BE CRUEL TO ME 20: TAKE ME WITH THE RAIN

Antes que pudesse sair do restaurante uma voz chamou meu nome. Não era o tom doce e sereno que desejava tanto ouvir, mas do mesmo jeito meus pés fincaram no chão e eu ali fiquei... Parado, querendo me mover, mas impossibilitado por algo que nem parecia existir.
  - Alex, me desculpe. Eu fui idiota demais para não ligar os pontos – era Miles falando.
  Fechei os olhos e respirei fundo. Quando me virei para ficar frente a frente com ele, minha vontade foi de soca-lo sem qualquer pudor. Não era somente o fato de ele estar com Eliza, por mais que me doesse, ela tinha o livre direito de sair com quem bem entendesse agora que não estávamos juntos. O que me atormentava mesmo era o fato de que meu amigo na primeira oportunidade dava em cima da mulher que amo como uma águia arrebata sua presa. E se tratando de Miles, não pensava de outro jeito.
  - Você se quer leu o e-mail que eu te mandei, Kane? Você passou quanto tempo desligado do mundo? Me responde uma coisa: Quantas escritoras chamadas “Eliza Fordie” existem por ai? – não fui capaz de controlar o tom alto.
  - Eu sei, foi mal. Eu andei muito ocupado nos últimos tempos. Eu só a vi em uma festa, ela me chamou a atenção e achei que...
  - Achou o que? Que era só você usar esse charme barato e pagar um almoço que ela ia transar com você? Ele não é do tipo que você está acostumado, meu caro.
  Então, Miles riu de tal modo que fez com que meu sangue fervesse.
  - Alex, não venha com esse papo pra cima de mim. Até parece que esqueceu o que você fazia. Não sei como você a conseguiu, mas sabe, não lamento que tenham terminado. Assim ela possa ter a oportunidade de conhecer alguém ao seu nível. E estou disposto a isso.
  As palavras que ele usou fizeram com que todos os meus músculos ficassem rígidos. Meu coração batia tão forte que tive a impressão que ele iria pular de meu peito a qualquer instante. Minha visão ficou turva pelo ódio que consumia cada uma de minhas veias. Meus punhos cerraram e os meus dedos imploravam pelo contato agressivo contra a face de Miles. O controle que havia mantido até tal ponto, já não era mais possível de se manter.
  Estava prestes a acabar com aquela ânsia que tanto predominava em meu corpo, mas então, a presença repentina dela fez com que aquilo passasse rapidamente. Era o efeito Eliza.
  - Alexander, não faça isso – ela segurou meu punho entre seus finos dedos, que só então percebi que estava pronto para o ataque – Vá para casa. Se poupe de qualquer arrependimento que possa a vir ter.
  Pude sentir meus batimentos voltando ao compasso habitual.

POV Eliza

  Não era correto eu ficar sentada assistindo a cena sem fazer nada. Assim que percebi que os gritos de Alex iriam se tornar ações que poderiam trazer muitas consequências, não pensei duas vezes em interferir na situação. Sabia que a mim, ele iria escutar.
  Segurei o mais firme que pude seu punho que estava a meio caminho de atingir Miles. Sua pele estava quente como se acabasse de sair de uma sauna. Seus olhos estavam vermelhos e pude vê-los marejar discretamente. Alexander se encontrava em um estado emocional que jamais havia o visto de tal modo.
  - Eliza... – sua voz alterou-se do tom agressivo para um falho sem muita convicção. Como da água para o vinho – Me desculpe.
  - Você não quer fazer isso agora, Alexander. Vá para casa, tudo irá melhorar.
  - Não, não irá. Não irá melhorar porque você não vai estar comigo.
  Fui soltando seu braço sutilmente, mas fui impedida por sua mão que se colocou por cima da minha.   
  - O que aconteceu com a gente, Eliza?
  - Aconteceu a vida. Ela separa as pessoas com o tempo. Não há nada que possamos fazer sobre isso – respondi tentando manter o tom firme.
  - E o que acontece comigo? Você não imagina como está sendo difícil pra mim.
  Fechei os olhos e procurei manter minha cabeça no lugar. Eu não ia me deixar levar. Não dessa vez.
  - Não se preocupe Alexander. O remorso é doloroso, mas vai tão rápido quanto aparece – disse finalmente me livrando de seu contato físico.
  Voltei-me a Miles que assistia a tudo muito apreensivo e procurei sorrir de um modo que aparentasse estar tudo bem.
  - Será que podemos ir embora? – perguntei a ele.
  - Claro, sem problemas – ele passou o braço por trás de meu ombro em um meio abraço. Algo naquele gesto fez com que eu me sentisse mais aliviada.

...

  Se eu fosse contar quantas vezes Miles me pediu desculpas, iria precisar de uns bons dias para chegar a um resultado. Só depois de afirmar pela milionésima vez que ele não precisava se desculpar por nada, eu pude sair do carro. Tudo do que eu precisava era de um bom banho quente.
  Enquanto as gotas corriam pelo meu corpo fazendo com que a tensão fosse aliviada de meus músculos, o efeito contrário ocorria em meu cérebro. Parecia que quanto mais tentava me livrar de tantos sentimentos confusos e incertos, mais eles pareciam se aprisionar em minha mente. Após quase uma hora debaixo do chuveiro, decidi desistir daquela tarefa inútil de tentar esquecer as coisas. Quem sabe, quanto menos eu desse importância mais fácil seria esquecê-las.
  Por fim, as necessidades primitivas acabaram dando-se o trabalho de chamar a atenção de meu cérebro. Devido à tentativa frustrada de almoço, meu estômago não era preenchido desde cedo quando tudo o que teve foi uma xícara de café. Desci a escadas e fui até a cozinha procurar algo que saciasse a incontrolável fome, mexia em um dos armários quando aquele perfume exageradamente doce infestou o local me provocando náuseas. Sabia que uma hora ou outra, eu teria que enfrentar aquele problema.
  - Apareceu à margarida – a voz de Sam que parecia naturalmente sarcástica me deixou em estado de alerta – Achei que você tinha desaparecido, nunca mais vi você ou o seu namorado...
  A menção dele fez com que eu tivesse vontade de rir, mas não era hora de tal feito.
  - Não seja cínica, Samanta – falei rispidamente.
  Ela cruzou os braços e me encarou com deboche.
  - Pra que tanta formalidade agora, Eliza? Achei que nós já tínhamos passado dessa fase.   
  - Pelo visto passamos mesmo, você até andou transando com o meu namorado – coloquei minhas mãos na cintura como se ali elas estivessem seguras de cometer alguma bobagem.
   Samanta suspirou de um modo que tive a impressão que seu pulmão remetia todo o ar da terra.
  - E o que você quer que eu faça se você não é capaz de satisfazer o próprio homem?
  Tive que tirar paciência de algum lugar desconhecido para me manter em pé.
  - Escuta, Samanta: não é minha capacidade de satisfazer ou não alguém sexualmente que está em questão aqui, mas posso afirmar que pelos batimentos rápidos e o suor que escorria da testa dele sempre quando terminávamos,  creio que eu dava mais que conta do recado – dei dois passos em sua direção – Mas o ponto é: Eu quero que você arrume suas coisas e vá embora daqui.
  Ela não hesitou em fazer o mesmo se aproximando de mim.
  - Vai me expulsar por que ele terminou com você, é? Por que tem medo de que ele venha atrás de mim?
  Dessa vez não contive a risada.
  - Não foi ele que terminou comigo... E se você realmente acha que ele vai atrás de você, bem, você pode usar essa imaginação fértil para escrever um livro, o que acha?
  Sam deu um sorriso venenoso dando outro passo ficando ainda mais perto de mim.
  - O seu problema, querida prima, é que ninguém suporta você. Você acha mesmo que eu vou sentir algum tipo de arrependimento por ter feito o que eu fiz? Veja por si própria, Alex não a queria mais assim como sua família... Nem seu irmão, nem seu pai e nem sua mãe suportavam você. Todos eles preferiram morrer ao ter que olhar para essa sua cara todos os dias.  
  Aquilo havia sido a gota d’água. Sem pensar muito, depositei todas as minhas forças no tapa que dei no rosto de Samanta. Não sei o quanto de força usei, mas foi o suficiente para que ela caísse no chão e deixasse uma boa marca vermelha com meus cincos dedos estampados em sua bochecha.
  A olhei enquanto ela levava a sua mão no local atingindo e uma lágrima rolava pelo seu rosto.
  - O seu problema Samanta, é que você é uma vadia. E vadias não são amadas, são usadas e jogadas fora. Assim como Alexander fez com você, a usou. Não sei que tipo de droga você anda usando para pensar isso, mas ele nunca vai lhe amar como ele me ama.
  Ela riu sem alegria.
  - Suas palavras não vão me torturar, Elizabeth.
  - Não, não vão. Mas dentro da sua mente existe um quarto escuro que aprisiona uma mulher sozinha e acabada. A mulher mais cruel que você possa conhecer. O nome dela é consciência, e essa sim vai se encarregar de lhe torturar. Não eu.
  Senti um estranho prazer em vê-la pela primeira vez na vida desarmada, sem palavras para contra-atacar. Também me senti mais forte, destemida por ter enfrentando meus problemas, por não ter deixado que passassem por cima de mim como sempre deixava. Por não ter aceitado calada a situação sem ao menos contestar. Samanta havia se mostrado infiel, traíra, sem o mínimo consenso de respeito. E esse era o tipo de pessoa que eu não fazia a mínima questão de ter em minha vida.
   - Quando eu descer eu não quero ver um fio de cabelo seu. E vê se levanta daí, não quero o piso da minha cozinha sujo.
  Junto com Samanta, o peso que se encontrava nas minhas costas também foi ao chão.

POV Alex

  O relógio marca 16h10. Nuvens carregadas começam a se formar no céu. Estou sozinho em meu apartamento. Meu coração dói.

  O relógio marca 16h30. A garoa começa a cair sorrateiramente com seus pingos finos e tímidos. Continuo sozinho. Meu coração ainda dói.

  O relógio marca 16h50. A garoa tímida se transforma em chuva. Tenho uma necessidade absurda de Eliza. A dor no peito se transforma em sofrimento.

O relógio marca 17h20. Lembranças invadem minha mente. O seu cheiro, o seu toque, o seu sorriso. O fim de tarde se aproxima com uma onda de frio.

  O relógio marca 17h45. A chuva se transforma em tempestade. Eu me dou conta de que preciso tê-la em meus braços para sempre.

...

    Estacionei na frente da casa de Eliza e o nervosismo parecia tomar conta de todos os meus sentidos. Desci do carro e quase que instantaneamente senti os pingos gelados começarem a encharcar minha roupa. Parei na frente da porta e respirei fundo. Toquei a campainha e esperei. Não houve nenhum sinal. Toquei outra vez. Não houve uma resposta.
  Fui para o meio da rua de modo que tentasse ver alguma coisa e consegui enxergar seu vulto de relance. Ela estava ali.
  - Eliza! – gritei o mais alto que pude – Eu preciso falar com você, por favor.
  As cortinas continuaram imóveis, ninguém apareceu na porta.
  - Eliza! – gritei novamente – Eu imploro.
  A essa altura minhas roupas já pesavam o dobro e a chuva não dava trégua por nem um segundo, apenas se intensificava.
  Chamei seu nome mais uma vez. Outra e outra. Era como se eu estivesse falando com uma parede. Então, fechei meus olhos e me lembrei do dia em que ela se escondeu de seus próprios convidados no Museu de Literatura e como eu tive sorte em tê-la visto fugindo para poder ir atrás dela. Lembrei-me do porque de estar ali, no meio daquela tempestade, deixando de lado meu orgulho e tudo que pensava acreditar. Era por ela. Era para ser o motivo de seu sorriso novamente. Era para ter Eliza de volta em meus braços.  
  Um sorriso preencheu meus lábios, então soube como fazê-la me ouvir. Fechei os olhos novamente e comecei:

-“She’s thunderstorms
Lying on her front
Up against the wall
She’s thunderstorms...”

  Os abri e ainda não havia ninguém a vista então, prossegui:

- “I've been feeling foolish
You should try it
She came and substituted
the peace and quiet
for acrobatic blood, flow, concertina
Cheating heartbeat
Rapid fire”.

  A silhueta de Eliza apareceu na janela. Ela abriu as cortinas aos poucos e sua presença foi o suficiente para que eu tivesse coragem de continuar:

- “She’s thunderstorms
Lying on her front
Up against the wall
She’s…

  Tão rápido quanto apareceu, a pontinha de alegria que me permiti sentir partira. Como um raio inesperado, o que os meus olhos haviam visto me atingiu violentamente. Logo atrás de Eliza, a imagem de Miles apareceu. Os dois se entreolharam e trocaram algumas palavras, e então, ele fechou as cortinas por completo.
  Minhas pernas fraquejaram e não foram mais capazes de sustentar o peso de meu corpo. Meus joelhos se chocaram contra o asfalto rígido e áspero.


  A escuridão se aproximava sem cautela. A tempestade caia fortemente. Estava sozinho. Meu coração já nem parecia mais bater.  

***

N/A: Oi oi meninas! Bem, eu só queria agradecer mais uma vez os comentários e todas vocês que acompanham essa fic de coração, eu me esforço o máximo para que vocês não se decepcionem. E espero não ter as decepcionado. Acho que esse é o momento em que tudo parece estar perdido, mas eu digo pra vocês: Vem coisa ai. Enfim, obrigada mais uma vez e muitos beijos no coração, Bel ♥

8 comentários:

  1. ISSOOOO! A SAM LEVOU UM TAPA! VOU DORMIR FELIZ HOJE!
    O Alez por outro lado, aawwnn, não consigo, já tô com peninha dele, eu sei, a culpa disso tudo é dele, mas aawwnnnn... ele cantou thunderstorms, gente! *-*

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  2. BEL VC JÁ PENSOU EM SE TORNAR ESCRITORA?

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  3. AI MEU DEUS! AI MEU ALEX! MILES SEU SAFADO! (Kkkkkk eu tô em duvida de que lado ficar!)
    Eliza tá certissima, mas ver o Turner sofrendo assim me parte o coração :""(
    Sim, eu acho que tá tudo perdido pra eles mesmo...ai!
    Continua logo Bels, tô com o coração de ver o panaca do Alex assim, e apesar de ter um precipicio pelo Kane e torcer pela felicidade da Eliza acima de tudo, nao quero meu Turner sozinho.

    Ps: AQUELE TAPA FEZ A MINHA NOITE!
    Xxxxx Mrs.Helders

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  4. Ai meu deus esse capitulo ta tão bom, vou chorar

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  5. Miles meu, não fode.
    Que capítulo sensacional, senti um pontinho de dor com o Alex. E agora estou sentindo pena dele. Se a Eliza ficar com o Miles só por pirraça ela vai acabar nada diferente do que o Alex foi quando transou com a Sam. Espero que a consciência dela fale mais alto.
    Miles meu, não fode.

    Miles meu, não fode.

    Fiquei desesperada com a situação do Al, ai meu deus. Continua!

    Miles meu, não fode.

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  6. Sou uma manteiga mesmo, viu. Quase chorei com ele fazendo "uma serenata" pra ela. Já derreti.
    "Estou sozinho em meu apartamento. Meu coração dói." Tem como ter raiva de uma coisa dessas?

    Continua Bel, please!

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  7. Meu Deus, estou sem fôlego com esse capítulo! Adoro o fato da Eliza não maneirar com o Alex, nem com a Sam nem com ninguem que queira machuca-la. MAAAS... WTF você esta fazendo com a Fordie, Miles? Sinceramente, não quero que esses dois fiquem juntos! Tadinho do Al... Tô me comovendo com o sofrimento dele. Bel, me socorre! Não demora p postar. Bj

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  8. Meu deus se o alex turner cantasse she's thunderstorms pra mim,na chuva....eu nem sei o que faria tbh

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