R U Mine 02: Reencontros Esperados/Inesperados



Uma semana após a loucura que foi trabalhar no festival minha vida parecia ter voltado ao ritmo normal, não sem antes hibernar por dois dias seguidos. Catarina ainda estava eufórica por ter conhecido e falado com seu grande ídolo e não perdia a oportunidade de gritar para todos, mesmo que eles não queiram saber. Ressaltando o quanto ele foi atencioso e gentil. Hoje especialmente ela estava um pouco pior.
__ Aí é hoje Ana. É hoje! - dava pulinhos pela sala abraçando um urso que apelidara carinhosamente de Alex - Nem acredito que eu consegui!
Cata havia se inscrito em uma promoção de uma radio que estava sorteando um par de ingressos por dia durante uma semana para o mega show que o Arctic Monkeys faria na cidade. Ela ganhou e não preciso comentar os berros que tive de ouvir. Não posso dizer que não fiquei feliz, só de cogitar a ideia de ouvi-lo cantar ao vivo mais uma vez, meu corpo se arrepia. A imagem de seus olhos negros sobre os meus e aquele sorriso contido e torto me serpenteavam a todo o momento, todos os dias sem falha. Não sei se vê-lo de novo é uma boa ideia.
Como os convites eram da pista Premium, pudemos chegar bem tarde, apenas uns 20 minutos antes do show começar. A casa de shows estava completamente lotada, não havia espaço para mais um ser humano sequer, o publico era bastante variado, pois a banda atinge à vários gêneros, idades e ambos os sexos. Catarina e eu conversamos com algumas pessoas próximas à nós até que as luzes se apagaram.
Os integrantes entraram, como de costume o baterista tomou o último gole da cerveja e se sentou em frente à bateria. Alex e os outros se posicionaram rapidamente com seus instrumentos e a primeira música começou, não era a mesma do festival, mas igualmente boa. O nome desta é My Propeller e sim eu passei a semana ouvindo os discos, o fato de trabalhar em uma livraria ajudou muito, mas o principal fator foi ter os discos no quarto ao lado. 
No show não tirei os olhos dele um segundo sequer. Ele estava tão perto que Catarina esticava o braço ao máximo na ilusão de tocá-lo. Eu permaneci parada, apenas absorvendo a energia da musica e gravando os traços perfeitos de Alex na memória.
O show foi simplesmente perfeito, melhor que o festival e eu tinha a louca impressão de que ele cantava olhando pra mim, isso já estava passando dos limites talvez eu tenha que marcar uma consulta ao psicólogo. No final, quando o show havia acabado um homem negro e musculoso de óculos e blusa preta com um crachá de identificação ao redor do pescoço nos abordou.
__ As senhoritas não desejam ir até o camarim? A banda costuma atender alguns fãs após o show.
Arqueei a sobrancelha achando aquilo muito estranho, afinal eles não pareciam ser o tipo de banda que recebe fãs após o show e muito menos manda chamá-los quando estão prestes a ir embora.
__ Não brinca! - minha amiga gritou eufórica - Vamos lá o que estamos esperando?
Pensei em exteriorizar minhas desconfianças, mas desisti com ela não adiantaria de nada mesmo.
Seguimos por um corredor atrás do palco até uma portinha que era o camarim. Não havia uma fila de garotas esperando por autógrafos e fotos, só havia nós duas lá. E isso me intrigou, talvez fosse um pretexto para um sequestro – pensei. Mas assim que a porta foi aberta e avistei aqueles homens conversando despreocupadamente, o pensamento foi descartado. E mesmo se fosse um sequestro, eu não teria nenhum problema com aquilo. Catarina foi muito rápida, entrou no recinto já pedindo fotos, autógrafos e etc. Eu entrei logo após, me mantive um pouco mais afastada distribuindo sorrisos tímidos, porém simpáticos.
Alex me encarava violentamente com aquele mesmo sorriso torto nos lábios, mas hoje havia algo de diferente nele, um ar diabólico talvez. Não tive tempo para filosofar, pois logo depois uma mulher passou ao meu lado, quase correndo e foi na direção dele, atirando-se em seu colo. Um beijo apaixonado foi trocado e logo depois sorrisos decoraram seus rostos. Tive vontade de chorar, eu sei que é uma bobagem sem tamanho, mas o ódio e inveja que senti daquela mulher, alta, linda e de cabelos incrivelmente ruivos foi imensa. Forcei-me a olhar para o outro lado esperando a cena melosa terminar e os ataques da Cata pararem.
__ Essa é a minha amiga Ana Clara, ela é um pouco tímida não liguem – a voz dela me chamou atenção e olhei instintivamente pra ela, tenho certeza que minha cara não era das melhores.
__ Olá – o baterista que adora cerveja acenou com a mão e os outros fizeram o mesmo. Acenei de volta sem esboçar sorriso, Catarina já era o suficiente.
__ Então? Vamos tirar as fotos logo? –perguntei querendo me livrar logo daquela situação, a ruiva ainda estava pendurada no pescoço do Alex e aquilo me irritava profundamente.
__ Sim claro – eles começaram a se mexer, Alex se levantou do sofá vindo até mim, logo os outros fizeram o mesmo, assim como Catarina.
Alex passou seu braço ao redor do meu ombro e foi o suficiente para que eu perdesse completamente a linha do raciocínio. Que homem é esse? Pensei ao senti-lo curvar um pouco o corpo, ficando ainda mais colado à mim. O cheiro de tabaco era menos gritante dessa vez, mas mesmo assim eu pude senti-lo perfeitamente. Um dos seguranças tirou a foto e quase fui cega pelo flash da câmera.
__ Bom... – murmurei querendo engatar uma despedida – Temos de ir agora, amanhã acordamos cedo.
__ É verdade – Catarina concordou contrariada – Temos de ir, mas foi ótimo. Obrigada por disponibilizarem esse tempo.
__ Não há de quê – Alex sibilou sorrindo e foi ao encontro da ruiva que tinha uma expressão de tédio.
Mesmo depois de ter saído do camarim, me sentia em estado de choque, sentia os efeitos dele em minha pele. Forcei-me a repelir os pensamentos inapropriados para com aquele ser inatingível, porém os comentários de Catarina de sobre como todos estavam lindos e perfeitos não ajudaram muito.
Ao chegarmos em casa, tratei de tomar um banho e esquecer tudo o que havia acontecido, eles voltariam para Londres e me deixariam em paz.
No outro dia acordei bem cedo para ir à escola, fui até a cozinha e liguei a cafeteira para que quando voltasse o café já estivesse pronto. Arrumei-me, o dia estava frio então limitei-me ao velho all star, jeans, camiseta e um casaco por cima.
__ Bom dia Ana – Catarina disse alegremente enquanto tirava o café da cafeteira e colocava à mesa.
__ Bom dia – murmurei um pouco lerda, por conta do sono – Você está animadinha hoje hein...
__ E tem como não estar? Eu vi o Alex. Duas vezes!! – completou fazendo um dois com os dedos, eu apenas concordei sem vontade e me juntei a ela na mesa, tomamos café rapidamente já que como sempre estávamos atrasadas.
***
__ Atrasadinha como sempre – ouvi um murmúrio ao meu lado enquanto retirava meus livros do armário, sorri ao perceber que era Daniel. Um grande amigo.
__ Oi Dan – fechei o armário e sorri para aquelas orbes azuis e perfeitas bem em minha frente.
__ Nossa o que aconteceu com você? Está com cara de quem não dormiu nada.
__ É minha noite não foi muito boa mesmo, quase não dormi.
__ O que você andou fazendo hein? – sua voz desconfiada e sua sobrancelha levantada me fizeram sorrir antes de respondê-lo
__ Tive de aturar os chiliques da Catarina ontem no show dos Monkeys.
__Vixê ela pro lado desses caras...
__ Pois é – murmurei enquanto caminhávamos lado a lado até a sala.
A manhã cinzenta e fria se arrastou lentamente. O horário do almoço chegou para meu deleite Daniel, Catarina e eu almoçamos juntos como todos os dias no refeitório do Colégio. Catarina não parava de falar sobre o show, fato que arrancou algumas caras e bocas de Daniel que não tinha tanta paciência.
__ Aí seu chato! – ela murmurou ao perceber as caretas que ele fazia.
__ Chato eu? Você não parou de falar desses caras desde que chegou! Chega né?
__ Você está com inveja isso sim
__ Chega vocês dois – murmurei cansada daquela ladainha, os dois sempre arrumavam uma desculpa para brigarem.
__ Ele que começou – ela gritou indignada
__ Eu tenho que trabalhar – me levantei da mesa e peguei minha mochila completamente irritada – Te vejo a noite Catarina, até amanhã Dan.
__ Até – os dois murmuraram juntos e logo depois se olharam, rindo do acontecido.
Meu trabalho era simples. A única funcionária de uma pequena “livraria”, como Sr. Smith insistia em chamar aquilo que você conhece popularmente como sebo.
O lugar era pequeno e aconchegante, situado em uma avenida esmagado por dois enormes prédios comerciais; de um lado uma grande gravadora, do outro uma empresa de contabilidade, ou seja, o local é praticamente invisível. Quando eventualmente, um cliente entra costuma ser alguém bastante interessante que aprecia a leitura ou coleciona discos antigos. Muitas das vezes alguns músicos da gravadora ao lado passam por aqui, porém na maioria das vezes não encontram nada do seu interesse.
Apesar das crises de espirro provocadas pelo pó e cheiro de mofo característicos dos livros velhos nas antigas e maltratadas prateleiras do fundo, eu gosto de trabalhar aqui. É silencioso, um lugar em que posso usufruir dos diversos livros disponíveis e por vezes adiantar alguma lição do colégio, mas na maioria das vezes eu apenas coloco a velha vitrola para tocar algum disco e fico vagando em pensamentos enquanto observo o mundo que se passa fora da vitrine de vidro.
Meu expediente havia começado a menos de 5 minutos e minha crise de espirro já tinha começado. Decidi então fazer uma faxina no local, afinal era eu quem ia ficar espirrando que nem uma louca o dia inteiro se não o fizesse. Por isso decidi com a cara e a coragem espantar a preguiça do meu corpo.
Resolvi começar pelos discos, minha sessão favorita da loja, enquanto espanava-os ainda tomada pela preguiça mortal que me assolada, escutei o barulho do sino que avisa quando um cliente entra na loja. Oh ótimo, esse lugar passa dias sem receber uma pessoa sequer e justamente hoje me aparece alguém?
Virei-me para receber seja lá quem fosse, mas meus olhos desacreditaram do que viram. Deixei o espanador cair sobre meus pés, aquilo não podia ser possível.
Alex estava parado perto da porta e rolava os olhos pelo local, procurando por algo. Por mim, a balconista. Quando me despertei do estado latente de choque que meu corpo se encontrava, pigarreei alto e ele direcionou o olhar para mim. Parecia estar tão surpreso quanto eu.
__ A-A-Alex? – tentei lutar contra a gagueira, mas foi impossível. Um segundo depois, a expressão de espanto relaxou e ele repuxou aquele característico sorriso de lado, tirou os óculos escuro e redondo do rosto sedutoramente para depois invadir meus ouvidos com seu timbre de voz suave e rouco.
__ Você de novo senhorita?

4 comentários:

  1. O/ hello sua linda ! era do Nyah e estou aqui acompanhando tudo, é tão perfeito ler os capitulos de novo *o* bom...só passei pra dizer que estou aqui acompanhando as novidadeeeeeessss hahaha, beijoss

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  2. HAHAHAHAH Fico muito feliz que esteja acompanhando... vou postar todos e continuar de onde parei! Um beijo
    Nana

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  3. Kkkkk' Ta eu fiquei assustada agora. Fala sério eles tem imãs dentro deles ou oque?
    Eu gostei do capitulo, ficou bem legal.

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    1. Nana (autora)16/01/2013, 03:41

      hahaha acho que mais ou menos isso. O fato é que tem uma gravadora ao lado do sebo (Não sei se vc se apegou a esse detalhe) então...
      Fico feliz que tenha gostado *-*

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