R U Mine 08: Fluorescent Adolescent


Apenas na confortável companhia dos livros - em sua maioria amarelados- discos velhos e prateleiras empoeiradas me permiti refletir e tentar organizar o turbilhão de pensamentos em minha mente. Alex mexia comigo mais que o desejado, de maneira inexplicável beirando a anormalidade. Sua simples presença provocava uma estranha palpitação em meu peito, as pernas perdiam a força de sustentação e o ar de repente parecia ficar mais denso dificultando minha respiração. Os sintomas só pioravam quando ele abria aquele sorriso odioso e carregado de ironia ou me encarava fixamente com seus olhos incrivelmente negros e brilhantes provocando pequenos choques em minha pele acompanhados de arrepios incessantes.

Mesmo tendo passado 3 dias desde o beijo, se eu fechar os olhos ainda consigo sentir a textura de seus lábios macios e quentes nos meus, sua voz rouca carregada em um sotaque britânico sussurrando em meu ouvido e suas mãos hábeis percorrendo meu corpo.
Suspiro pesadamente ao constatar que estou me apaixonando por Alex Turner e apesar de saber que é uma estupidez profunda e de que eu serei a única a sair machucada dessa história simplesmente não consigo lutar contra, não quero lutar contra.

Tento espantar esses pensamentos da minha cabeça arranjando algo pra fazer, por isso decido arrumar as novas doações que estão armazenadas em duas caixas de papelão. Haviam chegado ontem enquanto eu ainda estava na escola, mas estava muito cansada para arrumá-las. Hoje com tempo de sobra até às 17 eu poderia me dedicar inteiramente a elas.
A primeira estava recheada de livros, desde uma coleção completa de contos de fadas simplistas e infantis até um legitimo exemplar de a Divina comédia. Era uma pena que um exemplar tão raro e importante viesse parar justamente em um sebo como esse, onde provavelmente acumulará poeira por um bom tempo até que as traças o devorem pouco a pouco. Ao abrir a segunda caixa um choque percorreu meu corpo. “ Are You Experienced?” com sua cor amarelo berrante se destacava entre os inúmeros Discos e cd’s. Pensei em Alex no mesmo instante, era realmente muita coincidência, peguei o disco nas mãos e era idêntico ao que ele comprara três dias atrás, até o pequeno rasgo da capa ficava no mesmo lugar. Sorri ao abrir a capa e ver que a primeira faixa do disco – Foxy Lady – estava sublinhada à caneta azul. Alex havia devolvido o disco.

Pouco antes das 17, cada disco recém-chegado ocupava seu devido lugar na prateleira, menos um. Este eu fiz questão de contar cada centavo da minha mochila para poder levá-lo pra casa.
Em um ato costumeiro pego o apetrecho de metal parecido com uma bengala para puxar o portão velho e em processo de oxidação, o inesperado é que o mesmo não obedeceu ao puxão. Com certeza estava agarrando em alguma outra coisa. Tento puxá-lo até que minha força e paciência se esgotam, solto a limalha de ferro no chão, totalmente frustrada.
__ Merda – proferi em alto e bom som encarando a loja ainda indesejavelmente aberta.
__ Tsc tsc tsc – eu conhecia muito bem aquele tom de reprovação e não havia pior hora para ouvi-lo. Eu definitivamente não estava com paciência para as ironias de Alex Turner.
__ O que quer Alex? – levo a mão à cintura teatralmente – A loja está fechada, seja o que for volte amanhã – murmuro amarga e me viro para encará-lo, a visão me entorpece, mas trato de me recompor quase que instantaneamente.
__ Tem certeza que está fechada? – O cinismo cortante em sua voz me faz borbulhar de raiva, se eu fosse um desenho animado com certeza estaria com os olhos esbugalhados e soltando fumaça pelas narinas – O que vejo aqui é uma tentativa frustrada de fechá-la.
__ Idiota – digo ao pegar a limalha novamente, agora era questão de honra conseguir fechar esse portão. Volto a puxá-lo incessantemente sem obter sucesso algum. Sinto o calor do corpo de Alex próximo ao meu e sei que ele está sorrindo, divertindo-se as minhas custas.
__ Vai querer minha ajuda agora ou quando ou quando alcançar 1,60 de altura? – Tenho certeza de que é uma piada, mas não consigo achar graça, meus 1,65 de altura estão perfeitamente na média.
Viro-me para encará-lo com aquela típica cara de “ Mesmo?” e logo depois lhe dirijo meu olhar mais gélido e desprezível, não que represente grandes coisas para ele, já que seu sorriso ridículo duplica, como se seu objetivo fosse me irritar até a morte. O orgulho que inflama meu peito me impede de aceitar sua ajuda e volto a minha tentativa inútil de fazer com que a porta desça.
__ E agora? Vai querer minha ajuda?
__ Cala a boca. Você está me desconcentrando – me arrependo no mesmo instante de ter dito aquilo, mas já havia sido dito. Não tinha mais volta.
__ Costumo despertar isso e muito mais – sua voz antes divertida passa a ser sensual e tenho certeza de que ele está à centímetros do meu pescoço – Viu só? – se refere ao súbito arrepio em minha nuca. Eu coro, graças a Deus ele não pode ver isso.
__ Só cala a boca Alex – não tem convicção alguma em minha voz – Antes que eu perca totalmente a paciência e jogue essa merda na sua cabeça. Você não vai gostar de ter seu cabelo desarrumado, não é?
Ele ri audivelmente e murmura chegando ainda mais perto:
__ Tenho no mínimo duas ideias muito melhores em mente para que você cale minha boca. O que me diz? Sem violência... Ou pode ser violento se você preferir. – Sua risada cafajeste soprando em meu pescoço faz com eu perca totalmente a sanidade. Suspiro fortemente ao ceder à Alex, dou um passo para o lado permitindo-lhe a passagem.
Não consigo entender direito o que ele faz, o fato é que no minuto seguinte o portão desliza suavemente em minha frente e Alex se vira pra mim com seus olhos negros como a noite e sorriso prepotente nos lábios.
Rolo os olhos e murmuro um obrigada quase que inaudível. Ele grunhi um som que acompanhado de suas feições quer dizer “ Fazer o que, eu sou bom mesmo”. Rolo os olhos mais uma vez e pergunto:
__ O que ainda está fazendo na cidade? – ele não me responde e por um mísero segundo passa por minha cabeça que talvez, só talvez seja por minha causa, mas no momento seguinte ele aponta para um Outdoor há uns 50 metros de distância que trazia o logo do tradicional festival de verão. Arctic Monkeys, The Black Keys, Franz Ferdinand e Foster The People tinham os nomes gravados em letras garrafais como as atrações principais. Esse era o motivo pelo qual ele ainda não havia voltado à Londres.
__ Huh... legal – murmuro desconcertada e de certa forma triste. O festival aconteceria no fim de semana e depois disso eu não mais o veria “coincidentemente” quase todos os dias.
__ Tá indo pra casa? – aceno um ‘sim’ com a cabeça – Entra no carro eu te levo – diz e vai em direção a um conversível estacionado no acostamento, no caminho acende um cigarro e logo consigo ver a fumaça produzida por ele. Enquanto isso permaneço parada no mesmo lugar, não sei se será uma boa ideia acompanhá-lo.
__ Tá esperando o quê? – Não respondo e o silencio paira por alguns segundos - Com medo, Clara?
__ Não estou com medo, só não sei se é uma boa ideia acompanhá-lo – digo tomada por um súbito nervosismo e encaro minhas unhas que por sinal estão de dar vergonha.
__ Está com medo do que o lobo mau pode fazer com você? Que gracinha – traga mais uma vez o cigarro soltando a fumaça lentamente enquanto ergue a sobrancelha esperando por uma resposta de minha parte.
__ Não é nada bom deixar estranhos saberem demais sobre você. Nunca se sabe o que pode acontecer – eu só queria dificultar as coisas para ele, mas sabia que entraria naquele carro.
__ Esse é um risco que terá de correr, baby – Alex dirige uma piscadela pra mim e sorri divertido. Rolo os olhos e sorrio de volta:
__ Baby? Que coisa mais cafona – comento indo em sua direção. Ele gargalha bem alto e entra no carro. Tomando da mesma coragem que tive ao entrar em seu quarto de hotel, abro a porta do conversível.
O carro tinha cheiro de couro, perfume e cigarro, muito cigarro. Pacotes vazios de salgadinho e uma lata de cerveja num compartimento ao lado, mas o que me chamou a atenção mesmo foi a quantidade de cd’s espalhados no painel.
__ Sua namorada não vai ficar brava por você estar me dando essa carona? – A pergunta era idiota, mas eu precisava saber onde aquela mulher havia se enfiado nos últimos dias.
__ Arielle? Ela não precisa saber, além do mais é só uma carona não é mesmo? – a pergunta vinha carregada de malícia e segundas intensões.
__ É claro – me faço de desentendida e me viro para encarar a janela. O sol está se pondo e o céu divide-se entre azul e laranja, a cidade adquiria um aspecto diferente conforme a noite caia.
Não sei exatamente quanto tempo passou ou aonde minha mente estava enquanto ele dirigia. O fato é que em dado momento me assusto ao vê-lo abrir a porta do carro, faço o mesmo sem entender nada e quase tenho uma síncope ao olhar ao redor. Essa definitivamente não era minha rua e o local a minha frente com certeza não era meu prédio.
__Onde estamos? - Pergunto ao olhar em volta, já havíamos saído dos limites da cidade. Em minha frente um estabelecimento que me faz lembrar os bares dos anos 20. Uma musica alta invadia meus ouvidos, porem eu não conseguia distinguir o gênero.
__ Me acompanha, tenho certeza que você vai gostar – ele diz e ruma em direção ao estabelecimento. Passado o choque, faço o mesmo.
Não pude deixar de sorrir ao entrar, era realmente como se eu tivesse nos anos 20. A decoração, a roupa das garçonetes e até mesmo a banda de três homens no paco. O lugar parou no tempo.
__ Uau – é a única coisa que consigo dizer – Não sabia que um lugar assim existia – digo maravilhada olhando diretamente nos olhos negros de Alex que por sua vez sorri.
__ Muitos lugares existem senhorita, locais que você nem imagina e eu sou capaz de te levar em cada um deles – nesse momento sei que ele não fala apenas de bares legais, seu olhar transpira segundas, terceiras, quartas intensões.
__ Resta saber se eu vou querer te acompanhar– digo divertida e lhe dou uma piscadela. Alex rola os olhos e sorri também
__ Vem comigo, quero te apresentar algumas pessoas

Cortamos o salão em poucos segundos, o bar não era grande e não estava cheio. Não era um bar conhecido, sua clientela parecia ser seleta. Chegamos em uma mesa onde alguns homens bebiam e conversavam, reconheci Jamie Cook, Nick O’ Malley e Matthew Helders entre eles. Havia também  algumas mulheres.
Assim que chegamos à mesa um olhar de cumplicidade paira entre os quatro músicos, algo que só eles entendem. Alex pigarreia alto e segura um sorriso - por mais que isso possa parecer estranho – fofo nos lábios.
__ Er, essa é a Ana Clara. Ana Clara esse é o pessoal, além do pessoal da banda que você conhece esse é Joseph Lin nosso produtor e essas são Lisa e Victória.
__ Prazer – digo e logo depois me sento ao lado de Alex na pequena mesa redonda.
__ O prazer é todo nosso – Helders murmura levantando sua garrafa de cerveja, como se fossemos brindar.
__ Você vai querer beber alguma coisa? – Alex pergunta duvidoso e sem hesitar respondo que sim.
__ Uma cerveja – O conhecido sorriso prepotente brota em seus lábios como se ele tivesse vencido uma pequena batalha. Eu já não era a mesma e não voltaria ilesa pra casa essa noite.

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