Stuck On the Puzzle 15: You Probably Couldn't See For The Lights But You Were Staring Straight At Me.




Marine POV.

Quando entrei no hotel, vi Ellie sentada tomando um coquetel, mas não falei com ela. Segui em frente, querendo encontrar a piscina.


Passei por mais uma porta e pulei a grade que estava ali porque não era permitido nadar depois das dez horas da noite. Só que se eu não me sentasse em frente à uma piscina vazia com os arredores igualmente vazios naquele exato momento, eu iria pirar. Então, em vez de obedecer às regras do hotel, me ajoelhei ali, fazendo ondinhas minúsculas com o meu dedo indicador.


Depois pensei no quanto eu queria dar o fora dali. Observando a água parar de se mexer lentamente, bolei o plano perfeito: pediria um dinheiro emprestado à qualquer um da banda que não fosse Alex, em segredo. Pegava o primeiro vôo de volta para Los Angeles e voltava para casa de táxi. Ligaria para Ellie, avisando, porque muitas vezes as pessoas não leem mensagens de texto. Simples, prático, poderia causar cansaço, mas iria resolver tudo de uma só vez.


Acontece que aquilo soou como um plano idiota que nunca iria acontecer, bem similares à minha imaginação criando dez maneiras diferentes de tentativas de suicídio durante uma aula chata. Em outras palavras, ficaria ali, por mais que aquilo tivesse muita chance de dar certo.


Eu detestava desistir logo de cara, principalmente numa situação dessas.

.
Eu não sabia o que havia acontecido.


Foi espontâneo. Ele precisava de uma resposta. Não aconteceria de novo, se deixássemos em segredo ninguém saberia. Eu simplesmente liguei o foda-se, foi isso. Concordamos em não falar disso, o beijo ficaria ali, num lugar onde eu provavelmente não voltaria nunca mais na minha vida então eu estava completamente de boa.


No almoço de três horas da tarde do dia seguinte, não fiz contato visual com Alex, por mais que isso fosse um pouco chato. O fato de que estávamos em um lugar aberto, ele de óculos escuros e Matthew distraindo todos com suas piadas me tranquilizou um pouco. O negócio é que eu não queria falar com ele. Eu não estava sem graça, mas também não estava a fim de ter um papo estranho. Era como se o beijo tivesse apagado nossas memórias e ambos nos sentiríamos estranhos, principalmente pelo fato de ele ter me “sequestrado” e eu estar em San Diego, quando na verdade minha querida mãe pensa que estou numa festa do pijama em uma casa de praia.


Não como o resto da banda, Alex usava um terno preto em pleno sol. Bem, não posso dizer muita coisa, eu usava a minha camiseta do Sabbath de novo. Depois dali, iríamos direto para o lugar onde aconteceria o festival em que eles tocariam, aparentemente era uma praça.


Quando chegamos, o local estava apinhado de gente fisicamente aleatória – reparei, por exemplo, em caras que pareciam o Bob Marley; algumas góticas que pintavam o olho e um amontoado de garotas usando coroas de flores.


Não quis ficar no backstage e então caminhei por ali sozinha, já que eu não tinha nenhum amigo. Comprei algodão doce azul, eu não comia aquela coisa desde que eu tinha uns treze anos, eu acho. Ainda assim, não estranhei o gosto, mas também não me surpreendeu. Era só algodão doce, açúcar puro artificialmente colorido.


Quando a multidão corre para perto do palco, os fãs fazem barulho, gritando e batendo os pés. Eu estava ali no meio do campo, e não na grade – onde eu deveria estar pois era convidada da banda – porque eu havia acabado de comprar algodão doce. Pouquíssimas garotas não gritavam por ali. E quando o nome “Arctic Monkeys” apareceu no telão, eu pude entender o porquê.


“San D-fucking-iegoooooo!” disse um sotaque inglês que eu considerava particularmente irritante.


Mais uma vez, só por mexer a boca, ele fez milhares de pessoas surtarem. O show foi iniciado com a mesma música que eu havia gostado no show anterior, mas tudo o que consegui captar da letra foi: when there’s dirt beneath the dirt. Era só perguntar a ele depois, não tinha problema.


Fiquei de bobeira por ali até me cansar, e aí decidir ir para o espaço entre a grade e o palco onde localizavam-se vários seguranças, isso foi lá para a sexta ou sétima música. Assim que cheguei, notei que Alex conversava com Matt enquanto ele bebia uma água. O baterista acenou com a cabeça e sorriu. Pareciam trocar segredinhos.


“How about an oldie, eh?” todos deram viva.


Isso não vem ao caso e tenho certeza que muitos não se importariam com isso, nem eu mesma deveria estar, mas Ellie apareceu ao meu lado e seu olhar dizia ‘desembucha e diz logo a merda que você fez’. Eu não falei nada, apenas perguntei “o que?” e ela respondeu com o famoso “nada”. Puxa, como eu tinha raiva disso.


“This one’s called You Probably Couldn’t See For The Lights But You Were Staring Straight At Me.”


O ritmo animado começou e o pessoal começou a dançar de forma sincronizada. Do nada, me peguei olhando para os seguranças. E cara, que bosta de emprego, honestamente. Chegava a ser humilhante a forma como eles ficavam parados sem expressão facial alguma em frente à uma plateia enlouquecida. Depois pensei que aquele era só o trabalho deles e que deveriam certamente estar ganhando uma grana preta por aquilo. Tive a chatice de pensar “só porque estão protegendo o Arctic Monkeys”, mas eles não eram os únicos sendo “protegidos”, se é que essa é a palavra correta. Eu havia criado uma antipatia por Alex depois daquele beijo, isso era óbvio. Aposto que ele sua pretensão e seu convencimento haviam crescido como seu cabelo.


Até que ele não beija tão mal assim...



Never again
Never again will there be another one quite as desirable as you



“Merda.” Reclamo baixinho ao perceber no que eu estava pensando.



One look sends it coursing through the veins, oh how the feeling races
Back up to their brains to form expressions on their stupid faces



“Falando sozinha?” disse Ellie, me entregando um copo cheio de refrigerante.


“Cara, que horas você saiu?”


“Há alguns segundos, tem um bar ali em cima no backstage” apontou. “Mas acho que você estava ocupada demais pensando na morte da bezerra.”


“Porra, não enche” reclamo em português, subindo lá para cima. Me joguei no primeiro sofá que vi e peguei meu celular. Quando vi, tinha uma notificação dizendo que eu havia recebido uma foto do Rodrigo. Na foto, estavam ele e o amigo, acho que nome dele era Matheus.


Se querem mesmo ouvir o que aconteceu, a primeira coisa que vão querer saber é como eu me senti quando vi aquele garoto sorridente por uma foto digital quando eu costumava vê-lo todo dia. Senti remorso por ter beijado Alex, mesmo sabendo que fora resultado de um acordo, pelo menos para mim. Logo depois, como sempre, senti falta dele.
Ficamos conversando por um tempão, nem me dei conta de que uma dupla havia substituído o lugar da banda no palco. A música era um country acelerado, com ambas as vozes desafinadas mudando de amplitude a cada três segundos. Eu não gostava daquilo. Não gostava de jeito nenhum.


“‘Tá conversando com quem?” a voz dele soou bem ao meu lado, e por um milagre divino eu não tremi de susto.


“Ninguém” respondi, guardando o celular. Já tínhamos encerrado a conversa mesmo, então que se dane. “‘Tá fazendo o quê aqui?”


“Eu sou o vocalista da banda.”


“Estou falando de você estar do meu lado.”


Ele arqueou as sobrancelhas, se ajeitando na cadeira onde sentava. “Ontem você estava me beijando igual a uma louca e agora vem com essa? Qual é a sua?”


Cruzei os braços. “Foi um acordo que eu cumpri. E por que você está sussurrando, ninguém pode saber?” sorri satisfeita com seu medo.


“É óbvio que não. Mas você gostou, não gostou?”


Foi uma noite perfeita, mas eu nunca diria isso em voz alta, muito menos na frente dele, para ele.


“Você só me beijou para calar a minha boca?”


Respirei fundo. A afirmativa estava certa, mas não 100% certa naquele contexto.


“Foi uma noite ótima e eu gostei de te beijar, também fiz isso porque sei que você queria muito ficar comigo e não pararia de me irritar até conseguir o que queria”, ele sorriu de lado. “Mas eu só quero dizer que não devemos ir muito longe com isso.”


Alex concordou com a cabeça, me parecendo um pouco forçado. Um pouco não, muito.


“Gostou do show?”


“Nada mal, band guy, e eu acho que descobri a tal música que eu gostei. Foi a primeira.”


Dance Little Liar, você diz?”


“Provavelmente.”


“Gostou de outras?” seus olhos brilhavam.


“Qualquer dia paro para ouvir algum CD de vocês com atenção.”


“Eu arranjo para você, pode deixar”, ele disse. “Posso te pagar um drinque?”


“Alex, eu tenho dezesseis anos.” Disse, tentando parecer inofensiva.



Ele se levantou e ficou em pé à minha frente. “Você gosta que eu sei”, disse. Sem saber como, acabei sentada ao lado dele tomando uma pequena garrafa de Smirnoff (embora não seja lá essas coisas) enquanto ríamos sem parar de uma piada idiota. A gente ficou zanzando por ali até a hora de ir embora, falando sobre todos os sujeitos que passavam por ali de acordo com suas caras de pedófilos, professores de matemática, desesperados e filhos da puta. E Alex não deixava de mostrar sua sem-vergonhice. Para dizer a verdade, acho que o sacana nem tinha vergonha na cara. Pelo menos, até agora, eu não havia visto ele mostrar.


***

N/A: Deixo vocês com esse capítulo, porque agora começam minhas viagens e não sei quando terei tempo de postar. Não estou dizendo que vai entrar em hiatus, mas também não estou dizendo que a frequência de postagem como a de ultimamente continuará a mesma. Mas eu prometo que depois ou durante a primeira viagem chego com três capítulos novinhos para compensar os dez dias em que certamente ficarei sem postar por causa de outra viagem. Foi mal galera <//3
Enfim, espero que tenham gostado, e feliz ano-novo para todas vocês 

5 comentários:

  1. não tem como não se apaixonar por cada capítulo, a história corre perfeitamente, em sintonia, não sei explicar! Definitivamente é a melhor fanfic que já li, de verdade. E PQP COMO EU TO ANSIOSA PRO PRÓXIMO CAP MEUS DEUSES

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    1. Mariana, Mariana! que coisa mais linda que eu acabei de ler, meu deus ♥♥♥
      vou viajar dia 4, então é provavél que eu poste o próximo logo para não deixar minhas leitoras na mão.
      bjo, gi. ♥

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  2. Aiiiiii, O sentimento de culpa! Noo
    É isso mesmo? Ela desafia o Alex a beijar ela e depois afoga suas mágoas com algodão doce?
    Até que é uma ideia interess-
    Meio bolada com esse cap, mas não que tenha deixado a desejar, não, é só que eu esperava um romance picante haha Mas de boas, é completamente compreensível o que ela está sentido.
    Mas claro, não vai durar muito, até porquê, é o Alex hehe
    “Nada mal, band guy, e eu acho que descobri a tal música que eu gostei. Foi a primeira.”
    Ela até pode agir como se não fosse nada de mais, mas ela gosta - e eu não me refiro só à música!
    p.s.: band guy? haha
    E o melhor dessa conversa foi o cochicho... Fiquei até imaginando os dois sentados, um do lado do outro, ela com um olhar distraído - propositadamente - e ele sussurrando no ouvido dela...
    Provavelmente não foi assim que você pensou ao escrever essa cena, mas imaginar isso me derreteu por dentro...
    Bem, é isso. bjs, Ana.

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    1. exato! tô feliz que você entendeu como a marine se sente agora, quando a gente lê a história ou algo parecido a gente acha que ia ser perfeito, mas aí a gente se põe no lugar da personagem e pensa nas consequências (por mais que as vantagens fossem perfeitas) e ai a gente realmente percebe que não tem como não dar problema.
      e mesmo assim, quem nunca fez algo proibido?
      bem, foi muuuito parecido o jeito que eu imaginei a cena.
      obrigada por comentar, ana. acho que o próximo sai em breve.
      bjo, gi ♥

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  3. Amei a última parte, gosto de imaginar isso, você ter um rolo complexo com alguém mas conseguir ser amiga dela ao mesmo tempo. Em meus relacionamentos utópicos isso funciona super bem rs
    Xx (agora vou ler correndo pq tenho que dormir daqui a pouco, então perdoe-me se eu nao comentar até o ultimo cap)

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