Jigsaw IX

03 de Maio, 2014

6h30 da manhã, horário de Moscou.

Depois de tantas viagens o sentido de tempo já não era comum à Amanda. 

As horas eram mais lentas, os dias mais rápidos e as semanas pareciam se arrastar. 

Toda essa confusão apenas piorava seu já conturbado sono, levando a um constante cansaço e olheiras que nunca iam embora.

Amanda nunca tinha ido a Moscou. Nunca tinha visto um lugar tão único como aquele.

- Será que podemos visitar algum desses lugares? 

 Perguntou a Shane, que estava prestes a cochilar no banco traseiro da van que os levava para o estúdio de televisão.

- Me desculpe, mas acho que não vai dar tempo, quem sabe numa próxima? 

 Amanda concordou com a cabeça. 

07h30 da manhã do mesmo dia

Mais uma vez Amanda se encontrava em um estúdio para gravar uma entrevista. De novo com os cabelos bagunçados, roupas amassadas e os óculos escuros escondendo as olheiras. 

Entretanto, dessa vez, eram dois apresentadores. Um homem já perto dos sessenta, porém agia como se tivesse vinte e uma mulher que devia ser uns quarenta anos mais jovem que ele.

Dessa vez Amanda estava sentada em um sofá amarelo, que era mais duro que uma madeira.

Os entrevistadores se sentavam no que pareciam ser as poltronas mais confortáveis do mundo. 

Isso fez Amanda pensar em uma cama e como ela mal podia esperar para colocar sua cabeça no travesseiro mais confortável que pudesse encontrar.

Poucos minutos antes da entrevista começar Amanda fora avisada que apenas a entrevistadora sabia falar inglês, por isso ele iria fazer todas as perguntas. 

Segundos depois o programa começou Amanda foi inundada com perguntas que já tinha respondido um milhão de vezes: por que escolheu cantar, quem são seus ídolos, qual seu próximo passo?

Ao fim da entrevista Amanda sentia seu estomago roncando e a necessidade de escovar os dentes era quase insuportável. 

Infelizmente não foi o que aconteceu, quando estava prestes a ir embora foi puxada pelo braço. Era a entrevistadora.

- É, me desculpe eu só...

 A mulher tinha um sotaque muito forte, tornando quase impossível entender o que ela dizia. 

– Eu te achei muito bonita e simpática e queria saber se você gostaria de sair para um drink. 

 Amanda não poderia agradecer mais por estar usando óculos escuros, pois tinha certeza que seu rosto demonstrava completa confusão. 

Ela tinha visto essa mulher flertar com o entrevistador. Agora aquele par de olhos azuis a encaravam com um ar de esperança.

- Eu... É... Quer dizer, eu não posso vou voltar pros Estados Unidos ainda hoje... 

Um desapontamento surgiu nos olhos azuis da entrevistadora que foram escondidos quando abaixou a cabeça fazendo com que seus cabelos pretos caíssem sobre seu pálido e fino rosto.

- Me desculpe, me desculpe mesmo – por algum motivo Amanda se sentiu mal por ela. - Não quer dizer que eu não queria... Quem sabe numa próxima? 

A mulher levantou o rosto e um leve sorriso surgia em seu lábios pintados de vermelho. 

Rapidamente ela pegou um guardanapo na mesa aonde fora servido o café e escreveu seu telefone.

- Até uma próxima.

03 de Maio, 2014

00h da madrugada

Os lábios de Alex ainda ardiam.

Apesar de ter pensado um milhão de vezes como, quando e por que iria fazer o que fez, não esperava uma reação tão imediata. 

Tanto de Amanda quanto dele mesmo.

Já tinha dito que amava um milhão de garotas, mas logo depois de levar elas para a cama esse falso amor se desfazia em pedaços e a garota virava mais um nome para sua lista. 

Não dessa vez.

Alex jamais tinha imaginado em Amanda como alguém que ele amasse de uma forma romântica. 

Não nega que logo que a conheceu se sentiu atraído. Afinal de contas, ela é o que se pode chamar de beleza crua.

A maquiagem que ela usa é para ressaltar seus traços, não os esconder, como muitas fazem. E o fato de ela simplesmente não ligar para o que os outros falam a torna extremamente atraente.

Apesar disso tudo, o que perturbava e excitava Alex, era a áurea de mistério que cercava Amanda. 

Diferente das outras meninas que falam a cada milésimo de segundo, Amanda sabia aproveitar os momentos de silencio e nunca perguntava o que ele estava pensando.

Ainda não sabia de onde tirou a coragem para fazer o que fez. 

E agora que tinha feito se sentia um estupido e sabia que Amanda não iria falar com ele por um bom tempo. Droga. 

Ele pega uma cerveja no frigobar do hotel.

Ele estava ali a trabalho e provavelmente iria partir na manhã seguinte. 

Isso o irritava, pois sabia que Amanda iria voltar no dia seguinte. 

Tinha tanta coisa para explicar! 

Sentiu uma onda de raiva tomar seu corpo e antes que pudesse se controlar a garrafa de cerveja estava voando para o outro lado do quarto. 

Os cacos verdes da garrafa se espalharam por todo o quarto, juntamente com a cerveja. 

Droga.

Enquanto ligava para o serviço de quarto a sensação de fracasso inundou seus olhos e ele teve que se segurar para evitar as lágrimas.

- Boa noite, como posso ajudar?

- Eu tive um acidente. 

Sentiu sua voz vacilar, segurou à respiração o mais forte que pode.

- O senhor está bem? Eu vou mandar a segurança do hotel para o seu quarto senhor!

- Não, não, só preciso de uma camareira...

-Hmm... Tem certeza, o senhor parece mal...

-Só manda a merda da camareira. 

Silêncio do outro lado da linha.

- Tudo bem, qual o seu quarto?

-Trezentos e cinquenta.

- Ótimo, por favor, espere em seu quarto.

- Ok... 

Alex desligou o telefone e finalmente pode soltar a respiração. 

Estava se sentido mais do que estupido, e daria de tudo para não se sentir desse jeito.