MAD SOUNDS 01: LITTLE BAD GIRL

O sol estava nascendo em toda sua grandiosidade laranja e amarela. Eu sentia a relva roçar em minhas mãos e o ar puro tomar conta de meus pulmões. A maioria das pessoas dormia em suas barracas no extenso campo, descansavam suas mentes após um longo dia e se preparavam para mais um tão agitado quanto o anterior. O céu se mesclava em tons quentes e o azul vinha chegando sorrateiramente para predominar. Era nesses momentos em que eu sentia a paz prevalecer em meu interior. Quando completei dezoito anos, as dúvidas começaram a surgir de todos e quaisquer buracos de meu cérebro, foi nesse momento em que me perguntei: “E agora?”. Só que então percebi que a questão era exatamente aquela, o agora. O presente. O deixar as coisas acontecerem, o não planejar cada segundo de minha vida. E era o que eu estava fazendo, tentando curtir o que o momento me proporcionara, e o fato de ter aquela visão magnífica resumia bem o que eu tentava entender.
  Com o sol já a mostra por completo em todo seu esplendor, o segundo dia do Coachella havia começado. Levantei-me de onde estava sentada e fui em direção à barraca onde meu amigo dormia. Abri o zíper que a fechava cuidadosamente e me ajoelhei no fino colchão. Cutuquei seu braço de leve inúmeras vezes, mas já era de se esperar que no caso de Leonard aquilo não fosse o suficiente para acorda-lo. Por isso, peguei o travesseiro que estava ao seu lado e tentando não ser muito bruta, o bati em seu rosto.
  - NÃO FUI EU! – gritou alto assim que o primeiro sinal de consciência o tomou.
  Eu ri de sua expressão assustada enquanto ele analisava o seu redor percebendo que a única pessoa além dele mesmo era eu.
  - Sendo acusado de um crime que não cometeu, é? – zombei o observando respirar fundo e passar as mãos pela cabeça.
  - Você é o diabo em pessoa, Roxanne – falou pondo-se a sentar.
  Rolei os olhos de sua afirmativa injusta a minha pessoa.
  - Talvez se seu sono não fosse tão pesado quanto um tiranossauro, eu não precisaria usar esses métodos – dei de ombros – Agora se levante, temos que aproveitar bem esse dia. É o nosso último, lembra? Eu tenho que trabalhar.
  Leonard balançou a cabeça em concordância e se livrou de seu lençol.
  - Tudo bem, eu já vou indo.
  Com isso, o deixei sozinho na barraca.

...

    Com meu amigo já vestido adequadamente, nós resolvemos dar uma volta no lugar. A área era imensa, muito bonita e o verde predominava. Estávamos tão entretidos que se quer percebemos as horas se passarem. A brisa soava de leve fazendo com que meu chapéu mencionasse sair voando e isso aconteceu quando caminhávamos pela parte de trás do palco principal. Ele voou como uma pena até aterrissar no gramado verde vivo que ficava atrás de uma pequena cerca branca.
  - Eu pego pra você – falou Leonard indo em direção a cerca.
  - Espera! – aumentei meu tom de voz para impedi-lo – Não podemos entrar ai, é a área VIP.
A parte restrita não estava tão cheia devido ao horário, apenas um ou outro conversavam entre si não parecendo ligar muito para o que acontecia ao seu redor.
  - Eu não vou atacar ninguém, só vou pegar seu chapéu. Eles não vão ligar.
  - Você viu onde foi ele foi parar? – apontei para o bar montado ali com algumas pessoas sentadas no grande balcão, onde o chapéu parara a poucos metros.
  - Então vai você, oras – disse franzindo a testa – Você tem cara de quem poderia estar ali.
  Fitei o pequeno objeto no chão. Ele nem havia sido caro, porém era meu chapéu e eu o queria de volta. Pensei por um instante e deduzi que não haveria problemas se eu entrasse ali por dois minutinhos.
  - Ta legal, fique aqui – falei andando prestes a cruzar o limite que a cerca marcava.
  Como se tivesse a completa autorização e status para fazer aquilo, entrei na área VIP. Caminhava o mais naturalmente possível, mas não pude deixar de sentir alguns olhos em mim. Assim que me aproximei do bar, a silhueta do chapéu ficou clara, apressei meus passos para que eu pudesse sair dali o mais rápido e quando faltava um milésimo para que meus dedos encostassem nele, senti uma forte e grande mão em meu ombro. Endireitei minha postura lentamente e quando ergui meu rosto, deparei-me com um segurança de aparentemente dois metros que não aparentava querer dialogar.
  - Você tem credencial? – perguntou. Eu permaneci calada branca como um papel – Algo me diz que você não deveria estar aqui.
  Eu começava a criar uma história mirabolante em minha cabeça quando uma voz masculina soou da direção do bar.
  - Ela está comigo.
  O segurança virou-se em direção ao homem e concordou com um aceno como se tivesse recebido uma ordem inexorável. Ele pegou levemente meu ombro e empurrou-me em direção ao balcão de modo tanto sutil para um brutamonte.
  - Você a conhece, senhor?
  O homem do balcão deu um gole de sua bebida e pousou suas órbitas em mim. Mesmo por trás dos óculos escuros, soube que ele me analisava dos pés a cabeça, pois logo em seguida um sorriso sujo brotou no canto de seus lábios.
  - Não tanto quanto eu gostaria – falou com sotaque inglês e com a voz levemente falha – Mas está tudo bem. Pode ir. 
  O funcionário largou-me e voltou para seja lá onde estava antes de arruinar meu “resgate”. Coloquei o chapéu novamente e fitei o homem que me tirara de uma fria. Ele já não me olhava mais, apenas encarava fixamente algum ponto em sua frente levando a garrafa à boca.
  Pigarreei chamando sua atenção, entretanto o mesmo ignorava minha existência.
  Resmunguei um “tudo bem” e então, dei de costas para sair dali.
  - Sua mãe não te ensinou boas maneiras, não? – ele falou quando eu já estava a uns passos de distância.
  Girei em meus calcanhares para depositar meu olhar mais incrédulo em sua pessoa.
  - Desculpe, o que disse?
  Foi a vez de ele girar o corpo em minha direção, apoiando um dos pés no banco alto que se encontrava e me encarar.
  - Normalmente quando as pessoas concedem um favor, a outra agradece dizendo “muito obrigado“, conhece essa expressão?
  - Ignorar a presença de outra pessoa também não é nada educado, sabia? – levei uma de minhas mãos à cintura.
  Ele riu sarcasticamente e retirou os óculos com uma lentidão desnecessária. Agora livre das escuras lentes, pude ver suas íris incrivelmente negras, carregadas por uma densa névoa que mascarava seus pensamentos.
  - Não banque a garotinha má. Não se faça de durona. Você e eu sabemos o que realmente quer – seu tom era carregado de malícia.
  Sem mais paciência para aquilo e me segurando para não bater naquele estúpido em minha frente, virei-me e saí caminhando o mais rápido que pude.
Assim que cheguei de encontro a Leonard o mesmo ria feito uma criança assistindo ao desenho animado.
  - Qual o seu problema? – dei um tapa em seu braço mais forte que imaginava.
  Ele continuou rindo apenas levando a mão no lugar atingido.
  - Leonard, será que você pode parar com isso? – nós já estávamos se afastando da área VIP, tal que eu nem queria mais chegar perto.
  - Ok, ok – ele ia recuperando o fôlego aos poucos – Mas sério, essa cena foi hilária.
  - Que cena? A que eu quase sou pega por um segurança gigante ou que eu quase dou um soco em um babaca? – falei ironicamente.
  - Bem, eu realmente pensei que você fosse se dar mal com aquele segurança com cara de Rambo... Seria terrível se isso acontecesse – deu uma batidinha em meu ombro como se me consolasse – O que aconteceu para ele desistir de chutar sua bunda?
  - O cara do bar me ajudou. O pingo de respeito que eu tinha criado por ele desapareceu assim que ele abriu a boca pela segunda vez. O cara é um idiota, me controlei ao máximo para não deixar uma marca de meus cinco dedos na face dele.
  Meu amigo começou a rir novamente, mas meu olhar repreensivo fez com que ele parasse.
  - Sua sorte que você não fez isso, minha querida. Do contrário você teria agredido nada mais nada menos que o vocalista do Arctic Monkeys.
  - Cala a boca, o vocalista do Arctic Monkeys é aquele tal de Alex Turner.
  Leonard arqueou a sobrancelha e sorriu astutamente. Eu o analisei e ele não parecia estar brincando, então, parei de andar bruscamente.
  - Você está brincando não é? – tinha certeza que minha expressão era uma das mais ridículas existentes.
  - Roxy, não é possível que você nunca tenha visto uma foto do cara! Como você é desligada.
  - É claro que eu já vi, mas ele tinha um cabelinho pro lado e era magricelo... E tinha cara de ter uns dezessete anos e não de ser o cover do John Travolta em Grease.
  - Talvez porque você tenha visto uma foto de mil anos atrás. Pelo amor de Deus, por onde que você andou nos últimos tempos?
  Eu ri de um jeito meio bizarro e voltei a caminhar.
  - É só que eu não acompanho a banda, eu acho que só ouvi umas duas músicas em toda minha vida. Por sinal, aquelas que você me mandou ouvir.
  - Eles vão tocar hoje. Se você quiser assistir... Os caras são fodas.
  Pensei em negar e dizer que iria meditar junto com os hippies á tarde, mas então conclui que, bem, não poderia julgar a banda baseado em um vocalista de ego inflado.
  - Ok. Que mal tem nisso, não é mesmo?

...

  Por sorte, conseguimos ficar na grade. A aglomeração de pessoas ficava cada vez maior com o tempo e os gritos vinham de todos os lados, era evidente que a banda possuía fãs leais de todos os gêneros.
  - Posso saber que músicas eles vão tocar? – perguntei para Leonard que estava cantarolando alguma coisa.
  - Músicas do último álbum, algumas mais antigas. Que eu sabia eles estão trabalhando em algo novo e a turnê está prestes a acabar.
  - Ah... Legal.

  Estava pensando em meu trabalho que infelizmente, teria que voltar no dia seguinte quando os gritos aumentaram drasticamente anunciado que o show iria começar. Após alguns segundos de suspense, os integrantes finalmente entraram no palco, cada um em seu devido lugar e com seus devidos instrumentos. O vocalista tomou frente ao microfone e ajeitou a alça da guitarra em seu ombro.
  - We are Arctic Monkeys, and it’s a pleasure be here at Coachella!
  Com isso os primeiros acordes começaram a pairar pelo ar.

...

  O show seguiu e as pessoas não pararam de cantar um minuto sequer, todos acompanhavam as letras, fossem as músicas mais animadas até as mais lentas. Realmente, a banda era muito boa apesar de eu não possuir as músicas na lista de mais tocadas do meu iPod.
 Quando a última música finalmente foi anunciada, a reação eufórica permaneceu, mas foi acompanhada pela sensação do fim de um bom momento.
  Então, o último verso foi cantado, os últimos acordes tocados e as palmas, berros e agradecimentos não cessavam.
  - Thank you so much, San Francisco! I have a really great time today, it was amazing playing at Coachella – Alex permanecia fitando a multidão quando por um segundo seu olhar vacilou e pendeu sobre as pessoas próximas ao palco, e por uma fração de milésimo tive a impressão que nossos olhares se conectaram.
  Foi ai que suas últimas palavras antes de deixar o palco foram proferidas:
  - Just remember one last thing… Don’t be a little bad girl.


***



> N/A: Oi!! Espero que vocês tenham gostado dessa pequena introdução, muitas coisas ainda estão por vir e vocês podem esperar fortes emoções de “Mad Sounds” hahaha. Quero agradecer os comentários da sinopse e as que leram esse primeiro capítulo, muito obrigada. Beijões, Bel.  

6 comentários:

  1. Você voltou com uma história incrível!!!!! Achei muito peculiar a Rox. Curioso. Prevejo tanta confusão entre esses dois. Leonard é o tal do amigo fofo e eu fico feliz que Rox o tenha. Do mais, estou ansiosa para o próximo e espero que não demore pra postar hahaha. Beijo anne

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  2. Yaaaaaay! Adorei essa fic! ótima introdução! *-*

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  3. A Rox chegou pra mostrar que ela é mais uma no time das que resiste ao Alex, coisa na qual eu não me incluo! Adoro o Turner prepotente e rabugento apesar de sentir vontade de soca-lo. Essa criatura é como um karma e pobre Rox... não faz ideia com quem se meteu. O Leonard é ótimo, gostei dele. "Don't be a little bad girl" aaaai. Quero mais. Beijos

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  4. eu to amando essa fic, mas eu meio que não entendi umas partes (????) tipo, quando o alex chama ela de bad girl assim do nada (???) e a parte do "você e eu sabemos o que realmente quer" tipo (????) interpretei como se o alex pensasse que ela entrou de penetra ali e era algum tipo de groupie (tenho certeza que interpretei errado) me explica, to me sentindo burra por não entender kkkkkkkkk

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  5. give me more, please!!!!!

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  6. 'Mermããããão!!! OQUEQUEIIIIIIIIIIISSO!? Hahaha AMEI essa introdução Bels! AMO o nome Roxanne (por motivos de Roxanne do The Police<3) e AMEI o modo engraçado como eles se conheceram kkkk
    Tô quicando pela próxima atualização #ANDALOGOPORRA u.u kkkkkk zoa, demore o tempo que quiser <3
    Xxxxxx, Mrs.Helders (pq se vc voltou, meu codinome também voltou haha)

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