Now then, Mardy Bum O9: Oh, that boy's a slag


O clima entre Alex e eu vai embora com a mesma rapidez de uma bexiga sendo solta enquanto alguém a enchia. Eu quase consegui ouvir o “pfffffffff”.
Assim que a palavra “sua namorada” foram proferidas, puxei meu queixo na direção contraria e Alex recolheu sua mão para longe, por reflexo. Espiei sua feição de canto de olho e ele não parecia perturbado. Ligeiramente desconfortável, talvez, mas não o tipo de desconforto que você espera quando a garota que você tá pedindo para ser sua descobre que você tem a porra de uma namorada.
Matt dá uma cotovelada não tão discreta em Jamie e ele vira, primeiramente puto para encarar o baterista que acena com a cabeça em nossa direção. Depois ele coça a cabeça e murmura algo como “ehhhhhhh... shit.”
— A garota bonita é sua namorada? — pergunto tentando soar casual. — Uau, Turner, parabéns.
Alex enfia as mãos no bolso tateando pelos cigarros e isqueiro e os acende, soltando a fumaça despreocupada. Balanço a cabeça transbordando incredulidade e me levanto arrumando as dobras inexistentes do vestido. Ele faz o mesmo um minuto depois e ao invés de me dar alguma explicação, anda em direção a frente da TV e assiste a entrevista.
Isso é hilário. Realmente é.
Me despeço do pessoal com meu melhor sorriso “estou puta, mas sou educada” e saio do apartamento com passos largos e pesados no corredor. A espera pelo elevador é agonizante e assim que as portas são abertas, eu entro encarando a garota pálida que estou, no espelho. Segundos antes da porta se fechar, porém, mãos interrompem e ela é forçada a abrir de novo. Alex entra e aperta o botão de parar, para me encarar.
Ele dá um passo pra frente e eu ralho, furiosa. — Não encosta em mim, Turner ou eu juro que vou torcer suas bolas com tanta força que vão virar carne moída.
Ele faz uma careta — Não foi assim que imaginei quando pensava em você e nas minhas bolas... —, e ignora minha advertência dando outro passo e agarrando meu pulso.
— Não me toca, porra! — digo puxando o braço e tentando apertar o botão do térreo.
— Você não parecia muito contra isso, ontem.
— Ontem a tarde foi um erro. — resmungo para o teto.
— Depende do referencial — responde cruzando os braços fazendo uma muralha até o botão.
— Aposto que o referencial da sua namorada concorda comigo. — sorrio desafiadoramente.
Alex coça os olhos e suspira, procurando pelo maço de cigarros. Ele luta com as palavras, mas ainda sim, não parece muito preocupado. É só como se isso tudo fosse entediante para ele, como se o fato dele ter uma namorada fosse... irrelevante. Me pergunto com quantas garotas ele já ficou que não sabiam da existência de uma namorada ou simplesmente não se importavam.
— Alexa e eu... É complicado. Eu nem tenho certeza se ainda estamos juntos. Provavelmente não, mas eu... Não tenho certeza. — ele bagunça o cabelo e me olha — e de qualquer jeito, não achei que fosse se importar.
— Eu não me importo. — disparo orgulhosa.
— Tem certeza? — arqueia as sobrancelhas — Porque não é o que parece.
— Só que seria legal saber que você tem a porra de uma namorada antes de ser imprensada contra a parede!
— Não é como se fosse da sua conta — a afirmação fere meu ego, mas não deixo que ele note — E não é como se eu tivesse te forçado a fazer alguma coisa, também. Você já é uma garota grandinha, Olivia, e eu não consigo manter as coisas em segredo. Acredite: eu tento.
— Então agora é minha culpa? Não ter feito meu dever de casa direito? — pergunto balançando a cabeça, um quase sorriso incrédulo se formando — Eu devia ter pesquisado para saber com quem você saía ou coisa parecida?
Eu urro, empurrando seu corpo pesado e aperto o botão do térreo. Por mais que eu sinta vontade de ralhar, começo a pensar que ele tem razão: não é da minha conta. Suspiro alto e sinto a raiva indo embora, ainda que numa velocidade excessivamente baixa. Dou de ombros enquanto descemos e as portas se abrem com um estalo. Mantenho metade do corpo dentro do elevador e olho para ele, subitamente cansada.
— Escuta... Não importa. Eu não me importo. Tá tudo bem, eu trabalho pra você, só isso. Certo? — ele não responde nada, só coloca as mãos no bolso e continua com o olhar impassível. Confirmo minha própria pergunta: — Certo.
***
Pablo está deitado com uma bacia de pipoca na mão, assistindo alguma reprise de Americas Next Top Model, quando entro. Ele dá um largo sorriso e senta no sofá, deixando um espaço vago ao seu lado. Retribuo o sorriso menos entusiasmado, mas passo direto até meu quarto e sei que o dele se desmanchou numa careta preocupada, mesmo estando de costas. Desfaço o coque frouxo e troco o vestido folgadinho por um moletom puído.
“Vish” ouço ele murmurar baixinho.
— Esperava uma Olivia mais sorridente, visto que havia um pedreiro sexy como o diabo fazendo trabalhos braçais por aqui. — lança um olhar sugestivo para a calça do moletom — E por trabalhos braçais, eu quero dizer...
— Eu sei o que você quer dizer, Pablo. — Ele cruza os braços no peito, esperando que eu continue. Tiro o esmalte descascado do indicador, evitando contato visual — Sabe, eu nunca entendi essa expressão “sexy como o diabo”... Quero dizer, quando eu penso nisso, não me vem a imagem de alguém sexy e....
— Não muda de assunto! Se aconteceu um rala e rola no meu apartamento, o mínimo que pode fazer é me contar tu-do. E não do jeito que mulheres contam para suas amigas héteros, eu realmente quero saber de todos os detalhes.
Suspiro teatralmente, roubo a bacia de pipoca e sento de pernas cruzadas no sofá. Não era assim que eu imaginava contar a Pablo. Não quando havia uma garota jogada. Ela era bonita, aparentemente talentosa, namorava com caras como Turner e entrevistava caras como o Casablanca. Fuck. Não podia ficar pior...
— Tudo bem, tudo bem... Não aconteceu nenhum “rala e rola”. Aliás, você precisa atualizar suas expressões sexuais por que...
— Foco, Olivia. — Pablo lembra, sentando ao meu lado.
— Ele agiu como um idiota pretensioso e o tempo todo eu queria socá-lo. Então ele simplesmente me jogou contra a parede e... me beijou. E oh, Pablo, ele realmente tem habilidades espetaculares nessa área. — mexo na franja e antes que consiga terminar de sorrir, a voz infantil de Jamie soa na minha cabeça e eu me relembro que isso é errado. — Mas não importa, porque ele namora. E sutilmente esqueceu de lembrar isso, o que me deixa furiosa. E essa tal Alexa é irritantemente bonita, com suas pontas descoloridas e seu talkshow...
— Espera, você tá falando da Alexa Chung? Eu AMO o estilo dela, você precisa ver, é uma composição de roupa mais bonita do que a outra, mas...
— Pablo! — ralho — Você não tá ajudando.
— Maaaas — ele completa com uma careta — eu soube que ela terminou o namoro tem algumas semanas, mas que eles continuam bons amigos e blablablá. Não sei como não percebi que o mesmo cara era o seu cara... Tava em todos os sites de fofoca.
— Ele não é o meu cara — conserto enfiando uma mão cheia de pipoca na boca — é meu “chefe”. De agora em diante, serei uma assistente profissional e não vou deixar que o sotaque, as provocações, a jaqueta de couro e o alcance vocal me atinjam.
Pablo dá uma risada e uma cotovelada. — Tá! Boa sorte com isso!
***
O resto da semana passa surpreendentemente rápido. Faço alguns trabalhos para os Monkeys – como comprar porcarias e um disco especial para Matt, agendo uma entrevista com a rádio local - mas meu contato com Alex é limitado. Nós dois agimos normalmente quando nos vemos, mas tento manter a postura de durona e ele acaba tendo muito o que fazer, para se preocupar com o que eu penso.
Tem pelo menos cinco dias desde o incidente no estúdio improvisado no centro da cidade e eu me surpreendo ao notar que não estou mais irritada. Alex não esteve nos meus pensamentos com frequência nos últimos dias e me dou um tapinha nas costas metafórico pela persistência com a promessa. Não posso deixar de admitir que a revelação me deixou puta, mas faço questão de lembrar que ele é só um cara bonitinho que estava entediado e afim do desafio.
É sexta feira a noite e o Hard Rock está mais cheio do que de costume, de forma que preciso me espremer para levar os pedidos de todos até suas mesas. A cada minuto chega mais pessoas e se Jesse não decidir restringir a entrada de novos clientes, há uma seria possibilidade de eu enlouquecer. Vozes que não reconheço pedem por bebidas e aperitivos e eu demoro bastante para conseguir a primeira rodada para todo mundo, o que me rende muitos olhares tortos e nenhum obrigada.
Jesse e eu não falamos sobre o incidente do “porque nunca só aconteceu com a gente”, mas me sinto desconfortável toda vez que seu olhar é direcionado para mim, mesmo que para que eu anote o pedido de alguém importante. Nós murmuramos e falamos o essencial, mas sei que seu orgulho ficou ferido com minha rejeição repentina. Até aquele dia eu não tinha dado indicio que não o queria; flertamos outras vezes antes, mas eu sempre encarei como brincadeiras. Provocações. Jesse era bonito e inteligente demais para se interessar por uma garota como eu. Aparentemente, eu estava errada.
Era o especial do Queen, provavelmente, porque várias musicas eram reproduzidas nas telas planas acima de suas cabeças, o que transformava a atmosfera em algo elétrizante O Guitar Hero estava nas mãos de um garoto com um moicano vermelho e não consegui não sentir um misto de inveja e ciúmes do meu brinquedo favorito. Havia pelo menos sete pessoas pedindo por drinks como se suas vidas dependessem disso e sabia que não havia a menor possibilidade de qualquer diversão, naquela noite.
— Eu tenho uma stalker.
Ou talvez houvesse, porque olha só quem apareceu...
Ouvi a voz rouca murmurar e o cheiro forte de whiskey invadir minhas narinas. Ele está usando uma camisa preta da Triumph e o cabelo está um pouco mais curto, mais másculo. Não consigo me decidir se gosto do topete – sem muito gel – desalinhado ou do cabelo revoltadinho de quem acaba de acordar.
— A garota de jaqueta verde e vestido vermelho ali atrás. — Alex esclarece indicando a direção com o polegar sem tirar os olhos de mim. — Ela está me seguindo há horas. Vai em qualquer lugar que eu for; à loja de discos, ao hotel e agora aqui.
Dou uma olhada por cima de seu ombro e encontro uma garota de cabelos claros e nariz fino olhando fixamente para as costas de Turner. Dou de ombros enquanto noto que ela parece um dos duendes do Papai Noel com aquele tamanho e combinação de cores.
— “Ohh, Olivia, me esconda dos monstros!” — tento fazer minha voz soar rouca e faço minha melhor imitação de sotaque britânico.
— Está debochando de mim? — pergunta se inclinando para frente, como quem conspira.
Imito o movimento dele, fazendo nossos rostos ficarem a centímetros de distancia.
— E se eu estiver?
— Haverá consequências — inclina a cabeça pro lado, com visível interesse.
Mordo o lábio inferior e tento soar sugestiva. — O que? Você vai me bater, Alex?
Ele parece surpreso com a pergunta e um brilho malicio brinca em seus olhos.
— Agora você está só me provocando...
— Haverá consequências para provocações, também? — pergunto com um falso meio sorriso.
— Sim, mas provavelmente melhores do que para o deboche. Posso castigar você de um jeito muito, muito divertido.
Decido que ele precisa pagar pelo que fez e se provocá-lo é o único jeito de atingi-lo, então que seja. Ele não terá o que quer, no final da noite, e é isso que conta. Sua mão esquerda faz menção em segurar meu queixo e volto para minha posição original antes que suas mãos encostem no meu rosto. Ele recolhe a mão resignado, como se nada houvesse acontecido. Ponto pra mim.
— Ela tem 1,50 metros e no máximo 45 quilos, então não acho que ela consiga te estuprar ou algo parecido. Você está a salvo. — a garota finalmente parece tomar coragem e depois de receber sorrisos de incentivo de duas amigas, finalmente vem em nossa direção. Começo a rir sozinha. — Mas não por muito tempo. Aproveite sua morte dolorosa.
Sua confusão dura menos de vinte segundos, porque assim que me afasto com um sorriso cretino, a garota guincha algo em sua orelha e ele se encolhe, os lábios numa linha rígida. Provavelmente uma conversa regada a tietagem e pedidos para que ele assine sua camisa, tire uma foto e, sei lá, faça um filho nela farão Alex ficar menos felizinho.
Continuo fazendo meu trabalho pelos próximos cinquenta minutos e estou satisfeita comigo mesma pela velocidade com que os drinks são servidos e pelo autocontrole de não ter mandado um cabeludo mal humorado se foder quando ele puxou a barra do meu vestido para chamar a atenção. É pelo menos duas horas da manhã e finalmente o bar começa a esvaziar; pelo menos vinte e cinco pessoas saíram desde que falei com Turner e eu começo a relaxar.
Estou andando com uma duas cervejas em direção a uma mesa no canto quando sinto uma mão grande e ossuda me segurar pela cintura.
— ...Essa aqui. — Alex diz com a atenção intercalando a Garota Duende e eu. Uma grande interrogação surge na minha testa e eu tento me afastar, mas suas mãos não tardam em me apertar contra seu corpo, com certo desespero. — Tava falando para essa garota aqui sobre a minha namorada incrível.
Rolo os olhos e concordo. — Sim, a incrível namorada...
— Olivia! — ele diz me olhando com um sorriso — Olivia aqui é a minha namorada.
Resmungo automaticamente. — Sim, Olivia aqui é a namo... Oque?!
Alex vira, mexe no topete o bagunçando e dá um sorriso sacana. — Você quer dançar?
— Sim! — a menina loura dá pequenos saltinhos de felicidade.
— Fico lisonjeado por isso, bonitinha — ele olha para a Garota Duende por meio segundo e depois me olha com um sorriso torto e debochado —, mas não é você quem estou convidando.
— Mas que caralhos... — começo a protestar sem entender nada e Alex me puxa para onde alguns bravos casais se movem ao som da musica. Ele olha para trás preocupado e a ruga de expressão não sai da minha testa. Suas mãos estão na minha cintura, ainda estou segurando as duas cervejas e ainda nenhum nós se move.
— Eu não vou dançar. — digo olhando através de seu ombro.
— Puta que pariu, mas como resmunga!
Ficamos parados por mais meio minuto e a garota olha para onde estamos, ansiosa.
— Acho que ela não está acreditando muito.
— Você é uma péssima namorada de mentira, então não estou surpreso. — Estreito as pálpebras em desafio à acusação. Ele olha para trás por alguns segundos — Ela é persistente. E provavelmente dançaria melhor do que você.
— Ela é jovem, te idolatra e você acaba de esnobá-la. Agora ela vê você como um desafio que deve superar.
— É? E como você me vê? — Alex pergunta espalmando as mãos em minhas costas.
Uma das garrafas vacila em minha mão e o suor gelado que a garrafa transpira a faz ficar escorregadia. Nossos olhares estão presos um ao outro e percebo que gosto do novo corte de cabelo dele. Antes que a cerveja caia no chão, Alex a toma de minha mão e a abre na borda de uma mesinha da qual estamos perto. Ele toma um longo gole, mas sem desviar o olhar.
— Ainda não tenho certeza.
Alex relaxa as mãos em minhas costas, fazendo com que elas desçam até minha cintura, mas sem pressão. Dou um passo para trás e ele mexe na bandana do Hard Rock no meu pulso.
— Você tá me devendo uma. Como minha assistente, devia ter me tirado daquela situação com a garotinha persistente, mas ao invés disso, deu as costas e me deixou e, por mais que eu aprecie ver você por aquele ângulo, tá me devendo essa.
Coço a cabeça e coloco a cerveja na mesa a alguns centímetros. — Tá e o que você quer?
— Eu quero o que qualquer cara quer, ás 2:30 da madrugada. — Alex responde dando de ombros de um jeito especialmente britânico, com um meio sorriso no canto dos lábios. Cruzo os braços no peito e arqueio as sobrancelhas em questionamento: — Café da manhã.

Um comentário:

  1. Estou lendo essa fic, e francamente estou impressionada de não ver nenhum comentário de ninguém aqui! Estou achando essa fic DEMAIS! Talvez uma das melhores que já li aqui no blog!!!
    Sei que já faz tempo que foi postada, mas acho que alguém vai acabar vendo este comentário, então POR FAVOR, vc que escreveu essa fanfic, se sinta abraçada por me dar tantos motivos pra dar risada nessa madrugada!!!

    Parabéns pela história, é muito boa mesmo! E eu realmente gosto do jeito que vc escreve, acho diferente e cheio de humor.
    Beijocas, Morgana.

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