Now then, Mardy Bum O4: Said she wasn't going but she went still


No lado contrario do bilhete, havia o numero do quarto deles. Encarei o papel levemente amassado e o trecho da musica que estava nela; não parecia algo que Alex faria. Mas, de novo, eu me perguntei se havia algo que ele fizesse que fosse previsível. Eu quase podia ver o sorriso presunçoso, achando que eu tinha dado um significado maior àquele bilhete, do que realmente havia nele.
Não sabia exatamente o que ele queria que eu fizesse, tampouco. Eu devia simplesmente aparecer na porta deles e dizer “e aí”? Não fazia sentido.
Já passava de 13:00 da tarde e Jesse já estava de pé há um tempo. Caminhei pelo bar, descalça, procurando pelo meu currículo. Eu tinha deixado no balcão ontem a noite, mas depois das cinco ou seis tequilas, a noite se tornou embaçada e disforme.
— Se está procurando pelo papel que estava aí, o seu amiguinho levou.
— Amiguinho? — cocei a cabeça confusa. —Pablo?
— Não, o não-gay. — uma ruga de expressão surgiu na minha testa e ele continua: — Magro, cabelo bagunçado, jeito de babaca pretensioso...
— Oh. Alex.
— É. Alex. — resmungou.
— Não gosta dele? — perguntei interessada, sentando na mesa do balcão.
— Eu só... Não gostei de como ele carregou você. — fiquei imóvel, tendo flashs da noite passada. — Tão... Despreocupado. Como se isso acontecesse o tempo todo, como se estivesse entediado. E depois foi embora, levando aquele papel, como se nada tivesse acontecido.
Abaixei os olhos. Não foi assim que tinha parecido, pelo meu ponto de vista, mas eu estava bêbada, então não podia confiar.
— Bom, aquele papel eram minhas referencias. Para um novo emprego. — Jesse me olhou arregalando os olhos. — Oh, não, não... Eu não estou me demitindo. Só pensei em um emprego de outro turno, sabe? Já que não há nada para fazer no resto do dia.
Ele concordou com a cabeça e disse que estava saindo. Pedi uma blusa de botões emprestada para ele e peguei um short jeans reserva. A blusa é um pouco grande, mas enrolo nas mangas e fica um visual legal. Depois de tomar banho, decido ir até o quarto dos meninos, para pegar meu currículo.
Aperto o botão do andar que estava escrito no bilhete e conforme os números vão subindo no painel do elevador, começo a mudar de ideia.
Quarto andar. Talvez ele nem esteja lá.
Quinto andar. Talvez seja melhor se ele não estiver.
Quinto andar. Oh, Deus, e se ele estiver?
Sexto andar. E se um dos outros garotos atender?
Sétimo andar. Onde é que aperta pra parar?!
Oitavo andar. Ele provavelmente não espera que eu vá lá, realmente.
Nono andar. Cadê o botão de parar?!
Décimo andar. Porraporraporraporraporra.
Décimo primeiro andar. Ah, foda-se.
A porta do elevador se abre com um estalo baixinho e eu viro para me olhar no espelho, averiguar se está tudo no lugar, mas elas se fecham com a mesma rapidez. Suspiro alto e aperto o bilhete dentro do bolso, só por precaução. Bato duas vezes na porta, tentando não fazer muito alarde e depois de meio minuto, pés descalços, calça jeans e uma barriga definida abrem a porta.
Mas não é Alex que está encostado no batente, com ar cansado e um sorriso tímido, é Jamie Cook, o outro guitarrista.
— E aíííí. — ele diz cruzando os braços no peito. A voz dele é mais infantil, esganiçada. Ele tem a aparência, o talento para a guitarra, mas falta o alcance vocal de um certo britânico.
Ele lembra de mim, da para ver nos olhos e no pequeno sorriso. E o jeito que me olha é estranhamente desconcertante. Qual é a dos caras dessa banda, meu Deus?
— O Alex tá ai? — pergunto baixinho.
— Chuveiro — Jamie diz simplesmente e vira o corpo, deixando alguns centímetros para que eu passe.
Entro com as mãos no bolso e me deparo com dois pares de olhos me encarando com interesse. Nick e Matt levantam o rosto dos seus lugares no sofá e uma garota meio desacordada está deitada no peito do baterista.
Me encosto desajeitadamente na mesa da pequena sala do quarto do hotel e olho para o chão, para que ninguém acha que eu esteja bisbilhotando. Já é constrangedor demais eu ter vindo, para começo de conversa, então vou tentar fazer minha passagem a mais discreta possível.
— Ei, Turner — Matt grita, empurra a porta do banheiro e coloca a cabeça lá dentro — Você tem visita. — eles conversam alguma coisa e Matt volta com um meio sorriso. — Ele mandou você entrar.
— Não, não, não... Tô bem aqui. Eu espero.
— Entra, Mardy Bum. Estou decente. — Alex grita lá de dentro. Congelo no meu lugar, com todo mundo da sala me olhando, esperando. Matt arqueia uma sobrancelha em desafio; suspiro e entro no banheiro, um passo atrás do outro.
— Mardy Bum? — pergunto hesitante. Mas ele está, de fato, parcialmente decente, com uma toalha branca enrolada na cintura. Não consigo decidir se estou feliz ou decepcionada.
— Quer dizer resmungona. É uma gíria inglesa. De Sheffield, para ser mais especifico. — me encosto no batente, dando uma boa olhada no seu corpo pelo espelho — Falando em dialetos... Eu pesquisei “eo soul babaca” no tradutor. HÁ-HÁ.
Não consigo evitar um sorriso.
— Ah, qual é, foi uma piada. É para você rir. Você sabe sorrir, Alex? — repito a frase que ele me disse noite passada. Ele sorri, meio relutante. — Isso... Lindo.
— “Lindah.” — Alex diz numa imitação de português. — Isso quer dizer linda, certo?
— Certo.
Ele vira para o espelho, pega desodorante e eu dou uma escaneada no banheiro. Encontro o sabonete cheiroso que senti na pele dele, ao lado da banheira. É verde e tem pequenos pontinhos brancos. Faço uma nota mental para procurar por ele no supermercado, depois. Gosto daquele cheiro.
Quando volto o rosto para frente, percebo que Alex deu dois passos para mais perto de mim, me olhando como se houvesse solucionado uma equação difícil.
Aí ele sacode a cabeça, como um filhote, fazendo vários respingos de água cair sobre mim.
— Arghh. Você tá me deixando molhada! — resmungo me afastando.
Ele me olha de cima a baixo, focalizando nos shorts jeans – ou no que está por baixo - e depois sorri torto.
— Essa é a ideia.
Porque tudo tem que ter conotação sexual, assim que sai daquela boca? Eu suspiro e olho pro teto, reprimindo o desejo de rir e socar a cabeça do Turner no azulejo do banheiro.
Ele sai do banheiro fazendo com que eu me encolha na porta, para dar espaço e vai em direção ao seu quarto. Depois para e olha para trás com visível irritação e eu percebo que deveria estar seguindo ele. Oh, ele quer me levar para o quarto? Beleza, então.
— Então... Sobre suas referencias — ele começa casualmente sentando na cama, a toalha ainda enrolada na cintura, segurando meu currículo. — Eu gostei.
Arqueio uma sobrancelha e dou de ombros. — Bom pra você. Mas eu preciso desse papel.
— Não precisa não. — diz bocejando.
— É claro que preciso. — discorda com a cabeça — Porque não precisaria?
— Porque o Arctic Monkeys está contratando você. Ou eu estou contratando você. Foda-se, você tá contratada.
Permaneço seria. — Tá brincando, né?
— Nope.
— Então quer que eu seja sua assistente?
— Yep.
— Vou fazer o que, exatamente? Decidir com qual jaqueta de couro você fica melhor?
— Nope.
— Decidir com quem você vai dormir, na próxima noite?
— Yep.
Nós dois sustentamos a mirada e eu não tenho certeza se ele está zoando comigo ou qualquer outra coisa. As conversas na sala tangente ao quarto ficam mais baixas e eu tenho a paranoia de que estão todos concentrados no que tá rolando no quarto em que estamos, meio que esperando ouvir gemidos ou coisa do tipo.
Alex quebra o contato visual ao levantar e procurar roupas limpas numa mala.
— Você vai fazer coisas de assistente. Levar roupas para a lavanderia, trazer o café da manhã, retornar ligações de compromissos, agendar entrevistas. Coisas de assistente. — repetiu dando de ombros.
Hesito, mordendo o lábio e dou uma olhada no quarto. É um quarto de homem, comum, com roupas espalhadas e casacos pendurados em cada canto. Algumas latas de cerveja, uma garrafa de tequila e um caderno de notas, meio amassado. E é claro, um cinzeiro bem cheio.
Alex segue meu olhar e puxa um cigarro do criado mudo, acendendo em menos de meio minuto.
— Escuta: nós vamos ficar em San Diego por algumas semanas; três, provavelmente. É tempo de descansar, conhecer novos lugares. Nick e Matt estão com algum projeto de bar ou alguma coisa do tipo e pretendem passar a maior parte do dia fora. Então o Cook e eu vamos precisar de alguma ajuda. Aqui — ele pega uma caneta e escreve uns números no canto inferior do papel. — Acho que isso vai dar.
— Não é sobre o dinheiro, Turner. — digo sem ver o que ele escreveu —Você mal me conhece.
— Você teme por mim? Oh, quanta generosidade.
— Só estou dizendo que existem pessoas mais qualificadas para o serviço. Posso indicar uma ou duas garotas que fazem esse tipo de trabalho e...
— Eu quero você. — ele diz simplesmente. Eu sustento o olhar e cruzo os braços no peito. — Não desse jeito, sua pervertida. Mas gosto da maneira como você pensa.
— Não daria certo... — começo a dizer, sem saber exatamente o porquê.
— Qual é! Não há nada para dar certo ou não. É um emprego, Olivia. Um emprego que você estava procurando. Porque tem que ser tão orgulhosa? Quer saber? Não aceite, aceite... Eu não ligo.
Ele joga o papel na cama, fazendo-o pousar desajeitadamente quase em meu colo. Alex se levanta e começa a se vestir, resignado. Rolo os olhos e pego o papel, me preparando para dobrá-lo e colocar no bolso, mas minha visão é sugada para o canto da página onde um numero significativamente grande está escrito num rabisco torto.
— Wow. — murmuro pra mim mesma. É mais dinheiro do que ganho no Hard Rock. É mais que a parte de Pablo, no aluguel, o que tornaria tudo mais fácil quando ele estiver desempregado. É duas vezes mais do que preciso para reformar o encanamento da cozinha. — Eu aceito.
Minha boca é mais rápida que meu lado racional e eu só percebo que disse em voz alta quando ele se vira, colocando a camisa e bagunçando o cabelo – no seu próprio jeito de arrumá-lo.
— Pensei que não fosse sobre o dinheiro.
— Oh, bem... Nós vivemos num mundo capitalista.
— Ótimo. — Alex diz, cruzando os braços no peito e se encostando à parede.
— Vou precisar usar algum uniforme ou algo assim? — ele nega com a cabeça. — Quando eu começo?
— Amanhã à noite. As 20:00. Nós vamos sair.

***

Depois de passar a noite detalhando toda a noite de sábado – até onde a tequila me permitia, pelo menos -, tive uma boa noite de sono. Durou mais do que deveria, claro, mas nada diferente da minha rotina nos últimos meses. Acordar depois da hora do almoço era algo recorrente desde que me mudara para San Diego, e não tinha nada realmente importante para fazer, nos dias normais da semana.
Como nos domingos normais, eu e Pablo só saímos do quarto depois das 18:00. Nós tínhamos uma regra de domingos separados: domingos para arrumar o quarto e lavar o banheiro. Era engraçado; eu passava a semana inteira jogando roupas em cima de mesas e cadeiras e passava o domingo simplesmente jogando dentro do cesto de roupa suja ou do guarda roupa. E lavar o banheiro consistia em tomar banho com a porta do box aberta. Dois meses aqui e ele nunca percebeu, inacreditável.
— Querida, nós precisamos comprar novas camisolas para você. — Pablo diz, com uma caneca na mão e um olhar de reprovação no rosto.
Puxo a camisa puída para baixo, cobrindo a calcinha e dando um leve sorriso para a estampa. Oasis sempre foi uma das minhas bandas favoritas e eu não podia deixar de levar essa camisa só porque era dois números maiores que eu! Não é exatamente uma boa lingerie para quando você tem companhia, mas eu nunca tinha levado nenhum cara pro apartamento mesmo, então não fazia diferença.
— Mas tem cheiro de coisa velha e amaciante. — digo me servindo de suco, relembrando Pablo de um dos meus cheiros favoritos.
— Esse é o problema! Quando começa a cheirar a coisa velha, você joga fora.
Mostro a língua pra ele, mostrando o ápice da minha maturidade.
— Então... Hoje é a grande noite...
— Sutil. — reviro os olhos. — É só uma saída, Pablo. Não vou fazer nada além do que ele pedir.
Pablo me lança um olhar malicioso e lambe a borda da caneca, me agraciando com uma visão a qual eu não fazia questão de ter.
— Nem tudo que ele pedir, obviamente. E eu não acho que Alex seja do tipo de cara que pede. Se ele quer, ele simplesmente... pega.
Ele dá uma gargalhada. — Oh, querida, você só está se complicando. Eu já posso imaginar as cenas sórdidas; o chefe e a secretária safada, sozinhos numa sala de escritório e...
Jogo uma almofada, fazendo ele se calar e um pouco de café cair na manta do sofá. Pablo resmunga irritado e eu percebo que estou encrencada.
Sou salva pelo gongo quando o interfone toca e Pablo atende, falando por alguns segundos com uma voz que não consigo ouvir. Em seguida, vai até a pia, trazendo uma flanela úmida pra mim e um baldinho. Então percebe que está atrasado e se apressa para trocar de blusa e pegar uma bolsa. (Minha, aliás.) Sendo o maníaco por limpeza que é, sei que está bravo e faço uma nota mental para comprar chocolates e morangos, para quando ele voltar.
— A dona Fátima, tá subindo, pra ver a situação da pia. Enquanto isso, limpa isso aí. — é tudo que ele diz, antes de sair do apartamento, deixando a porta entreaberta.
A Dona Fátima é, por coincidência, uma velhinha cuja filha mora no Brasil, a Bia. O sobrenome vem de lá, mas ela mora aqui desde menina e pelo costume que temos lá, passei a chamá-la de Dona Fátima. Ela é uma velhinho legal e sempre trás as correspondências até a porta do apartamento ou um pedaço de bolo, porque diz que eu faço ela lembrar da filha.
É ela e o marido quem decidem se os apartamentos precisam de algum conserto na encanação ou iluminação e sendo mão de vaca que é, sempre quer passar fita isolante em tudo.
Me inclino pra frente, não me importando com a parte de baixo desprotegida e começo a esfregar a mancha no sofá. Puxo a camisa para baixo, mas ela continua subindo, não dando muito espaço para a imaginação, mas se eu não esfregar o quanto antes, o sofá vai estar manchado e eu, ferrada. Não é nada que a Dona Fátima não tenha visto, afinal.
Ouço passos ficando mais próximos e uma leve batida no batente.
— Pode entrar, Dona Fátima. — digo sem me virar. Se essa mancha não sair, Pablo vai me fazer comprar outro sofá.
— Eu sei que disse que não precisava de uniforme, mas isso é casual demais, até para mim. Não que eu esteja reclamando, claro.
Viro rapidamente para encontrar um Alex com cabeça inclinada quase 180º graus para a direita e os olhos fincados na minha calcinha.
— Tava tentando olhar a minha bunda?! — pergunto a voz um oitavo mais alto.
Ele ri debochado e coça o queixo.
— Eu não “tentei” nada.
— O que tá fazendo aqui? — pergunto irritada, segurando as pontas da camisa pra baixo.
Alex dá de ombros acendendo um cigarro.
Eu quase podia ouvir a risada maléfica de Pablo, deixando Alex Turner me ver descalça, cabelo bagunçado e usando uma camisa puída dois números maiores que eu, praticamente seminua.
Eu vou matar aquela bicha.
— Quem é esse? — pergunta fazendo uma careta, o cigarro pendendo num canto da boca.
O gato cinza listrado passa devagar pelo Turner, com passos calculados e um jeito malando que só os felinos tem. Ele é gordo, mas pula pra perto de mim com muita facilidade, se encostando entre minhas pernas.
— É o Snoopy. — sento no braço do sofá.
— Snoopy? — uma ruga de expressão surge na sua testa — Não devia ser Garfield?
— O que tá fazendo aqui? — repito a pergunta, mais impaciente dessa vez.
— O seu turno começa hoje, lembra? Tome um banho e se vista. Nós vamos sair. — Abro a boca para protestar, mas Alex leva uma mão na frente dos meus lábios e diz: — Seja uma boa menina e não reclame, Mardy Bum, ou eu serei obrigado a calar sua boca, mas sem usar as mãos.

2 comentários:

  1. "jeito de babaca pretensioso"... "ah, o alex." ]~Ç]A~SÇD~ÇADFAÇSLDF

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  2. Vem cá me calar sem as mãos Alex e_e
    Adoro o Pablo, ter um amigo como ele seria muito divertido.

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