Now then, Mardy Bum O7: Innocence and arrogance intwined


Começo desenrolando a grande lona e cortando em quatro pedaços menores, com uma tesoura. Cubro o sofá, a mesa, a raque da TV e uma estante de livros, com algum esforço. Ela é alta e preciso me esticar na ponta dos pés descalços, para alcançá-la. Alex toma de minha mão e coloca, fazendo com que a lateral que encosta na parede sirva para prender a lona. Os livros talvez sejam o único bem valioso que tenho, então todo cuidado é pouco.
Nós não falamos nada por longos minutos e tampouco peço ajuda. Ele só me interrompe e faz tudo que eu pareço estar tendo muito trabalho em fazer, como empurrar o sofá ou levar a mesa de centro mais para o centro da sala. Porque esse é o plano: fazer uma pequena montanha com os móveis no centro, esperando que o menor número de objetos sejam respingados, quando pintarmos as paredes.
É uma ideia estúpida, tenho que admitir. Minha experiência com pinturas se resume aos tempos de jardim de infância, onde tínhamos telas e muita imaginação, mas ainda sim, eu pintava uma colina verde, um sol amarelo e algumas árvores. Não acho que minha técnica tenha tido algum progresso, ao longo desses anos. E olhando para a feição entediada e confusa de Turner me faz pensar que ele provavelmente não ficava na sala de artes, mesmo quando criança.
Pego dois rolos com cabos de segurar, dois pincéis e antes que tente pegar o pesado galão de tinta, ele o faz. Indico o canto da sala tangente à bancada da cozinha e começo a preparar a tinta – diluir em 20% de água e esse esquema todo -, como indica o rótulo. Alex cruza os braços e me assiste, enquanto misturo tudo num balde grande.
— Pronto. Acho que é isso. Agora é só a gente começar e... É isso aí. — digo coçando o nariz usando o antebraço. Tento tirar a franja do rosto e espirro.
— Vá em frente. — Alex da de ombros e gesticula para o balde e para os rolos.
Encaro o balde com a tinta azul e os rolos; não deve ser tão difícil assim. Me estico para mergulhar o rolo limpo no balde quando ele coça a garganta e me faz virar.
— Você tem a tinta branca, certo?
— Tinta branca? — pergunto confusa — Não, acho que azul vai ficar melhor.
Ele da de ombros impaciente. — Isso é ótimo, mas sabe que precisa da tinta branca, certo?
Sustento a mirada, a mão livre coçando a testa por debaixo da franja.
— Diz que você não achou que poderia pintar uma parede marrom de azul, sem pintar de branco primeiro. Qual é, você não pode ser tão burra.
Eu soco o braço dele, ofendida. — Não sou burra! Eu só... Não pensei nisso.
Alex rola os olhos e pega o celular do bolso. — É claro que não...
— Ei, não seja um idiota. — digo ríspida. O ar de sabichão cretino começa a me dar nos nervos.
— Não fui eu quem esqueceu da tinta branca. — da um sorriso cínico sem mostrar os dentes.
— Talvez se você tivesse me deixado voltar pra casa, eu teria lembrado.
— Talvez se você não estivesse bêbada, eu deixaria.
— Olha quem fala, você tava tão chapado que nem sabia se nós tínhamos transado!
— Porque, você acha que vai ser tão memorável assim? — pergunta com um olhar desafiador.
— Não. Porque não vai ser. — respondo cerrando os olhos e os punhos.
Jogo um rolo no chão, cruzo os braços no peito e suspiro teatralmente, fazendo minha franja balançar. Ele está com o celular na orelha e não me encara. Como alguém pode ser tão irritante? Não tem um interruptor para desligar o lado presunçoso dele ou algo assim?
— Nick, preciso de um favor... Não, agora. É. — coça os olhos e percebo que ele está de ressaca, ainda. Ótimo, que sofra. — Esquece.
O celular é desligado e ele me encara. — O pessoal tá ocupado, nós teremos que ir comprar.
— Nós quem? — pergunto imitando o olhar desafiador que ele me lançou minutos atrás. — Pelo que eu me lembre, você é meu assistente, hoje. Você faz o que eu quero.
Ele dá dois passos a frente, trazendo seu corpo à centímetros do meu.
— Você tá se esquecendo de um detalhe... Eu trabalho pra você, hoje, enquanto você tem um mês inteiro pela frente. — sustento a mirada, um pouco menos confiante. — Posso te fazer pagar por isso.
— Tá me ameaçando?
— Você devia ver quantas garotas o Matt trás lá pro apartamento. Ou como elas costumam esquecer calcinhas pela casa. E como o Jamie costuma deixar roupa suja pela sala e ninguém faz questão de recolher. Posso dispensar a camareira e te dar o privilégio de fazer o serviço dela. Agora, — pergunta sem desviar o olhar — você vem comigo, ou não?
Resmungo alto, coloco um All Star e o sigo pela escada, descendo com passos pesados. O vento frio da rua me atinge com violência e eu me amaldiçoo por ter esquecido um casaco. Me abraço cruzando os braços no peito, esperando que ele abra a porta do carro.
Assim que entro, ele joga a jaqueta preta no meu colo e eu recuso, colocando de lado.
— Congele até a morte, então. — diz acendendo um cigarro e vestindo a jaqueta.
A mudança de humor e de atmosfera é gritante; há pouco mais de três horas eu estava incrivelmente confortável na cama de Alex, enquanto agora, sinto vontade de socá-lo e sair do carro. Ele não parece muito mais feliz em me ver, também. Seus olhos são esfregados com frequência e ele acaba um cigarro e recomeça outro, em questão de segundos.
— Aonde estamos indo? Pensei que fosse a primeira vez que vem em San Diego — pergunto me deitando no banco e colocando os pés no painel.
Turner esfrega os olhos e olha de relance para mim.
— Não faço ideia. E tira os pés do painel.
Faço o que ele manda, sem pressa.
— Então eu devia estar dirigindo, você pode tá nos guiando pra Deus sabe onde...
Ele esfrega o rosto inteiro com as mãos e parece cansado.
— Você fala demais. — é tudo que responde, checando o GPS.
Coloco a mão na testa, apoiando minha cabeça junto a janela e vou em silencio até uma loja de materiais de construção. Ele pergunta se eu quero descer, mas quando não respondo, liga o pisca alerta e sai do carro. Ele não pode estacionar aqui, quase digo, mas invés disso permaneço calada e o vejo ficar menor, conforme se distancia.
Procuro por CD’s ou lista de reprodução, enquanto ele está fora e mesmo sabendo que isso seja rude, não dou a mínima. É cansativo tentar acompanhar as mudanças de humor de Alex.
Encontro Strokes, Black Keys, Brian Jonestown Massacre, Oasis, Beatles e alguns outros que não conheço particularmente. Escolho Is This It dos Strokes e dou play, deixando a musica repercutir pelo carro.
Ele abre a mala e coloca um grande galão, me despertando. Depois entra no carro e me olha com interesse. Ele tem olheiras discretas embaixo dos olhos e confirmo minha suspeita: ressaca.
— Pretendia roubar meus discos?
— Nah, o carro vale mais.
— Nem todos. Esse aí — ele aponta para um álbum dos Beatles. — É um clássico.
Concordo com a cabeça, sem muito interesse.
— Você não gosta de Beatles? — pergunta incrédulo.
— Eles são bons, mas um pouco superestimados. — digo receosa, é sempre difícil dizer isso em publico. Não é como se eles fossem ruins, pelo contrario, mas eu não idealizava e colocava num pedestal de adoração, como alguns fãs.
— Você não gosta de Beatles... — ele repete pra si mesmo, tentando compreender. — Eu devia te jogar do carro. Precisamos reeducar seus ouvidos. É por isso que resmunga o tempo todo, Mardy Bum, você desconhece boa musica.
Eu faço uma careta. — Eu não resmungo o tempo todo!
— Claro, claro. E o bico que tá fazendo confirma a sentença anterior.
Cruzo os braços no peito e coloco os pés no painel, inconscientemente.
— Alguém já disse que você é tremendamente irritante? — pergunto olhando para a janela, onde os postes passam rapidamente, dando aquela impressão de que estamos parados, enquanto o mundo continua seguindo em frente.
— Você, pelo menos cinco vezes desde que a gente se conhece. — acende outro cigarro e olha de relance para minha direção — Alguém já disse que você é absurdamente teimosa? Tira a porra dos pés de cima do painel!
— Urghh. — resmungo colocando meus pés no chão do carro.
Chegamos no apartamento pouco menos de dez minutos e subimos em silencio, até meu andar. A ideia parece ainda mais estúpida e utópica, agora; imaginar que o Turner não fosse ser um idiota presunçoso por ter que fazer algo menos importante do que cantar ou escrever musicas, como qualquer ser humano normal.
Não tenho certeza de como agir, quando abro a porta, mas ele se prontifica em arrumar os galões e misturar a tinta, me surpreendendo. Finjo um dar de ombros e o acompanho.
***
Pintamos três das quadro paredes da sala e fico feliz em constatar que a cozinha é revestida de azulejos e não vai precisar de tintura. Já fazem quase cinco horas desde que chegamos aqui, mas não trocamos mais que resmungos, durante todo o processo. Minhas costas estão me matando e minhas mãos doloridas por estar fechados em volta do rolo por tanto tempo.
Quase uma hora depois conseguimos pintar dois terços da ultima parede, mas estou tão cansada e agoniada que tenho vontade de gritar. Turner não parece melhor, encostando-se no balcão e flexionando os membros a cada cinco minutos.
Estou relativamente inclinada em direção a parede, passando o rolo na base, quando sinto algo molhado e grudento na bunda. Viro por reflexo e noto que a parte de trás da minha calça está coberta de tinta e o rolo, o sorriso de moleque e olhar divertido de Alex o denunciam. Minha boca faz um “o” perfeito, porque não acredito que ele acabou de pintar minha bunda de azul bebê!
Viro rapidamente e mergulho o rolo que estava em minha mão no balde mais próximo e sigo em direção a Alex, que joga o objeto fora da minha mão com facilidade. Encontro um pincel repousado na bancada à pelo menos cinquenta centímetros e tento pegá-lo, mas ele é duas vezes mais rápido e antes que eu tenha certeza do que aconteceu, seu rosto está mais próximo do que deveria.
Porque repente meu corpo foi lançado na parede e o corpo quente e pesado de Alex já estava colado ao meu. Minha mão direita se ergueu para afastá-lo, mas ele segura meu punho contra a parede. Depois minha mão esquerda repete o movimento e mais uma vez meu punho está preso. Suas mãos servem de algemas para meus pulsos e eu tento me desvencilhar, sem sucesso.
É uma das primeiras vezes que ele está sem óculos escuros tão perto de mim, de modo que eu posso ver sua iris escura percorrendo meu rosto, procurando algo que ele achava estar escondido em algum lugar. Alex tem a linha do maxilar delineada e forte, mas de um jeito delicado, como se tivesse sido feito com precisão. Como se fosse esculpido. E com as imperfeições que ele tinha só tornava tudo mais irritantemente bem feito.
— Alex... — começo sem saber o que dizer.
— Fica... quieta. — Alex pressiona ainda mais seu corpo contra o meu e impede qualquer movimento que eu venha a pensar em fazer.
Eu tinha a respiração quente e descompassada, e mesmo olhando para baixo, pude sentir os olhos dele colados em mim. Em meus lábios. Em meu corpo. O corpo que estava praticamente implorando pelo dele. Ele leva minhas duas mãos, devagarzinho, em volta do seu próprio pescoço e deixa-as pousar sobre seus ombros. As mãos frias percorreram minha cintura de forma agressiva, me fazendo estremecer, mas não ligo.
— Você está tremendo. — Não foi uma pergunta. Permaneço imóvel enquanto o encarava. Ele inclina a cabeça para um lado, sorrindo divertido. — Eu te deixo nervosa?
— Não. — respondo com o máximo de convicção que consigo reunir.
Ele aperta as mãos em minha cintura de um jeito possessivo, traz minha pélvis de encontro a sua e sussurra na minha orelha: — Mentirosa.
Seu rosto se aproxima do meu e sua boca passeia pela linha do meu maxilar, minhas bochechas, volta para a minha orelha e finalmente para a milímetros de minha boca. Alex encara meus lábios com seus próprios entreabertos, sedentos, e os roça contra o meu com delicadeza. Eu avanço para frente, hesitante e frustrada com a falta de contato e ele sorri divertido de minha ansiosidade, antes de finalmente me beijar.
O beijo dele é quase violento, colando nossos lábios com urgência, mas não sinto medo. Abro meus lábios para ele, consentindo e deixando que seu gosto invada minha boca. Sua língua explora a minha e sua boca é tão quente e deliciosa que deixa meus pulmões sem ar. Suas mãos deixam minha cintura e passeiam sobre minha barriga e continuam subindo por dentro da blusa e eu sei que isso não é algo que ele devia fazer em um primeiro beijo, mas meu corpo não liga para nada disso. Ele simplesmente responde às deliciosas sensações elétricas que Alex proporciona com seus dedos.
Deslizo uma de minhas mãos para o cabelo de e bagunço o topete arrumadinho que ele tenta fazer; minha outra mão desce e arranha sua barriga, levemente. Seus lábios continuam provando os meus, mas sua língua está mais calma, mais gentil. Sua mão esquerda desce de minha cintura e vai em direção a minha coxa, apertando-a sem nenhum traço de delicadeza, enquanto sua mão direita faz movimentos circulares na minha barriga nua.
Tento eliminar a distancia inexistente entre nós dois e ele desce as duas mãos para minhas coxas e entrelaça minhas pernas em sua cintura. Alex está sustentando todo o peso de meu corpo e eu engancho o tornozelo atrás de seus joelhos, escorregando em sua calça e estimulando-o, o que faz ele gemer um pouco na minha boca.
Sua boca finalmente se solta da minha, para buscar ar e nós estamos ofegantes, mas ele não tarda em beijar meu pescoço, minha clavícula e morder minha orelha, fazendo meus olhos fecharem com força. Mordo meus lábios e ele me leva, ainda em sua cintura, até a bancada da cozinha.
O ritmo do beijo vai diminuindo até nós pararmos e ele encosta sua testa na minha, ainda de olhos fechados. Suas mãos agora agarram firme minha cintura e meus braços descansam despreocupadamente sobre seus ombros. Não me atrevo a olhar, não sei se quero pensar sobre o que acabou de acontecer, mas meu coração bate tão forte contra minhas costelas que tenho receio que ele possa ouvir.
Minhas pálpebras não me obedecem e se abrem, relevando um Alex divertido, que distribui beijinhos nos meus lábios e puxa levemente o inferior.
— A gente devia — coço a garganta, olho para a bancada e nossa posição — sair daqui.
— Discordo dessa ideia sob vários aspectos. — responde passando os dedos pela minha clavícula e embaixo da alça da blusa e do sutiã. Ele empurra a alça da camisa para o lado e está prestes a fazer o mesmo com a alça do sutiã preto quando eu seguro seu punho.
Empurro seu peito com força e desço do balcão, roçando todo meu corpo no dele.
Alex me segura com convicção pela cintura, impedindo que eu me afaste ainda mais.
— Esse não é um jeito muito convincente de me mandar ir embora.
— É o único que tenho. — digo simplesmente. Olho ao redor. — O seu trabalho aqui acabou.
Nós nos olhamos por meio minuto e ele dá um sorriso carregado de sarcasmo e cretinice e eu não tenho certeza se ele está puto ou aliviado, por eu não querer que ele fique para dormirmos de conchinha ou algo parecido. Sua mão toca meu ombro e eu demoro para perceber que ele está colocando a alça da minha camisa no lugar.
Depois se fasta, coloca os rolos perto do balde, acende um cigarro, sopra a fumaça em minha direção e pára, antes de sair pela porta:
— Não, Mardy Bum, o meu trabalho aqui tá só começando...

Um comentário:

Não precisa estar logado em lugar nenhum para comentar, basta selecionar a opção "NOME/URL" e postar somente com seu nome!


Se você leu o capitulo e gostou, comente para que as autoras atualizem a fic ainda mais rápido! Nos sentimos extremamente impulsionadas a escrever quando recebemos um comentário pertinente. Críticas construtivas, sugestões e elogios são sempre bem vindos! :)