R U Mine 07: Foxy Lady


Repasso nosso dialogo várias vezes em minha cabeça. O que ele pretendia afinal com aquele joguinho? Poderia muito bem ter pagado e levado o disco, mas não o fez. E a curiosidade por saber o motivo me consome. Tamborilei os dedos no balcão lendo e relendo o pedaço de papel rabiscado em uma letra que mais parecia um borrão. Que tipo de feitiço Alex Turner jogou em mim? Eu não estou cogitando ir até lá estou? E a vadia com os cabelos cor de fogo, ela está com ele na cidade não está? Muitas perguntas sem respostas assolam minha mente confusa.
Quando dou por mim já é hora de ir embora, fico no impasse de pegar ou não o disco e o papel em cima do balcão. Acabo colocando-os em minha mochila por precaução. O caminho até em casa é relativamente rápido visto o transito que começava a se instalar nas principais avenidas da cidade.
__ Nossa, ainda bem que você chegou! – Catarina sempre enérgica me bombardeou de informações que não me dei o trabalho de ouvir realmente. Em minha cabeça só havia espaço para Alex e sua atitude incomum. Tomei um banho quente e lavei os cabelos, estava decidida a não ir até lá. Coloquei uma roupa confortável, camiseta e calça de moletom e me sentei na cama com o disco e papel na mão. Talvez eu devesse ir até lá e entregar o LP. Só isso, chegar, entregar e voltar para casa.
Balancei a cabeça desacreditando que eu ia mesmo fazer aquilo. Coloquei o LP, dinheiro para o taxi e o endereço em uma bolsa, saindo do quarto em seguida.
__ Aonde você vai essa hora? – pergunta Catarina aflita pela falta de informação. Não costumo sair durante a noite, principalmente em uma segunda feira.
__ Vou er... Ao supermercado – murmuro sem confiança alguma, Catarina ergue as sobrancelhas ponderando se acreditaria ou não em mim – quer alguma coisa de lá? – pergunto já da porta tentando parecer mais convincente.
__ Traz chocolate? Espera só um pouco que eu vou pegar o dinheiro
__ Não – quase grito – Quer dizer, não se preocupe eu compro depois você me paga. Tchau – bato a porta com tudo e praticamente saio correndo, por sorte logo estou dentro do taxi com as mãos tremendo de ansiedade.

Não sei dizer exatamente a quanto tempo encarava o numero 505, mas tenho consciência da palpitação em meu peito e mãos suando frio enquanto segurava o disco junto ao mesmo. Respirei fundo tentando reunir forças o suficiente para bater na porta, eu estava totalmente acabada com os cabelos desgrenhados, sem maquiagem alguma e calça de moletom em frente à porta do cara mais charmoso do planeta, não podia aparecer em frente a ele naquele estado deplorável, quase humilhante. Dei meia volta convencida de que era a coisa certa a se fazer no momento, dois passos depois sinto a porta atrás de mim ser aberta, fecho os olhos tremendo dos pés a cabeça.
__ Ora ora Clara, já ia tão cedo? – murmurou com aquela característica pontinha de ironia na voz grossa, rouca e deliciosa.
Respiro fundo e me viro com minha melhor cara de blasé estampada no rosto.
__ Achei que não estivesse aí – dou de ombros fingindo estar despreocupada. Alex sorri mostrando todos os dentes brancos e perfeitos, minha armadura de pseudo- confiança junto com minha vergonha na cara escorrem pelo ralo neste momento e eu sorrio de volta.
Fico encarando seu olhar penetrante e enigmático até que me lembro do real propósito daquele encontro e estendo a relíquia em sua direção com certo receio.
__ Aqui seu disco- murmuro com um aperto desconfortável em meu coração, muito provavelmente eu não teria um daqueles na mão novamente tão cedo.

Alex não se mexe, apenas me encara encostado na soleira da porta. Dou um passo em sua direção deixando o receio de lado, afinal o disco era dele não é mesmo?
__ Entra – Por incrível que pareça ele me dá as costas voltando para dentro do quarto de hotel. Fico parada sem saber o que fazer esperando seu retorno e um sorriso em tom de piada em seus lábios, mas nada disso acontece. Ele entrou mesmo, a duvida entre entrar atrás dele e voltar pra casa me corroe. Confesso que a segunda opção me agradou muito mais e então ando devagar até a porta do quarto. O cômodo é grande, espaçoso e muito elegante. Pintado em cores pastéis e móveis de madeira deixando a atmosfera bem sofisticada.
__ Pode ficar bem a vontade – murmura do outro lado da sala, escorado no balcão que dividia a enorme sala da minúscula cozinha. Eu coro em vergonha e miro o chão na tentativa de me sentir menos vulnerável àquele homem. Ele ri da minha atitude, como se estivesse realmente se divertindo as custas da minha fraqueza – Sente-se – seu timbre levemente autoritário me faz obedecê-lo no mesmo instante, mesmo achando aquilo ridículo.
__ Então – murmuro procurando algum assunto, o silencio me agoniava de tal forma que permanecer nele seria um sacrifício – Eu trouxe o seu disco..
__ Hm, era essa a intensão não é mesmo? – ele murmura se desencostando do balcão e rodeando-o pra chegar até a cozinha – Tá afim de uma cerveja? Ah não. Esqueci, você é menor de idade não é mesmo? – o cinismo é tão forte que chega a cortar-me. O idiota havia lembrado da minha fala no bar após o termino do festival e a estava usando para me ridicularizar. Alex arqueou uma das sobrancelhas esperando por uma resposta de minha parte, eu apenas o encarei de volta pensando em alguma maneira de ridicularizá-lo também, algo que não deu certo, pois logo meu rosto estava corado de vergonha e antes que ela se tornasse insuportável levantei a cabeça, ajeitando a postura e murmurei com a maior confiança que pude reunir:
__ Sabe de uma coisa? Eu vou aceitar... Uma vodca – posso ver a intriga que gerei em sua mente sendo denunciada por seus olhos negros. Alex parou por alguns segundos refletindo sobre minha resposta, mas logo sorriu como se tivesse sido realmente pego de surpresa e abriu a geladeira tirando de lá uma garrafa de Smirnoff. Engoli em seco pensando que meu ato resultaria em algo mais vexaminoso ainda, eu nunca havia tomado vodca antes.
Alex veio até mim com dois copos em uma mão e a garrafa de bebida na outra, sentou-se ao meu lado e me deu um dos copos de dose,  enchendo-o até a borda. Sorri amarelo em resposta.
__ Você curte? – murmurou apontando para o LP em meu colo e levou o copo de vodca até a boca.
__ Sim, ele foi o melhor guitarrista do mundo
__ É, ele foi – murmura virando todo o liquido em sua boca e depois sorri. Direciona o olhar para meu copo ainda intocado e gesticula com a cabeça como se dissesse “Ora você não é grandinha o bastante? Vá em frente”
Levo o copo até a boca tomando um grande gole como se não fosse a primeira vez, o líquido desce queimando em minha garganta e eu tento custosamente não cuspir o que ainda resta em minha boca. Engulo o restante e sorrio como se tudo estivesse na mais perfeita maravilha.
__ Vem, vamos ouvir – Alex murmura pegando o LP do meu colo, o contato de sua mão gélida em minha perna mesmo que por cima da calça me faz enrijecer.
Ele coloca o disco no tocador antigo, mas muito bem conservado no canto da sala e volta para seu lugar ao meu lado. Ficamos em silêncio por alguns segundos até que o primeiro acorde de guitarra de “Foxy Lady” ecoa pela sala. A sonoridade perfeita que só um verdadeiro LP pode proporcionar, não é a mesma coisa quando  se ouve pelo Youtube, não mesmo. Apoio-me no encosto do sofá e fecho os olhos absorvendo os acordes perfeitos. Alex faz o mesmo, estamos à centímetros de distância, nossos braços quase encostados e meu coração se acelerando a cada minutos que passa. Ele se aproxima, nossos corpos agora colados e seus lábios em meu ouvido me deixando loucamente arrepiada. A letra da musica começa e ele a acompanha, sussurrando em meu ouvido como se a letra fosse feita diretamente pra mim.
Foxy, Foxy
You know you are a cute little heart breaker
Foxy yeah,
And you know you are a sweet little lover maker
Foxy


I wanna take you home, yeah

I won't do you no harm

You've got to be all mine, all mine

ooh Foxy Lady

Foxy, Foxy



Now-a I see you come down on the scene

oh Foxy

You make me wanna get up and-a scream

Foxy, oh baby listen now

I've made up my mind,

I'm tired of wasting all my precious time
You've got to be all mine, all mine



ooh, Foxy Lady

Ooh, Foxy Lady, yeah yeah

You look so good, Foxy

oh yeah Foxy

yeah, give us some, Foxy

Foxy Foxy
Foxy Foxy
Foxy Foxy

Algumas partes da musica permeiam minha mente.

Gata, você sabe que é uma destruidorazinha de corações...
Quero te levar pra casa, não vou fazer nenhum mal a você...
Oh baby ouça agora estou cansado de desperdiçar meu tempo precioso...
Você tem que ser minha, tem que ser toda minha...

Você tem que ser minha? Eu já sou sua, a hora que quiser – penso quase surtando por dentro. Abro os olhos. Alex com os olhos negros cravados em mim, as pupilas dilatadas de desejo. Encaro-o de volta, deixando transparecer o quanto estava entregue, nesse momento ele sabe que pode fazer o que quiser comigo.
Se aproxima ainda mais, percebe minha respiração desregulada e sorri divertindo-se com meu nervosismo, logo após solta um suspiro. O hálito quente numa mistura de vodca e cigarro. Umedeço os lábios esperando pelo beijo que sei que está por vir e fecho os olhos. Os lábios de Alex roçam minha bochecha sensualmente, estou tão entregue que não fico com vergonha, apenas anseio por mais. Um rastro de fogo se espalha por onde seus lábios me tocam. Quando finalmente chega em meus lábios solta outro suspiro e aos poucos invade minha boca com a sua. Os lábios quentes e convidativos, o gosto de nicotina que vindo dele me parece perfeito. Entrelaço meus braços em seu pescoço e aprofundo o beijo, nossas línguas provando-se, conhecendo-se em meio ao caos. Uma de suas mãos segura meu pescoço enquanto a outra percorre a lateral do meu corpo com maestria. Alex torna o beijo mais urgente enquanto leva sua mão para baixo de minha blusa, o contato entre minha pele quente e sua mão gélida é um choque pra mim. Um choque delicioso, uma onda de arrepio percorre todo o meu corpo, nunca havia me sentido assim em um beijo antes. A cena é perfeita, o som de Jimi ao fundo só contribui para tal.
Aos poucos o beijo vai se tornando mais calmo, porém isso não o deixa menos delicioso. Alex força seu corpo contra o meu, fazendo-me deitar no sofá. Sua mão ainda passeia por baixo de minha blusa, acariciando minha barriga e por vezes apertando minha cintura. Seus lábios agora em meu pescoço, beijando-o e por vezes chupando-o deliciosamente. Isso com certeza me deixará marcas, mas não estou preocupada no momento. Me concentro apenas em sentir a deliciosa sensação de estar nos braços de Alex Turner, sendo abraçada, beijada e tocada por ele.
Meus dedos se enterram em seus cabelos, bagunçando-os enquanto sinto seus lábios em minha clavícula. Alex lentamente percorre o caminho de volta e toma meus lábios mais uma vez, só que mais calmo como se estivesse desfrutando e tirando o máximo possível de mim. Retribuo da mesma maneira apertando-o ainda mais, pensando no momento que terei de soltá-lo.
Ainda nos beijávamos quando meu celular tocou nos interrompendo. Faço menção em levantar, mas Alex me mantem presa em baixo dele me beijando com mais urgência. Não reclamo é claro, mas o toque irritante do celular não deixava eu me concentrar no que realmente importava. Empurro-o com os braços tentando afastá-lo e desta vez ele se levanta saindo de cima de mim. E levanto custosamente querendo matar quem quer que fosse.
__ Alô – digo seca, morrendo de raiva por ter de sair dos braços de Alex.
__ Ana você vai morar no supermercado, é? Já são quase 21:30 menina. Além do mais quero comer chocolate antes de dormir. – fecho os olhos pensando de que modo matá-la sem deixar qualquer tipo de rastro. Respiro fundo e conto até três antes de abrir a boca.
__ Ah é que está uma fila enorme aqui – murmuro a primeira coisa que me vem à cabeça.
__ Você quer que eu vá até aí? Te dar uma ajudinha?
__ Não! Eu já estou voltando, sou a próxima a passar no caixa.
__ Ok, vou te esperar então. Tchau
__ Tchau – repondo e desligo.
Alex está sentado em minha frente colocando o restante da vodca em meu copo goela abaixo.
__ Tenho de ir – murmuro procurando minha bolsa que devia estar jogada em algum canto da sala.
__ Tá procurando isso aqui? – ele diz levantando a bolsa no ar – Vem pegar – murmura sexy até a morte com um sorriso maroto nos lábios. Vou até ele e quando me aproximo para pegá-la da sua mão ele me puxa fazendo-me cair em seu colo. Não tenho tempo nem mesmo pra pensar em ficar brava, pois meus lábios são tomados pelos seus e mais uma vez me rendo.
__ Tchau Alex – murmuro quando seus lábios saem de minha boca e percorrem meu pescoço tentando esconder a decepção de não vê-lo nunca mais, agora que tinha conseguido o que queria as coincidências de encontrá-lo não seriam mais tão frequentes. Ele grunhiu algo em meu pescoço, mas não pude entender.
__ Até mais Clara – murmura olhando pra mim. Olho no olho.
Me levanto de seu colo ainda meio cambaleante, me sinto estranha sem o contato de sua pele na minha. Pego a bolsa de sua mão e vou em direção à porta sem olhar pra trás. Seria melhor assim, ter comigo a lembrança de seu olhar e não de vê-lo sentado enquanto vou embora.
Chego em casa por volta das  22h, mas antes passo no mercado e compro três barras de chocolate. Duas para Cata, para mantê-la ocupada comendo ao invés de ouvir suas intermináveis perguntas.
Vou para cama cedo, porém mal consigo dormir. Passo e repasso na memória os minutos que passei naquele quarto de hotel. Era como se eu o ouvisse sussurrar Foxy Lady novamente.

5 comentários:

  1. Esse capitulo é o meu preferido nhac. ♥

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  2. Estou morrendo!Toda vez que ele fala 'Clara' eu acho que ele está falando comigo pq meu nome é Maria Clara...Ah! Eu quero ter um Alex para mim !!!!!

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  3. Estou malucaaaaaaa! Volta, Nana... Esse capítulo me deixa no chão e apesar de lido 17339931 vezes é como se fosse sempre a primeira.


    Steph

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  4. Comecei a ler faz pouco tempo e já posso morrer de amores pq meu nome tb é Ana Clara?! Hahahah <3

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