Now then, Mardy Bum O3: Temptation, Greets You Like Your Naughty Friend


Havia um post it azul colado na bancada me avisando que Pablo tinha ido fazer supermercado, então pude jogar a bolsa e o casaco no sofá, sem medo. Pablo tinha esse único defeito que fazia com que não fossemos irmãos de alma: maníaco por limpeza. Sempre que eu deixava toalhas ou roupas sujas espalhadas, ouvia sermão sobre como somos proletariados e não temos condição de contratar faxineira e por isso, eu não deveria deixar a casa uma bagunça.
O clima estava começando a esfriar, então fechei as janelas e sentei, tentando não pensar em com quem eu havia tomado café da manhã.
Por mais que realmente apreciasse a musica que os caras faziam e tivesse que concordar que o sotaque britânico dava um charme a mais à banda, eu estava longe de ser uma tiete. Simplesmente não era quem eu era. Eles eram pessoas, afinal. Pessoas com talento musical quase imensurável, mas pessoas. E a maneira como Alex agia – como se ele fosse tudo menos comum -, tornava tudo mais irritante.
Não queria dar esse gostinho a ele. Não queria ser só mais uma garotinha que não conseguia conter os orgasmos só de ver Alex sorrindo com aquele sorriso debochado e pretensioso. Aquele óculos escuros e a jaqueta de couro e...
— Bom dia, Bela Adormecida! Eu diria que senti sua falta ontem a noite, mas estaria mentindo, hahaha... — e esse era Pablo, o mexicano tão, tão dolorosamente gay que eu havia mencionado. Essas piadas e insinuações eram frequentes, então eu já estava acostumada.
— Quem era o dessa vez?
Ele parou por um segundo, com uma ruga de expressão no rosto e a mão com as sacolas no quadril. — Não consigo me lembrar do nome... E você, onde passou a noite passada? Ou melhor, com quem passou a noite passada?
— Jesse. Mas não desse jeito! — esclareci rindo enquanto ele abria a boca num “o”. — Uma banda fez a gente ficar até mais tarde. De novo.
— Você é tão chata. Mora aqui a dois meses e meio e desde então, nunca te vi com nenhum homem. Sinceramente, se não fosse tão linda, bem cuidada, e tivesse pornô-homem-mulher no histórico do notebook, suspeitaria da sua sexualidade.
— Eu não tenho isso no notebook. — joguei uma almofada nele, rindo. — Na verdade, eu conheci um cara ontem a noite.
Pablo alargou o sorriso e sentou, como se eu tivesse dito que Henrique Iglesias tinha batido na porta e perguntando por ele. Mordi o lábio, tentando não dar tanta importância...
— As melhores historias começam com “conheci um cara ontem a noite”. Conta tudo! E não poupe os detalhes sórdidos.
— Não é nada. Quero dizer, ele é só... bonitinho. — menti. Alex Turner não podia ser classificado como bonitinho. Incrivelmente charmoso/ a voz mais sensual que já ouvi/ mais egocêntrico do mundo, sim, mas bonitinho, não.
Patética. Eu sou patética.
— Pela maneira que você está sorrindo, ele não parece “só bonitinho”! Conta mais. Quem ele é, como ele é, da onde ele veio...
— O nome é Alex Turner e antes que você faça sua cabeça fumaçar tentando se lembrar da onde conhece esse nome: é o vocalista e guitarrista da banda Arctic Monkeys. Você já deve ter me ouvido escutar no notebook. — ele me encarou com uma grande interrogação na testa, claramente tentando associar nome à pessoa.
— Aqui. — disse, me levantando e abrindo uma página no Google Imagens. Digitar o nome dele e me deparar com centenas de fotos era meio constrangedor. E a maneira como ele me olhava em algumas imagens parecia dizer “viu? Você não parece tão durona agora...”. Selecionei umas fotos mais recentes – de semanas, meses atrás, somente e mostrei para Pablo. — Esse aqui.
— OMG! — rolei os olhos. Pablo soava como uma garota de 15 anos as vezes. — ele é maravilhoso! Quero dizer, um pouco magro para o meu tipo, mas Olivia! OMG...
— É, ele é... bonitinho. — repeti incapaz de conter o sorriso. — Mas meio babaca. Egocêntrico ao extremo. Sarcástico como o diabo!
— Oh, querida... os melhores são assim.
O celular do meu companheiro de quarto tocou e ele engatou uma conversa empolgada com um de seus amigos gays, sobre uma festa. Provavelmente eu era a única que não iria sair para me divertir num sábado a noite, mas eu precisava do extra. O personagem de Pablo foi morto, num seriado meia boca que fazia, o que fez com que ele atrasasse sua metade do aluguel.
Por passar mais da metade do dia em casa, recentemente vim com ideias de empregos que ocupasse só um turno ou não tivesse presença necessária. Tinha poucas opções para o que eu sabia fazer, mas estava preparando meu currículo para ser secretária em um turno, dependendo da pessoa e se não necessitasse que eu saísse durante meu trabalho no Hard Rock. Talvez eu pudesse resolver a maioria das coisas através do telefone e aí conseguir um bom dinheiro.
Passei a tarde trabalhando nisso, mas quando dei por mim, tinha dormido. Acordei apressada, me dando conta que havia uma ou duas coisas para acrescentar, imprimi e comecei a me preparar para a noite. Por causa da Noite do Microfone Aberto, eu não tinha que necessariamente vestir meu uniforme, desde que levasse algo para que as pessoas me identificassem. Amassei a bandana com o logo do Hard Rock no pulso, vestindo uma saia preta, uma longa blusa folgada e uma jaqueta de couro.
O lugar estava vazio quando cheguei, mas Jesse sorriu e assobiou quando eu entrei, num elogio discreto. Ele era bonitinho; alto, ligeiramente forte, o cabelo dourado num corte baixo e bagunçado. Eu sairia com ele em quaisquer outras circunstancias, mas era meu chefe e Deus sabia o quão errado relações entre empregados podia dar.
Foi chegando gente aos poucos, em sua maioria adolescentes e jovens adultos vestindo essencialmente preto. Havia doze bandas escritas para o Show de Talentos e eu gostei do repertório de muitos, quando vi a lista. Entretanto, o lugar iria lotar e eu não poderia escapar em direção ao Guitar Hero, então sabia que a noite não seria perfeita.
As dez da noite já estávamos na sétima banda e eu, na quarta tequila. Não estava me divertindo como achei que iria, mas o liquido quente fez minha cabeça e meu corpo ficar mais leve. Havia um garoto magrelo que não parava de olhar para mim do outro canto do balcão e eu já não conseguia disfarçar o rolar de olhos.
— Acho que o Mr Acnes ali está apaixonado por você.
Não precisei olhar duas vezes para saber quem tinha falado. Alex tinha a voz rouca e meio embolada que ninguém mais tinha.
— Boa noite para você também, Turner.
— Ainda não, mas não tema, será. — respondeu despreocupado olhando ao redor — Pode me trazer whiskey, por favor?
— Eu ouvi certo? Alex Turner disse “por favor?” — perguntei num tom de zombação.
— E eu sei falar “muito obrigado” também, obrigado. Conheço bem as regras de conduta social, Olivia. Quando uma garota me chupa, por exemplo, eu digo “muito obrigado”. — me olhou sério — Com ênfase no “muito”.
— Urgh. Você é nojento.
— É, mas você gosta. — rolei os olhos para ele e entreguei o copo. — Não, não... Eu preciso da garrafa. Se vou ficar ouvindo adolescentes cheios de acne cantar com essa voz, pretendo ficar bêbado. Não muito diferente de você e sua tequila, bonita...
— Cala a boca, eu tô com dor de cabeça — resmunguei me servindo de outra dose. Era a quinta. Talvez eu devesse pegar um pouco mais leve na tequila, mas os berros de um adolescente no vocal me fizeram esquecer essa ideia.
— E tenho certeza que a quantidade de álcool que tá ingerindo vai ajudar.
— Porque se importa? — perguntei chupando o limão. Senti ficar mais quente, por dentro.
— Não me importo. — arqueou uma sobrancelha. — Na verdade, vá em frente. Garotas tendem a ficar mais tragáveis quando bêbadas.
— Tragáveis? Eu não sou a porra de um cigarro.
— Não, mas sei que adoraria que eu pusesse a boca em você. — mandei ele se foder e mantive o olhar serio. — Qual é, foi uma brincadeira. É para você rir. Você sabe rir, Olivia? Isso, um sorriso, assim... Lindo.
Eu gostava do ar despreocupado e bem humorado de Alex. Ele ainda era um babaca pretensioso, mas sem duvidas sabia me fazer sorrir. Balancei a cabeça tentando afastar esse pensamento da cabeça; a ultima coisa que eu precisava era me tornar uma tiete irreversível.
Peguei o currículo imprimido com algumas falhas e acrescentei uma ou duas informações que tinha esquecido. Eu já tinha alguma experiência como secretaria, trabalhando no escritório do meu pai por alguns meses, mas na maior parte do tempo, eu só agendava reuniões e buscava cafezinho. Não sabia o quão mais eu teria que fazer, no emprego que conseguisse, mas estava esperançosa. Minha primeira opção era deixar o currículo numa gravadora ou alguma empresa musical; quem sabe editora, se a primeira opção não desse certo...
Mordi a caneta e encarei a página, relendo para que tudo estivesse bem preenchido. Quase tinha esquecido da presença do Turner, quando ele perguntou:
— Tá fazendo palavras cruzadas ou algo assim? — olhou para o papel, mais estava de cabeça para baixo para ele.
— Nah, é um currículo. Tenho a maior parte do dia livre e queria um emprego de meio período. Como secretária, assessoria, coisas do tipo...
Alex puxou o papel com uma mão e começou a ler, segurando o whiskey na outra. Bebeu um longo gole e rolou os olhos pela página.
— Olivia Callaway Fernandes — mas ele pronunciou meu ultimo nome, soou mais como “fírnendêz” e não consegui evitar um riso. — O que, eu pronunciei errado?
Concordei com a cabeça mordendo um canudo.
— Português é uma língua difícil, me dê algum crédito! Mas eu gosto. — disse simplesmente. — Como se diz “estou excitado” em português?
— “Eu sou um babaca” — respondi o mais serio que consegui, na minha língua nativa.
— “Eo soul um babakah”? — Alex repetiu num português enrolado, o sotaque transformando a frase num murmurar sem sentido.
Não consegui conter a risada. — Isso. Assim mesmo.
O outro integrante dos Arctic Monkeys, Matt Helders, que eu conhecia só como “Matt” sentou no banco ao lado de onde Alex estava e pediu uma cerveja, sem olhar para mim. Então, como se lembrasse de algo, virou novamente e sorriu. — Olivia! Olivia, certo?
— Ei, Matt. Bom ver você de novo.
— Olha só para você — Matt sorriu sem prestar muita atenção. — Jaqueta de couro fica melhor em você do que no Alex, quem diria.
— Eu duvido. — uma garota baixinha e cabelo loiro disse, com um sorriso tão aberto que eu podia ver o chiclete mastigado dentro de sua boca. Urgh. Ela se inclinou sugestivamente para Alex e gritou, mesmo que ele estivesse a 30 centímetros de distancia: — Você é Alex Turner!
— Educada e esperta. Bom partido, Turner. — dei meu melhor sorriso torto para ele. Matt riu e se esquivou do halito de bebida da garota.
Alex estava visivelmente desconfortável, parecendo meio perdido e meio puto, sem saber o que dizer. Era uma afirmação idiota, eu tinha que ser justa. O que ela esperava que ele dissesse: “sim, eu sou!”?
— Você pode autografar meus peitos? — a garota loira riu, como se não tivesse sido proposital e consertou: — meu sutiã!
— Claro. É sempre um prazer. — Alex respondeu com os lábios numa linha rígida, pegando a caneta e escrevendo alguma coisa no sutiã verde da garota.
— O Alex não sabe lidar muito com toda essa atenção. — Matt bebeu um longo gole e olhou para mim — Mas não acho que ele saiba lidar com a falta dela, também, o que é meio irônico.
— Você sabe? — perguntei interessada. Matt era bem bonitinho e fenomenal na bateria, mas não tinha o charme que o Turner e o Cook tinham. Talvez fosse melhor assim, menos assédio.
— As garotas demoram um pouco mais para me reconhecer, quando estou sozinho. O que é ótimo, na verdade, não preciso de tanta segurança em alguns lugares.
— Você devia cantar! — a garota gritou de novo, interrompendo a conversa. — Vocês são os Arctic Monkeys! Cantem!
Então todas as cabeças do Hard Rock viraram e começaram a entoar “cantem” mais alto do que deveria, fazendo minha cabeça latejar. Os garotos se levantaram meio resignados e foram em direção ao palco. Minha visão começou a escurecer e eu amaldiçoeei todas as doses de tequila que tinha bebido. Lutei para continuar no lugar e me encostei no balcão para ouvir a voz rouca e quente de Alex dizer: I'm going back to 505...
Por alguns segundos, a bebida parou de tentar escurecer meus olhos e eu consegui focalizar o rosto concentrado do Turner cantando uma das musicas mais bonitas do Arctic Monkeys. A combinação perfeita de melodia, voz e batidas sincronizadas me hipnotizam enquanto todo mundo do lugar se cala. Acho que é uma daquelas coisas, quando o Turner canta, você simplesmente... escuta.
But I crumble completely when you cry
It seems like once again you've had to greet me with goodbye
I'm always just about to go and spoil the surprise
Take my hands off of your eyes too soon
I'm going back to 505
If it's a 7 hour flight or a 45 minute drive
In my imagination you're waiting laying on your side
With your hands between your thighs
Mas como todo conto de fadas, assim que a musica termina e os gritos do public se intensificam, minha cabeça começa a pesar e meus olhos a escurecer. Minha visão fica turva e eu me esforço para não sentar, tentando focalizar alguém que não está mais lá. Atravesso o balcão e não percebo que Alex está sentado no mesmo lugar de antes, até que meu equilíbrio – que parece ter sido engolido pela tequila – faz eu tropeçar.
Acontece tudo muito rápido, mas imagino meu rosto indo de encontro ao chão, até que mãos que vem de Deus sabe onde me puxam e eu “caio” sentada, a pelo menos 1 metro do chão.
— Assim, sem me pagar uma bebida ou um jantar antes, Olivia? — Alex pergunta com um sorriso bonitinho, o rosto a centímetros do meu. Percebo que cai no colo dele e que as mãos que me seguraram eram dele também, mas meu cérebro parece não conseguir funcionar mais do que isso. Não consigo forçar meu corpo a sair de cima dele e ao invés de pelo menos desviar o olhar, eu começo a rir. Audivelmente. Tipo, alto pra caralho.
Ele ri também, visivelmente não entendendo nada. Uma sobrancelha arqueada e uma mão pousada na minha coxa.
— Se esse é o seu jeito de dizer que gostou da música, eu posso cantar para você todos os dias. — Alex murmura no meu lóbulo. Estremeço e enterro meu rosto na jaqueta de couro, tentando me concentrar no cheiro de tabaco e bebida e não de sabonete, que ele exala.
— Eu to meio... bêbada. — finalmente digo, levantando o rosto e esfregando os olhos com as mãos. — Eu gosto do seu nariz. — digo como se fosse a coisa mais natural a se dizer. — É grande, mas de um jeito bonitinho.
Ele me olha por longos segundos e ri, como se o que eu tivesse dito tivesse sido a melhor piada que ele já ouviu. — Você é meio perturbada, não é? — ignoro a pergunta. — Quantas tequilas você bebeu?
Eu conto com os dedos.
— Seis.
Ele arqueia a sobrancelha e tenta se manter sério.
— Eu nem sei se você pode beber. Quantos anos você tem, afinal?
— O suficiente. — digo encarando Alex, tentando controlar o impulso de bagunçar seus cabelos.
— O suficiente para o quê? — ele pergunta sustentando o olhar.
— Para perturbar você.
O sorriso torto toma conta do seu rosto e ele faz movimentos circulares com o polegar e o indicador, na minha coxa, de um jeito bem legal. É nesse momento que eu durmo, mas continuo consciente o suficiente para perceber que estou sendo carregada em direção a Jesse por mãos brancas grandes e ossudas, que me sustentam com certa possessividade. Jesse está preocupado, com a testa franzida, mas não pode abandonar o bar, então indica o quarto que costuma dormir, quando temos que ficar até mais tarde. Alex me deita não tão delicadamente na cama e puxa um cigarro do bolso, fazendo com que a luz da lua na janela e a ponta de fogo sejam as únicas fontes de iluminação do quarto. Eu viro para o outro lado, sem dizer nada e Alex mexe em alguma coisa no criado mudo. Depois tudo fica escuro.
***
Acordo 14 horas depois, sentindo meus músculos rígidos e minha cabeça latejar. Esfrego os olhos com as costas das mãos e faço uma careta ao quarto claro demais. Lentamente viro para o outro lado, abrindo os olhos devagarzinho por causa da claridade. A primeira coisa que vejo é o motivo do primeiro sorriso do dia; um bilhete num papel amassado, escrito numa letra bagunçada, mas legível.

          And a smile.



4 comentários:

  1. Que bonitinho. Muito fofa essa fic.

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  2. Meu deus, eu tava planejando comentar só no último capítulo pra fazer um resumo geral do que eu tinha achado, mas esse papelzinho no final me fez comentar aqui mesmo!
    Que fofura!!!

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  3. Alex fofo é outro nível né meninas!? Haha
    Casável, mordível...todo lindo esse cachorro <3

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