Era para ter sido uma viagem
de duas horas.
Bom, era para ter sido.
A velocidade na qual aquele
motorista dirigia havia me assustado um pouco. Ainda assim consegui achar
demorado, já que Jamie e Ellie reservaram o andar de cima só para eles (se é
que me entendem) e nesse meio tempo Alex fez o favor de me mostrar o verdadeiro
significado da palavra ‘insuportável’.
Quando eu já não aguentava
mais sentir a presença do vocalista, me dirigi a Nick, que tomava uma cerveja e
lia uma revista. No começo, conversei com ele para ver se me distraía, mas o
papo acabou se prolongando. Perguntei a ele se era difícil tocar baixo e ele
disse que nem tanto assim, mas que era preciso prática. Ele chegou até a tocar
um pouco para mim. Seria mentira se eu disse que não admirei sua técnica.
Depois que Nick começou a
tocar um versinho de uma música da banda, Alex surgiu do nada com uma guitarra,
acompanhando-o. Decidi que era a hora de me mandar e fingi que sairia em busca
de algo para comer. Isso não os impediu de continuar.
And now it's no ones fault but yours
At the foot of the house of cards
You thought you'd never get obsessed
You thought the wolves would be
impressed
Me dirigi até um pequeno
frigobar que ficava no canto do local e peguei uma lata da única coisa que
tinha ali: cerveja. Eu não gostava tanto assim, mas eu estava morta de sede e
não tinha bebido nada desde a hora em que saí de casa, então...
And you're a sinking stone
But you know what it's like to hold the
jeweller's hand
That procession of pioneers all drowned
Me sentei num pufe ao lado
de um colchão onde Matt dormia profundamente. Impressão minha, pois assim que
torci a tampinha da lata ele acordou.
“Oi.”
“Oi.”
“Você me acordou.”
“É, talvez.”
Matt fez uma careta e se
ajeitou no que podia ser chamado de cama.
“Você sabe que não tem idade
para beber isso aí, né?”
“Não tenho idade pra muita
coisa que eu faço, senhor Matthew.”
Ele olhou para mim com um
sorriso.
“Have you been drinking,
son? You don’t look old enough to me” cantarolou Alex, aproximando-se.
“Ah, ótimo.” Reclamei,
baixinho.
“Algum problema, Marine?”
perguntou, com aquele sotaque irritante.
“Sempre há um problema”,
respondo.
“Onde?”
“Em todo o lugar.”
Levantei-me, procurando algum
lugar para ficar – que, particularmente, não fosse aquele. Subi para o segundo
andar e depois de alguns minutos ali sentada, me lembrei do porquê de ali estar
vazio.
É claro que as batidas
incrivelmente fortes e o nome de Jamie Cook sendo pronunciado entre gemidos me
deram uma ajudinha.
Mas eu estava tão acostumada
com aquilo que ignorar era algo fácil para mim. Minha meia-irmã, meu irmão,
minha mãe...
Meu celular tocou
surpreendentemente e, para uma grande inconveniência, o volume estava no
último. Procurei-o nos bolsos o mais rápido possível. Enfim, achei-o. E falando
em mãe...
Obviamente não atendi,
porque todos os sons que se repercutiam por ali poderiam gerar suspeitas. Eu
havia deixado um bilhete em cima da cama. É.
Deixei o negócio tocar,
ainda mesmo depois de colocar no mudo.
Então, o ônibus freou.
(...)
Assim que desci, atrás de
Matt, percebi que estávamos no meio de um deserto californiano (assim eu
esperava), em frente a um motel com toques do velho oeste chamado Pioneertown
Motel.
“Isso aqui não é San Diego.”
Eu disse.
“Óbvio que não” disse Alex,
bem atrás de mim. “Surpresa.”
“Que porra é essa?”
“Marine, seja bem-vinda à
Pioneertown, uma cidade no meio do nada que parece mais um cenário de filme.”
“Muito obrigada, guia
turístico, mas não foi esse o combinado.”
“Vamos logo.”
Matt e Alex seguiram em
frente adentrando o motel, me deixando parada em frente ao ônibus, com os
braços cruzados.
De repente, alguns rapazes
de camiseta preta surgiram para retirar os equipamentos do ônibus. Devem ser os roadies, pensei.
“Ah, olha só quem chegou!”
exclamei, ao ver Ellie arrumando a roupa enquanto descia as escadas.
“Cale-se, sua...” ela ia
falar alguma coisa, mas ainda não tinha se recuperado da êxtase pós-sexo.
“Transa no ônibus, confere”
disse Jamie, envolvendo-a no seu braço. “Agora só falta o quarto do seu irmão.”
Ellie e Jamie voltaram a se
beijar loucamente, tudo o que fiz foi respirar fundo e seguir em frente para a
entrada daquele lugar.
Quando entrei, analisei
completamente o lugar. A recepção também tinha decoração característica e era
pequena, mas eu tinha certeza de que aquele corredor atrás do balcão poderia
dar passagem para um lugar enorme.
“E a pequena princesa, quem
é?” disse uma voz desconhecida.
Alex e Matt afastaram-se e
então pude reconhecer o dono. Era um cara que certamente ultrapassava os
cinquenta anos de idade e usava um chapéu de caubói.
“Essa é a Marine” respondeu
Matt. “Ei, venha aqui, precisamos de ajuda sua.”
Dito e feito, cheguei mais
perto. Como eu esperava, era sobre os quartos. Jamie e Ellie, já sabem – e
sobre isso tudo o que posso fazer é sentir pena da faxineira. Matthew disse que
provavelmente iria trazer alguma garota bêbada pois estava no clima para
transar, mas para mim aquilo tudo era invenção só para ele não entrar no enfim
conflito ‘qual-quarto-eu-vou-ficar’.
“Eu durmo no ônibus, está
bem?”
“Não, o que é isso? Lá é
desconfortável.”
“Desconfortável é descer num
lugar no qual eu não faço ideia das coordenadas.”
“Vem cá, do que tanto
reclama? Pelo menos está uma hora mais perto de casa.”
“Não interessa, eu menti
para a minha mãe e agora não sei nem onde eu estou.”
“Está em Pioneertown, moça!”
disse o velhinho.
É, não havia mais nada para
fazer ali.
Se bem que...
“Isso é sequestro.”
“Desculpe?”
Alex riu, socou o braço de
Matt e me puxou pelo braço até a porta de entrada.
“Está falando sério?”
“Pareço estar rindo?”
Ele deu sermões e mais
sermões enquanto o baterista resolvia as reservas com o balconista. Enfim, ele
nos interrompeu.
“Pessoal” ele disse,
mostrando um conjunto de chaves na palma da mão. “Já podemos ir para os
quartos.”
Desviei de Alex e andei até
Matt. Peguei a primeira chave que vi e segui para o corredor, sem olhar para
trás. Apenas parei quando vi onde eu havia parado, uma área aberta com caminhos
para a esquerda e direita. Chequei o número do quarto. 505. Esquerda.
Era como se fosse uma enorme
varanda compartilhada pelos vários hóspedes, porém também usadas de um jeito
privado.
Olhei para trás. Ninguém.
Bom, por enquanto.
Continuei pelo caminho do
piso de madeira. 503, 504, 505. Meu quarto dava para uma varanda até que
agradável. Tinha um balanço, um lampião e algumas plantas.
Rodei a chave na fechadura e
entrei. Para a minha não-surpresa, o quarto também era pequeno, mas dava pro
gasto. Tinha tudo o que era realmente necessário, especificamente falando.
Com muita preguiça, me
joguei na cama. Que cheiro de quarto de hotel. Não, que cheiro de lavanda. Deve
ser o piso.
Mamãe deve estar tão
preocupada a essa hora.
“Merda...”
Já estava tudo ficando uma
bosta, então ouço batidas na porta.
“Vai embora.” Eu disse.
“Sou eu.” Disse Alex.
“Eu sei.”
Ele abriu mesmo assim, e
conseguiu entrar. Parabéns para a crânio aqui, que sempre esquece do mais
importante.
“Hey, foi mal por isso... É
que nós temos um show agendado aqui.”
“Não importa” rebati. “San
Diego é San Diego, Pioneertown é Pioneertown.”
Alex respirou fundo. “Como
se você estivesse dando a mínima para isso. Está usando isso como desculpa para
me botar na merda, pensa que eu não sei?”
Encarei-o, desejando para
que algum louco com uma panela na mão entrasse ali e batesse com ela na cabeça
dele.
“Não me olhe desse jeito.”
Apontou.
“Que jeito?”
“Esse aí.”
Revirei os olhos.
“Como vai ser essa babaquice
toda de quarto?”
“Se você for madura o
suficiente para conseguir dormir ao lado de um de nós sem pensar nada ou fazer
nada...”
“Isso eu sou. Agora você,
por outro lado...”
Alex me olhou por tempo e
foi se aproximando aos poucos.
“Fala sério, garota, você
realmente acha que eu ia deixar isso passar?”
“Isso o quê?”
“Nick e você no mesmo
quarto.”
“Não vejo problema algum.
Sei que ele não faria nada comigo.”
“Vai nessa...” riu.
“Eu sei que ele não faria,
sabe por que? Porque ele é gentil e educado até mesmo quando bebe, e entenderia
se eu dissesse que eu tenho um namorado.”
Alex deu mais uma risada e
chegou mais perto.
Perto demais.
“Que bom que nós sabemos que
isso é mentira, não é?” ele disse, deslizando seu dedo indicador pelo meu
queixo.
Dei um tapa em seu pulso,
afastando-o. “Só se for pra você.”
Ele arregalou os olhos.
“Jura? Quem é o felizardo?”
“Não te interessa.”
“Interessa, senão eu não
estaria perguntando” disse. “Ou você está blefando?”
“Eu não ‘tô blefando.”
“Então me diga o nome dele.
Quantos anos ele tem?”
“Que porra é essa? Virou meu
pai agora?” digo, rispidamente.
“Eu só quero saber.”
“Bom, acho que está querendo
demais.” Falo sem muita esperança de que aquilo fosse acabar logo.
Andei para a varanda.
“Marine, volta aqui!”
Ignoro-o, me sentando no pacato
balanço, junto com uma leve vontade de se matar.
“Oi.” Ele diz, se sentando
ao meu lado.
“Oi.”
“Você liga se eu sentar aqui
também?”
“Eu não sou dona desse
balanço, muito menos desse lugar. Se quiser, você se senta até no chão.”
“Ótimo. Eeh, eu queria pedir
desculpas.”
“Pelo que, posso saber?”
“Ah, você sabe” ele tossiu.
“Ser um babaca com você.”
“Isso você já é por
natureza.” Eu disse.
“Ei!” por incrível que
pareça, nós dois rimos. Fraco, mas rimos. “Eu me referia ao beijo em frente ao
pub.”
“Deixa pra lá, você ‘tava
bêbado.”
“Eu sempre estou.”
“Não exagera, Turner.”
“É verdade, eu juro. Desde
que meu namoro está em crise, tudo o que faço é beber, beber e beber.”
Eu realmente não estava com
paciência para ouvir aquilo.
“Como é com você e seu
namorado?”
“Perdão?” pergunto, sem
prestar atenção.
“Quando vocês brigam, sei
lá. Como vocês se resolvem?”
Pensei e pensei. Quando foi
a última vez que eu e Rodrigo brigamos?
Porra...
“A gente não briga muito.”
“Isso é ótimo, parabéns. Mas
o que vocês fazem quando acontece? Por mais raro que seja?”
“Eu não sei dizer porque eu
não lembro quando foi a última vez.”
Cruzei os braços no peito,
observando o horizonte daquele lugar enquanto Alex insistia no assunto.
Honestamente, eu lá tinha cara de conselheira amorosa? Ainda mais para um
bêbado de vinte e quatro anos.
“Se você estivesse no meu
lugar, o que você faria?”
Eu suspirei.
“Terminaria tudo e depois
seguiria em frente.”
“Não acha isso meio difícil?
A dor...”
“É claro que dói. O que você
esperava?” me remexi no banco, inquieta. “Não sei você, mas eu prefiro sentir
uma última dor do que ficar constantemente remoendo-a com bebidas e pensamentos
infelizes.”
Os olhos castanhos de Alex
vacilaram e se firmaram em mim.
“Você não pode ter dezesseis
anos” disse, por fim. “Uma garota de dezesseis anos nunca diria isso para mim.”
“Deve ser porque todas as
que você encontrou até hoje só conseguiram dizer “Ai, Alex, eu te amo, autografe os meus peitos!””
“Você imitou igualzinho.”
Riu baixinho.
Ficamos em silêncio por um
tempo. Alex balançava de leve a cadeira com o impulso do pé e eu carrancuda e
com desconforto da situação.
“Me desculpa por ter que te
fazer ouvir sobre os meus problemas.” Murmurou.
“Para pedir desculpas a cada
cinco segundos, provavelmente você já recebeu um ‘foda-se’ de uma pessoa bem
importante.”
“Já pensou em ser
psicóloga?” perguntou, surpreso.
“Não precisa pedir
desculpas” eu disse, com um sorriso fraco. “Ouço os problemas das pessoas o
tempo todo.”
“Você é boa nisso, não é?”
questionou. “Ouvir.”
Olhei para ele, sem saber o que
fazer.
“Se é o que parece.”
“Marine... Você...” tossiu.
“Quer sair comigo, depois do show?”
“Turner, nós dois somos
comprometidos” choraminguei. “Aonde pretende chegar com isso?”
“Lugar nenhum” respondeu,
imediatamente. “Eu só... Hum... Quero companhia.”
“Você tem seus amigos.”
“Bom, todos estão no clima
para transar hoje, mas eu estou no clima para caminhar e conversar com uma
garota de cabelos bagunçados e olhos escuros.”
Olhei para ele, com pena.
“Você não pode fazer isso.”
“O que?”
“Você sabe... Começar a
gostar de mim.”
Alex me encarou por um
tempo.
“Eu sei.”
Dizendo isso, levantou-se e
andou para o outro quarto, sumindo de vista.
***
N/A: Vocês devem estar pensando: que drama! Foi mal, ehuehuehuwuhuehuhakewrjdfjkdpwql. Enfim. Eu coloquei TJH como o tema do capítulo porque eu não sabia que outra música colocar, e além disso, Alex e Nick tocaram um pedaçinho dela. Eeeeeentãããão, já entenderam. Ok? Ok.
Se eu demorei muito, foi mal. Já comecei a escrever o 10. Mas ainda assim, quero comentários! Senão não continuo. Fim.
Eeeentão. Você falo sobre um clichê, certo? Não tenho certeza se acertei, mas acho que foi o negócio de "você não pode gostar de mim" e o "eu sei no final". Sei lá, parece meio óbvio e bem recorrente, mas apesar disso sempre da essa dorzinha no coração x3 . (Mas devo dize que também estou bem familiarizada com a "inconveniencia" de poucos quartos, se é que me entende hehe). Enfim, eu senti que o capítulo foi meio curto, mas deve ter sido impressão minha mesmo, uma das primeiras coisas que eu sempre faço quando ligo pc é checar pra ver se tem alguma atualização :S
ResponderExcluirMas é isso, ótimo capítulo; triste que a Marine continua insistindo no Rodrigo mas feliz que ela mando o Alex larga do namoro.
Bjs, Ana
P.S.: Morrendo enquanto leio: Marine fugindo discretamente do Alex mas ele sempre surge do lado dela no ônibus uhsauhsuahs amo isso <3
Na verdade, foi o do quarto ser de número 505, hahaha. Talvez você goste mais do próximo, porque é o show e pans.
ExcluirÉ, Ana, a Marine gosta muito do namorado dela, mas isso não quer dizer que não vai ter hora que ela vai conseguir segurar isso, afinal, é o Alex, não é mesmo?
Muito obrigada por ler e comentar <3
beijo, gi.
só o Alex pra fazer a Marine falar "calmamente" ksjsjs amei ta perfeito quero mais
ResponderExcluirrealmente, alex turner pode causar efeitos colaterais hahahaha. muito obrigada anjo, prometo postar logo.
Excluirbeijo, gi.