I just wanted you to know
That baby, you’re the best.
O Chelsea Bar estava cheio, ás sextas
a noite ele se tornava o coração de Manhattan. Sua atmosfera anos 70, a luz
precária e a fumaça que tomava o pequeno palco que havia no meio faziam com que
as pessoas voltassem no tempo assim que passavam pela porta. Além do mais, o
ponto era estratégico. O lugar ficava bem a frente do histórico Chelsea Hotel.
Ela tinha certa obsessão por aquele lugar e por sua história. Ela tinha certa
obsessão por toda a Nova York.
Ela era Elizabeth
Grant, conhecida também como Carmen, Lolita ou até mesmo “O poeta fracassado”
como chamava a si mesma. Tinha apenas dezessete anos, morava com sua irmã mais
velha em um antigo apartamento no Brooklyn, trabalhava em uma loja que vendia
discos raros durante o dia depois que acabara a escola e se apresentava sagradamente
do palco do Chelsea Bar ás sextas à noite. O único palco que já tivera coregem
de subir em toda sua vida, pois ali era o único lugar que tinha confiança para
mostrar seu outro lado. Seu lado mulher. Seu lado Carmen, que já vivera mil e
uma aventuras, que seduzia a todos, que transformava sentimentos em poesia. The American Poet.
Carmen era seu alter-ego. Era ela quem subia ao palco,
quem compunha as canções, quem cantava e que era aplaudida. Elizabeth era só Elizabeth,
uma garota urbana comum, com expectativas comuns, com uma vida comum e que
diferente de Carmen, não era quem partia corações, era quem tinha o coração
partido.
Mas nada disso
importava naquele momento, o garoto que estava tocando acabara de sair do palco
segurando apenas seu violão. Ela seria a próxima. Elizabeth respirou fundo
tentando conter seu coração, que mesmo após ter feito aquilo tantas vezes,
insistia em bater acelerado. Então, ela ouviu a voz anunciando sua entrada:
- Senhoras e
senhores, palmas para a tão esperada da noite... Carmen!
Foi Carmen quem
subiu ao palco, deixando a nervosa Elizabeth para trás. Entrou deslumbrante em
meio a palmas e gritos incentivadores. Seu vestido vermelho e seu cabelo
setecentista bem arrumado completava a figura da mulher elegante que atraiu
todos os olhares para si como imãs. Porém, mesmo em meio a tantos olhares
admirados, os olhos dele se
eletrificaram. Alex Turner que estava sentado em uma mesa com seus companheiros
de banda, calou-se assim que ela subiu ao palco e a hipnose veio quando a
melodia começou a tocar e ela proferiu os primeiros versos:
Kiss me hard before you go
Summertime sadness
I just wanted you to know
That baby, you’re the best
- Alex? – Jamie
Cook o chamou, mas ele se quer ouviu. Só conseguia manter o foco na mulher que
mexia seus quadris lentamente no compasso da música.
I got my red dress on tonight
Dancing in the dark
In the pale moonlight
Done my hair up real big beauty queen style
High heels off
I’m feeling alive
- Eu acho que ele está em transe –
comentou.
- E quem não
ficaria? – disse Helders – Olhe só para ela.
Oh my god, I feel it in the air
Telephone wires above are sizzling like a snare
Honey, I’m on fire
I feel it everywhere
Nothing scares me anymore
Kiss me hard before you go
Summertime sadness
I just wanted you to know
That baby, you’re the best
Todos prestavam atenção em Carmen. Até mesmo
os que não queriam, era impossível não olhar para ela em algum momento, e
quando isso acontecia não se era possível focar-se em outro alguém.
Alex se encontrava em estado de hipnose, ele
nunca vira alguém como ela. Sua voz, sua letra, seu vestido vermelho. Era o
efeito que as pessoas costumavam sofrer só que muito mais forte quando se
tratou de Turner. Carmen umedeceu seus lábios e então, encontrou o olhar fixo
daquele homem que ela sabia que já vira o rosto em algum lugar. Ela não
desviou, apenas o encarou tão intensamente quanto ele.
Got my bad baby by my heavenly side
I know if I go, I'll die happy tonight
Oh my god, I feel it in the air
Telephone wires above are sizzling like a snare
Honey, I’m on fire
I feel it everywhere
Nothing scares me anymore
Kiss me hard before you go
Summertime sadness
I just wanted you to know
That baby, you’re the best
Ele
nunca vira nada igual. Nunca uma voz havia sido tão suavemente proferida. Nunca
havia entendido a sensação que ele causava nas pessoas, mas naquele instante
tudo passou a ser mais claro. Alex sabia que nenhuma outra mulher a andar na
terra se comparava aquela a sua frente. Sabia que aquilo que sentia naquele
instante era uma sensação completamente nova. Era como se algum tipo de droga
houvesse sido injetada diretamente em sua veia.
I think I’ll miss you forever
Like the stars miss the sun in the morning skies
Later is better than never
Even if you’re gone I’m gonna drive
Drive, drive
Em nenhum segunda
deixou de olha-la, receava que se o fizesse ela poderia desaparecer como em um
passe de mágica. Pois era essa a sensação que ele tinha, que Carmen fosse um
truque de sua própria mente. Então o
refrão se repetiu novamente, mas era como se fosse a primeira vez.
Quando a música
cessou e os aplausos vieram acordando Alex de seu estado inconsciente. Antes de
deixar o palco Carmen deu uma última olhada diretamente para ele, o mesmo
sentiu um arrepio percorrer sua espinha quando ela o fez. Ele queria saber quem
era essa mulher.
...
- Uma cerveja,
por favor – ela pediu para Brian, o barman e antigo colega, ao acender um
cigarro. Duas coisas que não deveria estar fazendo de modo algum.
- Ás suas ordens,
Carmen – ele respondeu com certa
malícia.
Ela riu do tom
que usara e sentou-se no banco alto enquanto esperava por sua bebida.
Então, sem que
percebesse alguém se sentou no banco ao seu lado. Era Turner quem tivera essa
audácia. Ele tamborilava os dedos em cima do balcão ansioso e pela primeira vez
sentia receio em falar com uma mulher.
- Aqui está –
Brian voltou com a cerveja em mãos.
- Obrigada – ela
agradeceu.
- E para você,
deseja algo? – o barman dirigiu-se a Alex.
- É... Uma dose de uísque – pediu, mas se quer
ele costumava a beber uísque.
Carmen observava
seus dedos que não paravam um minuto de baterem ritmicamente sob a madeira do
balcão.
- Acho que uísque
não é a melhor opção para quem está à beira de um colapso nervoso – falou
enquanto dava uma tragada em seu cigarro.
Ele a olhou e
abriu um sorriso no canto dos lábios.
- E o que leva a
você pensar que estou à beira de um colapso nervoso? – perguntou.
Carmen amassou a
bituca do cigarro no cinzeiro e deu um gole na garrafa de cerveja.
- Você não parou
de mexer esses dedos desde que se sentou aqui, está piscando mais rápido do que
normalmente uma pessoa costuma, fica olhando de segundo em segundo para o
relógio... E bem, você está do meu lado, o que é um fator influente.
Ele sorriu mais uma vez sem jeito e ela
retribuiu com uma piscadela.
- Está aqui seu
uísque – o barman voltou com o copo em mãos.
Alex agradeceu
com um aceno, pegou o recipiente e deu um bom gole no líquido de cor escura.
- Então... Carmen.
O que uma cantora como você faz aqui? – tomou coragem para falar.
- Eu gosto de
almas corrompidas e corações partidos. E por aqui isso tem de sobra – deu de
ombros.
- Almas
corrompidas e corações partidos? – arqueou uma das sobrancelhas, questionador.
- As pessoas veem
ao Chelsea para se afogaram em sua melancolia. O lugar é um belo cenário para
lamentar as amarguras da vida.
- E você acha que
é por isso que estou aqui? – ele apoiou os cotovelos no balcão.
Ela largou sua
garrafa e o analisou por uns segundos. Um dos dons de Carmen era exatamente
conseguir enxergar através dos olhos e penetrar as almas das pessoas.
- Eu sei quem
você é – ela começou e logo depois deu um longo suspiro – Você tem uma banda
legal, é um músico respeitado. Mas algo está muito errado, isso está. Parece
que perdeu as rédeas, que está desgastado.
O amor virou um alfinete, não é? Ele vai fazendo pequenos machucados em sua
pele e quando você vê, aquilo já se tornou uma ferida.
Turner engoliu
seco e baixou o olhar para fitar suas mãos. Foi como se ela tivesse lido seus
pensamentos tão claramente como se estivessem escritos em azul neon em sua
testa. Ele sentia como se sua privacidade mental houvesse sido invadida.
- Não se preocupe
com isso – ela se levantou pronta para ir – Não existe nada mais poético que a
morte e o amor.
Carmen deu as
costas deixando-o sozinho, se afogando em sua melancolia, pensando em como iria
encontrar sua namorada quando chegasse em casa, deitada no seu lado da cama
dormindo para evitar mais uma discussão. Naquele momento ele teve que
concordar, o Chelsea Bar era um belo cenário para lamentar as amarguras da
vida.
...
Alex estava
sentado na calçada da fachada do bar fumando um cigarro enquanto observava o
céu estrelado de Nova York. Logo á sua frente, o esplendor do Chelsea Hotel,
deixava com que toda aquela cena se parecesse como a de um filme. Um rockstar,
quase cedendo à tristeza, á frente de um hotel onde Sid & Nancy viveram,
tais que eram as provas vivas de que o amor mata.
Ele levantou-se
com intuito de voltar para dentro do bar e foi quando viu uma garota saindo
pela porta de trás carregando uma mochila nas costas. Seu rosto era limpo,
livre de qualquer maquiagem, vestia uma jaqueta jeans por cima do vestido
vermelho que nada combinava com o seu All Star Chuck Taylor surrado. O olhar da
menina encontrou-se com o seu. Quando isso ocorreu, ela baixou a cabeça como se
não possuísse confiança alguma para encarar alguém. Então, ele percebeu aquilo
que parecia absurdo demais para ser verdade.
A sedutora Carmen era só uma garota.
***
N/A: Oi meninas! Então, esse é o primeiro capítulo de BB. Eu não sei se o enredo dessa fanfic é um tiro no escuro, um salto no abismo, um cego em tiroteio, só sei que tive vontade de escrever algo assim e é isso o que estou fazendo. Como eu já havia dito antes, a personagem principal não é a Lana Del Rey em si e sim uma personificação dela. Bem, acho que é isso. Espero que tenham gostado, o próximo capítulo será postado daqui uma semana e eu já tenho 5 deles prontos!
Au revoir, Bel.
Ah Bel, você nunca decepciona. Adoro a sua escrita e suas histórias e essa já me cativou logo de primeira (particularmente não esperava por menos). Gosto do jeito da Carmen-Lolita-Elizabeth. Gosto de como você descreve o Al também e isso me empolga mais ainda. E não posso deixar de falar do Chelsea bar né? Que leva o nome do meu time inglês do coração. <3
ResponderExcluirQuero mais!!
Este comentário foi removido pelo autor.
ResponderExcluirEu estou jogadinha, help!
ResponderExcluirBel, como você consegue? A Carmen ME hipnotizou só de eu ler o capítulo, que coisa louca! Amei seu Alex, e amei sua Carmen, apesar de me dar angústia de saber que a Lizzie (já virou apelido carinhoso) pode ser poderosíssima como Carmen mas não usa esse alter-ego o tempo todo como poderia (e deveria, na minha humilde opinião) hahah
E você roubou um pouco minha ideia, porque eu sempre quis escrever uma história inspirada em Carmen :P mas imaginava algo bem diferente pra minha.
Enfim, estou curiosíssima pra ver como o romance dos dois vai funcionar... Alex vai se apaixonar por Carmen, por Lizzie ou por ambas? E essa melancolia pós-término dele acrescenta muito à história!
Estou ansiosíssima pra ler mais!
Beijos, Bea :*
Bel linda, eu amo sua forma de escrever. Acho que digo isso em todo comentário que faço nas suas fanfics. Esse capitulo me instigou muito; foi o suficiente pra me deixar querendo mais. Sugiro que você continue a escrever enquanto pode, pois sei como são esses surtos de criatividade com essas fics novas. Eu devia tá escrevendo VOP ou NTMB, mas também estou escrevendo outra e sei como é não conseguir se concentrar em mais nada. Felizmente, a sua nova historia parece ser super bonita de ser escrita. (De ser lida eu tenho certeza que será)
ResponderExcluirGosto como você transforma a sua melancolia de menina em algo profundo e quase poético. Quero mais Carmensita. :)
Beijos! Aguardando o próximo.
Belll, estou jogada! Capítulo incrível. Tua escrita é linda demais. A Carmen é maravilhosa, poderosa e conseguiu me prender. Ela deixou um certo Turner no chinelo e que diferente e que ótimo que ela tenha esse controle. Masss o que me deixou bastante estigada foi o fato da descoberta final. Quero muuito ver um diálogo Elizabeth x Alex Turner porque aí acho que quem toma as rédeas é o Al. Nossa, isso vai ser muito interessante. Não demore, please.
ResponderExcluirBeijos, Steph.
Apenas amando, só tenho isso a dizer.
ResponderExcluirLívia