Jigsaw XII

07 de Setembro, 2014

23h02 da noite

Amanda podia sentir o mundo girando a sua volta.

 As luzes estavam se misturando e sons eram distantes.

O show tinha ocorrido bem e agora estava comemorando.

Logo depois do show correu para assistir o set do Soundgarden. Há muito tempo não se sentia tão bem.

Pediu à Shane que comprasse mais uma cerveja, ficando sozinha no pequeno quadrado cercado por barras de ferro que a tinham obrigado ficar.

O publico estava enlouquecido.

Mal dava para escutar Chris Cornell e sua voz rouca, muito menos os passos de alguém se aproximando.

Amanda estava pulando tanto quanto o resto da plateia, até que uma voz, tentando se destacar do coral de fãs ecoou em seus ouvidos.

- Aproveitando?

Parou de pular no instante em que escutou a voz.

Sentiu sua pulsação nos ouvidos. Respirou fundo e sem se virar respondeu:

- O que você tá fazendo aqui?

- O que você acha?

Amanda girou em torno de seu eixo para se deparar com um Alex suado, descabelado e absurdamente bêbado.

Sentiu um nó surgir na garganta e jurava que poderia dar um soco na cara dele naquele instante.

Ele andou em sua direção, porém não conseguia andar em linha reta, fazendo o percurso muito maior do que realmente era necessário.

 Ele tinha uma garrafa de cerveja em uma mão e um cigarro no outro. Suas olheiras estavam estranhamente grandes devido a palidez excessiva de seu rosto.

- Alex, você tá bem?

Ele cai. Se levanta antes que Amanda possa ir ajuda-lo a se reerguer.

Finalmente para, está a alguns centímetros de Amanda.

Agora pode sentir o cheiro de álcool, nicótica e suor que são exalados de Alex.

- Amy... Por que você não fala mais comigo?

Apesar de estar bêbado sua fala tem certa firmeza, apesar de soar levemente embolada.

 – Sério, o que eu fiz?

Amanda não sabia o que fazer. No início sentiu raiva. Muita raiva. Mas foi rapidamente trocada por pena.

Olhou para os lados e percebeu que estava encurralada entre Alex e as barras de ferro. Respirou fundo, levantou os olhos para que pudesse encarar o encarar.

- Acho que você devia ir embora.

Alex inclinou a cabeça para a direita e deu um sorriso cínico, extremamente assustador.

Ele levou o cigarro até os lábios e deu uma tragada para logo em seguida soprar a fumaça no rosto de Amanda.

Seus olhos lacrimejaram, mas segurou a tosse.

- Alex, sai daqui

 Dessa vez ele deu um paço para trás, aumentado a distancia entre os dois.

Deu mais uma tragada e jogou o cigarro no chão o amaçando com a ponta do sapato.

Shane chegou nesse momento.

A visão de Alex o paralisou na entrada. Seu rosto ficou vermelho e sua expressão se fechou.

- Mas que porra é essa?

Tanto Alex quanto Amanda se viraram para ver quem tinha dito aquelas palavras.

– Alex, você não desiste? Vai embora!

Alex sem dizer mais nada se virou e saiu cambaleando do cubículo.

Amanda respirou fundo e se apoiou na cerca evitando se esparramar no chão por causa de pernas bambas.

Shane estava ao seu lado lhe entregando a cerveja.

Ficaram em silencio por alguns minutos até que Shane quebrou o silencio:

- O que ele queria de você?

12 de Março, 2013

- Eu não acredito que vai fazer isso? 

A noite estava quente e o suor escorria pelas costas de Amanda. 

Estavam no Walmart e já era madrugada, o que fazia o lugar quase deserto.

Ambos haviam bebido mais do que deveriam e agora tropeçavam em seus próprios pés. 

Alex tinha uma expressão divertida no rosto, algo que não se vê frequentemente.

- Não vem me dizer que você nunca roubou nada!?

- Não! 

Ele abriu um sorriso e segurou sua mão. 

O aquecedor da loja devia estar quebrado, por que não faria sentido estar tão quente numa noite de inverno.

Nada do que acontecia fazia algum sentido para Amanda. 

Os objetos nas prateleiras eram borrões enquanto corriam para nenhum lugar em especifico.

De repente Alex para em frente a uma estante cheia de CDs.

- Aquele. 

 Ele aponta para a terceira prateleira.

- Qual? 

 Ele chega mais perto e aponta para um CD com uma capa preta e letras brancas dizendo o nome do álbum.

Amanda tem uma crise de risos. Ele é tão ridículo.

- Você quer que eu roube meu próprio CD?

- Exato. Afinal, não seria roubo.

- Como assim? Lógico que seria.

- Você quem fez ele, só está pegando algo que já é seu. 

 Com o álcool fazendo efeito e calor fritando seu cérebro, sem hesitar Amanda pegou seu CD e saiu correndo.

Um torpor gerado pela adrenalina dava a sensação de que alguém apertava sua cabeça. 

Sua visão estava cada vez mais embaçada. 

Ela nem percebeu quando os sensores na porta da loja apitaram e dois seguranças começaram a correr atrás dela.

Só parou de correr quando estava tão longe que o prédio parecia apenas um ponto de luz a quilômetros de distancia.

Apoiou as mãos nos joelhos tentando recuperar o folego. Tudo rodava. Ela podia sentir a rotação da Terra e isso a deixava enjoada.

- Puta que pariu, você é muito rápida. 

 Amanda olha para cima e Alex está parado em sua frente. Completamente sem folego.

Ambos suam tanto que poderiam morrer desidratados ali mesmo. 

Alex tira de dentro da jaqueta de couro duas cervejas.

- É para comemorar seu primeiro roubo.