeeeentãããão, já entenderam. Ok? Ok.
Se eu demorei muito, foi mal. Já comecei a escrever o 10. Mas ainda assim, quero comentários! Senão não continuo. Fim.

4 comentários:

  1. Eeeentão. Você falo sobre um clichê, certo? Não tenho certeza se acertei, mas acho que foi o negócio de "você não pode gostar de mim" e o "eu sei no final". Sei lá, parece meio óbvio e bem recorrente, mas apesar disso sempre da essa dorzinha no coração x3 . (Mas devo dize que também estou bem familiarizada com a "inconveniencia" de poucos quartos, se é que me entende hehe). Enfim, eu senti que o capítulo foi meio curto, mas deve ter sido impressão minha mesmo, uma das primeiras coisas que eu sempre faço quando ligo pc é checar pra ver se tem alguma atualização :S
    Mas é isso, ótimo capítulo; triste que a Marine continua insistindo no Rodrigo mas feliz que ela mando o Alex larga do namoro.
    Bjs, Ana
    P.S.: Morrendo enquanto leio: Marine fugindo discretamente do Alex mas ele sempre surge do lado dela no ônibus uhsauhsuahs amo isso <3

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    1. Na verdade, foi o do quarto ser de número 505, hahaha. Talvez você goste mais do próximo, porque é o show e pans.
      É, Ana, a Marine gosta muito do namorado dela, mas isso não quer dizer que não vai ter hora que ela vai conseguir segurar isso, afinal, é o Alex, não é mesmo?
      Muito obrigada por ler e comentar <3
      beijo, gi.

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  2. só o Alex pra fazer a Marine falar "calmamente" ksjsjs amei ta perfeito quero mais

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    1. realmente, alex turner pode causar efeitos colaterais hahahaha. muito obrigada anjo, prometo postar logo.
      beijo, gi.

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