I don't even notice how hard life was
I don't even think about it now because
I've finally found you
Ao acordar, estava sozinho na cama. Fazia tempo que Alexa
não o beijava nas manhãs assim que despertava e esse simples gesto o machucava
com a mesma intensidade de um soco no estômago. Alex levantou-se, passou pela
sala e foi até a cozinha. Ela não estava em casa. Encheu uma xícara de chá
quente e sentou-se no banco do balcão. Então, a imagem da garota em sua jaqueta
jeans e seu All Star surrado passou pela sua cabeça. Como alguém poderia
possuir duas personalidades tão distintas dentro de si? O jeito esquivo que o
olhou do lado de fora do bar não condizia nem um pouco com o da mulher que
subiu no palco em um vestido vermelho, saltos altos e com os lábios e olhos bem
delineados pela maquiagem. Talvez ele tenha se confundido, talvez tivesse sido
outra garota que vira. Talvez sua mente estivesse lhe pregando peças.
Seu celular tocou
o livrando de seus pensamentos, ele pegou o aparelho que estava em cima do
balcão e ao reconhecer o nome no visor, atendeu:
- O que você
quer? – perguntou sem muito humor.
- Isso é jeito de
me desejar ‘bom dia’? – falou Matt – O que aconteceu?
- Não aconteceu
nada.
- Ah qual é! Pode
falar Alex, eu te conheço – insistiu.
- Nada, cara.
Nada... Mas porque você me ligou mesmo? – tentou desviar do assunto que a
conversa poderia tomar.
- Bem, é sábado e
está fazendo um belo dia. Você não está a fim de vasculhar alguns becos de Nova
York? Quem sabe o que podemos achar por aí.
Ele encarou sua xícara de chá e a fumaça densa que saía
do líquido. Não queria sair, mas ficar naquele apartamento se perguntando a que
horas ela chegaria também não era a melhor opção.
- Tudo bem, daqui
a pouco eu passo ai – finalmente respondeu.
- Ótimo! Até
logo, então.
Nas ruas do
Brooklyn, Elizabeth caminhava rumo á loja de discos The Radio onde trabalhava. O lugar era conhecido e até bem
frequentado, discos que jamais imaginariam encontrar, lá as pessoas os
encontravam. Era um bom emprego apesar de ter que trabalhar nas manhãs de
sábado e na verdade, foi o mais próximo que conseguiu chegar da faculdade de Artes
que queria fazer.
A fachada da loja
era peculiar, quem a via tinha a impressão de ver uma enorme TV. Era toda
pintada em preto, branco e tons de cinza. A vitrine funcionava como a tela e a
porta, como o painel de controle assim como nas antigas televisões. Em seu
interior, a loja era grande, continha três níveis e ainda contava com uma
cafeteria deixando o clima ainda mais agradável.
Ao adentrar a
loja, logo avistou Sasha Montgomery, a dona que tinha trinta e sete anos, mas
que passaria fácil por uma garota em seus vinte e poucos e Kyle, o garoto de
olhos azuis com seus dezoito anos que também trabalhava lá. Os dois eram seus
bons amigos. Eles estavam no mais alto nível da loja planejando qual seria o
tema da semana no Black Radio, o
folhetim que era distribuído aos frequentadores.
- Que bom que
você chegou – exclamou Sasha – Nos ajude com uma coisa: L.A Woman ou Physical
Graffiti? – ela se referia a dois álbuns, o primeiro do The Doors e o outro do
Led Zeppelin. Um dos dois iria para a coluna de álbum da semana no Black Radio.
- Physical
Graffiti – ela respondeu indo para trás do caixa jogando sua bolsa no canto.
Sasha fez algo
como uma dança da vitória e mostrou a língua para Kyle.
- Sério? Que
maturidade! – ele zombou – Isso não vale, todo ser humano sabe que Elizabeth
prefere Led Zeppelin a The Doors.
- Você está
errado meu amigo, eu não tenho preferência. Gosto das duas bandas, mas acho
Physical Graffiti uma obra de arte em um todo e todos aqui sabem disso.
- Mas L.A Woman
foi o último disco gravado com a formação original da banda! – ele rebateu.
- Jim Morrison
morreu, John Lennon morreu, Sid Vicious morreu, as pessoas morrem. Mas isso não
torna o álbum melhor, só aumenta as vendas.
- Ela tem razão –
concordou Sasha balançando a cabeça.
Kyle bufou
derrotado e deu de ombros. Ele sabia que se continuasse naquele debate teria
que arranjar um juiz e uma sala de tribunal.
- Vocês duas são
impossíveis, sabiam?
- Eu costumo
praticar às vezes – Elizabeth sorriu inocentemente.
Ele deu um soco
de leve em seu ombro e ela fez cara de dor, mas seu momento descontraído foi
interrompido quando Sasha começou a sacudi-la pelos ombros e logo em seguida
puxou o braço de Kyle.
- Deus, você
tomou o seu remédio hoje? – ele perguntou livrando-se das mãos dela.
- Seus idiotas,
olhem para entrada – ela deu um enorme sorriso e saiu indo em direção aos clientes
que haviam acabado de chegar.
Elizabeth e Kyle
olharam para os dois homens enquanto Sasha descia o mais rapidamente os
degraus. Ao perceber de quem se tratava, Elizabeth se abaixou para debaixo do
balcão e sua respiração começou a perder o ritmo.
- Aqueles são Alex Turner e Matt Helders? – o
garoto olhou para o lado, mas não viu a amiga. Ele deu a volta no balcão e se
deparou com Elizabeth sentada com a mão no peito, na altura do coração.
- Eu devo
estranhar isso? – ele perguntou rindo.
- Cala a boca –
puxou sua perna o obrigando a sentar – Eles me viram como Carmen ontem.
- E por um acaso
agora você se tornou a Hannah Montana?
- Muito engraçado
– abriu um sorriso irônico – A questão é que Alex Turner conversou com Carmen.
E nós dois sabemos o que acontece quando me falam da Carmen e fazem todas
aquelas perguntas. Não falta muito para me internarem em um manicômio por dupla
personalidade.
- Era para você
estar em um manicômio há muito tempo – ele riu e recebeu um tapa no braço pelo
comentário que fez – Ok, desculpe.
- Kyle? – era a
voz de Sasha o chamando.
Ele se levantou
imediatamente e deparou-se com Sasha ao lado de Turner e Matt.
- O que você
estava fazendo ai? – a dona perguntou.
- O meu... – ele
olhou para baixo e Elizabeth o indicou a caneta no chão – A caneta caiu – se
abaixou para pegar o objeto e ao fazer isso arregalou os olhos em uma tentativa
silenciosa de conta-la que o que tentava evitar estava bem atrás do balcão.
Logo depois, ele se pôs de pé novamente.
- Prontinho – colocou o objeto no
porta-canetas.
Os três o olharam
desconfiados e seu sorriso nervoso não o ajudava em nada.
Sasha não
satisfeita, andou em direção ao balcão. Kyle só fechou os olhos com força e
torceu para que ela não berrasse, ou não tivesse nenhuma atitude exagerada como
costumava ter quando se surpreendia com algo. Ao chegar atrás do balcão, Elizabeth
imediatamente fez sinal para que ela não falasse nada, sibilando o nome “Alex
Turner” e depois passando o dedo polegar pelo pescoço como uma faca.
- Alex Turner
quer te matar? – falou em um sussurro alto o suficiente para que eles ouvissem.
Kyle suspirou
rolando os olhos e Elizabeth desejou enfiar sua cabeça debaixo da terra.
- Algum problema?
– perguntou Helders meio confuso.
- Nenhum – Sasha
sorriu – Por que não vamos dar uma olhada na sessão lá de baixo?
- Ah, claro – ele
concordou.
- Eu vou ficar
por aqui – falou Alex.
A dona olhou para Kyle e ele deu de ombros
como se não pudesse fazer nada a respeito.
- Ok, então.
Qualquer dúvida, pergunte a Kyle – falou.
O garoto olhou
para baixo e viu a amiga balançar negativamente com a cabeça. Ela estava
disposta a ficar ali até que os dois fossem embora. As chances de Alex não se
lembrar dela eram enormes, mas quando se tratava de Carmen, o assunto era
outro.
Turner começou a
andar entre as prateleiras de discos, pegava alguns em mãos e logo os colocava
no lugar novamente. Kyle mantinha os olhos nele e Elizabeth ficava com as mãos
na boca com o intuito de fazer o máximo de silêncio possível.
- Kyle! Será que
você pode me ajudar aqui? – chamou Sasha do nível abaixo.
Ele olhou para a
amiga escondida ali e ela acenou a cabeça em afirmação. O garoto a deixou
sozinha ao ver que Alex estava entretido demais analisando um raro disco, uma
das poucas cópias de Sid & Nancy – Love Kills. O disco continha a trilha
sonora do filme de mesmo nome. A quantidade de vezes que o casal mais polêmico
do punk rock estava sendo lembrado naqueles dois últimos dias chegava a ser dramaticamente
irônico.
Após algum tempo
passado sem que Kyle voltasse e o silêncio parecesse absoluto, a não ser pela
música que saía das caixas de som, Elizabeth decidiu espiar para ver se ainda
havia sinal de Turner. Ela prendeu a respiração inclinou minimamente a cabeça
para fora do balcão. Para o seu azar, ele olhava bem em sua direção. Sem saída
e não querendo parecer mais maluca ainda, ela levantou-se.
Alex a encarou
surpreso, seu rosto familiar o chamou atenção. Ele já vira aquele rosto, mas
pertencia a outra mulher. Ou quem sabe estava certo sobre quem vira noite
passada.
- Então... Posso
ajuda-lo? – ela perguntou sem jeito.
Turner apenas
continuou a analisando em silêncio e naquele momento, a garota desejou nunca
ter saído de trás do balcão.
- Você é... Você
é Carmen – falou ainda surpreso.
- Sim. Quer
dizer, não – ela respirou fundo – É complicado.
Alex se aproximou
do balcão. Com ela, ele não tinha receio de falar. Era uma garota inofensiva. A
prova disso foi o passo em recuo que deu para manter a máxima distância entre
os dois.
- É como se
fossem duas pessoas, como gêmeas. Mas Carmen é a sua versão do mal – puxou um
sorriso no canto dos lábios.
- Você vai levar?
– apontou para o disco ignorando completamente seu comentário sobre seu outro
lado.
Alex analisou o
vinil em suas mãos por um instante.
- Uma vez me
disseram que não existe nada mais poético que a morte e o amor – ele a olhou
nos olhos ao repetir a frase de Carmen, mas ela desviou o encarando os próprios
pés – E é exatamente isso que esse disco retrata.
Ambos ficaram sem
dizer palavra alguma. A voz de Bob Dylan ecoava pelo lugar e alguns clientes
vinham subindo para o nível superior com seus discos em mãos. Elizabeth olhou
para baixo e viu que Matt Helders já estava com uma sacola da loja em frente ao
outro caixa e agradeceu pelo sinal de que aquilo iria acabar logo.
- Será que eu
poderia pagar logo? – ele perguntou.
Ela concordou com
a cabeça e pegou a nota que ele tinha entre os dedos. Colocou o dinheiro na
registradora e antes que pudesse pegar o troco ele a interrompeu.
- Não precisa –
deu uma piscadela do mesmo jeito que Carmen fizera no bar noite anterior e após
isso, virou as costas e a deixou ali.
Depois que Alex e
Matt deixaram a loja, Sasha e Kyle subiram os degraus que levavam ao nível
superior tão rápido que Elizabeth não soube como eles não caíram um belo tombo.
- Oh, querida Elizabeth
Grant! – Sasha falava ritmicamente – Existem vantagens em ser dona de uma loja
de discos e se tornar melhor amiga de Matt Helders.
- Melhor amiga? –
repetiu Kyle – Quem tocou no assunto fui eu!
- Shh – ela
colocou o dedo indicado em seus lábios – Isso não é importante agora.
- Alguém pode me
dizer o que está acontecendo? – perguntou Elizabeth.
- Querida Elizabeth
– ela a segurou pelos ombros – Nós três vamos ao um show do Arctic Monkeys com
acesso livre ao backstage.
Sasha começou a fazer uma dança como a da
vitória, só que muito mais animada e muito pior.
- Vamos fazer a
melhor edição do Black Radio de todos os tempos – comemorou Kyle.
Elizabeth sorriu
pela animação dos dois amigos, mas por dentro sentia-se apreensiva só de pensar
em ver Alex Turner novamente.
***
N/A: Olá!! Como prometido, aqui está o capítulo dois. Queria agradecer o carinho e por terem a paciência de me aturar por aqui hahaha Muito obrigada! ♥
Beijos, Bel.
Bel, eu AMO tudo o que você escreve, e com essa fic não está sendo diferente. Gostei de como você introduziu os personagens secundários e adorei a complexidade da Elizabeth/Carmen. Já estou ansiosa pra ler o desenvolvimento desse relacionamento "a três" e também quero ver como a Alexa vai se encaixar nisso tudo.
ResponderExcluirAmei! Amei! Amei!